Sombra - Ato I - Capítulo 2

  Sabia que precisava pensar em alguma coisa, mesmo que no fundo algo me dizia que não iria morrer, que eu poderia ajudar aquele espírito a se libertar e finalmente descansar em paz.
   Voltei na tarde seguinte, o dia estava nublado, parecia estar prestes a chover. Lá dentro me sentei no sofá, o mesmo que havia quebrado os pés, esperando que o espírito se pronunciasse.
-Por que você voltou? – A voz, fina, que eu pensará nunca mais ouvir de novo.
-Por que se eu disse que voltaria, eu volto. Não costumo falhar em minhas promessas. Posso fazer uma pergunta?
-Faça.
-O que realmente aconteceu Lauren? – Sabia que despertaria sua fúria assim que pronunciasse seu nome, que o fato de eu ter procurado sobre seu passado a faria querer me matar, mas eu sentia que devia dizer, que talvez no fundo ela precisasse lembrar de quem foi um dia.
-Eu não consigo lembrar, foi tudo tão rápido, dois homens entraram e me arrastaram até o quarto, tentaram tirar minhas roupas, eu tinha só quinze anos, meu pai chegou mas pouco conseguiu fazer, eles atiraram nele, depois que me estupraram colocaram fogo na casa, mas quando tentaram fugir, caíram na escada, fiquei no meu quarto por muito tempo. A fumaça começou a entrar pela porta, o calor me fazia tremer e suar cada vez mais, vi a janela e me arrastei até ela, me joguei do telhado para o gramado, mas já era tarde, o que restou de energia em mim se esgotou com a queda e foi ali que eu morri, tentando tossir aquela fumaça. Deitada sufocando.
   Uma lágrima percorreu meu rosto e se chocou com aquele chão empoeirado, eu acabará de descobrir a verdade, o que havia acontecido a tantos anos atrás, a menina que cruelmente morreu, mesmo tentando se salvar.
-Você, fez tudo que podia, eu não sei se teria tanta coragem.
-Eu acho que você tem. – Senti uma mão sobre meu ombro, era fria e avolumada, uma sombra escura atrás de mim.
-Não tanto quanto você, talvez eu consiga ajudar.
-Não há como ajudar, eu fiz o que fiz, matei sem pensar, liberei todo o ódio e poder de devastação que em vida não pude ter.
-Essa é a chave. Você apenas demonstrou ódio, crueldade. Talvez para você se libertar precise demonstrar bondade, amor, alegria. As purezas da vida.
   Sabia que seria difícil para ela tentar raciocinar comigo, que minha ideia era um pouco complexa demais, mas era uma possibilidade válida e estava confiante que podia estar certo.
 
 

 
Johan Henryque
Enviado por Johan Henryque em 13/04/2015
Reeditado em 01/06/2015
Código do texto: T5205884
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