DEBAIXO DA CAMA [MATTT 6/7]

MATT: O CAÇADOR DE LENDAS

6ª TEMPORADA

EPISÓDIO 07

MATT

Por incrível que pareça, encontrar pessoas num lugar parecido com um sanatório não é difícil quando se tem um dom sobrenatural. Drew a encontrou no terceiro dia de procura, não tivemos que procurar nos arquivos novamente, foi apenas seu dom que o guiou e a encontramos na sala de recreação às três horas da manhã, sozinha.

— Florence, eu te vi e estou aqui por um bom motivo, eu preciso da sua ajuda para descobrir por que viemos parar aqui e você tem a resposta. — Drew disse com todo cuidado, com a mão no ombro da garota que um dia havia sido bela.

Ela era frágil e estava sentada no sofá abraçada aos joelhos, olhava para mim e para Drew, desconfiada, pareceu uma eternidade, mas ela resolveu cooperar.

— Eu... não gosto de lembrar.

— Eu vi o anjo também, eu sei que ele existe. Eu acredito em você Flor, nós acreditamos. Mas tem algo sobre seu passado que pode nos ajudar. Eu quero saber o que aconteceu quando você era criança. — Drew continuou com seu método amigo-inquisidor.

Eu sentei no tapete, levaria uma eternidade até chegarmos no ponto que precisávamos.

Ela arregalou os olhos e suas pupilas se dilataram ao toque de Drew, pensei que ela ia cair desmaiada de sobrecarga, mas ela apenas começou a falar com os olhos vidrados.

...

Eu tinha quinze anos, era uma garota doce, mas não aguentava mais ser deixada com babás ou ter que ir com meus pais para retiros religiosos. Era primavera de um dia perfeito, até eu receber o aviso de que eles sairiam novamente. Eu bati o pé e disse que não precisava de babá.

— Mãe, eu tenho quinze anos. Já tenho idade suficiente para ficar sozinha em casa. Não preciso de nenhuma mulher estranha zanzando pela nossa casa. E se ela tentar nos roubar? A última babá passou trinta minutos trancada no seu quarto. — Eu tive que mentir para ser convincente.

Mamãe temia mais que suas joias fossem roubadas do que temia Deus.

— Certo docinho, de qualquer forma, você terá a companhia de Olly, tenho certeza que ele te manterá segura. — Ela lembrou, quando Olly, nosso São Bernardo passou voando pela sala perseguindo uma bolinha.

Às sete da noite, acompanhei meus pais até o jardim.

— Tem certeza que pode se virar sozinha, querida? — Papai perguntou.

— Claro que posso. — Confirmei.

Olly deu uma grande e molhada lambida nele, então eles partiram eu voltei para casa como o cão, comer doces como se não houvesse amanhã e assistir programas de adultos até bem tarde. Já passava da meia-noite quando eu resolvi dormir, passei por todos os cômodos, trancando portas e janelas, cada um deles, mas a janela do banheiro estava emperrada, não queria fechar, por fim eu decidi deixá-la aberta, afinal quem passaria por uma janela tão pequena?

Era irrelevante.

Tomei um banho e sequei o banheiro, então corri para o quarto, vesti meu pijama e deitei na cama, Olly correu para debaixo da cama, onde costumava ficar todas as noites. Eu amava aquele cachorro como um filho, ele era tudo que eu tinha, eu não tinha irmãos, ele era meu melhor amigo. Quando eu tinha pesadelos, bastava pôr minha mão embaixo da cama e ele lambia, aí eu sabia que tudo estava bem e voltava a dormir.

Eu acordei assustada ao ouvir gotas pingando no banheiro, muito assustada para ir desligar o chuveiro, ou a torneira, estiquei minha mão até debaixo da cama, senti a lambida e adormeci outra vez.

Acontece que os sons das gotas não pararam e mesmo sentindo a segunda lambida, não consegui mais dormir, fiquei inquieta, então me levantei e acendi a luz do quarto, abri a porta sentindo meu coração palpitando, a meia-luz do corredor só me deixava mais nervosa, mas a porta do banheiro era ao lado do quarto, o som das gostas ficava mais forte a cada passo que eu dava, abri a porta do banheiro, estava tudo escuro, deixei minha mão percorrer o interruptor e finalmente acendi a luz.

Senti meu estômago revirar-se, deixei escapar um grito ensurdecedor, no centro do pequeno cômodo estava Olly, pendurado pela pata no teto por um cordão, morto, algo havia perfurado sua barriga, entre os pelos o sangue escorria e vísceras estavam expostas.

As gotas que ouvi eram seu sangue, então quem havia me lambido?

Voltei ao quarto apavorada e hesitei um pouco em olhar o que havia debaixo da cama, mas quando me abaixei não havia nada. Foi quando levantei, que percebi no espelho, com uma tinta vermelha que definitivamente não era batom estava escrito “Cachorros não são os únicos seres que sabem lamber” ao me aproximar, percebi que era sangue, mas eu já estava apavorada demais para continuar ali.

Eu saí correndo até a porta da frente e desapareci, não sei o que se passou pela minha cabeça, estava tão desesperada que não me lembro, fui encontrada em estado de choque num bueiro e em seguida passei anos em análise psicológica, mas nunca fui considerada normal, quando me tornei independente fui trabalhar de babá e aconteceu esse outro incidente com o anjo, me encontraram desacordada, algo havia me tirado do rio, após o acidente, me internaram num hospital, fui dopada e quando acordei estava aqui.

...

— Cachorros não são os únicos que sabem lamber! É isso, tem que ser isso. Era isso que eu procurava Matt, nós precisamos descobrir o que isso quer dizer.

— Obrigado Florence. — Digo, me sentindo mal por ela ter passado por tudo isso.

Ela não sorriu nem mudou sua expressão.

— Quer dizer que eu passei por isso, toda minha vida, apenas para dar a vocês uma pista sobre algo? Todo o inferno pelo qual passei... tudo por nada. — Ela diz se tornando agressiva.

Me levanto.

— Não se preocupe Florence, eu vou cuidar para que tudo fique bem e possamos sair daqui, darei a minha vida por isso. E agora já temos uma pista, eu peço que você se mantenha firme até chegar o dia. — Falei.

— Eu não tenho esperança. Quero ficar sozinha. — Sussurrou entre soluços.

— Nós voltaremos. — Drew disse com esperança suficiente por todos.

Voltamos para nosso lugar, escodemos o molho de chaves e deitamos, havia a frase para descobrirmos algo sobre como viemos parar aqui, e o motivo. Mas a verdade pode não ser tão boa quanto pensamos. Algo me diz.

Continua...

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NOTA: O CONTO PUBLICADO PARA O DTRL É O EPISÓDIO [ESPECIAL] 06, ESPERO QUE TENHAM GOSTADO!

E N Andrade
Enviado por E N Andrade em 25/05/2015
Código do texto: T5253936
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