Travel of the Dead - Viagem dos Mortos

Era pouco mais de 5 horas quando Alex acordou, em seu quarto. Ainda estava escuro. Precisava chegar às 6 na frente da Faculdade de Direito Presidente Castello Branco (FACAB), pois iria, junto de sua turma, visitar o Instituto Médico-Legal (IML) da capital do Estado. Levantou-se da cama e caminhou pela casa, evitando qualquer barulho, para não acordar seus pais.

Ficou pronto cerca de vinte minutos depois de acordar e saía de sua residência ainda sob a escuridão da noite. Chegou frontalmente à universidade onde cursava o 7º período de Direito dez minutos antes do tempo estipulado, e começou a conversar com os amigos de classe.

O ônibus saiu da cidade às 6 e 20 da cidade, em direção à capital, que se distanciavam 200 Km. Caminhou pelas estradas federais, enquanto seus ocupantes cantavam diversas músicas conhecidas, para se alegrarem e distraírem durante as quase 4 horas de viagem.

Chegaram à capital do estado por volta das 10 e meia, com o Sol já radiante em um céu sem nuvens. Alguns alunos – que não conheciam a capital – ficaram admirados com o tamanho da capital – edifícios gigantescos, trânsito lotado, avenidas imensas. Enquanto isso, outros se encontravam ansiosos para chegarem ao IML da capital.

Depois de quase quarenta minutos andando por avenidas e engarrafamentos da capital, o ônibus estacionou na entrada do prédio do Instituto Médico-Legal. Os alunos e o professor de Medicina Legal desceram do veículo, sendo que o motorista deste estacionou na garagem do local em seguida. Tiraram diversas fotos na porta do local, antes de adentrarem pela porta da frente do prédio de dois andares.

Adentraram pelo local, onde passaram ao lado de um balcão onde assistentes sociais atendiam os familiares dos mortos e desaparecidos e adentraram em um pequeno corredor, com uma porta frontal fechada. Abriram-na, desembocando em uma pequena sala frontal, com diversas portas espalhadas, um corredor lateral e uma rampa que dava ao andar superior.

As paredes do Instituto Médico-Legal eram brancas; da mesma cor, eram os pisos. O cheiro que reinava no local era de lavanda. Alguns alunos entristeceram, pois acreditam que no IML os cadáveres ficam dependurados em ganchos, por todos os lados. O professor percebeu o desapontamento no olhar de alguns alunos e comentou:

- Acharam que no IML, os cadáveres ficavam dependurados em ganchos, né? – e riu.

Viraram à direita e ultrapassaram uma porta dupla, descendo uma escada e chegando a um auditório, com diversas cadeiras espalhadas pelos degraus. À frente, uma mesa, com um trio de cadeiras. Os alunos espalharam-se pelo local. Alex sentou-se ao lado de Klaus, seu melhor amigo – um negro alto e robusto, que todos o chamavam de “guardarroupa”, devido ao seu tamanho -, Charles LaFond – ou “LaFonte”; piada criada por Alex; o nerd da turma – e Cristina – uma garota com traços belos e delicados, cabelos escuros e olhos esverdeados. Conversavam animosamente, na última fileira de cadeiras preenchidas, enquanto esperavam alguém chegar.

- Está com medo? – perguntou Alex, para Cristina

- Não. Eu sou corajosa. – disse a garota, estufando o peito.

- Gostei da sua coragem. – brincou o amigo, virando o rosto

Cristina ficou parada alguns segundos, até conseguir entender a brincadeira.

- Ei, seu safado. – disse, alto, enquanto empurrava o amigo

Repentinamente, eis que Alex percebe um murmúrio vindo do lado de fora.

- Vocês escutaram isso? – perguntou, surpreso

- O quê? – perguntou LaFond, enquanto os demais se silenciavam

- Escutam. – disse. Todos ficaram em absoluto silêncio e aguçaram o sentido da audição. Escutaram passos apressados, vozes preocupadas e pessoas dizendo frases inaudíveis.

- É mesmo. O que será que está acontecendo? – perguntou Klaus, sussurrando.

- Eu vou lá ver. Peraí. – disse Alex, em idêntico tom

O rapaz saiu do local e caminhava em direção à saída do auditório. O professor – um homem baixo, cabelos grisalhos e barriga saliente -, encostado na parede logo abaixo, perguntou-lhe:

- Aonde vai, Alex?

- Esticar as pernas, professor. – respondeu

Alex parou na entrada da porta do auditório e fingia que esticava as pernas, enquanto que, na realidade, fitava o andar térreo. Visualizou algumas pessoas correndo às pressas com duas macas preenchidas por pessoas, cobertas por lençóis, subindo as rampas. Ouviu murmúrios, mas não conseguiu identificar do que se tratava. Percebeu certo medo no rosto de duas mulheres que acompanhavam as macas e ficaram para trás. Pareciam amedrontadas com algo e aquilo chamou a atenção do rapaz. Percebeu-as sussurrando entre si algo e tentou fazer leitura labial, entretanto, alguém passou à sua frente, colado a si, dando-lhe boa tarde e aquilo dispersou a atenção de Alex.

