Evzlet - O Jogo dos Sonhos Parte II
Enquanto isso, Nayara e Miguel atravessavam apressadamente o corredor entre a montanha e o precipício. Sentiam-se medo pela profundidade do precipício. Perceberam o monstro logo atrás deles. Entretanto, devido ao tamanho demasiadamente alto deste, ao tentar adentrar no corredor, eis que o mesmo se desequilibra e cai. Tentou ainda segurar em um galho de árvore – como Nathan fez -, porém, o mesmo não aguentou o seu peso e acabou por jogá-lo precipício abaixo.
Nayara e Miguel chegaram-se ao local onde os atiradores se encontraram, no mesmo instante em que Nathan conseguiu se reerguer. Atravessaram o restante do caminho pela primeira curva, onde avistaram o cenário logo atrás da montanha – o caminho continuava infinitamente ao redor do penhasco. Todavia, à esquerda do caminho, havia a entrada de uma caverna. Ali, sentada em uma pedra, olhando o vale, estava Juliana. Vestia ainda o pijama – agora sujo de sangue – da noite em que matou os seus pais. Estava cabisbaixa.
- Juliana. – disse Nathan, feliz. Foi o primeiro a lhe enxergar
Juliana sobressaltou-se ao escutar a voz de alguém em um local tão ermo quanto aquele. Virou o foco do olhar. Visualizou Nathan. Atrás dele, Nayara e Miguel.
- O que fazem aqui? – perguntou, surpresa
- Viemos lhe encontrar. – disse Nathan.
- Pra quê? Deixem-me sozinha. – Juliana virou novamente o olhar em direção ao vale. Demonstrava tristeza
- Isso tudo que aconteceu com você e com a gente foi por causa do jogo. Ele vai continuar e a única forma de parar é o terminarmos, por nossa conta. – explicou Nayara, tomando a frente
- Eu não quero mais saber desse jogo. Deixe-o continuar. Eu não quero mais viver mesmo.
- Não diga isso, Juliana. Ainda há...
Porém, Juliana cortou Nayara.
- EU MATEI OS MEUS PAIS! – o grito de Juliana ecoou por todo o vale – Eu desgracei minha própria vida. Pra que continuar o jogo? Ele não vai trazer minha vida antiga de volta.
- Não tem como saber. Não terminamos o jogo...
- SOME COM A MERDA DESSE JOGO DAQUI!! ME DEIXEM EM PAZ!
Nayara, visivelmente irritada com o comportamento da amiga, desfere um violento tapa no rosto de Juliana, jogando-a no chão. Nathan e Miguel erguem a sobrancelha, de surpresa.
- Você acha que pode desgraçar a minha vida só porque não está aguentando o peso de seus atos? Você é muita egoísta.
- Egoísta é você, que não sabe respeitar a dor alheia e só me quer pra que sua vida volte ao normal. – disse Juliana, igualmente irritada, ainda no chão
- Ora, sua... – disse Nayara. Projetou-se para partir em direção a Juliana, mas Nathan lhe segurou.
- Solte-me, Nathan. Eu preciso...
- Você não pode fazer nada... é direito dela não querer continuar o jogo...
- O jogo não pode parar. É... – dessa vez, foi Nathan que interrompeu Nayara
- Eu sei que o jogo não pode parar sem ter um final. Mas você fará o quê? Como obrigá-la a jogar um jogo que ela não quer? – Nayara foi ouvindo as palavras de Nathan e começou a se acalmar.
- Mas, mas...
- Chega. Vamos embora. Antes que o Evzlet nos ataque novamente.
- Vocês foram atacados pelo Evzlet? – perguntou Juliana, enquanto se levantava
- Sim. – respondeu Nathan. Lembrou-se do machucado na orelha. Passou a mão no local e a olhou em seguida. Estava limpa. O sangramento parara. – Vamos!
Juliana respirou fundo.
- Eu termino o jogo.
Todos se assentaram no mato, próximos à pedra onde Juliana fora encontrada. Sentaram-se em um círculo, cada um sentado a 90º do outro, como os pontos de três, seis, nove e doze horas no relógio, com Nathan no ponto das seis horas, Miguel à sua direita, Juliana à sua esquerda e Nayara no canto oposto. Esta última abriu um pequeno embrulho vermelho, após tê-lo colocado no mato. Lá dentro, havia diversos elefantes em miniaturas de metal. Afastou vários, deixando apenas um no centro.
- Quem foi o último a rodar no jogo anterior? – perguntou Nayara - Não me lembro. – disse Nathan
- Foi o Nathan. – disse Miguel. Ele certamente lembraria, pois foi o último a jogar o desafio mental, e aquele que o interrompera – Então, é a minha vez.
Miguel pegou o elefante, para rodá-lo. Engoliu em seco. O coração explodia no interior do peito. Não sabia, entretanto, Nahan e Juliana estavam da mesma forma.
O rapaz rodou o elefante. Virou-se contra Nayara. Juliana aliviou-se. Nathan surpreendeu-se; era a primeira vez que viria Nayara jogar o desafio mental. Ao raciocinar o motivo da surpresa, ficou curioso – queria ver toda aquela prepotência da garota após o final do desafio mental. Miguel e Nayara começaram a perder a consciência.
Nayara acorda. Percebe-se estar no interior de um cômodo, com paredes cinza e pouca luminosidade. Duas das paredes do local eram tomadas por grossos espinhos – medindo um metro de cumprimento cada – de metal. A garota estava no centro do dito cômodo, ao lado de uma imensa máquina, onde os punhos se encontravam esticados em direção à dita máquina, amarrados – iguais aos tornozelos - com um número infindável de correntes e cadeados.
