Lenda Urbana: A Babá e o Palhaço

Susy era uma garota trabalhadora. Tinha 19 anos e trabalhava durante o dia como balconista em uma farmácia no centro da cidade. Nas horas vagas, trabalhava como babá para complementar a renda e, assim, poder cuidar de Karina, sua filha de um ano e meio de idade. Naquela noite de 14 de abril, Susy iria cuidar das duas crianças do casal Fithberg, amigos de sua família.

A garota chegou à bela residência dos Fithberg às 9 horas em ponto. Amanda Fithberg estava lhe esperando já completamente arrumada. Ela e o marido, Astolfo, iriam jantar a negócios e, por esta razão, precisavam de uma babá para cuidar de Alice e Natasha, suas duas filhas, de três e cinco anos, respectivamente.

- Oi, Amanda, tudo bom? – perguntou Susy, cumprimentando Amanda

- Tudo bom, Susy, e você? – perguntou Amanda

- Tudo bom também.

- Bom, as crianças já estão dormindo no quarto. Você pode ficar assistindo TV aqui em baixo sem problema nenhum. Dificilmente as crianças acordam de noite, exceto para ir ao banheiro ou quando estão doentes. Se elas acordarem e te chamarem, você as atende. – Amanda estica a mão, com um pequeno papel – Tome. Aqui está o meu número. Qualquer coisa, se precisar, me ligue.

- Certo. – disse Susy. Cumprimentou Amanda, que se despediu da babá e saiu junto de Astolfo da residência.

Susy sentou-se no sofá da sala da residência dos Fithberg. Era um sofá confortável e espaçoso. À frente dela, um belo hack, com um TV de 42´ em cima. À direita, havia uma estante e uma porta, que dava ao interior da residência. Atrás, se encontrava a escada, que dava ao andar superior. Ligou a TV e colocou o volume no mais baixo possível. Postou-se a assistir um programa de humor.

Dez minutos haviam se passado. Susy ria quase o tempo todo do bom programa de humor que assistira. De repente, escutou choros oriundos do andar de cima. “São as crianças”, pensou. Subiu as escadas. Desembocou-se em uma pequena sala frontal, onde três portas, uma de cada lado. As três portas estavam fechadas, o que lhe causou dúvidas acerca de qual delas desembocava no quarto das crianças. Entretanto, ao ouvir os choros saindo do interior do cômodo atrás da porta da direita, não restou dúvidas em Susy. Caminhou a passos apressados até o local e abriu a porta.

Era um pequeno quarto de criança. Havia duas camas frontais à porta de entrada. Encostado na parede à esquerda, havia um grande guardarroupa, todo rosa. Entre as camas, havia um criadinho, com um abajur de luz bruxuleante. As paredes estavam com ornamentos de cor rosa.

Sentados sobre as camas, haviam duas crianças, com semblante assustados. Ao ouvirem a porta abrindo, as crianças assustaram-se novamente.

- Olá, crianças. – disse Susy, em tom animador – Meu nome é Susy. Sou a babá de você esta noite.

As crianças acalmaram-se um pouco, mas Susy percebeu que ambas ainda estavam assustadas.

- O que aconteceu, crianças? Eu escutei vocês chorando.

- Eu não gosto de palhaços. – disse uma delas, sentada à direita, apontando em direção a Susy. Por ser a mais velha, Susy logo imaginou ser ela Natasha

Esta olhou para trás. Sobressaltou-se, tamanho o susto. Logo atrás dele, distanciando-se poucos centímetros, atrás da porta, havia uma figura de palhaço. Era horrenda e assustadora. Era do tamanho de uma pessoa, tinha um macabro sorriso com dentes grandes e roupas coloridas.

“Que palhaço medonho!”, pensou Susy, enquanto se recuperava do susto “Por que os pais delas teriam esse boneco tão assustador? Ainda mais, dentro do quarto delas?”.

- Tô com medo... – choramingou a outra garota

- Acalmem-se. – disse Susy. Caminhou até ambas e ajoelhou entre as camas. Começou a acariciá-las, enquanto cantavam uma canção de ninar. As garotas adormeceram, lentamente.

Após, Susy levantou-se. Sorriu ao visualizar duas crianças de rosto angelicais dormindo. Virou-se para sair do quarto. Sobressaltou-se pela segunda vez. Jurava que sentiu o palhaço lhe fitando com os olhos. Mas este estava olhando fixamente para outro ponto. Imaginou que fosse sua cabeça. Saiu do local, fechando a porta atrás de si.

