Mandacaru DTRL 19

"Quando olhei a terra ardendo

Qual a fogueira de São João

Eu perguntei a Deus do céu, ai

Por que tamanha judiação?

Eu perguntei a Deus do céu, ai

Por que tamanha judiação? (...)"

Asa Branca / Luiz Gonzaga

*

"O sol queima mais forte deste lado de cá".

O velho rádio de pilha, valente e meio rouco, canta o hino do nordeste. A Patativa, no alto do juazeiro, desafia a rouquidão do aparelho com sua cantoria peculiar. Longe dali, um jumento, mais valente que um alazão, mantem-se de pé com sua pesada carroça. Na subida do rio, as mulheres mais fortes carregam na cabeça bacias de água salobra. Nas janelas de terra batida, as senhoras repousam seus cotovelos com os olhares cansados e descrentes. No campinho de terra, os meninos disputam espaço com os bodes chutando um velho coco seco. No grande cerrado, impera imponente, ignorando a falta de chuva, o imortal Mandacaru. O dia apenas começou em Aquiraz. A primeira Capital do Ceará.

**

-Painho, compra uma tiara?

A feira da cidade estava lotada. Pitomba, caju, Fruta Pão, Carneiro, Bode, manteiga de garrafa, tudo exposto aos gritos dos feirantes. Ali, no meio das barracas, estava Joelson com sua filha na ínfima

esperança de vender seu cabrito doente.

Ajoelhado, e com o coração sangrando, colocou as mãos nos ombros da filha e disse:

-Josiane, num tenho dinhero fia. -engoliu seco para não chorar. - Mas o pai vai compra, fia. Deus sabe que vo. Dexa só vender o cabrito, fia.

As velhas sandálias da menina, praticamente sem solado, pareciam não aguentar mais andar. Por milagre ainda sustentavam os pregos que traziam em suas alças. Com cuidado para não arrebentá-las, chutou a terra vermelha e deu de ombros. Com sua surrada camisa e seus cabelos embaraçados, Josiane já era muito mulher para seus dez anos de idade. Já vivera uma vida inteira em tão pouco tempo. Sabia que não teria aquela tiara, mas não custava pedir mais uma vez.

No chão, o velho cabrito, já morto, ainda era puxado pela corda do descrente pai. O Sol do meio dia desfilava no meio do grande azul. Imóveis, no meio da feira, pai e filha fitavam, com lágrimas nos olhos, um céu sem nuvens. No chão, uma gota move a terra vermelha, porém, uma lágrima não indica chuva.

"Por que, meu Deus?"

**

"CONVENTO SÃO BENEDITO"

Ao deixar Josiane nas mãos da irmã Célia, Joelson colocou seu velho chapéu de palha no peito e, sendo incapaz de segurar a emoção, lembrou-se da noite anterior.

"Painho, queria aprende a le. Se dotora".

"Fia, ocê vai se. Eu vo pra Sum Paulo, mas eu volto com dinhero pra gente. O pai vai trabaiá pra compra ropa e comida pro cê. O cumpadi Sérgio vai cum pai. Ele arrumo serviçu pra gente lá. Adepois de um ano o pai volta, viu?".

"Doutora Josiane, minha fia!"

"To cum fome, painho"

"Eu sei, fia".

"Bença, painho"

"Deus te abençoe minha, fia. Deus abençoe minha dotora".

**

Com a cabeça baixa, Josiane deu tchau para Joelson na porta do convento. Não olhou a estrada que o pai seguiu. Olhava os sapatos de salto alto da Irmã . Imaginava seus pés ali dentro.

O sol alaranjado confortava, ficando mais fraco, o grupo de sonhadores na caçamba do caminhão. A terra vermelha borrou a presença de Josiane. O convento foi ficando para trás. Joelson pensava agora na esposa que morrera de gripe há um ano. Os outros ocupantes do caminhão pensavam em suas famílias também. Tudo era silêncio, permanecendo audível apenas o motor do caminhão, e das Patativas dando adeus em algum canto dali.

"São Paulo, a terra da garoa".

**

-Menina, você nunca viu água na vida, é? - repetia irmã Célia vestindo Josiane após o banho. - Que sujeira é essa? Já faz 6 dias e nada desse grude sair.

