Acre Latte - Meu amigo oculto DTRL

No ocaso de mais um dia infindável, soterrado pelas sombras tagarelas que murmuram sandices em meu ouvido, embrulho com desdém esse desejo ultrajante. Na verdade, pouco me importa, sigo as regras – as malditas convenções – e guardo as minhas opiniões para os insetos que rodeiam minha peculiar existência.

O destinatário desta blasfêmia, não faz a menor ideia do que está lhe esperando no pós-vida, no além eterno, onde simples suspiros se transformam em gritos e todos sobrevivem de dor. Não se enganem, não faço os contratos, sou apenas mais um homem nessa linha de entregas. Sou o meio, no meio. Fico feliz de não estar no inicio, nem no final, contente de estar fadado eternamente a não ter final algum. Afinal, é preferível viver em tédio, do que agonizar infinitamente em sofrimento excruciante.

O problema é que para isso não existe aviso tingido, não existe letras garrafais gravadas com corante negro.

Também fiz a minha troca, não por outra razão estou aqui. Mas escolhi coisas simples, como dinheiro e mulheres, ao invés de excentricidades nefastas e desafios despropositados. Nunca fui um homem de grandes aspirações, o que acabou sendo bem relevante para minha alma. Sim, pois já vi o que eles fazem com os sabichões e os audaciosos. Mesmo aqui, onde o nada preenche tudo, se eu fechar os olhos e ficar em silêncio, consigo escutar as lamentações estridentes dos cretinos.

Sim, vi o que eles fazem com príncipes romenos que querem ser imortais, com templários franceses ávidos por relíquias, com grupos de humor que querem escalar o monte.

Pois bem, que seja feita a sua vontade. Mas lembre-se que se nem tudo que reluz é ouro, nem todo o leite é doce...

RSollberg
Enviado por RSollberg em 24/12/2014
Código do texto: T5080230
Classificação de conteúdo: seguro