Desceu as escadas e sentou-se novamente no sofá, procurando o conforto do programa de humor que estava assistindo. Mas não se sentia mais confortável. O rosto daquele boneco de palhaço voltava constantemente em sua cabeça, deixando o seu coração aflito.

- Por que diabos alguém teria um boneco de palhaço como aquele? – se perguntou.

Susy estava sentada assistindo a outro dos incontestáveis programas de humor que passavam na TV naquele horário. Havia se passado cerca de meia hora, ou mais, desde que as crianças acordaram e já estava mais calma. Voltara a rir das piadas do dito programa. De repente, escutou um pequeno barulho, quase inaudível, oriundo do andar de cima. Parecia algo estourando – mas muito, muito pequeno. Ficou de alerta. Quando os choros das crianças ecoaram por toda a residência, Susy levantou-se em um só pulo e correu em direção ao andar de cima.

Abriu a porta rapidamente, escancarando-a. Visualizou novamente Alice e Natasha chorando, sentadas sobre a cama.

- O que aconteceu desta vez, crianças? – perguntou Susy, preocupada

- Ele estourou um balão para nos assustar. – disse Natasha

Susy olhou para trás. Visualizou, ao pé do palhaço, pedaços de um balão estourado. Sentiu um aperto gigantesco no peito, como se uma facada o rasgasse.

- Ele fica rindo pra gente, pra nos amedrontar. – disse Alice

A garota sentiu a espinha congelar, tamanho o medo.

- Crianças, eu vou ligar para seus pais voltarem. – disse Susy

- Fica aqui com a gente. Estou com medo. – disse Natasha

- Não vou demorar. – disse a garota, saindo do interior do quarto, sob protestos das crianças. Estas ainda choramingavam quando Susy desceu as escadas.

A garota caminhou em direção a sua bolsa, deixada sobre o sofá e pegou o seu aparelho celular. Em seguida, retirou do bolso o papel com o número do telefone de Amanda e o discou, levando o telefone ao ouvido.

- Alô? – perguntou alguém, do outro lado da linha

- Amanda? Tudo bem, sou eu, Susy. – disse Susy

- Oi, Susy, tudo bom? Aconteceu alguma coisa?

- Só queria lhe perguntar se poderia tampar ou retirar aquele boneco de palhaço do quarto das crianças. Elas estão com medo dele.

- O quê?! – gritou Amanda, assustada – Não temos nenhum boneco de palhaço.

A fala de Amanda sobressaltou Susy. Seu coração saltitou nervoso dentro do peito. Sentiu a espinha congelar nas costas e seu corpo tremer. Sua boca secou.

Percebeu não estar escutando mais o choramingo das crianças.

- Meu Deus. – soltou

- O quê, Susy? – perguntou Amanda. Não obteve respostas. – Susy? – novamente, não obteve respostas. Começou a ficar desesperada. – Susy? Susy?

Susy correu em direção às escadas a toda velocidade. Subiu-as a passos velozes, saltando alguns degraus e pisando em outros. Chegou ao andar superior em poucos segundos – que mais pareciam séculos – e rapidamente adentrou no andar superior.

Amanda escutava os passos largos e a respiração ofegante de Susy do outro lado da linha. A garota não guardara o celular ou encerrara a ligação. Gritava continuadamente para que Susy lhe atendia, mas esta não escutava seus gritos oriundos do celular em sua mão. Abriu a porta do quarto das garotas. Gritou. Amanda escutou algo caindo no chão, pesadamente, logo após o grito de Susy.

Amanda e Astolfo vieram às pressas do jantar onde se encontravam, largando-o pela metade. Atravessaram a cidade a toda velocidade e chegaram em sua residência cerca de doze minutos depois. Enquanto Astolfo guardava o veículo na garagem, Amanda corria ao interior da residência. Adentrou-a, atravessou a sala e correu em direção ao quarto das crianças. Chegando lá, assustou-se. Visualizou Alice, Natasha e Susy mortas no chão, sobre poças de sangue, com violentos golpes de faca no peito. O rosto de todas estava pintado de palhaço, e um balão de gás hélio estava amarrado no braço de cada uma das mortas.

E até hoje não se sabe quem, ou o quê, matou as garotas e a babá.

Rodrigo Picon
Enviado por Rodrigo Picon em 02/04/2015
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