A garota olhou assustada para todos os lados. Tentava entender qual era o desafio mental daquela vez, até o instante em que percebeu que as paredes com espinho se mexeram, deslocando alguns centímetros à frente e parando. Naquele instante, conseguiu entender com maestria o que precisava ser feito.
Começou a tentar desprender as mãos, puxando-as. Não conseguiu êxito. Após, mexeu – ainda que com dificuldades – as mãos para começar os cadeados. Enquanto isso, as paredes se aproximavam cada vez com mais intensidade.
Já haviam se passado longínquos minutos desde o começo do desafio mental. Nayara já se encontrava com o rosto coberto de suor. Conseguira desprender a mão direita e a utilizava para desprender a esquerda. As paredes se encontravam muito próximas. Conseguiu retirar a última corrente que prendia o seu punho esquerdo. Limpou o suor do rosto e agachou-se para desprender os tornozelos. Precisava ser rápida; não podia demorar o tanto que demorou em desprender os braços. Eram menos correntes, entretanto, isso não tornaria mais fácil.
Conseguiu desprender parte das correntes que se encontravam no tornozelo esquerdo. As paredes, ao invés de deslocarem-se em pequenas quantidades, como fizera o tempo todo, fecharam-se de uma só vez. Os primeiros espinhos – provenientes da parede atrás de Nayara – atravessaram o corpo da garota, furando-lhe todas suas costas e saindo pela frente. Um deles, todavia, fincou-lhe na parte traseira da cabeça, atravessando-a e arrancando o nariz e o lábio superior ao sair, do outro lado. Neste instante, Nayara perdeu a consciência, antes dos demais espinhos lhe atravessarem o corpo.
Nayara e Miguel acordaram de sobressalto, no interior do matagal. Juliana e Nathan os fitavam continuadamente, e assustaram-se quando ambos acordaram.
- E então? – perguntou Nathan, na curiosidade de saber o resultado do jogo
- Ai, ai, ai, ai... – começou a gritar Nayara, chamando a atenção de todos para si. O seu semblante demonstrava dor. Encontrava-se com a mão na região do abdômen.
- O que aconteceu, Nayara? – perguntou Juliana, preocupada. A garota levantou a blusa que estava usando. Todos – incluindo a própria Nayara – ficaram surpresos quando perceberam diversas cicatrizes de instrumentos pérfuro-cortantes na região de seu abdômen.
- Como assim, por que dessas feridas? – perguntou um desesperado Miguel
- O que são essas feridas? – perguntou Nathan, preocupado
- O desafio mental que me foi dado foi me soltar de diversas correntes que prendiam os meus punhos e tornozelos, antes que paredes tomadas de espinhos me fechassem. Não consegui e fui fechada. Aparentemente, estas cicatrizes foram causadas pelo jogo. – explicou Nayara
- Como assim? O jogo é mental... – disse Nathan. Agora estava preocupado de verdade
- De fato, deveria ser assim, mas talvez, por termos parado o jogo e não tê-lo continuado nas vinte e quatro horas que foram dadas pelo Evzlet, ele deve ter ficado irritado.
- Então, o que precisamos fazer é criar jogos que não nos causam dano na vida real. – disse Nathan, acreditando chegar a uma solução do caso, aliviando-se momentaneamente
- Mas eu não criei o desafio... – disse Miguel. O alívio de Nathan esvaiu-se rapidamente do interior de seu corpo
- Ele pode criar o desafio, caso entenda que o jogador esteja facilitando. Lembra-se? – explicou Nayara. Nathan e Juliana se lembraram de quando tentaram criar jogos mais fáceis para Miguel e Alberto, respectivamente, e não conseguiram
- E o que faremos então? – perguntou Nathan
- Jogar, apenas. – respondeu Nayara. Segurou o elefante de metal. – E agora é a minha vez. – rodou o objeto.
O elefante apontou como desafiado Miguel. Este se surpreendeu. Não imagina que seria o desafiado logo após ser o desafiador. Começou a perder a consciência, no mesmo instante que Nayara.
Acordou, com a cabeça girando. Estava zonzo, com dificuldades de fixar um ponto. Percebeu que, embora o que se encontrava à sua frente era de mesma cor – azul, com pontos brancos -, este passava em uma incrível velocidade. Percebeu ainda que, de tempos em tempos, a cor azul era trocada por uma cor verde-musgo, que tomava conta do cenário momentaneamente, além de voltar ao azul. Por fim, percebeu que, à cada vez que a cor verde-musgo passava à sua frente, parecia mais distante que da vez anterior.
Miguel conseguiu fixar a cabeça. Sobressaltou-se, pois percebeu se encontrar rodando rapidamente no ar – daí o motivo de enxergar uma cor azul -, cada vez mais distanciando da terra – a cor verde-musgo. Sentiu náuseas e zonzeira, todavia, escutou algo cortando rapidamente o ar, logo acima de sua cabeça. Fitou. Surpreendeu-se. Era um gigantesco pedregulho – tinha quatro metros de largura, dois de espessura e seis de cumprimento -, de cor cinza, e se encontrava pouco acima de sua cabeça. Rapidamente Miguel jogou o corpo para o lado esquerdo, na tentativa de se desviar do pedregulho. Entretanto, o pedregulho desceu mais rápido e acabou por acertar o seu braço direito, jogando-o para trás com violência e quase o arrancando.
