O Presente

O Presente

A caixa era bonita e ornada com pedras brilhantes de várias cores, que formavam uma espécie de diagrama parecido com uma mandala indiana. E o que era mais intrigante, ela parecia estar quente, não, pensando bem, ela emanava calor sem estar quente propriamente dito, era mais como uma sensação subliminar, do que algo tátil.

Muitos dias se passaram desde que eu a havia ganho de uma amigo que trabalhava como correspondente internacional, cobrindo os últimos fatos no oriente médio. Ao passar em uma bazar em Istambul, ele, procurando por algum presente, disse que foi fisgado por esta bela peça de artesanato, e que ao pegá-la lembrou-se de mim, e então a comprou por preço de banana. Esses dias passados não foram calmos e sem novidades, dormi mal, comi mal e ainda por cima venho tendo pesadelos constantes, dos quais pouco me lembro quando acordo, ainda não tive tempo de abrir a caixinha para ver o que tem dentro, incrível, mas é a verdade. Ainda não tive um tempo em que possa admirar seus detalhes com calma e paciência, realmente ela é muito bonita e chama a atenção pelos desenhos em suas faces.

Hoje é feriado por aqui, e decidi me dedicar a meu tão exótico presente, vou sentar-me em meu escritório e tentar abri-la, afinal temos de ter cuidado, se eu quebrar algo nela o conserto ficará difícil. Tentarei descrever o passo a passo de minha inspeção.

A primeira vista, ela se parece com um porta jóias comum, porém belo e reluzente, mas olhando mais de perto vejo detalhes tão intrigantes que penso estar olhando para algo que demorou muito tempo para ficar pronto, é como se o artesão que a fez tenha passado anos elaborando cada detalhe, cada fresta, cada cantinho. Ela é ainda mais linda se vista a luz de velas, parece-me que as formas ganham vida. Quase ia me esquecendo, esses diagramas que a rodeiam e que são encravados de pedrinhas coloridas, tem algo de hipnótico, confesso que não gosto de ficar olhando-os por muito tempo, tenho a sensação de que algo me observa de dentro da caixa. Ela tem o tamanho de uma tabaqueira e é de madeira de sândalo, pois exala um perfume intenso e marcante, lembra incenso. entre as pedrinhas consigo vislumbrar com uma lupa, alguns desenhos feitos na madeira, desenhos estes que me deixaram perturbado. São figuras humanas e estão em diversas situações conforme o lado em que estão entalhadas.

Pude identificar as cenas e me parecem cenas de algum ritual mágico ou coisa do tipo. Um ritual bem macabro na verdade, pois vejo uma mulher sendo arrastada, uma multidão com pedras nas mãos e finalmente algo como a cena de um sacrifício ritual, com direito a adaga e altar banhados pela luz da lua. Na tampa, onde a mandala é mais bonita e é onde tenho a sensação de ser observado, não há entalhes, mas há uma palavra, escrita em alguma língua oriental que não consigo decifrar, tenho de pedir ajuda a alguém que entenda dessas coisas. Na base da caixa, há inscrições também, na mesma língua e com os mesmos detalhes, acho que algum tipo de árabe antigo ou coisa que o valha.

Legal. consegui passar uma tarde inteira tentando resolver o enigma da parte externa da caixa que nem tentei abri-la pra ver o que tem dentro, sim, porque ao balança-la, me parece que algo está solto dentro dela. Vou deixar para amanhã, afinal preciso dormir para acordar cedinho.

Mais uma noite mal dormida e com pesadelos atrozes. Creio que meu subconsciente foi sugestionado pela caixinha, pois sonhei com uma ritual pagão, onde uma jovem era sacrificada e tinha seu coração arrancado e jogado ao fogo para honrar algum deus qualquer. Acordei de mau humor e nem sequer toquei na caixa, saí para o trabalho atrasado e com uma dor de cabeça imensa.

Passei um dia desagradável, tive uma discussão com meu superior e ainda por cima torci meu tornozelo ao descer do ônibus na chegada a casa. Os sonhos da noite não me saem da cabeça e ao invés de esmaecerem tornam-se mais vívido e cheios de detalhes. Agora sei o nome da jovem, Aysha ed Mellas, não me pergunte como sei, somente me lembrei do sonho, como quem lembra de algio que deixou fora da geladeira ao sair de casa.

