O DIÁRIO

O DIÁRIO

25 de Fevereiro de 2000

Querido diário, estou preso aqui a mais ou menos duas semanas, eles não querem me libertar, ficam sussurrando coisas estranhas atrás da porta. Acho que não sairei daqui vivo, eles trazem todo dia uma criança nova. Estou com medo, a garota do meu lado, acho que se chama Estefane, não sei direito, ela me disse que já estava naquele lugar a um ano, e tem vezes que eles levam alguns de nós para uma sala do outro lado da casa e nunca mais os vemos.

Penso se minha mãe não está me procurando, será que ela está triste, não como a mais de um dia e meio, acho que é o que eles querem, eles dão comida de três em três dias, e ainda assim é muito pouco. Rogerio morreu ontem de noite, ainda me lembro quando ele caiu no chão chorando, Estefane colocou-o sobre seu colo e cantou uma linda canção, como se o estivesse preparando para a morte, lembro de ver a última luz de vida se esvair de seus olhos.

26 de Fevereiro de 2000

Oi meu querido diário, estou triste hoje, não paro de tentar me lembrar como é a luz do sol, ou sensação de calor. São mais ou menos meio dia, Estefane disse que ouviu gritos por atrás da porta negra, eles parecem estar brigando. Havia sangue escorrendo por debaixo do vão da porta. – Recolham logo este corpo!!! Foi o que eu ouvi, pouco tempo depois eles abriram a porta, e vieram ver se estávamos ouvindo, fingimos que estávamos dormindo, mais Alex não conseguiu, aquele homem notou que ele estava acordado, Alex lutou para não ser levado, eles deram um golpe em seu pescoço, o que o fez desmaiar, depois o levaram.

Pude ver nitidamente por baixo da porta, quando pegaram uma faca mais ou menos mediana e o apunhalaram sete vezes na testa. Alex era um bom amigo, já estava naquele lugar a mais de seis meses, fiquei muito mal pela sua morte.

Estefane quer fugir, mais eu tenho certeza que minha mãe me encontrará, certeza.

27 de Fevereiro de 2000

Diário, Eles nos deram hoje um liquido estranho para tomar, fiquei com muito sono depois que o ingeri, acredito que era algum tipo de sonífero.

Um choro, lagrimas caindo, uma conversa, dinheiro, minha mãe.

Acordei novamente aqui, deitado sobre aquela cama dura sem colchão, apenas madeiras, e a única coisa que me recordo, são estas palavras. Sinto uma dor bem forte na mão, está envolta num tipo de curativo. Onde está Estefane, será que também foi levada, os outros estão me olhando diferenciadamente, como se estivessem com medo de mim.

Olhei para meus braços, e haviam pregos nele, contudo eu não sentia nada, pelo menos não naquela região. Tentei tirar os pregos, mais eles não saiam, pareciam estar grudados em meus ossos.

Hoje chegou uma nova menina, estava toda machucada, só que uma coisa me intrigou nela, ela aparentava ser adolescente, ninguém até agora trazido aqui tinha essa idade, temos mais ou menos dez a cinco anos.

O nome dela é Larissa, ou pelo menos era o que estava escrito em um medalham que tinha no pescoço.

28 de Fevereiro de 2000

Diário, hoje a menina acordou, não parava de dizer; - Desculpe David, não queria ter feito aquilo, me perdoe, eu vou ser melhor para você..., Continuadamente.

Um dos homens de preto vieram e aplicaram um tipo de injeção, ela caiu na mesma hora, dormiu durante várias e várias horas.

Neste dia, mais duas crianças morreram de fome, e outras cinco de doenças. O chão vivia molhado e manchado de sangue, ninguém se incomodava de vir limpar, apenas fazíamos nossas necessidades em um pequeno banheiro quebrado e fechado no final do quarto onde estávamos, ninguém ficava perto de lá, o fedor era incrivelmente forte, alguns até já morreram por causa dele.

Mas tenho esperança e fé, que minha mãe virá me buscar.

29 de Fevereiro de 2000

Meu querido Diário, se não fosse você, não sei se conseguiria sobreviver, ainda bem que o achei, quer que o tenha deixado lá, queria que ele fosse encontrado, estranho que não escreveram nada, talvez o terror e o medo o tenham matado antes dele conseguir escrever alguma letra.