Miguel urrou de dor – mesmo sendo um sonho. Olhou o braço direito e o percebeu virado estranhamente para trás. Assustou-se. Porém, não teve tempo de esboçar nenhuma outra região. No instante em que se encontrava de costas para o alto do céu, um segundo pedregulho acertou-lhe as pernas, jogando-as para trás com violência. O rapaz urrou de dor novamente.
“Dessa forma eu não vou conseguir ganhar o desafio”, pensou Miguel. Continuou a rodar, agora com o braço direito e as pernas viradas estranhamente. Percebeu um terceiro pedregulho vindo em sua direção. Jogou o corpo para o lado e conseguiu desviar – por muito tempo, a bem da verdade. Voltou a rodar. Olhou para baixo e para os lados a fim de se certificar se não precisava mais nada fazer além de desviar. Nada encontrou. Virou o foco do olhar novamente em direção aos céus, onde percebeu um quarto pedregulho se aproximando. Desviou-se novamente – dessa vez, com mais facilidade. Conseguiu aprender o jeito em se desviar dos objetos.
Felicitou-se, a ponto de deixar um sorriso escapar por entre os lábios. Desviou de mais dois pedregulhos, enquanto continuava a procurar por algo a mais além da chuva de pedregulhos. Repentinamente, para sua surpresa, eis que Miguel começou a rodar com mais velocidade. Sentiu-se desesperado. Começou a se debater com o braço esquerdo, na vã tentativa de frear. Todavia, ao passar um pedregulho centímetros próximos aos dedos de sua mão, Miguel encolhe os braços. Segundos depois, um segundo pedregulho passou próximo do rapaz. Naquele instante, o rapaz percebeu que a quantidade de pedregulhos caindo aumentou. Olhou para cima. Viu-os praticamente tomando o céu. Desesperou-se.
O primeiro deles caiu próximo a Miguel. O rapaz desviou-se do segundo. Desviou-se do terceiro. O quarto caiu próximo. Ainda conseguiu desviar do quinto, antes do sexto acertar-lhe nas costas e o fez perder a consciência, enquanto era levado com força em direção ao solo, bem abaixo.
Nathan e Juliana se encontravam apreensivos, esperando o resultado do desafio, desde o instante em que Miguel gritou de dor, no meio do jogo. Após, gritou novamente, uma segunda vez. Aquilo deixou a ambos mais apreensivos que antes.
O rapaz acordou, no mesmo instante que Nayara. Parecia assustado e dolorido. Rapidamente esticou as pernas, jogando-as praticamente sobre o elefante de metal. Em seguida, deitou-se no chão. Parecia ofegante.
- Está tudo bem? – perguntou um preocupado Nathan
- Não. – respondeu Miguel, ainda no chão – Estou sentindo muita dor no braço direito e nas pernas, por causa do jogo.
- Da mesma forma que eu estou sentindo dor no abdômen... – respondeu Nayara – Agora é a sua vez, Juliana.
- Será que vamos aguentar até o final do jogo? – se perguntou, em pensamentos, Nathan
Juliana rodou o objeto. Ao parar, o elefante apontou Nathan como desafiado.
- Merda. – chiou o rapaz, raivoso, antes de perder a consciência
Nathan acorda no interior de um cômodo. Havia uma cama ao seu lado esquerdo e as paredes do local eram cinza, com decorações rosa claro nas suas partes inferiores, o que indicava ser um quarto. Do outro lado havia uma porta.
O rapaz olhou de um lado para o outro. Procurou algo que pudesse indicar qual seria o seu desafio. Não o encontrou. Resolveu abrir a porta. Estava com receio de o desafio ser algo em relação a ficar preso em um local. Tentou abri-la. Abriu com facilidade.
Naquele instante, Nathan percebeu se encontrar no interior de uma casa. Saiu do quarto e adentrou em um pequeno e fino corredor, com paredes idênticas às do quarto. Pelo caminho, havia diversas portas.
- Detesto corredores. – disse o rapaz, caminhando pelo local calmamente e com um pé atrás
Nathan deu quatro passos antes de escutar um barulho, oriundo do canto inferior da parede à sua esquerda. Visualizou o local, enquanto o barulho tornou-se mais audível. Estranhou. Repentinamente, aparece uma lança, oriunda do ponto onde saíra o barulho. No susto, de inopino, Nathan saltou para trás, desengonçadamente. Com o salto, a lança apenas raspa na perna esquerda do rapaz, fazendo um talho.
Embora tenha tentado, Nathan não consegue cair sobre suas próprias pernas, o que lhe cair de costas no chão, batendo as omoplatas. Sentiu a dor espalhar-se pelas costas – apesar de ser um sonho. Igualmente sentiu uma paralisia no corpo – responsável pela batida das omoplatas no chão.
Naquele instante, ouviu um barulho a poucos centímetros de sua cabeça. Era o mesmo barulho de outrora, e o resultado foi idêntico – projetou-se dali uma lança, que rapidamente atacou o que se encontrava à sua frente. Dessa vez, porém, Nathan teve mais sorte, pois ela nada de seu corpo acertou; apenas passou a centímetros de seu nariz.
Naquele instante, percebendo se tornar alvo fácil deitado no chão, o rapaz levantou-se em um só pulo. Ficou de pé e começou a correr pelo local. Várias lanças começaram a aparecer, à sua frente e também atrás dele.
Em um dado momento, ainda no interior do corredor, Nathan escuta um barulho oriundo de detrás dele. Sem parar de correr, o rapaz olha para trás. Visualiza duas lâminas voadoras rodando, uma acima da outra, em sua direção, atravessando o corredor com extrema facilidade.