Ao chegar em casa, depois de uma breve refeição, me pus a tentar abrir a caixa-presente-de-grego. Ela tem como fecho, uma lingueta que desce sobre uma argola onde está uma espécie de cadeado minúsculo, e sem buraco de chave ou qualquer coisa que seja visível para abrir. Deixei-a de canto por me ver frustrado em abri-la e decidi não tentar mais para não danifica-la. Ajeitei-a em uma cantinho da prateleira da sala onde guardo meus presentes exóticos, ela ficou muito bonita ao lado de uma máscara tribal australiana tão intrigante quanto essa caixinha.

Depois de um talk-show muito chato o sono começou a bater às portas e fui me preparar para dormir. Tenho um pequeno ritual antes de dormir, que consiste em verificar todas as portas e janelas de casa meticulosamente, e só então consigo dormir. Houve uma ocasião em que tivemos a noite mais fria do ano, meu aquecedor pifou e eu tive de me contentar com uma pilha de edredons para me aquecer. Nesse dia esqueci de verificar portas e janelas, não dormi a noite toda pois não tinha coragem de sair no frio para verificar e nem tampouco conseguia pregar o olho achando que estava com as portas abertas. Esse é uma de minhas manias, a outra é sempre deixar sapatos e outros badulaques sempre alinhados e em ordem. Talvez tenha sido por esta compulsão que , ao verificar a última janela, eu tenha reparado que a máscara tribal que estava ao lado da misteriosa caixa, havia tombado de lado na prateleira, tive a impressão de ela estar querendo fugir da caixa e ri de minha criativa imaginação.

Fui ajeitar as coisas no seu devido lugar e por impulso, peguei a caixa e a levei comigo para o quarto pondo-a em cima do criado mudo enquanto me vestia para dormir. Levei um susto quando a lâmpada do abajur queimou com um estalo, essas lâmpadas baratas nunca duram o que dizem durar, amanhã terei de comprar uma nova.

Tive outra noite atormentada por pesadelos. Mais uma vez sonhei com a jovem Aysha, e mais uma vez ela era deposta em um altar de mármore, amarrada, esfaqueada e teve seu coração arrancado para alimentar a fome de sangue dos homens que estavam em volta daquele sacrifício horrendo. Nessa manhã não precisei ir ao trabalho pois estavam dedetizando o escritório e fomos dispensados de última hora, a secretária do chefe me disse que tentou ligar-me várias vezes no começo da manhã, mas juro que não ouvi um toque sequer. Os pesadelos da noite pareciam mais vívidos e mais reais, senti cheiros e o calor de uma fogueira que iluminava todo o lugar a volta. Vi claramente os rostos das pessoas em volta, naturalmente não reconheci nenhum deles, a não ser o da jovem Aysha que não me saia da cabeça. No meio da tarde, a secretária me ligou de novo e avisou que devido ao cheiro intenso do inseticida, não poderíamos retornar antes de dois dias, pois mudaram o produto e não avisaram que o cheiro era muito forte. Eu iria aproveitar para fazer algumas pesquisas na internet.

Pesquisei pelo nome Aysha ed Mellas, porém não achei nada significativo, pois esse nome não retornou resultado nenhum, mas ao final da página, vi um nome que me acendeu um holofote na cabeça, me chamando a atenção para algumas lendas muito antigas - Sallem ou Sahlam em árabe, que quer dizer paz. Fiquei intrigado pois em uma tradução livre não havia nada que se encaixasse para "ed", foi então que deduzi que o nome poderia ser traduzido como "Aysha de Sallem", o que fazia mais sentido do que qualquer outra coisa. Joguei essa expressão no Google e não obtive nenhum resultado diferente do que já havia tido antes. Resolvi então me aprofundar no conteúdo das lendas e estórias folclóricas, quem sabe aí eu encontrasse uma forma de abrir a caixa ou seu significado. Por essa altura eu já estava com medo do que poderia descobrir, apesar de ser cético e muito racional no que diz respeito ao imaginário popular.