Minha mão continua tremendo, tentei tirar as ataduras que amarram sobre ela e não gostei do que vi, nossa... Minha mão estava coberta de pus e necrosada, repleta de larvas. Não aguentei ver aquilo, Arranquei um pedaço de ferro que havia no carpete do chão e criei uma faca, mordi um pedaço de pana bem forte e então arranquei fora minha mão esquerda.

Uma dor excruciante, acho que não posso descreve-la, isso é impossível, vocês nunca saberiam a dor que senti, ter que cortar minha mãe. Mas não achem que foi burro a ponto de não preparam um curativo para estancar o sangue, não foi muito difícil, já que parte da ferida não estava apodrecendo.

Hoje morreram mais sete crianças e Larissa continuou dormindo, acordava algumas vezes, mais não parecia querer ficar acordada.

1 de Março de 2000

Querido Diário, hoje é dia de comida, fiquei feliz mesmo naquele estado, a comida tinha gosto de serragem, mas para mim era a melhor que já havia comido desde que cheguei aqui. Natan e Gustavo brigaram, parece que um queria mais que o outro, um homem apareceu e levou Natan, e depois trouxe um prato cheio de carne crua para Gustavo, o garoto foi obrigado a comer, o que no fundo sabia que era os órgãos e a carne de Natan.

Gustavo chorou muito depois daquele dia, até que morreu, quer dizer, se matou enforcando-se com as próprias roupas.

Onde será que está Estefane, já fazem quatro dias que não aparece, talvez esteja morta, é normal isso aqui, a única coisa que se deve fazer é esquecer, todos esquecem, temos de ser fortes, pois se não formos, morreremos como os outros.

2 de Março de 2000

Hoje veio um homem de fora com uma máquina estranha, ele selecionou algumas pessoas e os levou. Sete horas depois um deles voltou, seu nome era Kaique, contou uma série de coisas espantosas, disse que foi levado para uma sala toda branca cheia de dispositivos modernos. Todos foram colocados em macas, menos ele que ficou do outro lado da sala branca só olhando, enquanto estava sentava-se numa cadeira. Algumas mulheres adultas chegaram, ele disse que vieram com uniformes de hospital, elas tinham algumas ferramentas nas mãos, como bisturi e alicate. Uma chamou a outra mais alta de todas de Alice, que parecia ser a chefe, ela pegou uma faca bem afiada e começou a abrir a coluna de um dos que estavam nas macas e depois com um alicate, “arrancou” foi o que ele disse, Alice puxou com toda a força a espinha dele.

As outras começaram a dissecar as crianças ainda vivas, uma terrível carnificina, depois disseram à Kaique que voltasse para o quarto escuro.

Foi o primeiro que retornou, mas ele disse algo que me surpreendeu.

- Sua mãe, Vinicius, tenho certeza que ouvi sua mãe quando estava voltando para a sala.

- Porque ela perguntou para Alice como estava você!!!

Aquilo me deixou muito assustado, como minha mãe pode estar aqui.

Pensei nisso a noite toda...

3 de Março de 2000

Hoje meu querido Diário, tomei coragem e me arrisquei, sabia que se não tomasse alguma decisão, com certeza eu morreria ali. Quando o homem abriu a porta negra, me escondi atrás dela, e com o pedaço de ferro que arranquei do chão, cortei parte do pescoço dele, algumas crianças me ajudaram levaram o corpo o homem para o fundo do quarto e fugiram comigo.

O corredor era totalmente branco, haviam algumas placas nas paredes, elas diziam; - instituto de reabilitação experimental.

Encontramos uma porta no final do corredor, parecia ser a saída...

Mas antes de pode-la abrir, levei um golpe na cabeça e desmaiei...

- Filho, você não deveria ter feito isso!!!

- Mae é você? Disse com uma voz bem fraca e a visão embasada.

- Coloquem no, na área 02, ele matou um homem. Perfeito!!!

- Me desculpe filho, mas é o melhor!!!

- Por favor, me perdoe pelo que eu fiz!

- Digam que não faram nada com ele. Por favor, ele já perdeu a mão.

- Senhora, seu filho está no projeto e já obteve grandes avanços, uma mão é algo insignificante perto do que faremos com ele.

- Mãe..., o que....

Estava tonto, acho que devo ter tido alguma alucinação, entretanto agora me colocaram num quarto diferente, creio que minha mãe virá me salvar, eu tenho fé...

Vinícius N Neto
Enviado por Vinícius N Neto em 04/04/2015
Código do texto: T5194972
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