Nathan sobressaltou-se ao visualizar as lâminas. Jogou-se ao chão, segundos antes dos instrumentos cortantes passarem sobre sua cabeça. Em seguida, o rapaz levantou-se, pouco antes de saltar para trás, a fim de desviar de uma lança que iria acertar o seu tornozelo direito. Logo após, percebeu uma lança que iria atravessar a sua orelha esquerda e sua cabeça. Desviou, não sem receber um talho na orelha.
- Ô jogo que gosta de cortar minha orelha! – reclamou o rapaz, antes de voltar a correr.
Atravessou o corredor desviando-se cegamente de todas as lanças que apareciam à sua frente. Desembocou-se em uma gigantesca sala, que esticava longamente à sua esquerda. Havia diversos ornamentos pelo local, como TV e sofás a primeiro plano; uma porta gigantesca de madeira talhada com um par de cadeiras de madeira com dois lugares e um vaso com uma bela planta em seu entorno, no centro; diversos quadros espalhados por todo o local; e uma gigantesca porta – que ia até o teto – negra, com um par de punhos cerrados em seu centro, no lugar das maçanetas.
Tão logo visualizou a cena, Nathan não tenha dúvidas: correu até a porta do centro da sala e tentou abri-la. Não conseguiu êxito. Tentou novamente. Não conseguiu novamente.
O rapaz iria tentar novamente forçar a porta, entretanto, eis que um estrondo acontece logo atrás dele, fazendo-o sobressaltar. Virou-se de costas. Visualizou uma pequena parcela da parede oposta à da porta, ao lado do corredor, avançar-lhe na parede oposta, tomando todo o local. Nathan estranhou o fato, até o momento em que outro pedaço de parede, ao lado do primeiro, ocupou de um lado a outro da sala.
Sem pensar, o rapaz correu em direção à outra porta, mais sombria que a primeira. Enquanto corria, escutou o estrondo causado pelo bater entre as paredes. Percebeu o barulho mais frequente – tão logo acabava um estrondo, começava outro.
Nathan chegou frontalmente à porta. Fitou a sala às suas costas. Percebeu que grande parte dela já havia sido fechada pela parede da direita, e avançava com velocidade. Segurou os dois punhos e tentou girar para todos os lados, sendo que o mesmo somente ia – com muito custo – para baixo. E assim Nathan o fez. Utilizando-se de toda sua força, empurrou os dois punhos para trás.
A porta à sua frente abriu, junto de um sorriso na sua boca. Entretanto, o mesmo rapidamente se dissipou, pois um fogo tomou conta do interior da porta, além de gritos característicos de dor e sofrimento. O rapaz ficou ali, paralisado, mesmo que os estrondos às suas costas não cessassem.
A estagnação de Nathan continuou até o instante em que o mesmo percebeu uma monstruosa mão, com dedos grandes e finos e unhas gigantes, segurar o batente direito da porta. Em seguida, uma segunda mão segurou o lado esquerdo do batente. O rapaz ficou em posição de defesa, aguardando o dono daquele par de mãos, que apareceu segundos depois – segundos estes que mais pareciam eternidade.
Eis que surge, do interior da porta, a parte superior de um gigantesco demônio, com seus chifres enroscados para trás, gritando aos quatro velhos. Nathan se sobressalta, tamanho o susto.
- Isso já é sacanagem... – gritou o rapaz
O demônio parou o grito e olhou em direção a Nathan, que sentiu a espinha estremecer de tanto medo. O demônio soltou uma baforada de fogo em sua direção. O rapaz projetou o corpo para direita, a fim de se desviar do fogo, entretanto, o mesmo acertou-lhe o lado direito de seu rosto, queimando-lhe face, bochecha, têmpora, olho, orelha e cabelo.
O rapaz foi ao chão, tamanha a dor. Enquanto isso, o demônio continuou a gritar – e a competir com os estrondos causados pela parede.
Mesmo sentindo uma pungente dor em seu rosto, Nathan se ergueu rapidamente. Não poderia ficar ali parado ou as paredes lhe espremeriam. Ficou de pé com um salto e fitou o demônio com o olho esquerdo, enquanto a mão direita tampava a parte queimada.
- O que eu tenho que fazer? – se perguntou o rapaz. Olhou rapidamente para todos os lados. Visualizou o demônio, visualizou os quadros – que nada de útil lhe trouxe – e visualizou a sala praticamente toda tomada pela parede. – Eu preciso agir rápido. – concluiu.
Nathan avançou em direção ao demônio e socou seu rosto com a mão esquerda. O monstro reagiu ao soco, demonstrando dor em seu semblante. Tentou lhe atacar mordendo, todavia, o rapaz desviou. Ficou abaixo do demônio e socou-lhe o queixo. O monstro reagiu novamente ao soco.
O rapaz distanciou-se do inimigo. Visualizou o seu semblante. Embora recebesse dois socos na face, não demonstrava nenhuma reação aos golpes. Repentinamente, veio à sua memória, como em um flashback, uma cena anteriormente vivida.
- É isso. – disse o rapaz, felicitando-se
O demônio solta uma segunda baforada em direção a Nathan. O rapaz saltou-se em direção ao chão próximo do batente da porta. Conseguiu desviar por completo do fogo. O rapaz rolou em direção ao demônio. Precisava ser rápido, pois mais dez segundos as duas paredes próximas a ele se encontrariam.