Era um homem moreno, de certa idade, cabelos grisalhos, usando terno e gravata. Desceu as escadas, cumprimentou o professor com um aperto de mão e após, cumprimentou a todos, frontalmente à mesa e fitando a todos. Alex descia as escadas e voltava ao seu lugar.

- Boa tarde a todos. Sejam bem-vindos ao Instituto Médico-Legal. Meu nome é Alexandre Johann, e sou auxiliar de necropsia daqui. Entrei aqui por um concurso no ano de 1969, depois que formei em Enfermagem pela Faculdade...

- É sério que ele vai começar a contar sua história de vida? – perguntou Cristina, olhando preguiçosamente para Alex

Este apenas levantou as sobrancelhas.

- Tomara que não.

Passaram-se pouco mais de quarenta minutos. Johann contou aos alunos toda sua trajetória de vida – desde que adentrou na Faculdade Metodista Graham Bell (FAMGRAB), onde formou-se em Enfermagem até o seu magnum opus, quando fez a necropsia dos 24 mortos na explosão de um tanque de combustível na capital, dois anos antes, onde conseguiu separar e identificar os corpos. Naquele instante, todos já se encontravam preguiçosos, loucos para que acabasse a palestra. Klaus se encontrava com a cabeça debruçada na mão esquerda e olhos parcialmente fechados. LaFond se encontrava recostado na cadeira e com os braços cruzados. Cristina se encontrava com a cabeça encostada no ombro de Alex e este encostava sua cabeça sobre a dela. Pareciam um casal de namorados à vista dos outros – embora fossem apenas grandes amigos.

Entretanto, para desapontamento geral, eis que, no instante em que Johann terminou de falar acerca de sua vida, começou a explicar como funcionava o Instituto Médico-Legal.

- Preciso ir ao banheiro. – disse Alex, a Cristina. Esta meneou positivamente a cabeça e desencostou-se do rapaz. O rapaz tentou se lembrar do local onde se encontrava o banheiro, dito por Johann no meio da explanação de sua vida. Saiu da sala e caminhou pelo corredor à direita, paralelo à rampa. Atravessou-o, passando, em seu interior, por um homem usando roupas cirúrgicas. Chegou ao seu final, onde se desembocou em uma pequena salinha. Havia um par de portas, e um filtro com água. Alex adentrou em uma das portas – a que indicava ser o banheiro masculino. Lá dentro, havia, do lado oposto da porta, um lavabo à esquerda e o vaso sanitário à direita, abaixo de uma janela.

Alex posicionou-se para utilizar do vaso sanitário e começou a utilizá-lo, quando percebeu um barulho oriundo do lado externo. Terminou de urinar e, logo após, fixou o olhar por entre os minúsculos buracos entre as grades, onde percebeu algumas pessoas correndo, desesperadas, e outras jogando rapidamente corpos em uma máquina. O rapaz surpreendeu-se. Distanciou-se trôpego do vaso sanitário, confuso, atordoado. Lavou a mão automaticamente e saiu do local, da mesma forma que se distanciou do vaso.

Caminhou pelo corredor do IML tentando imaginar o que estava acontecendo lá fora. Ultrapassou-o, adentrou no auditório e caminhou em direção ao seu assento, de forma automática. Sentou-se e continuou atordoado, sem ouvir uma palavra sequer do que Johann dizia.

- O que foi, Alex? – perguntou Cristina, preocupada. A pergunta da garota chamou a atenção de LaFond e Klaus.

- Eles jogam os corpos em um triturador. – disse Alex.

- Que isso, Alex? Deixa de inventar. – disse LaFond. – Ele está explicando agora sobre como funciona o IM...

- Eu vi. – cortou Alex. Todos arregalaram os olhos – Eu vi com os meus próprios olhos eles triturando vários corpos.

O trio de amigos ficou em silêncio. Não saberiam o que diriam naquele momento, mas procurariam, quando caminhassem pelo local, a verdade sobre os dizeres de Alex.

Johann continuou sua explanação acerca do IML, mostrando como se faz uma necropsia inclusive, por cerca de mais uma hora. Todos já se encontravam exaustos e sonolentos quando Johann terminou o seu discurso e disse:

- Agora mostrarei as instalações a vocês.

- Graças a Deus. – sussurrou Klaus. – Achei que fosse dormir por aqui hoje.

- Se quiser, pode dormir na sala de necropsia. – brincou Alex, enquanto todos se levantavam

Cristina e LaFond riram. Caminhavam para as escadas e saíram, atrás de alguns alunos e atrás do professor.

- E aí, preparados para a sala de necropsia?

- Não! – respondeu, sequencialmente, Cristina, LaFond e Klaus, respectivamente, em tom de deboche

O professor riu.

- E você, Alex?

- Espero que sim. – disse o rapaz, sério. O professor surpreendeu-se.

