HISTERIA DIABÓLICA

Há muitos anos conheci um homem, já de avançada idade, com o qual tratei de fazer amizade, percebendo que ele gostava de contar histórias interessantes dos velhos tempos. Era um senhor muito sério, que eu nunca vi rir, mas que sabia falar bem e atrair a atenção de quem lhe fazia companhia. De seus relatos anotei esta história.

O nome dela era Maria Teresa, e ele chamava-se Paulo. Com a filha Ana, de três anos, pareciam formar uma família perfeita e feliz. Realmente eram felizes, Paulo e Teresa se amavam e, mais do que tudo no mundo, adoravam a pequena Ana.

Teresa, porém, tinha um certo problema mental, extremamente raro. Era uma disfunção cerebral, que a fazia rir nas situações mais inconvenientes. Não sabia chorar. Não que não sentisse dor, sentia e sofria como qualquer pessoa. Porém, seu reflexo para qualquer dor, física ou mental, era o riso ao invés do choro. Se na infância alguma vez ela tenha chorado como outra pessoa, isso é coisa que ninguém - nem ela nem sua mãe - soube nunca dizer.

Mas tal fato não era empecilho para a perfeita união com Paulo, que a amava por ter ela muitas qualidades; era bonita, de boa educação e cheia de atenções com a filhinha.

Ana parecia ter um brilhante futuro, já que nada lhe faltava. Mas a terrível verdade é que ela não tinha futuro algum. A fatalidade aguardava o momento oportuno de dar-lhe o golpe impiedoso.

A menina, em sua inocência, havia ingerido comprimidos que eram de uso exclusivo de sua mãe. Passou mal, foi levada ao hospital, mas não resistiu ao poder daquele estranho remédio.

Como uma mãe que procura conter o choro quando ainda não consegue acreditar na morte do filho, Teresa, por sua vez, procurava conter-se em seus risos. Estava sofrendo tremendamente com a morte da filha, e ria, ria baixinho, mas não conseguia deixar de rir.

E Paulo muito chorava, inconsolado, inconformado.

Ana estava sendo velada na sala da casa de seus pais. Pessoas chegavam, vizinhos, parentes. Constrangidos por dois motivos, pela morte da menina e pela situação dos pais, ele chorando, ela rindo, ainda que de modo contido.

Porém, Teresa passava a rir cada vez mais, e mais alto. Numa situação normal, muita gente ri ao ver outra pessoa rindo, mesmo que não entenda o motivo do riso. Talvez por isso, as pessoas que ali estavam começavam a rir também, quase que esquecidas de estarem num velório.

Paulo, com isso, ficava nervoso e irritado. Conhecia a esposa e sabia que não adiantaria pedir-lhe que se calasse. Seus nervos e seu controle estavam agora chegando ao limite, com o riso daquelas pessoas.

Não aguentando mais, foi ao quarto ao lado, pegou o revólver e com ele deu dois tiros na esposa, que logo caiu morta. Em seguida, disparou contra si mesmo, tirando também a própria vida.

Houve então um silêncio total.

Terminando a história, meu amigo, que fora um daqueles presentes, disse que as pessoas que ali estavam nunca mais na vida conseguiram rir.

Egon Werner
Enviado por Egon Werner em 31/05/2015
Reeditado em 02/06/2015
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