Passei grande parte do dia em pesquisa na net, e a cada página meu queixo caia mais um pouco, eram contos e estórias de arrepiar os cabelos. Contavam sobre bruxas, feiticeiros e criaturas do mal. Li muitos relatos de bruxas na idade média sendo queimadas vivas, feiticeiros que influenciavam reis e reinos. mas me chamou a atenção uma lenda muito antiga, do oriente médio, que retratava a estória de uma certa moça, que prestes a se casar com um homem cruel e impiedoso, pediu a uma bruxa para livrá-la de seu destino fosse como fosse. Dizia assim a estória:

" Há muito tempo atrás, na antiga Babilônia, vivia um príncipe muito cruel com seu povo. O dito líder se regozijava em maltratar crianças e idosos e tinha como escravos a maior parte dos homens que viviam em seu reino. Era definitivamente um homem impiedoso e injusto na maioria das vezes, o que deixava o povo de seu reino e os líderes dos reinos vizinhos descontentes, pois o número de fugitivos era enorme. O número de execuções era impressionante, quase dez por dia e o soberano assistia a todas tendo um sorriso sardônico estampado em seu rosto, como se aquilo trouxesse satisfação inigualável.

Um dia, o tirano percebeu que em sua maldade e crueldade, não havia tido tempo de pensar em herdeiros, sim pois ele haveria de morrer, e para quem iria ficar seu reino e suas riquezas? Assim sendo, o monarca mandou emissários pelo reino para a encontrar uma esposa que o satisfizesse no desejo de ter um filho homem.

Passaram-se três anos desde que ele enviara seus emissários, muitos voltaram com pretendentes e algumas ele desposou, todas morreram pois quando não lhe davam prole, ele as enforcava em praça pública e quando lhes dava uma filha mulher, tanto mãe como criança tinham o mesmo destino cruel de serem mortas a sangue frio. Não havia no reino mulher que quisesse desposar o monarca, com medo de ser morta por demorar em engravidar ou por dar-lhe filhas mulheres, o rei queria um filho homem que desse prosseguimento ao seu reino e fosse seu herdeiro.

Porém, um dos emissários retornou ao reino certo dia e na garupa trazia uma jovem belíssima de cabelos negros e pele branca como as areias do deserto. Tão linda era a jovem, que foi preciso que os soldados contivessem a multidão que se agrupava ao redor dos viajantes.

Ao chegar a sala do trono, o lacaio introduziu a jovem a presença do rei e lhes fez as devidas apresentações, seu nome era Aysha e ela era filha das filhas de Salém, reino distante governado por mulheres, onde os homens não eram bem vindos e onde o braço daquele tirano ainda não tinah alcançado com sua vilania. Ela havia ouvido todas as histórias sobre aquele homem grotesco a sua frente, e desde esse momento algo como um ódio mortal havia tomado seu coração e ela estava determinada a acabar com tanta maldade.

Na noite anterior ao casamento, a jovem pediu para que sua dama de companhia a levasse a uma vidente e a moça lhe explicou que seu rei não aprovava tais heresias em seus muros. Ela lhe disse que se quisesse ver uma bruxa, ela lhe diria onde encontrá-la, mas não iria com ela por medo da repreensão de seu senhor. Dizendo isso ela fez um esboço de um mapa em um pedaço de tecido roto, explicando a jovem moça que era uma jornada curta porém perigosa pois ela teria de passar pelo território dos nômades, e eles tinham fama de ser iguais ao rei em crueldade. Ela tranquilizou a menina dizendo que seus deuses não deixariam que nada de ruim lhe acontecesse.