O convento era um abrigo para órfãos e, não raro, para meninas abandonadas pelos pais a procura de emprego em São Paulo. Irmã Célia, sempre com seu terço na mão direita, cuidava sozinha do convento. Com pouco mais de 60 anos, tinha uma aparência de uma centenária. Reflexo do seu corpo esguio, de uma careca que era escondida pelo capuz negro e da pele flácida. Ganhava alguns anos de juventude quando recebia o cheque da prefeitura. Tornou-se a Madre superiora após a morte da irmã anterior.

Josiane gostava da conversar com sua amiga Ana. Dois anos mais velha, Ana ficou órfã depois que seus pais morreram em um acidente de caminhão a caminho de São Paulo. Portava dois grandes olhos marrons que sempre olhavam o horizonte. Tinha 9 anos e era um pouco maior que sua amiga. Com o mesmo sonho de Josiane, queria ser doutora. Mas antes, usar um lindo vestido com uma tiara de pedrinhas igualzinha aquela boneca chamada Barbie. Sempre falava isso gesticulando o sonho no ar com as duas mãos.

O convento era uma construção antiga da escola Maristas. Os educadores franceses doaram o prédio para as irmãs há 20 anos. Todo feito de tijolinhos, a escola tinha uma grande faixada na frente com o nome do santo São Benedito. A construção abrigava 5 salas que foram transformadas em quartos. A área onde ficava a quadra de futebol, tornou-se um palco para o coral dominical e centro de atividades. Um enorme espaço no saguão era dedicado as imagens. Uma pequena capela guardava um tímido altar para missas. O dinheiro para manutenção vinha de doações e da prefeitura da cidade.

-Olhem aqui- bradava irmã Célia no meio do salão -, qualquer risada ou brincadeirinha vocês irão para o porão. Estou sendo clara?

Quase não respirando, Josiane devorava a sopa com pão. Não entrava nada aos seus ouvidos. Com os conselhos de Ana, aprendeu a ignorar a irmã. A janta era mais importante. Só conhecia almoço, e, quando seu pai conseguia vender algo na feira, um café da manhã. Lembou dele em São Paulo. Sempre lembrava ao comer ali. Pensava se estava comendo algo bom também. A colher caiu da sua mão quando a irmã gritou ao seu lado:

- Coma devagar, seu animal. - gritou a irmã batendo nas mãos de Josiane. - Você nunca viu comida na vida? - Puxou a orelha da menina continuou: - Também, com um pai imundo daquele é possível que nunca mesmo.

O convento era capaz de abrigar vinte meninas divididas em 5 quartos. Estava sempre lotado, mesmo com muitas camas vazias. A prefeitura apenas pagava, não tinha fiscalização para saber o destino do dinheiro. O salão era composto de quatro grandes mesas de madeira marrom em diagonal, e um grande balcão onde eram servidas as bandejas das refeições.

O salão ficou mudo quando Josiane jogou a sopa quente na cara da irmã e pulou em cima dela gritando para não falar do seu pai. Chorando, quase não acertou nenhum golpe. Apenas gritava e soluçava sem parar. Algumas meninas cochichavam sabendo o que aconteceria com ela. A grande maioria apenas olhavam sem reação. Ana, com a mão direita na altura do coração, chorava pela amiga.

Josiane passaria aquela noite no porão. A primeira das suas duas terríveis noites naquele lugar.

"O diabo também vestia habito".

**

-Uma gia?

-Não, fia. É um coelho.

-Um galo?

-Isso. É um galo.

A chama do velho lampião projetava aquela mão cheia de calos na parede de barro. Era a brincadeira preferida de Josiane. Com suas risadas, ela esquecia a fome. Joelson sonhava com aqueles animais de sombra ali, guardados no seu pequeno curral. Pensava também na sua esposa que morrera há um ano de gripe brincando ali com eles.

A lua brilha quase tão forte como o sol. As estrelas parecem maiores em um céu sem nuvens. No mandacaru, uma cigarra era a cantora noturna. Ao longe, via-se uma pequena casa de barro. No quintal, repousa uma cruz de madeira fincada no chão. Ao lado, um cabrito doente, preso no pequeno cercado tentava, em vão, dormir. A lua já estava em meio céu quando o lampião extinguiu sua chama. A cigarra já não mais roçava suas patas. Fazia silêncio no cerrado. A Patativa procurava, mesmo sabendo que não encontraria, alguma comida naquele chão rachado. A noite, enfim, também dormia. Acordava assustada, vez ou outra, pelo barulho de dois escandalosos estômagos vazios.

