The Bloody Christmas

"Como você tem se comportado ultimamente? Tem sido uma boa criança? Saiba que pessoas más vão para o inferno, e eu posso agilizar isso pra você, comigo é rapidinho para que as almas sejam levadas para baixo". Assim dizia o homem vestido de papai noel com um machado na mão, ao encarar uma criança na rua, perdida da sua família. Não era um natal qualquer na cidade de Water Hill, as ruas estavam desertas, havia somente neve e neblina, e o som do machado arrastando na neve fazendo trilhas, fazia a espinha estremecer de cima abaixo. Quem será a próxima vítima? Será aquela mulher ou mãe de família, preparando a ceia, ou a prostituta sozinha em casa cuidando do único filho. Poderia ser aquele pai que trai a esposa na noite de natal, afinal em algum momento erramos, cometemos pecados, machucamos quem amamos e esse papai noel é o responsável pelas almas que ganharam passagem só de ida para o inferno. "Sua cabeça ficaria linda na minha estante. E posso resolver isso em um instante. Saia às ruas, saia de casa e sua cabeça vai rolar". Canções como essa eram cantadas por esse ser macabro, as vezes com letras as vezes com assovios. E na noite de vinte e quatro para vinte e cinco de dezembro, um corpo foi encontrado, pendurado de cabeça pra baixo, nesse caso sem cabeça. Era um homem, de uns trinta e cinco anos. Não estava nu, somente sem camisa. A cabeça não foi encontrada na cena do crime, pois já era de se esperar que o assassino a tivesse levado. Essa manhã de natal, não entrou para a história dos "natais com alegria infinita". O sangue escorreu até no necrotério, onde o corpo fora aberto e de dentro, conseguiram extrair um saco costurado dentro do estômago da vitima. Havia um gravador pequeno, que o Detetive Mark, fora o responsável por apertar o play, juntamente com sua equipe de policiais e o Cap. Bob. A mensagem gravada era: "O cérebro, diferentemente do coração, toma decisões baseadas na frieza das experiências. O coração por sua vez, toma decisões baseadas no aprendizado humano das mesmas experiências. Quantas cabeças mais irão rolar para os senhores aprenderem isso?" No mesmo pacotinho que continha o gravador, havia um papel que dizia: "Sou o que sou, pois aprendi friamente essa lição". Imaginava assim o Detetive Mark, The Axe Santa, cortava as cabeças das vitimas para justificar a pessoa que ele era, fria, calculista, sem remorso e empatia, mataria pelo simples fato de que isso é o correto, pois nem prazer isso lhe causa. Quem seria tão louco para chegar a esse ponto de abdicação total de todos os sentimentos possíveis? As respostas estão lá fora, nos bolsos de Water Hill, e não falo no banco, mas na alta sociedade exploradora e consumista, que corrói a cidade de dentro pra fora, com seus carros, suas casas e seus costumes nojentos, de promover festas de arrecadação sem importância nenhuma com quem está realmente trabalhando pelo bem maior. Na visão desse assassino cruel, o certo seria que essa classe fosse exterminada por completo, e não faltaria natal para que essa façanha aconteça, pois uma vez por ano, pelo menos três pessoas perdiam a vida e a cabeça era cortada fora. Quem sofria nessas horas, eram os parentes, ou se cremava os corpos ou o velório era de tampa fechada, sem possibilidade do último adeus. A polícia já tinha uma caixa só pra guardar as fitas que todo ano chegava, gerações de policiais já passaram por essa delegacia a fim de pegar esse monstro, mas nunca souberam a identidade dele. Quando a data chegava, trancavam as portas e as janelas, as vezes até evitavam de fazer festas, as ruas ficavam escuras, só via-se as luzes dos postes. O som do vento se tornava cada vez mais assustador, combinando com os corvos no cemitério não muito longe da cidade. Enquanto a noite avançava, os pavores de uma classe assustada aumentavam. No dia seguinte, ou melhor, dali poucas horas, algum corpo será encontrado em algum lugar, recomeçando toda a história, que já tornara-se rotina, para no fim ser arquivado. Já recorreram ao prefeito, nesse caso dezenas deles, e ninguém conseguiu dar um jeito nisso. Na primeira parte da manhã, um corpo fora encontrado da mesma forma, numa árvore ao lado de uma lápide no cemitério. O corpo em questão pendurado era filho do falecido Sr. Augustus, um dos fundadores de Water Hill. A família era abastada, apesar de algumas dívidas deixadas por Augustus, conseguiam viver bem. Buscaram justiça, buscaram tudo e mais uma vez, depois de meses de investigação, o caso foi arquivado. A cidade de Water Hill, vivera os últimos anos com muito mais medo que nos anos em que as matança começaram. O Detetive Mark, sabia que a sua carreira acabaria sendo aposentada e nem o nome do assassino ele saberia. Acredita-se, que analisando os primeiros corpos encontrados há mais de 40 anos atrás, correspondem com os corpos encontrados hoje em dia. Sabe-se que o assassino possa ser idoso já. Mas a cidade não tinha muito a cara de possuir muitas crianças, a maior parte são velhos, pessoas que escolheram essa cidade pra morrer. Em todos os casos, os corpos que foram decapitados, a vítima apresentava pouca idade, nunca matou-se pessoas que não fossem jovens, isso explica a quantidade de adultos e idosos, as crianças de quarenta anos atrás, cresceram e algumas tiveram a sorte de crescer e se tornar adulto, outras não encontraram essa sorte. Ainda jovem o Detetive Mark, era um dos poucos restantes na cidade, e já sabia desde o início que poderia ser o próximo. Mas isso nunca aconteceu, pois uma fita fora enviada à delegacia, com uma mensagem assustadora: "Ainda engatinhando está ele, o futuro de Water Hill. Um dia andarás e no outro pendurado morrerás. Triste fim, pequeno John." Mark, ao ouvir a mensagem, correu para casa arrumou as malas, juntou a esposa e o filho ainda bebê, e saíram sem pegar muitas coisas. O passado, é um monstro que vive em nossas memórias, e ele tem o costume de nos aterrorizar de vez em quando. Mark e sua família nunca mais foram vistos em Water Hill. As mortes continuaram por mais alguns bons anos, e do nada cessaram. Mas ainda com medo, as pessoas pararam de ter filhos, a população continuou a envelhecer e envelhecer, e foram dizimadas pelo tempo. Nenhum assassino é tão cruel quanto o tempo, ele passa e não espera, e quando você menos espera, seu velório está acontecendo. A partir daí, a cidade de Water Hill, passou a estar deserta. Alguns curiosos ainda a visitam, acredita-se que gritos e choros podem ser ouvidos à noite, testemunhas já fizeram contatos com fantasmas, mas nada foi documentado.

Alfredo José Durante
Enviado por Alfredo José Durante em 09/06/2015
Reeditado em 28/06/2015
Código do texto: T5270884
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