A linda jovem, facilmente encontrou o caminho por entre o território dos nômades e encontrou a casinha indicada no mapa como sendo a da bruxa que ela deveria procurar. Foi recebida por uma velha senhora que nem de longe se parecia com uma bruxa , antes parecia-se com uma avó materna e carinhosa, que a recebeu com chá e frutas doces como mel. A velha senhora ouviu a jovem e pouco falou durante o tempo em que ela lhe contava seus motivos de estar ali. Ao final do relato, ela se levantou e parecia a jovem que a senhora tinha crescido e se tornado tão forte que poderia esmagar um pedra com uma mão, tão grande era a sua aura de poder, ela lhe disse que se quisesse ela poderia lhe ajudar mas que isso teria um preço, e que esse preço não seria barato e pareceria injusto, mas se a jovem quisesse sua ajuda teria de aceitar suas condições. A jovem, criada no meio da magia e dos círculos mágicos lhe contou de onde viera e lhe disse que seu preço, fosse o que fosse seria o justo por seus favores. A velha sorriu e tomou-a pela mão esquerda e num rápido brilho a luz das velas fez cortar com uma afiada faca a palma da mão da jovem. Do sangue que brotou do ferimento a velha mulher tomou um pouco em um cálice e amarrou a mão da jovem para parar o sangramento. Do sangue ela fez uma beberagem que envolta em conjurações adquiriu um tom de vinho novo com cheiro ácido e forte que deu para a jovem beber. Após isso ela se serviu da mesma faca e cortou de seus cabelos negros, uma mecha que envolveu em um tecido branco, para em seguida, em meio a encantamentos e murmurações, guardá-la em uma caixa ornada de pedrinhas brilhantes e multicoloridas, que em seguida, guardou em uma prateleira da cabana. Depois de sumir com a caixa, ela disse a jovem que ela casaria com o rei e lhe daria um filho homem, que ela não lhe trairia nem lhe tocaria a mão, mas que ele seria cruel para com ela, tendo olhos só para seu filho homem, seu herdeiro. Lhe disse também que ela não morreria por mãos de homens, que seu espírito seria eternizado e permaneceria guardado naquela caixa enquanto seus cabelos nela estivessem.

A jovem, com animo renovado, retornou ao palácio e teve uma noite de sono tranquila e sem inquietações, seu destino estava traçado.

Na manhã seguinte, ela levantou-se, comeu algumas frutas secas e bebeu leite fresco. Iniciou-se a preparação para o casamento, que ocorreu naquela mesma noite em meio a festejos e canticos, o povo esperava que dessa vez a mulher escolhida desse ao senhor um filho homem, para que sua tirania fosse apaziguada.

Passaram-se meses antes que Aysha engravidasse, e após a gestação, ela deu ao rei um filho homem, conforme dissera a velha bruxa. O menino era grande e forte, tinha os olhos ferozes de seu pai e os cabelos negros de sua mãe, era uma criança muito viva e curiosa, que trouxe, um pouco de paz ao rei e ao povo daquele reino. Por meses os homens, mulheres e crianças do reino deixaram de ser atormentados por seu senhor e passaram a ver a criança como razão para tamanha paz. Todos os dias presentes eram deixados na entrada de serviço do palácio, frutas secas, mel, tecidos finos e muitas outras coisas que o povo deixava como forma de agradecer ao seu deus pela paz alcançada.

Tal foi até o dia em que em uma noite fria e sem luar, a velha senhora apareceu a porta do palácio exigindo ser recebida pela então rainha. Ela foi conduzida a presença do rei, visto que a rainha já havia se recolhido e estava dormindo. Na presença do rei a velha disse que tinha vindo cobrar uma dívida de sua senhora que há muito havia sido contraída, ela gostaria de falar com a rainha, mas como ela não poderia recebe-la o rei se encarregaria de saldar este débito. Foi-lhe oferecida uma quantia em ouro que seria suficiente para comprar uma pequena cidade, o que a velha recusou prontamente dizendo que o preço de seus favores era a criança recém nascida, que ela o levaria e o criaria até a idade de dezoito anos, quando então ela o devolveria ao soberano.

O rei tomado pela cólera, mandou lançarem a velha senhora ao calabouço, onde seria esquecida até o fim de seus dias e mandou acordarem a rainha, disse-lhes que a levassem a sua presença imediatamente. Ao ver seu marido com uma expressão de extrema fúria, a jovem rainha quis saber porque estava o rei tão irado, e ele então lhe disse da velha senhora mas não lhe contou que mandara aprisioná-la. Lhe perguntou que pacto maldito era aquele que ela havia feito e porque simplesmente não aceitara o seu destino, ao que Aysha disse-lhe que preferia mil vezes morrer como uma bruxa do que dar-lhe maiores satisfações, afinal o rei queria um herdeiro e ela o tinha dado forte e saudável.