**

Com a cabeça entre os joelhos, Josiane chorava. Presa em um quarto sem qualquer luz, estava com medo e com saudade do pai.

- Cala boca menina. -gritava irmã Célia do lado de fora. - Cala a boca ou vou acender uma vela. Ai você vai chorar de verdade.

O porão era um pequeno quarto nos fundos do convento. Construído após o prédio ser doado, o quartinho funcionava como um almoxarifado. No espaço mal cabia uma cama e não tinha janelas, somente uma pequena porta de ferro com uma abertura na altura dos olhos. Havia alguém ali dentro com Josiane, mas estava escuro demais para ver alguma coisa.

-Olha - falou a irmã enquanto acendia uma vela -, ai do seu lado. Olha sua chorona. Essa morreu de medo. Não vá morrer de medo também. - Repetia enquanto movia as bolas do terço - Cadê seu papai sem dentes para te ajudar agora. Olha, vai.

Josiane batia nas paredes querendo sair. Chorando, suas pequenas mãos sangravam a cada golpe.

-Tire eu daqui! - em meio a choro e soluços, voltou a colocar a cabeça entre os joelhos - Tire eu daqui!

A chama da vela iluminou uma menina ao seu lado. As órbitas oculares guardavam dois grandes negros olhos que ainda procuravam, com pânico, uma luz. Castigada, a menina morreu ali naquela manhã. Já não estava mais com o uniforme. Estava com uma roupa vermelha e seus braços estavam cortados. Sua cabeça também fora raspada. Com a língua, a irmã apagou a vela sorrindo após ver Josiane desmaiada ali do lado do corpo.

" Em São Paulo, um orelhão laranja engole uma ficha. O telefone do convento não toca. Sem mais dinheiro, um pai põe-se a chorar. "

"Por que, meu Deus?"

"Próximo dali, as ruas estão cheias."

"Vamos, Dante de Oliveira. Diretas Já".

**

O sol queimou os olhos de Josiane. Já era manhã. A pequena porta de ferrou abriu-se. Receosa, como um pássaro ao ver sua gaiola aberta, titubeou antes de fechar os olhos e sair correndo.

-Olha só - disse irmã Célia puxando-a pelo braço. -, brincou muito com sua amiguinha ontem a noite? Brincaram de que?

Soltando-se, correu para seu quarto. Ana ao ver a amiga desesperada, lhe abraçou oferecendo o pedaço de pão que guardara apostando na vaga esperança que a amiga voltaria. Ignorando, colocou a cabeça entre os travesseiros da sua cama e pôs-se a chorar demasiadamente.

-Ei, sua chorona.- gritou irmã Célia entrando no quarto das meninas - Não é hora para dormir. Vá lavar esse rosto que hoje será o ensaio para o coral de domingo. Você - apontando o dedo indicador para Ana -, se não quiser ir passar a noite no porão, vá ajudar esse bebê chorão ai. Ana assentiu com a cabeça antes da irmã sair.

-Para de chorar, vai. -disse Ana enxugando as lágrimas da amiga. - Você não pode irritar a irmã Célia. Já disse, ela é um monstro. Achei que você iria embora como as outras. Ela inventa essa história do porão. Na verdade, ela joga a gente na rua, sem nada e sem ninguém. - pausou a fala para enxugar as lágrimas de Josiane - Só você e a Gaby voltaram. Mas a Gaby ficou muda, não fala mais. Vem cá, vamos vestir a roupa e pegar o caderno de música.

Enxugando as lágrimas com os braços, Josiane foi tomar banho. Após, vestiu uma túnica vermelha e ficou admirada com as sapatilhas pretas e o laço de fita branca no cabelo que deram para ela vestir. Imaginava as doutoras vestidas com aquelas mesmas roupas.

Josiane já não mais se importava com a falta de escolinha lá dentro. Sempre se queixava com Ana sobre a falta de uma lá dentro. Nunca iria aprender a escrever assim. Se não escrevesse, nunca seria doutora. . Gostava dos dias de domingo. Todos os domingos teria uma fita branca e um sapatinho de salto preto. Durante meses, sua alegria se resumia a esperar o fim do sábado.