Nathan ficou debaixo do demônio. Percebeu-o tentar virar a cabeça para baixo para atacá-lo. Esmurrou o seu queixo diversas vezes, fazendo-o parar com a cabeça no lugar. Nathan percebeu a parede próxima a ela mexer-se, para acertar a parede esquerda. Rolou-se em direção à parede ao lado da porta negra, espremendo o próprio corpo o máximo que podia. A parede fechou-se, arrancando a cabeça do demônio e passando próxima ao corpo do rapaz.
Nathan acordou, no mesmo instante que Juliana. Tão logo recobrara a consciência no mundo real, sentiu o lado direito de seu rosto arder. Levou a mão ao local.
- Desculpe-me. Desculpe-me. – gritou Juliana, desesperado, avançando em direção ao amigo e tentando-lhe ajudar. – Eu não quis criar esse cenário...
- Tudo bem. – disse Nathan, despreocupado e calmo – Eu sei disso...
Juliana aliviou-se. Voltou ao seu local, enquanto Nathan voltava ao normal.
- Eu tenho certeza de que todos os desafios não foram criados pela gente... – disse o rapaz. Somente este percebeu, mas Nayara engoliu em seco. – Sou eu agora, né? – perguntou, a todos. Juliana meneou positivamente a cabeça. – Beleza. – ele disse, enquanto segurava o elefante. Rodou-o. O mesmo apontou como desafiado Juliana.
- Juro que o desafio não será vingança minha. – brincou Nathan, enquanto perdia a consciência
Juliana deu um tímido sorriso, unido ao medo que tomava conta de seu corpo, antes de perder a consciência.
A garota sentiu um incômodo enquanto ainda dormia, em um estado de semiconsciência. O dito incômodo perdurou, o que a fez acabar por, ao final, acordar. Ainda estava zonza quando percebeu o chão abaixo de seu pé se mover. Começou a recobrar a consciência; neste instante, percebeu que não era o chão que se movia, mas sim ela! Ademais, vozes inaudíveis existiam ao seu redor. Juliana acordou por completo. Visualizou à sua frente uma enorme igreja de pedra, com uma única torre e seu sino. Olhou ao seu redor. Descobriu se encontrar no alto de um pequeno morro. Enxergou duas fileiras de pessoas visualizando-a passar em uma espécie de corredor e gritando palavras hostis e indecifráveis. Percebeu as estranhas roupas que tais pessoas utilizavam – pareciam camponeses da Idade Média! “Que roupas são essas?”, se perguntou a garota. Além das pessoas, Juliana fitou dois homens incrivelmente espadaúdos lhe segurando, cada um por um braço e deixando os seus pés arrastando-se no chão, acertando-o ocasionalmente. Por fim, visualizou o que mais lhe chamou sua atenção – à frente da porta principal da igreja havia um pedaço de pau, colocado verticalmente, no interior de uma pira de madeira e palha. Ao redor desta, um homem, vestido de sacerdote, pronunciando um discurso indecifrável, de forma enfática, com a voz tomando os quatro cantos e alguns outros, ao lado do primeiro. E, ao que tudo indicava, Juliana se encontrava em direção a este cenário.
Repentinamente, eis que a garota escuta alguém gritando “Bruxa!”. Assusta-se. Em seguida, outra pessoa começa a gritar; em seguida, outra, e mais outra. Ao fundo, o sacerdote dizia, enfático, que alguém era bruxa e fora acusada de fazer bruxaria e ser herege. Juliana se surpreendeu, pois percebeu que começou a entender o que aquela gente gritava. Percebeu também que todos eram uníssonos em proferirem a palavra “bruxa” em relação a ela.
“Isso não está me cheirando bem”, disse, baixinho, para si mesma.
Não querendo aguardar o desfecho da história, Juliana tenta se desvencilhar dos homens que lhe seguravam. Entretanto, não logrou êxito. Tentaria novamente, todavia, encontrava-se perto o suficiente da pira de madeira e foi amarrada pelos punhos no pedaço de pau.
Rebelou-se; tentou se soltar das amarras. Porém, novamente não conseguiu êxito em seu intento.
O sacerdote, ao lado da pira, portando uma tocha acesa, proferiu:
“E, acusada de crimes graves como rebelar-se contra a Santa Igreja Católica, heresia e bruxaria, receberá a pena de morte na fogueira, para que seu espírito, hoje acometido pelo Diabo, possa se converter e encontrar Deus...”. Por fim, abaixou-se, com o intuito de colocar fogo na madeira e na palha.
“Sai pra lá com essa tocha”, disse Juliana
“Queime, bruxa. Queime”. O padre colocou fogo na palha.
“Bruxa é a sua mãe”, gritou a garota, de uma forma nada delicada.
O fogo rapidamente se alastrou pela pira. A garota sentiu o calor subir e começar a esquentar sua pele.
“Isso não está nada legal”, disse. Começou a tentar desprender suas mãos da madeira, sob os gritos incessantes da população, que a chamam de bruxa.
Juliana já sentia parte de sua pele do rosto, pernas e braços derreter. Não sabia se realmente estavam, ou era apenas sensação por causa do forte calor. Conseguiu desenroscar as mãos. Disfarçadamente, segurou-se para não cair no interior da fogueira. Em seguida, visou o ponto onde sairia do interior da pira em chamas, encolheu o corpo e saltou. Caiu bem antes do planejado, de cara no chão. Sentiu a cartilagem do seu nariz romper – mesmo sendo um sonho -, mas aliviou-se ao sentir sua pele livre do calor.
