O Bicho Roncador

Zé Carlos engatilhou a espingarda, abriu uma fresta na porta e espiou.

— O bicho ‘tá lá fora, Maria! — ele tremia.

— Deixa, Zé. Aqui dentro ele não faz nada... — Maria, incerta.

— Que nada, mulher. Você não ouviu a história do Tião. O bicho comeu uma criança já.

— Mentira, Zé. O Tião só fala mentira!

— Mas olha, olha o ronco do bicho. Ele ‘tá rondando.

E estava mesmo. Era possível ouvir o caminhar dele, a respiração profunda, rosnar dum tigre.

Zé Carlos disparou para fora, Maria com mãos unidas, rezando.

— Foi embora. — Maria, desesperada.

— Não sei. Acho que não.

O ronco aumentou, o som das patas mais perto, Zé Carlos tremia, Maria também.

— Fecha a porta, Zé, fecha!

Mas não deu tempo, quando Zé a encostou e se preparava para trancá-la, o monstro deu uma trombada, derrubou Zé e estraçalhou Maria. Depois, foi embora. Zé chorando sozinho, espingarda na mão trêmula.

— Mentira, Tião! Este bicho não existe. — Pedro tragava o cigarro de palha.

— Mentira não, Pedro; meu amigo Zé Carlos que não me deixa mentir. Agora me vou, só não esqueça de trancar a porta.

Pedro não obedeceu, mas, quando ouviu o ronco fora de casa, se arrependeu.

Tião nunca mentia.