A rosa do lago
O lago da cidade era onde os moradores gostavam de praticar caminhadas. Muitas pessoas acordavam cedo para dar voltas e voltas pela orla do lago.
A noite, a má iluminação do lugar dava abrigo aos namorados, que vinham sentar-se nos banquinhos e ali ficar de beijos.
Porém, um fato triste marcava aquele lago bonito – ali era o lugar com a maior incidência de suicídios da cidade. Muitos rapazes se suicidaram no lago, a maioria entre 20 e 25 anos.
Para Gilberto, o lago não era nem lugar de praticar exercícios, muito menos de namorar, era apenas um atalho para chegar em casa.
Uma noite, voltando pra casa do trabalho, ele deparou-se com uma linda moça sentada no banquinho do lago. Ela estava sozinha e chorava.
Ao passar por aquela moça, Gilberto não deixou de observá-la, pois sua beleza era de encher os olhos. Não resistindo, ele foi até ela e perguntou:
— Não me leve a mal, mas, qual o problema? Por que choras?
— Não é nada, coisa sem importância.
— Meu nome é Gilberto, e o seu?
— Rosa.
— Você é daqui do bairro? Acho que nunca te vi por aqui.
— Sou de outro lugar, vim aqui apenas para ficar sozinha.
— Neste caso, acho que estou atrapalhando.
Gilberto seguiu andando.
— Espere! – disse Rosa.
— O quê?
— Você me acha feia?
— Feia? – estranhou Gilberto – eu posso dizer com toda a sinceridade que você é uma das garotas mais bonitas que já vi em minha vida. Sem brincadeira.
— Está dizendo isso só para me agradar.
— Você por acaso nunca se olhou no espelho? Se você não é bonita, então eu não sei mais o que é beleza.
— Então porque o meu namorado me deixou?
— Ele deve ser um grande idiota para deixar você, uma flor tão bonita e meiga.
Dizendo isso, Gilberto acariciou o rosto de Rosa.
— Você me acha mesmo bonita?
— Tenho certeza.
— O quanto você acha que sou bonita? Acha que sou a mais bonita da cidade?
— Eu não vi todas as garotas dessa cidade, mas se tivesse um concurso de beleza, você seria uma das finalistas.
— Eu sou tão bonita para ser salva?
— Salva do que?
— Da morte.
— Do que está falando?
Em um movimento inesperado, Rosa pulou na água. No mesmo instante, Gilberto pulou atrás. Ele agarrou o corpo de Rosa e o puxou para a superfície.
— Por favor, me deixe afogar, me deixe acabar com a tristeza – pediu Rosa, tentando se livrar de Gilberto, mas ele apertou-a forte contra seu corpo.
— Não posso, você é muito bonita para morrer.
— Então morra comigo! – disse Rosa, e beijou a boca de Gilberto. O beijo enfeitiçou o rapaz, que ficou sem forças e sem consciência. Lentamente, o corpo de Gilberto submergiu na água. Quando ele recobrou a consciência, já estava nas profundezas do lago, sem quaisquer chances de se salvar. Antes de morrer, Gilberto abriu os olhos e viu Rosa, sorrindo e acenando para ele.