As pessoas que acompanhavam sua execução – incluindo o padre – assustaram-se com sua fuga. Alguns levaram a mão à boca, tamanha a surpresa. Juliana começou a se levantar, sentindo dores pelo corpo por causa da queda. Escutou o padre, do outro lado da fogueira gritar:
“Ela conseguiu desviar dos desígnios de Deus. Ela não pode continuar viva, ou tragará mil pragas a esta Terra; pessoas nascerão deformadas; árvores crescerão com seus frutos envenenados; povo, peguem-na. Não a deixem fugir, senão jamais teremos paz nesta terra.”
“Isso não é legal”, disse a garota. Levantou-se em um salto e correu, afastando-se do local. Os moradores pegaram em armas – como machado, foice e tocha – e postaram-se a correr atrás de Juliana. Esta, por sua vez, percebeu se encontrar no alto de um pequeno morro, com um povoado de casas campestres logo abaixo e o desceu a toda velocidade, só se segurando para não escorregar e rolar. Os moradores aparecem logo atrás, gritando. O padre apareceu logo à frente. Parou momentaneamente no local, sendo seguido pelos demais, e bradou:
“Precisamos pegar essa bruxa o quanto antes, ou ela poderá destruir a nossa cidade”.
Em seguida, os moradores desceram o morro o mais rápido que podiam.
Juliana adentrou no interior do povoado de casas dispersas. Percebeu não haver nenhum alinhamento entre elas – como ocorre na sociedade atual, formando-se logradouros. Foi-se escondendo entre as casas, distanciando-se ao máximo do ponto onde adentrou no povoado.
Em questão de segundos, os moradores chegaram ao exato ponto onde Juliana adentrara no local. Procuraram-na, dispersando-se pelo povoado. A garota se encontrava escondida atrás de uma pequena casa de madeira, fitando a movimentação do outro lado da residência – e até mesmo o que se passava às suas costas.
Percebeu os moradores procurando-a avidamente, em todos os cantos, reunindo-se novamente, com ar de frustração.
“Essa menina sumiu mesmo”, disse um dos homens. Outro procurava com os olhos, do local onde se encontrava.
“Não tem como essa menina ter ido muito longe”, esse último disse. “Apesar de bruxa, ainda é uma garota.”
“Ela deve ter usado um de seus feitiços para fugir”, disse um terceiro homem
“E se ela amaldiçoou essas terras?”, perguntou um quarto. “Vocês ouviram o padre comentando...”
“É verdade. Fogo sempre espanta tudo de ruim”, disse o segundo homem. Colocou a tocha que segurava sobre a casa à sua esquerda – por coincidência, a casa onde Juliana se encontrava escondida. Ao mesmo tempo, o terceiro homem colocou fogo na casa à direita do grupo de moradores.
As casas rapidamente foram consumidas pela chama. Com medo de se queimar, Juliana postou-se a correr. Um dos homens percebeu e virou-se, visualizando as pernas da garota, antes de a mesma desaparecer atrás da casa em chamas.
“Eu a vi. Ela está atrás dessa casa”, gritou o homem, apontando em direção ao local onde viu a garota. Todos postaram a correr em tal direção.
Juliana continuou a correr pelo interior do povoado. Ziguezagueou pelas residências, com o intuito de tentar distrair os seus perseguidores. Em dado momento, todavia, acabou por esbarrar com um grupo de moradoras que a procuravam. Assustou-se, pois não as esperavam. As mulheres igualmente se assustaram.
Eram cinco mulheres no total. Quatro delas, tão logo visualizaram Juliana, esconderam-se da mesma, com medo de alguma maldição. A quinta, entretanto, mais corajosa que as demais, atacou a garota antes que a mesma pudesse esboçar outra região que não o susto. Com o cabo do machado que portava, derrubou Juliana no chão.
A garota tentou se levantar, porém foi contida por um segundo golpe de cabo de machado, proferido pela mesma mulher. As demais, percebendo Juliana no chão, fragilizada, encheram-se de coragem e postaram-se a também atacá-la. Ao contrário da primeira, estas atacavam não com o cabo do machado, mas com o mesmo propriamente dito. Devido ao fato de a garota utilizar dos braços e pernas como proteção, estes foram os membros que sofreram diversas lesões.
As mulheres passaram no instante em que escutou os passos de um grupo grande de homens chegando. Estes estavam correndo atrás de Juliana e surpreenderam-se ao encontrá-la jogada no chão, já com algumas feridas.
Juliana percebeu a deixa para tentar fugir novamente. Porém, estava no chão, caída, ofegante, sem força alguma. Sabia naquele momento que era o seu fim.
“Deixem isso com a gente agora”, disse um dos homens. Este, junto de outros homens, correu em direção à Juliana. Seguraram seus braços e pernas e abriram-no. A garota ainda tentou se desvencilhar de seus captores, mas não conseguiu êxito. Os demais homens e as mulheres circundaram Juliana.
“Agora essa bruxa morre”, gritou um dos homens. Em seguida, ergueu o machado. Juliana arqueou a sobrancelha. Gritou para que o mesmo parasse, mas este não obedeceu. Desceu com força a arma e a fincou com violência no peito da garota, deixando vazar um pedaço de músculo e jorrar sangue no vestido de uma das mulheres.
Juliana sentiu a dor, tão pungente a ponto de a mesma gritar. Em seguida, começou a tossir. Ouviu um segundo homem gritando “Morte!”. Percebeu que dali não escaparia! Sentiu o impacto do segundo golpe de machado destruir parte do seu seio esquerdo. Sentiu o seu sangue esvair de seu corpo, com violência. Sentiu o impacto do terceiro golpe, dessa vez na região da barriga. O ar sumiu de seus pulmões. Rezou para deixar a respiração e, assim, acabar a agonia; entretanto, rapidamente seus pulmões voltaram a funcionar, só para a mesma ficar consciente durante todo o processo lento e doloroso que a população daquela cidade lhe fez sofrer.
