Sombra - Ato I - Capítulo 1

   Há uma sombra na casa perto do lago, mas fazem vinte anos, que ninguém ousa chegar perto dela. Alguns dizem que existem fantasmas por lá, outros que no passado assassinatos aconteceram na propriedade, mas no fundo, nenhuma história ou mito deteria a minha curiosidade.
   Em uma sexta-feira decidi me aventurar dentre aquela estrada, já passava da meia noite e ninguém poderia me deter, todos os meus vizinhos já haviam dormido. Peguei minha bicicleta e pedalei para meu destino, determinado e um pouco preocupado, afinal não sabia o que encontraria lá. Parei a alguns metros da casa, deixando a bicicleta entre uma árvore e um arbusto.
   Eu já estava próximo, nada parecia ter vida naquele lugar, a maresia e a poeira da areia consumiam aquela madeira, tornando-a frágil, a cada brisa a casa inteira rangia.
   Ao entrar fui andando devagar, entre os cômodos, passei pela cozinha, que pouca coisa restava e os quartos também estavam acabados. E quando eu já comemorava, não encontrar nada naquele lugar, me paralisei a ver a sombra novamente, dessa vez bem mais claramente. Meu coração começou a disparar,  tropecei e cai sobre o tapete envelhecido, uma nuvem de poeira se ergueu e cobriu meus olhos, minha cabeça latejava de dor e eu desmaiei, tossindo e tentando respirar.
   Quando despertei, percebi que em meus quinze anos de vida, nunca tinha me sentido tão assustado e curioso ao mesmo tempo, eu precisava saber o que era aquela sombra, precisava entender o por que de ela estar ali. Me levantei e sentei no sofá que ainda se aguentava em pé, senti que ele não me aguentaria por muito tempo então esperei, até ele se quebrar e eu finalmente poder repousar num sofá sem pés ao chão.
-Quem é você? - Ouvi uma voz fina que arrepiou meu corpo vindo do quarto a frente.
-Sou, sou.. Liam, Liam Frederick. E você?
-Pensei que estivesse morto Liam, mas fico feliz que tenha sobrevivido. - A voz ia engrossando enquanto continuava a falar. -Você bateu forte com a cabeça no chão.
-Você não me disse quem é, você é um fantasma? - Perguntei no tom mais inocente possível, esperando palavras de aprovação.
-Não, que imaginação boba, sou um espírito menino, um espírito preso nesta velha casa de madeira.
-As histórias, de assassinatos, são verdadeiras? - Não contive minha curiosidade.
-Infelizmente não posso negar isso a você, e se a sua próxima pergunta é se fui eu a responsável, também é sim.
   De repente o vazio preencheu minha mente e não sabia mais o que perguntar, queria fugir o mais rápido possível, mas qualquer atitude mal pensada poderia me custar muito caro.
-Sei que quer ir embora, mas Liam, infelizmente não posso deixar você ir.
-Por quê? Se você quisesse já teria me matado, por que se esconder atrás de uma parede? 
-Você não iria gostar de ver minha verdadeira aparência. 
-Eu já sei, você é a garota que se afogou no lago, você e seus pais moravam aqui.
   Senti um vulto me levanto contra a parede, mal podia me mexer, ouvi lágrimas e logo eu cai, poucos centímetros mas o bastante para me causar muita dor. Rastejei até o sofá e tentei me sentar.
-Não tenho medo de você, sei que não deve ter sido fácil, mas talvez você não esteja aqui para fazer mal aos outros, se fosse para isso, acho que já teria se libertado não é mesmo? Você já matou mais de dez pessoas, me matar não vai mudar nada. Deixa eu te ajudar.
-Ajudar?
-Sim, eu volto aqui amanhã, está bem? Durante o dia. Iremos conversar sobre isso, se você não gostar da minha ideia, pode me matar.

 
Johan Henryque
Enviado por Johan Henryque em 10/04/2015
Reeditado em 08/07/2015
Código do texto: T5202590
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