O MANÍACO DO CEMITÉRIO

Não se deixe enganar pelo silêncio mórbido e sombrio que abraça a atmosfera de um cemitério. Esse silêncio guarda relatos arrepiantes e estou aqui hoje para contar a minha história.

Meu nome é Elizabeth e tudo aconteceu em final tarde chuvosa de uma segunda-feira.

Logo pela manhã telefonei para minha amiga da faculdade. Seu nome era Maria e andávamos sempre juntas.

-Maria, estou ligando para saber se você poderia me acompanhar até o cemitério Bosque do Parque. Queria visitar o túmulo de minha avó. - disse receosa, observando o tempo nublado formar-se diante das grades acinzentadas da janela de meu quarto.

-Claro que sim, Beth. - ela respondeu sem hesitar. -Bom que do cemitério podemos ir juntas para a aula, já que ele fica próximo a faculdade.

-Mesmo se chover você vai? - indaguei percebendo finas gotículas caindo do céu.

-Irei sim. - respondeu. - Só não irei, caso ocorrer algum imprevisto, mas te aviso antes e então marcamos para outro dia, ok?!

Concordei com a mesma e após nos despedirmos desliguei o telefone.

Não avisei ninguém da minha família que iria visitar o túmulo de minha avó naquele dia. O que foi um grande erro. Não avisei por medo da reação de meus familiares, da repreensão por parte deles e me mantive em silêncio durante todo o dia.

A chuva não parava de cair. As vezes engrossava, ora outra garoava, mas não cessava. O tempo estava nublado, triste. Talvez estivesse premeditando o que iria me acontecer horas mais tarde.

Quando o ponteiro do relógio se aproximava do horário combinado com Maria, resolvi tomar meu banho e me aprontar para não chegar atrasada e no banho, percebi que meu celular tocava insistentemente e quando cheguei no quarto, havia uma mensagem de texto de Maria, dizendo que não poderia me acompanhar naquela tarde, pois estava com problemas pessoais.

Revirei os olhos. Poderia ter trocado de roupa e esperado o horário de aula e deixado para visitar o túmulo de minha avó outro dia, mas não fiz isso. Decidi que iria sozinha, afinal, o que poderia me acontecer em um cemitério? Jamais havia ouvido falar que alguma coisa de muito ruim aconteceu com alguém por lá. A não ser assaltos que ocorrem nos cemitérios próximos as periferias, o que não era o caso do cemitério Bosque do Parque.

Vesti minha camisa pólo preta, uma calça jeans azul escura, um par de all-star e peguei minha blusa de moletom, pois ventava muito naquela tarde e sai para o cemitério.

Como o ônibus que peguei iria apenas até na metade do caminho, segui o restante do trajeto a pé, ouvindo música nos fones de ouvido do celular e segurando a sombrinha na tentativa falha de me esconder da chuva, já que da cintura para baixo eu estava totalmente ensopada.

Quando se trata de cemitério as pessoas costumam imaginar aqueles cemitérios antigos, com túmulos altos e cobertos de azulejos e cerâmicas, com fotografia das pessoas falecidas e por aí vai, mas o Bosque do Parque era como se fosse um campo bem amplo com uma grama bem verde e aparada, onde os corpos são sepultados, no meio de um bosque, com um pequeno lago bem no centro.

Chovia muito. As ruas estavam quase desertas e a medida em que eu ia aproximando-me do cemitério o silêncio era quase mortal, se não fosse por um carro ou uma moto que passasse buzinando e dizendo obscenidades para minha pessoa, pois modéstia parte, eu era uma jovem muito bonita. Tinha 21 anos de idade, estatura alta, pele morena, cabelos negros e lisos caindo em uma cascata brilhante sobre os ombros e terminando um pouco abaixo dos seios e um corpo magro e esbelto com algumas curvas que despertavam a atenção de algumas pessoas.

Parei diante do cemitério e observei a guarita onde ficava o porteiro. Ele estava dormindo, ou pelo menos parecia estar dormindo, pois não disse nada quando passei e por isso, aproveitei para subir o pequeno morro entre as colinas que levaria para o local onde acontecem os velórios e ficaria por lá até a chuva acalmar e depois iria até o túmulo de vovó levar as flores.

Caminhava tranquila, observando as colinas com as folhagens úmidas. Há alguns metros à minha frente havia duas mulheres dividindo um mesmo guarda-chuva, caminhando em direção ao local dos velórios.