Após o golpe na barriga, parte do intestino de Juliana projetou-se para fora. Um dos homens visualizou a víscera sobressalente e a puxou, até a região do pescoço da garota e começou a estrangulá-la. Enquanto isso, outros moradores cravavam os seus machados no tórax e no abdômen da garota, destruindo-lhe o seio direito, o pulmão do mesmo lado, deixando vazar parte do estômago e um pequeno órgão, na altura da barriga, ligada a um canal – na qual depois descobriram ser o seu ovário direito. Um morador, portando uma foice, cortou-lhe o braço esquerdo, pouco acima do cotovelo. Em seguida, este mesmo homem golpeou, com o mesmo instrumento, o seu rosto, na altura do nariz, destruindo grande parte de sua face – junto dos olhos, nariz, boca e orelha esquerda – e quase a rasgando em duas. Por fim, percebendo que a mesma não mais esboçava reação, jogaram-na no chão.
Entretanto, Juliana se encontrava consciente. Sentiu por completo as dores das machadadas e tentou gritar quando perdeu o braço esquerdo – só não conseguiu por ausência de ar, já que se encontrava com a garganta obstruída por seu próprio intestino. Nem mesmo quando a sua face quase foi dividida ao meio, sua consciência esvaiu de seu corpo. Só a perdeu quando os moradores, ainda insatisfeitos, imolaram-na.
Juliana e Nathan acordam no mesmo real, de inopino, surpreendendo Nayara e Miguel, que aguardavam ansiosamente. O rapaz demonstrou sentir uma pequena fisgada na cabeça. Levou a mão ao local. Miguel, preocupado com o amigo, perguntou-lhe:
- Está tudo bem? – perguntou Miguel
Nathan respondeu-lhe apenas meneando positivamente a cabeça. Surpreendendo a todos, Juliana vomita uma grande quantidade de sangue – só não deu tempo de virar a cabeça para a esquerda para não vomitar no elefante do jogo. Em seguida, levou a mão à região da barriga, caiu no chão e começou a se contorcer e a gritar de dor.
Preocupados, os demais jogadores correram em seu auxílio.
- O que foi, Juliana? O que você está sentindo? – perguntou Nayara
- Precisamos levá-la a um hospital. – disse Miguel
- Sim. – disse Nathan. Este e Miguel posicionaram-se para segurar, por debaixo, Juliana, a fim de erguê-la do solo e levá-la à cidade. Entretanto, esta grita para que não fizessem isso, fazendo a todos pararem. – É só uma dor momentânea, ocasionada pelo jogo. – explicou. Nathan abaixa a cabeça. Miguel distancia-se da mesma.
Os amigos esperaram quase quinze minutos para que Juliana se recuperasse das dores, a fim de poderem continuar o jogo.
Era manhã. O Sol aparecia no horizonte, iluminando todo o vale e os quatro amigos, que continuavam jogando o Evzlet. Juliana e Nathan se encontravam deitados, esticando as costas e as pernas, que doíam e formigavam por causa das horas sentados na mesma posição. Estavam exaustos e bocejavam a cada minuto.
- Esse jogo não acaba nunca, não? – perguntou Juliana, exausta
- Diz a Nayara que está prestes a acabar. – disse Nathan, igualmente exausto
- Espero que sim. Meu corpo inteiro dói, tanto do cansaço quanto das dores ocasionadas pelo jogo. – disse Juliana – Não sei se aguento jogar mais desse jogo.
Enquanto isso, Miguel – que se encontrava esticando as pernas e com o corpo pendendo para trás, sendo segurado pelos braços – e Nayara – ainda sentada na mesma posição - se encontravam dormindo, sob o jugo do desafio mental.
Em pensamentos, Nayara corria, no interior de um fino corredor de uma residência. Aparecia apavorada. E não era para menos... atrás dela, havia um homem, alto e espadaúdo, portando uma motosserra ligada. Ele corria a toda velocidade, perseguindo Nayara. Repentinamente, eis que surge, à sua frente, o findar do corredor, que desembocava em um par de portas laterais. Sem titubear, a garota escolhe aleatoriamente a porta à esquerda. Tenta adentrar no local, entretanto, a porta se encontrava trancada. Avançou na outra porta. Igualmente trancada. Forçou novamente a porta à esquerda, na tentativa de abri-la. Não logrou êxito. Iria tentar uma terceira vez forçar a porta, todavia, não percebeu o homem com a motosserra chegando rapidamente em sua direção. E este, quando percebeu estar perto o suficiente da garota, não titubeou... ergueu a motosserra e a desceu, com violência, rasgando o crânio, a cabeça e o corpo de Nayara, até a altura da barriga, inundando o local com sangue, pedaços de massa encefálica, músculos e vísceras.
Nayara acordou de inopino, assustada. Miguel acordou calmamente, apenas abrindo os olhos. Ao percebê-los acordando, Juliana e Nathan se levantaram, sentando-se – embora ainda esticassem as pernas.
Repentinamente, o elefante central do jogo brilha em um tom verde-esmeralda. O quarteto afasta-se da miniatura, deixando um espaço maior. O chão no entorno dos quatro fica em tom semelhante ao elefante.
