Os desenhos de Patrícia
 
 
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 Beatriz preparava o  almoço enquanto era  observada por sua  filhinha Patrícia, ela segurava um bloco de desenhos e a encarava com seus profundos olhos violetas.

Os olhos de Patrícia eram lindos e raros, foram esses olhos que chamaram a atenção de Beatriz na primeira vez em que ela viu a menina.

Patrícia literalmente caiu do céu na vida de Beatriz. Tudo aconteceu há cinco anos era um dia comum e solitário, como todos na vida de Beatriz, nesse dia ela estava no quintal e viu quando uma garotinha se materializou em meio à grama. Parecia cena de filme de ficção cientifica, uma luz forte invadiu o quintal e  quando a luz sumiu uma garotinha de cabelos claros e olhos violetas estava lá.

A menininha se aproximou e abraçou Beatriz. A mulher que sempre foi sozinha não pensou duas vezes e resolveu criar a menina como sua filha. Ela deu o nome de Patrícia para a filha de coração.

No começo, houve alguns momentos de dúvida, mas toda vez que Patrícia a olhava com seus lindos olhos, seu sorriso, ela via que tudo valia à pena.

Beatriz e a filha moravam em uma cidade muito isolada. As casas eram muito distantes umas das outras, por isso Beatriz não teve que se preocupar com vizinhos curiosos.

 Raramente ela e a filha iam  para a cidade principal, quando elas faziam isso, Patrícia ia com óculos escuros, as pessoas podiam achar estranho seus olhos violetas. Além dos cuidados para que ninguém estranhasse os olhos da criança, Beatriz também tinha muito cuidado com o que falava, ela sabia o que uma palavra errada podia custar à filha, ela tinha muito medo que alguém tirasse Patrícia dela.

Esse medo se acentuou quando uma noite, enquanto as duas estavam no quintal, a menina disse:

-- Mamãe?

--Sim?

--A senhora está vendo aquele brilho violeta no céu?—falou a criança apontando para uma estrela que brilhava muito. Por elas morarem em um lugar isolado, longe da poluição, as estrelas brilhavam intensamente.

--Estou...

--Aquele é o planeta de onde eu vim. Nele todos tem olhos violetas que nem eu. Um dia eles viram me buscar de volta. Eu vim para a Terra com uma missão.

--Ninguém vai lhe tirar de mim! Você é minha filha! Que missão é essa?

--Eu tinha que registrar as coisas humanas, tipo atividades, o que faz os humanos serem humanos.

--Como assim? Você não sabe ler e escrever ainda, como pode registrar algo?

--Eu não falei de escrever. Eu registro tudo através de desenhos. Até porque no nosso planeta é um idioma e no seu é outro. Os desenhos são um tipo de linguagem universal. Desenhos são entendidos em toda galáxia.

Beatriz olhou assustada para a filha. Ela abraçou a criança e repetiu que ninguém iria tirar lhe tirar ela e que era para ela parar com essa história de missão. A criança concordou. Desde esse dia, Beatriz passou a ver de forma diferente os desenhos de Patrícia.

 
*
 
Agora, fazendo o almoço, ela observava a forma como Patrícia desenhava. A menina não desenhava como uma criança normal, até porque ela não era, seus desenhos eram cheios de detalhes, pareciam desenhos de profissionais. No momento, a menina desenhava o peixe  que a mãe preparava. Seus olhinhos registravam tudo, como se fossem um gravador, imagens que eram passadas para o papel por aquelas mãos talentosas.

Patrícia já fez mais de 400 desenhos desde quando chegou. Beatriz lembra que mesmo quando mais nova Patrícia já desenhava assim. A criança havia desenhado as árvores do quintal, sua mãe, a cama e tudo mais. Às vezes, enquanto desenhava, ela perguntava para a mãe para que servia um objeto.

Além de desenhar, a menina tinha mania de desmontar as coisas. Os poucos brinquedos que ela tinha foram desmontados e estudados por ela. Muitas vezes ela desenhava as peças dos brinquedos. Beatriz ficava preocupada da menina engolir as peças, mas isso nunca ocorreu. Depois daquele episódio no quintal, a mulher entendeu que e menina fazia isso para registrar até os detalhes internos.


 
*

Patrícia sabia que logo teria que voltar ao seu planeta Vjollcë, ela havia recebido um chamado do imperador de lá.