Distraída, com os fones ligado em alguma música alta eclodindo em meus ouvidos, não percebi um veiculo Doblô branco se aproximando e parando bem próximo à mim e abaixando o vidro negro do banco do carona. Eu parei e retirei os fones de ouvido, imaginando que pessoa que estivesse lá dentro estaria precisando de alguma informação.

-Boa tarde, moça! - a voz grossa de um rapaz que estava ao volante dirigiu-se para mim.

-Oi. - respondi em um tom quase inaudível.

-Quer uma carona até ali? - ele disse exibindo um sorriso irônico, que me causou um terrível calafrio e senti meu estômago revirar.

Meus olhos castanhos buscaram as duas mulheres que agora estavam bem distantes de mim, parecendo quase um ponto negro caminhando em meio a chuva. Observei dentro do carro que estava vazio, enquanto aquele homem me observava com seus olhos de predador, um sorriso amedrontador e as suas mãos apoiadas ao volante.

-Não, obrigada! - respondi tornando colocar os fones e apressando o passo, enquanto a chuva caía.

Olhei para trás por cima dos ombros e seu carro continuava por ali, parado e sentia que ele ainda me observava. Tentava andar rápido, mas era difícil, tendo em vista que eu estava com uma mochila pesada nas costas, blusa de frio e tentava segurar uma sombrinha que dançava de um lado para o outro na companhia do vento.

Ele então acelerou o carro e reduziu a velocidade para ficar ao meu lado. Agora éramos apenas eu e ele naquele morro, entre as colinas do cemitério e a chuva forte daquela segunda-feira.

-Ora, vamos! É apenas uma carona, mocinha! Prometo que te deixo ali em cima! - ele tornou a dizer.

Ele era moreno. Possuía cabelos negros e curtos e levemente encaracolados. Os olhos eram negros e eu conseguia ler a maldade de um demônio em suas entrelinhas. O cavanhaque negro e encaracolado emaranhava-se em seu rosto. Trajava uma camisa branca e no braço direito um relógio de prata.

-Me deixa em paz, porra! - gritei nervosa apertando o cabo da sombrinha. Sentia a água entrando pelo tênis.

E sem esperar o que ele tinha para dizer, sai correndo. Corria, mas o morro íngreme me cansava e ele me alcançou com facilidade. Meu coração disparava. Maldita hora que havia inventado de ir ao cemitério sozinha, maldito dia, maldita seja Maria!

-Você não quis facilitar as coisas, sua vagabunda! - ele disse exibindo uma arma.- Entre agora no carro ou te mato aqui mesmo! - ele disse agora sério e era possível sentir o ódio misturado em sua voz, o que fazia meu coração disparar, a respiração ficar ainda mais ofegante e o estômago revirar.

Pensei em correr, mas tive medo que ele atirasse e resolvi entrar em seu carro. Fechei a sombrinha e ele abriu a porta do banco do carona para eu entrar.

Quando sentei ele fechou os vidros e começou a passar as mãos em minhas coxas, segurando a arma. Eu apenas abraçava minha mochila com força, fechando os olhos e pedindo à Deus para que aquele terrível pesadelo acabasse logo, desejando que ele realmente me deixasse ali na ala do velório.

-Está com medo, piranha?! - ele disse gargalhando.

Abri os olhos e observei. Ele sorria.

-Por favor, moço, me deixa ir embora! Eu prometo que não conto a ninguém!

-Cala a boca, vagabunda imunda! - ele gritou apertando o cano do revolver contra minha cabeça. -Ou você quer ganhar um tiro nessa cara de cadela?

E não me aguentando de pânico, deixei uma fina lágrima escorrer. Estava trêmula e com medo. Meu futuro inteiro estava nas mãos daquele homem que apontava uma arma para minha cabeça e afagava minhas pernas.

O carro passou próximo a ala dos velórios e desejei ardentemente que ele me deixasse ali.

-Por favor, moço... - supliquei em um choro.

-Cala a boca! - ele disse irritado. -Se alguém perceber alguma coisa, eu te dou um tiro. Você está me ouvindo?

A ala de velórios estava praticamente deserta, se não fosse por um homem terminando de fumar seu cigarro. Creio que nem percebeu o que estava acontecendo, pois antes de nos aproximarmos entrou para dentro do banheiro.