- O que está acontecendo? – perguntou um estupefato Nathan
- O jogo acabou! – disse Nayara, apenas
Nathan ergue as sobrancelhas. O brilho muda de cor, transformando-se em negro, da cor da escuridão. Em seguida, dois braços grandes e finos, enegrecidos, surgem do interior da terra, dentro do brilho. Os rapazes e Juliana, amedrontados, recuam um passo. Em seguida, o monstro, que rotineiramente apareceu para o quarteto, surge no interior do brilho. Nathan e Miguel recuam mais dois passos e Juliana se esconde parcialmente atrás do primeiro – que se encontrava mais perto.
“Parabéns, vocês conseguiram terminar o Evzlet.”, disse o monstro, com sua tradicional amedrontadora voz. Virou-se para Nayara. “Nayara, você conseguiu completar o jogo. Está livre agora”. Nathan, Juliana e Miguel erguem as sobrancelhas, desconfiados. “Miguel, você foi o perdedor. A sina agora é sua. Você tem um ano para encontrar novos jogadores e com estes jogar um novo desafio, não podendo perder desta vez. Se perder novamente ou não jogar, sua alma será minha”. Miguel ergue a sobrancelha, tamanha a surpresa. Um desesperado tomou conta de seu corpo, que começou a tremer involuntariamente. Nathan e Juliana ficam estupefatos, deixando transparecer em seu semblante.
“Adeus a todos, e até breve a você, Miguel”, disse o monstro, desaparecendo em seguida.
- Como assim?! – gritou Miguel, de braços abertos. Estava visivelmente alterado. – Que merda é essa?! Você não disse nada disso...
- Espera aí. Eu posso explicar... – disse Nayara, visivelmente amedrontada
- Que explicar que nada, sua vagabunda! – gritou o rapaz – Você me ferrou. Quis sair da sina e me jogou nela! – Miguel avançou sobre Nayara. Nathan lhe segurou por trás, enquanto Juliana ficou ao lado da garota, na tentativa de protegê-la.
- Me solta, idiota. – gritou Miguel, dando uma cotovelada no rosto de Nathan, acertando-lhe o nariz. Com dor, o rapaz caiu para trás, indo ao chão.
Miguel partiu em direção a Nayara. Esta tentou se esconder atrás de Juliana, porém o rapaz empurrou para trás a garota. Em seguida, deu um forte murro no rosto de Nayara, jogando-a violentamente no chão.
Visualizando a cena, Nathan rapidamente se levantou, na tentativa de acudir Nayara. Miguel pegou um pedregulho do chão.
- Você me paga, vagabunda! – gritou. Ergueu o pedregulho. Nayara gritou para que o mesmo parasse, todavia, este fez ouvidos moucos. Abaixou o pedregulho, acertando-o direto na cabeça de Nayara. Começou em seguida a bater incessantemente o pedregulho na cabeça da garota.
Juliana ficou estagnada; visualizou a amiga ser morta de forma brutal e o seu corpo paralisou. Apenas levou a mão à boca e procedeu-se a chorar copiosamente. Nathan ergueu a sobrancelha ao fitar a cena. Acelerou os passos. Segurou Miguel pelas costas e o jogou para cima, distanciando-se de Nayara.
- Para. Para com isso. – gritou o rapaz, enquanto segurava o amigo Miguel acalmou-se. Soltou o pedregulho e relaxou o corpo, sendo segurada por Nathan. Este visualizou Nayara jogada no chão, coberta de sangue. A cabeça estava esmagada; parte frontal, afundada violentamente, enquanto houve fratura da caixa esmagada e vazamento de parte da massa encefálica, cobrindo-lhe o chão e parte de seu cabelo.
- Meu Deus, Miguel. O que você fez? – gritou um desesperado Nathan
O corpo de Nayara foi encontrado após Nathan forçar Miguel a se entregar e este levou a Polícia Militar no local do crime. Este acabou preso e a Justiça, visualizando o estado de saúde deteriorado do rapaz – que repetia incessantemente que precisava jogar novamente um jogo, ou um monstro roubaria sua alma –, manteve-o em custódia preventiva no Manicômio Judiciário da cidade. Foi encontrado morto no interior de sua cela um ano após a morte de Nayara. Fora vítima de ataque cardíaco.
Juliana foi encontrada, presa preventivamente e julgada no Tribunal do Júri pelo assassinato dos pais. Recebeu a pena de 37 anos e 6 meses de reclusão e foi encaminhada diretamente à prisão feminina da região.
Nathan continuou sua faculdade e formou, junto dos demais membros de sua sala – excetuando, logicamente, Juliana e Miguel. Após a colação de grau, a turma viajou para Las Vegas, em uma viagem regada a muita bebida, sexo e jogos.
O rapaz, junto de alguns amigos, se encontrava no interior de um hotel cassino, entre máquinas caça-níqueis e mesas de jogo.
- Vamos jogar, Nathan. Vamos jogar... – disse um homem, de idade semelhante a de Nathan
- Vamos, claro. – disse o rapaz, sorrindo timidamente. Ainda se sentindo incomodado em comemorar a formatura em uma cidade regada a jogos, Nathan se esforçava para comemorar. Passou ao lado de uma mesa de jogos onde se encontravam dois homens sentados.
- Ei, garotos. Querem jogar? – perguntou um dos homens
- Claro. – respondeu o amigo de Nathan.
- Sentem-se. – disse o outro. A dupla de amigos sentou-se no par de cadeiras vazias. – Tenho um bom jogo aqui, para a gente se divertir muito. – levou a mão ao bolso. Colocou sobre a mesa alguns elefantes de miniatura de metal. – Vamos jogar?
Nathan arregalou os olhos. O Evzlet voltou!