" Na sarjeta, um pai repousa um último gole de pinga na mão. Naquela noite, o único som das ruas eram as sirenes da polícia."

"Em um avião, uma professora chegaria ao Ceará".

**

O espelho no quarto da irmã Célia, reflete Josiane vestindo os negros salto altos que tanto queria. Que pena que não podia vestir o vestido e a fita branca agora, pensou.

Muito maior que seus pés, já desfilava sem cair. Era perfeito. Compraria muitos daqueles quando fosse doutora. Compraria muitos chapéus a seu pai também. Queria sair correndo para chamar sua amiga para usar também, mas escondeu-se dentro do guarda roupa quando ouviu a voz da irmã rezando o terço próximo dali.

Com a respiração ofegante e com lágrimas no olhos, Josiane observava, pelas pequenas aberturas na porta, a irmã com a pequena Ana, já sem vida, nos braços entrando no quarto. Não conseguia acreditar no que via.

-Lúcifer- disse a irmã jogando a menina no chão -, posso começar?

Sem reação para se mexer ou gritar, Josiane viu a irmã vestir Ana com a mesma roupa vermelha da menina do porão, e balbuciar palavras que não podia entender enquanto a vestia. Com uma vela, pingava a cera nos olhos já sem vida. Sem o capuz, a irmã exibia sua careca também. Ao ver uma imagem do diabo sendo retirada de dentro do criado mudo, Josiane saiu correndo do guarda roupa e abraçou a amiga.

-O que você esta fazendo aqui, sua pequena desgraça? Gritou irmã Célia escondendo a pequena imagem debaixo do travesseiro.

-Ana, acorda, Ana. - Repetia Josiane ignorando os tapas e murros que recebia da irmã.

Com uma pancada na cabeça, tudo ficou escuro.

**

A pequena abertura na porta de ferro abrigava dois olhos demoníacos.

-Já acordou? Bradou irmã Célia ao ver a pequena levantar cambaleante.

-Tira eu daqui - Gritava Josiane.

-Olha - dizia a irmã colocando a vela dentro da abertura da porta -, sua amiguinha ai com você. Pode abraçar ela agora, seu pequeno demônio.

Ana estava com os mesmos olhos abertos e amedrontados da menina anterior. Chorando, Josiane abraçava a amiga. Com a pequena abertura fechada, o quarto estava totalmente escuro agora. Ana já não estava tão fria após receber o calor do abraço da amiga. Josiane não sentia medo. Com os corpos colados, as últimas lágrimas desciam de seu rosto. Ouviu ainda a irmã balbuciar alguma coisa que não pôde entender lá fora. Seus ouvidos ignoraram. Com a mão, fechou aqueles olhos mortos e adormeceu.

"Um anjo sorria no céu. Abraçado, um outro anjo sorria."

**

-Meu painho? - Sem ao menos conhecer aquela estranha, Josiane acreditava no que ouvia daquela mulher.

-Sim, Josiane - a estranha ajoelhou-se na frente da menina e repetiu: - Sim, vim buscá-la para morar em São Paulo. Por enquanto você vai morar comigo até seu pai conseguir resolver... - engoliu seco e não conseguiu finalizar a frase - Esta pronta para ir?

Vanessa, esse era seu nome, chorou ao pegar pela primeira vez na mão de Josiane e sentir seus duros calos. Antes que pudesse contar sua história e quem era, ficou emocionada ao ver Irmã Célia dentro de um carro da polícia. De princípio, não acreditou na menina. Mas os corpos no fundo do convento puderam revelar a crueldade que aquelas garotas passaram ali. Aproximadamente quinze esqueletos e dois corpos, em alto estado de putrefação, estavam escondidos em um segundo quartinho do outro lado do salão.Era quase meio dia, e uma pequena garotinha estava espantada ao voar em um pássaro de metal tão grande. Pelo vidro, tentava segurar todos aqueles algodões. Tentava ver também do céu o túmulo da amiga. Deixara uma grande rosa vermelha na cruz de madeira. As três horas da viagem foram ali, com os olhos curiosos espiando aquele mundo pequenino.