Nesse tempo em que ficou no planeta chamado Terra, ela aprendeu muita coisa, a mulher que ela chama de mãe lhe ensinou muito. Ela aprendeu que os humanos dormem em objetos que chamam de cama, eles tem um líquido que chamam de água a disposição deles e que tem uma variedade muito grande de animais, assim que eles chamam seres que tem vida que nem eles. Segundo sua mãe ensinou, alguns animais são criados em casa e outros não. Como ela queria mostrar o desenho de tudo isso ao seu povo.

 Mas, o mais importante, o que ela realmente quer que seu povo conheça é o amor. De todos os sentimentos que ela experimentou o que ela mais gostou foi o amor. Ela viu que esse sentimento é capaz de tudo. Esse sentimento fez uma humana a tratar como filha e a amar. Ela quer que o seu povo conheça esse sentimento também, seu povo também precisa ver que nem todos os humanos são perversos. Quando ela recebeu a missão, achou que ia se deparar só com seres ruins, a reputação dos humanos não é muito boa.

Todavia, havia um problema, o amor não é como as outras coisas. O amor não pode ser desenhado ou registrado em um papel. Ela tinha que levar algo que registrasse o amor, que o representasse. Ao olhar para a mãe, ela teve a resposta.


 
*


No outro dia, no dia que ela teria que ir embora, Patrícia juntou todos os desenhos, sua mãe guardava todos com cuidado. Após pegar os desenhos, ela foi no quarto da mãe e a chamou:

--Mamãe?

--Sim, querida?

--Vamos embora para o meu planeta. A senhora tem que ir comigo. A senhora faz parte da minha missão.

--Eu irei para qualquer lugar com você, filha. Eu amo você.
Beatriz se arrumou. Ela não queria estar desarrumada diante de seres alienígenas e arrumou Patrícia também. As duas foram de mãos dadas para o quintal. A menina levava seus principais desenhos em uma sacola.

Um tempo após, Beatriz sentiu que estava sendo erguida do solo e viu que Patrícia também era. Patrícia sorriu para a mãe, Beatriz soube que tudo ficaria bem.


 
*


O imperador se agradou muito dos desenhos de Patrícia, ele olhava para eles como uma criança que vê o mar pela primeira vez, ele ficou contente de conhecer as maravilhas desse planeta distante.

Mas, havia uma coisa que ele não entendia por completo: Porque a humana havia vindo? Talvez por Malý, chamada pela humana de Patrícia, tivesse se afeiçoado nela ou a quisesse recompensar por ter cuidado dela. Porém, ele achava que tinha mais coisa, os olhos de Patrícia diziam isso. Ele delicadamente perguntou para ela o porquê de Beatriz estar lá, Patrícia respondeu:

--Por que minha mãe representa a coisa mais bonita que eu descobri. Ela representa o amor. Eu não poderia desenhar o amor. O amor se desenha através de atitudes, o amor se desenhou quando ela ficou com medo de ficar sem mim e quando me tratava como filha. O amor desenha relações que antes não existiam. Só que são poucos seres humanos que tem amor atualmente, existem muitas pessoas más na Terra, minha mãe sempre me alertava disso. Pessoas como ela são tesouros. Humanos que amam são mais belos que tudo que desenhei. Eu acho que trazendo ela aqui trouxe o maior bem que eu descobri.

Beatriz ficou emocionada e abraçou a filha.  O imperador ficou muito satisfeito e organizou uma grande festa no planeta. Beatriz e Patrícia foram muito felizes nesse novo planeta.


 
*


A casa que foi de Beatriz e Patrícia foi comprada por uma escritora que queria sossego para escrever seu novo livro. Uma noite, ela estava escrevendo em seu notebook, no quintal da casa.

Entre um parágrafo e outro ela olhava as estrelas. Uma estrela de brilho violeta lhe chamava a atenção. Ela ficou imaginando se poderia ter vida nesse lindo brilho. Ela parou de escrever e ficou a observar a estrela, ela ficou olhando fixamente imaginando se alguém a encarava de volta. Daquele brilho Beatriz e Patrícia a observavam...
 

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Contadores de Histórias
Enviado por Contadores de Histórias em 17/02/2015
Reeditado em 13/03/2015
Código do texto: T5140337
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