Uma ultima vez - DTRL22

Olho para o céu, as nuvens carregadas de melancolia permanecem lá. Depois de tanto tempo aqui, não sei por que insisto em olhar para o céu e ver além de nuvens atormentadas esperando para devastarem a cidade com a tempestade que as acompanha.

A vida se esvaiu aos poucos, o que sobrou e me cerca é o vazio, a solidão e o abandono. Banho-me no que me foi oferecido, mergulho na cidade morta. O abraço gélido e nostálgico da imersão se torna uma prisão, um caminho sem volta. Aceito meu castigo, preciso mais uma vez ter e sentir aquilo que é necessário dizer adeus.

Reconheço cada detalhe da cidade, cada rua, cada casa... o ranger dos balanços anuncia uma canção de ninar distorcida, quase fúnebre, que desperta o isolamento e os pesadelos de almas perturbadas. Caminho pelas ruas sabendo exatamente o que procuro, até encontrar minha gatinha, Naniquinha. Tento afaga-la, infelizmente assusto-a... mal pude sentir seu pelo macio entre meus dedos. No meu quarto, tudo está no seu devido lugar. Meu cantinho, meus bichinhos de pelúcia, pedacinhos de mim.

Como não querer levar todos comigo? Cada lembrança que esse lugar acorda dentro de mim... aprisiona-me cada vez mais, torna impossível dar as costas para cada uma das pessoas que me deram momentos bons, minha família, meus amigos. Como deixar para trás meu amor?

Ouço vozes e vejo seus vultos... mas logo somem em meio a gritos e caos. Vou para onde sempre foi meu abrigo, lá estão as cartas que escrevi, guardadas gentilmente. Sobre a cama ele parece dormir... sua expressão doce e serena ainda me encanta todos os dias.

Delicadamente toco seu rosto quente e suave, esforço-me para não acorda-lo. Mais uma vez venho lhe dizer um adeus impossível. Mas como se faz isso? Como dizer adeus a uma vida, um amor, a cada lembrança... e saber que nunca mais as terá de volta?

Meus sete dias acabaram faz tempo... mas uma ultima vez nunca é o suficiente.

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Tema: Fantasma