**

-Onde tá painho? Perguntou Josiane com a cabeça para fora do táxi maravilhada com todos aqueles carros.

-Seu pai esta na casa da polícia. - com interrupções para não chorar, Vanessa continuou- Na próxima semana eu posso te levar lá. Ele me disse que tem um presente que você vai gostar muito.

-Você é minha nova mainha? - Perguntou Josiane virando-se agora e encarando Vanessa.

Tentando esconder as bochechas vermelhas, gaguejou antes de responde a menina.

-Não - riu na frente de Josiane pela primeira vez -, seu pai é meu amigo, na verdade, é meu empregado. Trabalhou de pedreiro na minha escola. - Pagou o taxista e continuou:- Soube da história de vocês e quis ajudar. Vem, pode entrar, aqui é minha casa.

- Painho robo pra ir na casa da polícia? - Perguntou Josiane acariciando todos aqueles lindos móveis.

-Não, minha querida. - disse Vanessa tirando seus sapatos - Acharam que era um manifestante. Acontece isso mesmo por aqui. Já já ele vai estar juntinho de você.

-A gente vai volta?

-Não vão mesmo.- Ao perceber que dissera aquilo gritando, Vanessa deu uma maçã a Josiane e continuou com uma voz suave: - Seu pai vai ser zelador na minha escolinha, pela sua carinha não sabe o que é, né? - Acariciou os cabelos da menina - Depois te explico. Tenho uma casa desocupada aqui nos fundos. Vocês irão morar nela.

Ao sair do banho, não encontrou a menina em lugar algum. Desesperada, Vanessa revirou a casa inteira. Gritava o nome da menina em vão. Ao abrir a porta da rua, seu coração amoleceu ao ver Josiane brincado com as tímidas gotas de chuva ali no seu quintal.

"Em dez anos, era a primeira chuva que via"

**

A grande tesoura de jardineiro despencou das mãos de Joelson ao ver Josiane no seu primeiro dia de aula. Era o pai mais feliz do mundo. Nada seria mais importante que aquilo. Vanessa de longe encostada na sala de aula, gritou:

-Vamos, Josiane. Não quer se atrasar para o primeiro dia, quer?

Livrando-se das lágrimas e abraços do pai, correu enxugando os olhos com os braços. Segurando a pequena mochila com as duas mãos a frente do corpo, pediu permissão e entrou timidamente na sala de aula.

Meninas - disse Vanessa fechando a porta -, essa é a mais nova coleguinha da classe. Seu nome é Josiane. Deem boas vindas a ela.

Josiane sentou na primeira carteira de frente com a mesa da professora. Depois da primeira aula, sentiu uma leve cutucada em seu ombro e olhou para trás.

-Oi, meu nome é Angélica. Quer ser minha amiguinha?

Josiane assentiu timidamente com a cabeça dizendo que sim.

-Gostei da sua tiara. -disse Angélica colocando sua carteira mais para frente e sentando-se quase ao lado dela.

-Foi painho qui mi deu. -Respondeu Josiane voltando-se para terminar de desenhar ela e seu pai brincando na chuva.

E por mais quantas vezes as lágrimas sairiam involuntariamente, pensou Vanessa enxugando os olhos após ver o desenho de Josiane.

"Lá fora, a chuva não desmotiva o povo bradando o nome de Tancredo Neves."

*

Do mundo afastado

Ali vive preso

Sofrendo desprezo

Devendo ao patrão

O tempo rolando

Vai dia e vem dia

E aquela família

Não volta mais não

Ai, ai, ai, ai

Distante da terra

Tão seca mas boa

Exposto à garoa

A lama e o paú

Meu Deus, meu Deus

Faz pena o nortista

Tão forte, tão bravo

Viver como escravo

No Norte e no Sul

Ai, ai, ai, ai

A Triste Partida / Luiz Gonzaga / Patativa do Assaré

Tema: Convento

Gostaria, primeiramente, de dedicar um Feliz Natal e um próspero ano novo à todos aqui do recanto. Agradeço a essa grande família que é o DTRL. Sem ela, não teria crescido nem 1% do que acho que cresci. Que venha 2015 com muitas e muitas fogueiras.

Eduardo monteiro
Enviado por Eduardo monteiro em 15/12/2014
Reeditado em 19/12/2014
Código do texto: T5069824
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