O monarca, tomado de ódio e repulsa, decretou que se fizesse com a rainha o que era ordenado se fazer com as bruxas, porque ela não passava de uma maldita feiticeira.

Aysha foi levada ao pátio principal do palácio e foi cruelmente apedrejada até a morte e depois foi arrastada pela cidade e queimada em público enquanto os arautos do rei alardeavam que ela estava servindo de exemplo a toda feiticeira que existisse por aquelas bandas. Em sua agonia final, a jovem ainda encontrou forças para jurar vingança contra a descendência do rei até a última geração."

Esta foi a estória que li na internet e que me deixou vidrado ainda mais por aquele estranho presente, seria aquela caixinha o depósito dos cabelos daquela jovem que havia tido um destino tão cruel? Eu precisava abri-la de qualquer maneira, mas não via como abrir sem arromba-la e danifica-la permanentemente.

Passei o dia de hoje envolvido com meus afazeres. Atendi alguns clientes e fui a algumas reuniões, mas no fundo não via a hora de chegar em casa para contemplar e, quiçá, abrir meu tão infame presente.

Já estou há alguns dias envolvido com este presente e ainda não sei como abrir a caixa sem danificá-la, porém notei que no lugar onde há uma espécie de fecho, eu poderia facilmente introduzir uma lâmina fina, um abridor de cartas quem sabe. Fiz isso, enfiei um abridor de cartas na pequena fenda e com calma e paciência consegui fazer a tampa ceder e finalmente abri a caixa e vi seu conteúdo. Espantoso, a lenda que li na internet é verdadeira, havia uma seda branca, imaculada e perfumada dentro da caixa, dentro dessa seda havia uma grossa mecha de cabelos negros e reluzentes. retirei-os da seda e da caixa e olhei-os ao luar que entrava pela janela, e num instante meu pensamento se voltou para sua dona. Quão bela deveria ter sido tal rainha feiticeira, que mistérios esse pequeno embrulho esconderia?

Já havia umas duas horas que eu abrira a caixa quando algo muito estranho aconteceu. Um vento muito forte soprou pela minha janela derrubando quase tudo o que estava na prateleira, menos a caixa, era como se alguém ou alguma coisa estivesse procurando pelo recipiente e acabasse derrubando tudo no caminho. Meu coração foi tomado do mais puro pânico, quando vi a tampa da caixa se abrir, e depois de aberta pude, mesmo a distância, sentir o perfume daquela mecha de cabelos que ali estava. Minha mãos estavam trêmulas e suadas. Um fio de suor gelado escorreu pelas minhas costas como o prenuncio de algo muito sombrio. uma luz azulada começou a brilhar, primeiro muito tênue, depois foi ficando mais forte até se tornar intensa e tomar todo o apartamento deixando tudo com um tom claro de azul quase me cegando. No meio daquela luminosidade ofuscante, eu vi a silhueta de uma mulher, em pé com cabelos compridos e liso esvoaçando ao vento que entrava da janela. Vi seu corpo aos poucos tomando forma entre as cortinas que esvoaçavam, e vi que ela vinha em minha direção. Com uma voz suave e melodiosa ela me agradeceu e disse que tinha comigo, um dívida eterna e perguntou-me se eu sabia onde estava seu corpo, eu respondi que não sabia, que muito tempo se passara desde sua morte e agora as coisas era diferentes.

Ela baixou a cabeça e deixou-me ouvir um suspiro dolorido. Olhou-me mais uma vez e virou-se para a janela, deu-me um aceno e flutuou para fora deixando-me apenas a recordação de seu perfume e seu olhar doce e profundo.

Ainda conservo comigo a caixa e o pequeno pedaço de seda perfumado, porém a mecha de cabelos sumiu naquela noite para não mais ser encontrada. Às vezes sonho com ela e nesses sonhos ela me lembra de sua dívida e me garante que enquanto ela existir eu estarei protegido.

Ontem mais uma vez dormi procurando informações sobre a tal rainha e a tal caixinha adornada.

Marcus Stradiotto
Enviado por Marcus Stradiotto em 24/04/2015
Código do texto: T5218887
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