-Moço... - falei chorosa e trêmula. -Por favor, moço... Me deixe ir embora! Por favor! Eu prometo que eu não falo nada para ninguém! Por favor, moço! Eu juro que eu não vou a policia! Mas me deixe ir embora, moço! Por favor! Por favor!

-Não. - ele respondeu seco.

Abri a bolsa e retirei meu celular que estava com a bateria quase acabando de tanto ouvir as malditas músicas e lhe ofereci.

-Pode... Pode ficar com o meu celular, moço! - eu falei chorosa e pedindo a Deus que ele aceitasse e me libertasse.

Ele gargalhou e disse:

-Não. Eu não quero seu celular.

Foi então que resolvi colocar minha mochila no banco traseiro do carro.

-Pronto! Fique com a minha mochila! Fique com as minhas coisas! Minha carteira com dinheiro está ali dentro, meus cartões, tudo está ali! Pode ficar pra você, mas, por favor, me deixe ir embora! Por favor! - disse desesperada.

Ele riu. Gargalhava freneticamente. Como se fosse um demônio sorrindo das súplicas de sua vitima em seus pesadelos. Eu não entendi o motivo de ele rir tanto. Eu só queria ir embora, mas cada vez que o carro descia as ruas desertas do cemitério já escuro, sabia que aquela ideia tornava-se cada vez mais distante de minha atual realidade.

-Por favor! Por favor! Por favor! - agora eu gritava.

-Não.

-O que você quer? Só me diz! Se é dinheiro eu... Eu dou um jeito de arrumar pra você. Só me deixe ir...

-Eu quero você. - falou em um tom sombrio.

Ele sorria e ligou o som onde tocava um rock e aumentou. Suas gargalhadas e minhas súplicas misturavam-se a música o que tornava incapaz de qualquer pessoa nos ouvir, em meio as colinas do cemitério e a chuva forte que caía.

Ele então estacionou o carro embaixo de uma árvore e a penumbra encobria boa parte do seu rosto. Eu estava em pânico. Tremia muito. Não conseguia pensar em nada. Apenas queria acordar daquele pesadelo real.

Ele sorriu e inclinou seu corpo sobre o meu. O cheiro forte de suor invadiu minhas narinas. O hálito quente contra a minha pele me deixou enjoada. O toque violento de suas mãos apertando meus seios com força por cima da blusa me deixava zonza. Aquela sensação de estupro é terrivelmente indescritível.

Ele me puxou com força pela nuca de encontro aos seus lábios, mas fiz força contrária o que o deixou deveras irritado.

-Sua vagabunda! Vagabunda! – gritou batendo o cano da arma na minha boca.

A dor foi terrível. Cuspi dois dentes com uma pequena quantidade de sangue no banco. Ele me deu um soco na barriga. Um daqueles socos que faltam o ar e segurou meu rosto com apenas uma mão, apertando bem forte e beijou minha boca, provando da doçura do meu sangue.

-Moço, por favor! Me deixe ir embora! – supliquei, mesmo sabendo que não iria adiantar.

Ele então começou a morder meu pescoço, enquanto puxava meu cabelo com força. Eu chorava. Meu estomago revirava. Eu gritava, mesmo sabendo que nada poderia me ouvir, a não ser os mortos que descansavam nos túmulos próximos.

-Pode gritar o quanto quiser! – disse ele sarcasticamente. –Nem o Diabo poderá te ouvir. –em seguida gargalhou e me deu um tapa no rosto.

Ele deslizou o cano do revolver pelos meus seios, barriga e tentou abrir o zíper da calça jeans. Dobrei as pernas enquanto gritava. Ele me deu uma coronhada na cabeça. Fiquei tonta. Tudo foi escurecendo. Acho que desmaiei.

Acordei com ele esfregando sua língua imunda em minha boca e socando com brutalidade seu pênis em minha vagina. Aquilo machucava. Parecia que estava enfiando algo enrijecido, seco e repleto de areia dentro de mim. Mordi sua língua. Ele recuou com dor. Puxei minha calça e tentei abrir a porta do carro. Sem chance. Estava travada.

-Cadela! Quem você pensa que é pra fazer isso? Sua vagabunda! Prostituta imunda! – gritou nervoso.

Senti um pequeno gosto de sangue em minha boca. Não sei dizer se era dele ou meu. Bati com o cotovelo no vidro para quebrar, mas não consegui. Bati nos vidros, tentava abrir a porta, mas sem sucesso. Eu estava presa. Meu futuro era algo incerto naquela noite.

