O enigma de Renata - 6.ª parte

Mariana não sabia se estava ou não sonhando, porque não lembrava de já haver antes estado ali. Encontrava-se sentada em um banco de igreja. A igreja era muito simples, uma capelinha. Havia uma pessoa no altar, usando um traje marrom com capuz, talvez um capuchinho,que lhe disse:

-Que bom que você veio, filha. Venha para junto de Deus e encontrará um alívio para sua dor, pois disse Jesus: "vinde a mim todos que vós que estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei."

-Como posso ter vindo aqui? Andei dormindo?

-Você tem orado e clamado a Deus Nosso Senhor e Ele a ouviu, sentiu sua dor.

Havia um grande cansaço oprimindo Mariana. Um cansaço que ela achava que não aguentava mais. Chorou como há muito tempo não fazia. O padre se aproximou dela, estendendo-lhe as mãos e dizendo:

-Deus não vai abandoná-la, filha.

-Padre, eu não sei mais o que fazer! Meu marido não quis aceitar que nossa filha estava morrendo e fez um pacto com Satanás! E Renata não é mais quem era! Eu perdi os dois, padre!

-Eles foram os maiores perdedores, filha. Perderam a chance da salvação. Afastaram-se de Deus ao compactuar com as trevas.

-Meu Deus, Renata é uma criança e já está condenada?

-Ela teve a chance de escolher entre aceitar os desígnios de Deus ou o pacto com Satanás. Foi a escolha dela, que, como todos, tem seu livre-arbítrio. Mas filha, quem começa no caminho do mal, não se limitará a ficar no pacto.

-Do que está falando?

-O diabo quer ser sempre adorado. Dos que fazem pacto com ele, ele cobra que lhe façam sacrifícios e tragam mais gente para servi-lo. O Diabo não traz a liberdade, como Jesus, ele traz uma escravidão.

-Oh, meu Deus!

-Sei que foi embora daquela casa, filha.

-Fui, eu não queria ser serva do mal!

-Teve muita coragem, porque sabia que todos a condenariam por fazer algo aparentemente errado. Às vezes, fazer o certo não nos traz recompensas. Mas o bem quase nunca é reconhecido, filha. Jesus foi desprezado pelas pessoas quando andou na terra. A grande maioria das pessoas tem o coração duro, quer ser como Deus, determinar o curso da sua existência, em vez de admitir que tem que ser fiel e obedecer à Vontade Divina.

-Não sei mais o que fazer!

-Terá que ser forte e persistir fazendo a coisa certa.

-Como? Eu quero fazer a coisa certa, padre, mas não sei qual é e, muitas vezes, nas piores ocasiões, não sabemos o que devemos fazer!

-Deve continuar orando e pedindo orientação a Nosso Senhor.

-Padre, mesmo quando eu saí daquela casa, o mal me atacou!

-Sei disso. Não foi a primeira nem a única a sofrer tentação ou agressão por parte de Satanás. Jesus e muitos santos que passaram pela terra sofreram a tentação dele.

-Que deverei fazer?

-Lembre, filha, de que não deve temer o mal. Ao temermos o mal, abrimos uma brecha para ceder à tentação e desviar do caminho reto.

-Por que Inocêncio teve de ceder?

-Mesmo até Jesus e tantos homens e mulheres tão bons que serviam a Deus tendo passado pela morte e sofrido muito, até hoje, a humanidade não quer aceitar o sofrimento nem a morte. O mundo quase só oferece ilusões, às quais o homem se agarra, esquecendo que, um dia, não será nada mais que pó e que tudo também passará. Apenas o amor de Deus é eterno e é a isso que devemos nos apegar, porque é toda a verdade que existe, filha. As pessoas querem apenas gozar, adquirir e acumular bens e enganar a morte. Mas a morte vem para todos e as pessoas não entendem que morrer não é castigo.É o que ocorrerá com todos os que nascem.

-Padre, estou tão confusa!

O padre encapuzado lhe segurou as mãos com força e ternura.

-Todos os que servem a Deus também passam pela confusão. Filha, não tema o mal e lembre que não deve agir buscando aprovação das outras pessoas. Deus, que sabe a verdade, sabe que você não fez nada errado.Agora, durma e lembre que está sendo guardada.

-Eu não consigo, padre. Perdi Renata para sempre.

-Deus entende sua dor.Durma.

Mariana se estendeu no banco, dormindo imediatamente de tão exausta. Ao acordar, não estava mais em uma pequena igreja, mas na cama do pequeno apartamento que alugara.