Uma noite na mata

Em cima, no céu, só as estrelas; nem a lua, desvairada, estava ali para lhe servir de testemunha (também não tinha razão para estar, pois fora feita para iluminar os amantes e Julia indiscutivelmente não o amava). Por esta razão o ambiente se mostrava pessimamente iluminado e o mato lhe batia nos joelhos, arranhando as delicadas pernas. Queimavam os seus pulmões, fatigados, quando o avistou e empalideceu, como se visse, não um homem, mas uma assombração.

- Me deixe em paz, Adriano! - balbuciou, descendo afobadamente a íngreme ladeira.

Ele conservou-se taciturno, espreitando-a de longe, por entre as árvores e trazia consigo um brilho doentio nos olhos; nos lábios, um sorriso animalesco. E aproximou-se sem muitas dificuldades. Ela, por sua vez, logo se desorientou com a velocidade do vulto a se locomover na mata com largas passadas, bastante ruidosas, e que deixavam trilhas bem definidas por onde passava.

Atrapalhada em parte pelas formas do vestido e pelo solo barrento, a fugitiva sentiu um dos seus pés lhe trair em um de seus saltos e desabou na beirada de um rio, completamente exausta.

- Vá embora! - exclamou assustada, encolhendo maquinalmente os ombros. - Vá embora!

Desta vez arrependeu-se de ter rogado para que ele se fosse e teve a reação súbita e involuntária de cobrir a boca com as mãos. Não que não mais quisesse que ele fosse embora, mas ao falar poderia dar a ele indícios de sua localização. Tentou acalmar-se e já não ouvia mais ruído algum além dos sons dos sapos, dos grilos e das corujas. No entanto, desconfiada, concluiu que ele poderia estar em qualquer lugar naquele momento.

Em meio a toda aquela escuridão sufocante, passados cinco minutos, Adriano começou a assobiar. Depois a rir. Gargalhar.

- Eu sei que você ainda está aqui - disse ele, com aspereza. - Não tenho pressa alguma. Se for preciso, irei esperar a noite toda, com a paciência de Jó. Sabe o que eu irei fazer com você? O que acha? Estuprar, matar e depois dar a sua carne aos cachorros. Trema, só um pouco, por favor, assim poderei ouvir o tremor covarde de seu corpo!

Julia sentiu a sua alma estremecer instantaneamente com tais ameaças, como se congelasse o sangue nas veias. Um enorme calafrio! Evitando qualquer movimento brusco, mordeu o próprio punho a fim de obstruir algum grito ou choro que lhe agitava a garganta e que pudesse sair sem controle em um ataque de ansiedade.

Novamente o silêncio perturbador de vozes humanas. E já se iam lá quarenta minutos! Posso dizer que foram quarenta minutos de completa agonia. Mas Julia não tinha conhecimento de quanto tempo havia se passado desde que ouvira a voz de Adriano pela primeira vez, grave e irritadiça. Parecia à ela, por certo, uma eternidade, impossível de calcular sob a enorme tensão que sentia.

Passou pela sua mente a possibilidade dele ter se afadigado da perseguição e partido sem anúncio das proximidades; mas deduziu que se o tivesse feito, muito provavelmente ela teria ouvido a sua movimentação na mata, o que de fato não acontecera, em instante algum. Presumiu então que estivesse tão inarredável quanto ela.

- Julia! Me perdoe! - exclamou ele, enfim, aturdido, suspendendo os seus pensamentos. - Eu te amo. Nunca faria nenhum mal a você. Eu estou cansado. Quero ir para casa. Vamos! Não está com fome? Eu estou. Faço uma sopa. Está frio e preciso de um banho quente.

A jovem não daria crédito a nenhuma de suas palavras, apesar do tom lamurioso que elas carregavam, pois pareciam carecer totalmente de sinceridade. Adriano já lhe dissera coisas semelhantes naquela noite mesmo, antes de queimá-la friamente com a ponta do cigarro. Podia sentir ainda a dor, que não era pouca, na região entre o pescoço e as costas.

Ambos sabiam que não iria demorar muito para que o dia chegasse e para que os primeiros raios de sol pudessem revelar ao seu perseguidor o seu esconderijo, como um coelho a sair forçosamente da cartola de um mágico. No escuro ela era, pelo menos, capaz de esconder-se, mas na luz do dia não teria nenhuma escapatória nem defesa; reconheciam que Adriano era muito mais forte e ágil, o que não era nenhuma novidade para eles.

Foi então que em um ato refletido e oportuno, cria de legítimo desespero, ela lançou uma pedra em uma direção, suscitando um ruído no interior da mata e, ao ouvir o corpo de Adriano roçando o capim em direção ao local em que caíra a tal pedra, correu apressadamente no sentido oposto. O barulho promovido pelo corpo de Adriano abafou o causado pelo corpo de Júlia, até que se distanciaram um do outro. Se achegando ao centro do rio, bem calmo e gélido, ela deixou o seu corpo cansado e ferido boiar e ser carregado lentamente pela correnteza. Passadas algumas horas, depois de percorrido um longo trajeto, pegava uma carona com um desconhecido no meio da estrada e partia dali, rumo ao México, para nunca mais vê-lo.

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