Ele bateu com o revolver nas minhas costas e me puxou com violência ao encontro dele e abaixou minhas calças.

-Vai! Termina isso logo! Por favor! Acabe com isso! Mas me deixe ir embora! Eu não conto pra ninguém! – gritei.

Ele gargalhava feito um demônio. Não parecia um ser humano que estava ali. Se é que estupradores podem ser considerados humanos. O que eu havia feito para merecer aquilo? Era uma pessoa boa, nunca havia mexido com coisas erradas, nunca chegava em casa tarde, nunca gostei de lugares agitados. Tinha poucos amigos, mas verdadeiros. Estudava, trabalhava e o melhor, estudava para cuidar de pessoas. Fazer o bem sem olhar a quem. Tinha ilusões, planos e sonhos, que estavam nas mãos daquele cara, daquele estranho que resolveu cruzar minha vida e fazer dela um verdadeiro inferno.

Ele tirou o pênis flácido pra fora. Estava manchado de sangue. Minha vagina ardia. Minha boca doía. Minha cabeça latejava. Meu estômago revirava. Ele tentou me penetrar, mas sem sucesso. Acabei vomitando.

-Piranha! Olha o que você fez com o meu carro! – gritou me batendo.

Ele enfurecido introduziu o cano da arma dentro da minha vagina de uma só vez. Fiquei apavorada. Doía. Estava desesperada. Gritava. Chorava.

-Tira essa arma daí! Por favor! – pedia chorosa. –Por favor! Por favor! Meu Deus!

Ele gargalhava fazendo movimentos vai e vem. Retirou a arma e apontou para o meu rosto.

-Vai! Atire! Acaba logo com isso! Por favor! Atire! Anda! – pedi.

Ele sorriu e puxou o gatilho. Nada. A arma não disparou. Ele começou a gargalhar, enquanto eu sentia meu coração quase saltar pela boca.

-A arma está descarregada, vadia! – falou.

-Então me deixe ir embora, por favor! Eu juro que eu não conto pra ninguém! Por favor!

Seu semblante tornou-se sério e ele começou a me bater. Me dava socos no rosto, batia com o revolver na minha cabeça, na minha boca, na minha barriga, nas minhas costas. Já não tinha forças para gritar, a única força que eu tinha era para sentir a dor terrível que abraçava meu corpo. Fechei os olhos sentindo meu corpo enfraquecer, mas mesmo assim ele continuou me batendo, só parando minutos depois.

Não tive forças para abrir os olhos. Respirava bem devagar. Quem sabe assim ele pensasse que eu estivesse morta e me abandonasse em qualquer vala ou tumulo e pela manhã, se tivesse sorte, alguém me encontrasse? Bem que eu gostaria que esse tivesse sido o desfecho dessa história, mas não foi.

Ele tornou a dar partida no carro e dirigiu poucos minutos. Nem saímos do cemitério. Ele parou o carro e abriu a porta em meio a chuva que caía. Queria ter forças para abrir a porta ao meu lado e fugir como se não houvesse amanhã, mas não tinha. Eu estava muito machucada. Dolorida.

Ele abriu a porta ao meu lado e caí com a cabeça e as costas no chão. Sentia suas mãos me segurando por debaixo dos braços, enquanto as gotículas fria da chuva forte banhavam meu rosto que provavelmente estava desfigurado. Será que Deus havia atendido minhas preces finalmente? Será que ele me deixaria em algum lugar e iria embora?

Ele então me carregou no colo. A chuva caía forte.

-Achou mesmo que conseguiria me enganar, vadia de merda? – ele disse parando e sussurrando em meu ouvido. – Eu sei que você está viva! – gargalhou.

Abri os olhos bem pouco e lentamente. Enxergava pouco, pois o rosto estava inchado. Estava diante do lago negro do cemitério, nos braços de um estuprador.

Ele então ergueu meu corpo e gargalhando me atirou nas águas escurecidas daquele lago. Sentia cada centímetro do meu corpo se afogar ali, naquela escuridão. Sentia cada ferida que ele provocara sendo engolida pelas águas turvas daquele lago escuro que ficava tanto tempo observando no dia do enterro de minha bisavó. Sentia meu corpo sendo engolido pelas águas turvas. Eu não conseguia me mexer, nem respirar e nem pensar. As dores não existiam mais em meu corpo, e não respirar estava fácil. De repente tudo ficou em absoluto silêncio e totalmente escuro, antes mesmo que eu conseguisse alcançar o fundo do lago. Será que eu morri ou será que eu apenas dormi e estou acordando de um pesadelo?

Acordei com os pássaros cantando. Abri meus olhos com dificuldade. Olhei para o céu. Ainda chovia fraco. Mas porque diabos a chuva molhava meu rosto? Sentei. Para meu espanto eu estava no cemitério Bosque do Parque. Ao longe acontecia um enterro. Minhas roupas estavam molhadas, meu tênis encharcado. Será que eu havia passado mau e dormido no cemitério? Meu Deus! Onde estava meu celular para ligar para minha família? Minha mãe deveria estar enlouquecida.

Subi as escadas que davam para a ala de velório e entrei no banheiro. Tinham duas mulheres. Mas não me olharam. Achei melhor assim.

Voltei para a ala do velório e resolvi pedir algum celular emprestado para alguém, mas ninguém, absolutamente ninguém parecia me ver. Chorei. Sentei em um banco e chorei. O que estava acontecendo comigo?

Resolvi ir pra casa. Pelo menos quando minha mãe me visse ela saberia que estava tudo bem e tudo ficaria tranquilo, afinal, achei que tudo não houvesse passado de um pesadelo.

Tentei pegar ônibus, mas nenhum parava para mim. Vários passavam direto. Talvez porque eu estivesse molhada e suja. Tentei pegar um táxi também, mas sem sucesso. As pessoas pareciam me ignorar. Era como se eu nem existisse.

Resolvi ir embora a pé.

Quando cheguei em minha casa meus cachorros começaram a latir. Não tinha força para abrir o portão, o que achei estranho e pulei o muro. O choro na sala dava para ser escutado do quintal. Entrei sorrindo pela sala, onde todos os meus parentes choravam.

-Mãe! Mãe! Olha eu aqui! Sou eu, sua filha Elizabeth! – disse me ajoelhando diante dela.

Minha mãe continuava chorando e foi então que minha amiga Maria entrou em casa, acompanhada de outra colegas de faculdade e disse que eu havia dito que tinha ido ao cemitério.

E foi então que me recordei de tudo o que havia acontecido. Aquilo que ocorreu na noite passada não foi um pesadelo. Foi real. Eu vivi o inferno real. O pesadelo de todas mulheres. Eu estava morta. Aquele homem havia interrompido todos os meus sonhos e planos. Ele havia acabado com minha vida e da minha família e amigos. Comecei a chorar e as dores que abraçavam meu corpo voltaram. As emoções e sentimentos são tão reais do outro lado quanto na vida real.

Senti um ódio terrível em meu coração. Eles tinham que encontrar aquele homem. Ele tinha que estar atrás das grades! Ele tinha que pagar pelo que fizera comigo!

Minha família, amigos e a policia fizeram buscas pelo cemitério e nos arredores, mas não me encontraram. Lógico que não, afinal, meu corpo estava submerso nas águas escuras e profundos daquele lago.

Minhas mãe chorava e o desespero tomava conta do seu coração dia pós dia. Cada dia sem noticias minhas era um tormento.

Meu rosto era estampado em noticiários e jornais a todo momento.

Pensei que nunca fossem encontrar meu corpo e que eu seria mais uma alma vagante pelo mundo, mas para minha surpresa um rapaz, o mesmo rapaz que me viu dentro do carro daquele homem provavelmente se recordou de meu rosto e foi até a policia. Deu alguns detalhes que foi o bastante para puxarem as filmagens do cemitério e conseguiram localizar o carro daquele assassino.

Seu nome era Ronaldo. Taxista de 32 anos. A noite era conhecido como estuprador de mulheres. Havia estuprado mais de 10 mulheres nos últimos meses. Casado, pai de duas crianças. Levava uma vida sem desconfianças.

Foi um custo para ele confessar meu assassinato à policia. Meus pais ficaram atordoados quando ele finalmente confessou detalhes do crime. Eu havia sido morta da forma mais cruel e banal que uma mulher pode ser. Havia sido torturada de todas as maneiras. Eu tinha ódio daquele homem. Finalmente ele confessou onde estava meu corpo.

No dia seguinte, pela manhã, estava a imprensa no cemitério, bombeiros, policiais, peritos, alguns amigos, meus familiares e meus pais acompanhando a drenagem do lago para retirar meu corpo que estava ali há seis dias. Seis dias de sonhos interrompidos, de uma vida destruída.

E finalmente meu corpo foi retirado das águas profundas. Ele estava irreconhecível, pois ficou preso na grade de escoamento. Estava machucado, inchado, pálido e a pele começava a se desfazer. A barriga parecia que iria explodir com os vermes dançando dentro de mim.

Minha mãe desmaiou. Meu pai entrou em estado de choque e ambos tiveram que serem amparados pela equipe dos bombeiros que estavam no local. E o que aquele assassino do Ronaldo fez? Apenas abaixou a cabeça e sorriu.

Ele foi preso. Dizia não se arrepender dos crimes. Sua esposa o deixou. Mas aquilo não era o bastante para mim. Doeu e meu coração encheu de ódio quando o laudo do instituto médico legal chegou para meus pais dizendo sobre as lesões. Havia quebrado cinco dentes meus, meu nariz, cortes na face e na cabeça, hematomas pelo corpo, uma costela quebrada, o canal vaginal dilacerado, assim como a uretra. A causa da morte? Afogamento. O que deixou minha mãe atordoada sabendo que sobrevivi aquilo todo, aquela dor imensa do estupro e toda violência para me afogar no lago do cemitério, onde apenas queria visitar minha avó.

Fui até a prisão. Na cela solitária estava ele, Ronaldo, deitado em uma cama. Ele estava na solitária, pois se ficasse com os outros presos seria morto. Resolvi brincar de aparecer em seus sonhos. Depois resolvi aparecer durante a noite, fazendo ele gritar e os presos e agentes o mandarem calarem a boca. Aparecia sempre em silêncio e sorrindo, totalmente desfigurada, como ele me deixou. Aprendi a esboçar seu sorriso demoníaco. Com o passar do tempo comecei a aparecer durante o dia. O que o deixava surtado, tendo que ser medicado, mas isso não me impedia de sussurrar as palavras ditas a mim em seu ouvido. E não foi surpresa para mim quando os agentes chegaram na manhã seguinte e o encontraram enforcado na fronha do travesseiro. Ele estava morto. Ele havia se suicidado. Eu estava feliz. E esperava que ele sentisse tudo o que eu senti por toda eternidade nos vales da morte que tem por aqui.

Voltei para casa. Confortei o coração de minha família. Chorei. Chorei por muito tempo pelos meus sonhos terem sido interrompidos. Fiquei por muitos anos vagando por aí. Mas hoje fico aqui, no silêncio do cemitério Bosque do Parque que foi palco de um dos terríveis assassinatos. Hoje o canto é livre, algumas pessoas temem vir por aqui, afinal é como eu disse: o silêncio sombrio de um cemitério guarda segredos assustadores.

Com amor: Elizabeth, uma jovem estuprada e morta com seus 21 anos de idade.

__________________________________________________________

OLÁ PESSOAL!

GOSTARIA DE DIZER QUE EU FIZ ESSE CONTO BASEADO EM UM ACONTECIMENTO REAL. QUASE ACONTECEU COMIGO, MAS EU NÃO FUI ESTUPRADA, GRAÇAS A DEUS. O QUE ACONTECEU FOI DE EU IR AO CEMITÉRIO EM UM DIA COMO ESSE, MAS EU NÃO ESTAVA SOZINHA E SIM COM UMA AMIGA E UM HOMEM NOS ABORDOU PERGUNTANDO SE EU QUERIA CARONA. CLARO QUE NEGUEI E ELE SEGUIU SEU CAMINHO. MAS EU AINDA VIVO ME PERGUNTANDO: E SE EU ESTIVESSE SOZINHA? O QUE TERIA ACONTECIDO? E SE EU TIVESSE ENTRADO NAQUELE CARRO, NAQUELE DIA, NAQUELA CHUVA, NAQUELE CEMITÉRIO? SERÁ QUE EU ESTARIA VIVA? OU SERÁ QUE MINHA SORTE ESTARIA REFLETIDA NA MESMA QUE A DE ELIZABETH, NOSSA PROTAGONISTA? BOM, ISSO SÃO PERGUNTAS QUE EU NÃO QUERO SABER DAS RESPOSTA. ESPERO QUE TENHAM GOSTADO!

UM ABRAÇO!

MARSHA!

Marsha
Enviado por Marsha em 19/04/2015
Código do texto: T5213046
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.