Johann caminhou à frente dos alunos, saindo do interior do auditório. Chegou à salinha principal, onde caminhou até a última porta à esquerda, um pouco distante da porta de entrada. Mostrou aos alunos a sala de reconhecimento dos cadáveres por parte dos familiares. Havia uma abertura entre aquela sala e outra – provavelmente a sala de necropsia -, onde os auxiliares de necropsia colocam, sobre macas, os cadáveres para serem reconhecidos. Este, por sua vez, é tampado por uma redoma de vidro, para evitar contato dos corpos com os parentes. Lá, havia um corpo de uma garota, de aparentes 25 anos, pele morena e baixa. Encontrava-se nua, apenas com a região entre os seios e a virilha tampadas, com olhares vítreos. Havia uma perfuração a bala, característico de entrada de projétil, na cabeça, no centro da testa.

- Aqui é a sala de reconhecimento. – disse Johann. – Aqui serve para os familiares reconhecerem os cadáveres dos parentes desaparecidos. Este corpo mesmo está para ser reconhecido por uma família que está lá fora. – o homem continuou explicando sobre como funcionava a sala de reconhecimento, ainda explicando aos alunos sobre sinais de morte presentes no cadáver.

Após a explanação, todos se retiraram do local. Alex, o mais curioso, enquanto todos saíam, continuou a analisar os cadáveres. Percebeu algo estranho à esquerda do cadáver, na região do rim, tampada pelos panos. Olhou mais cuidadosamente. Arqueou as sobrancelhas. Havia uma pequena marca de mordida no local.

- Uma mordida? – se perguntou, em pensamentos

- Vamos, Alex. – disse o professor, na porta do local

O rapaz saiu da sala de reconhecimento, juntando-se aos demais.

- Agora vamos à sala de assistência social. – disse Johann

Os alunos, Johann e o professor subiram as rampas, aonde chegaram ao andar de cima. Lá em cima, a rampa desembocava no meio de um corredor, onde outro, perpendicular ao primeiro, saía ao lado. Nessa intersecção, Johann explicava a importância da sala de assistência social – onde eram atendidas as vítimas de crime ainda vivas, como lesão corporal, estupro e crimes sexuais contra crianças e adolescentes. O homem explicou longamente acerca do local.

- Vocês não acreditam no que vi. – comentou Alex, sussurrando, para Klaus e Cristina.

- O quê? – perguntou a garota. Percebendo a existência da conversa, LaFond apareceu no local.

- O cadáver... aquele, da moça. Tinha uma mordida na região do rim.

Todos se espantaram.

- Credo. – disse Cristina

- Que esquisito. – disse Klaus

- Será que foi um necrófago? – perguntou LaFond

- Necro-o-quê? – perguntou Alex

- Necrófago. É a pessoa que se alimenta de mortos.

- Pra mim, isso se chamava canibal.

- Também. – disse o amigo nerd – Matou a mulher e depois deu-lhe uma mordida no rim?

- Você analisou a mordida? – perguntou Cristina – Parecia escoriação in vitam ou post mortem?

A expressão facial de Alex demonstrou que o mesmo não sabia bulhufas da resposta a ser dada. Odiava Medicina Legal e só fez a matéria para ver as fotos das pessoas mortas. Deu de ombros.

- Havia sinais como hematomas, equimoses, bossas sanguíneas? – Cristina adorava Medicina Legal. Tinha tanto ânimo pela matéria, que parecia estudante de Medicina, ao invés de Direito.

Alex repetiu a expressão facial de outrora.

- Não faço a menor ideia. – respondeu

Cristina desapontou-se com o amigo.

- Nunca saberemos. – reclamou, murmurando consigo mesma

Johann continuou a sua explanação gigantesca. Ao final desta, caminhou pelo corredor paralelo à rampa. Todos o seguiram.

Passaram pelo corredor, tendo uma mureta de proteção à esquerda, para não caírem no andar inferior. Após, havia algumas salas dos outros lados, com diversos produtos dentro de pequenos frascos e tubos de ensaios, além de pias e materiais para análise.

Johann parou na porta de um deles – a última à direita – e começou outra de suas eternas explanações:

- Estas salas que vocês estão vendo são as salas de toxicologia. Quando alguém morre de forma suspeita, e não há nenhum vestígio de outra causa mortis, ou há indícios de envenenamento, o médico legista retira do cadáver um rim, o fígado e o estômago, fechando as duas extremidades, para que se traga o conteúdo estomacal e trazem para cá, onde nessas salas verificarão se há resquícios de drogas lícitas ou ilícitas. – Em seguida, o homem saiu do local, caminhando em direção à sala frontal ao corredor.

- Finalmente uma explanação rápida. – brincou Alex, para o trio de amigos, que riram

Todos adentraram na última porta. Ela possuía um cheiro forte, enjoativo, o que fez com que algumas pessoas não ali adentrassem. Possuía algumas ossadas – limpas, como se fossem próprias para estudo – esticadas, completamente alinhadas, sobre algumas mesas. Eram ossadas de diferentes tamanhos – algumas menores, outras maiores. Um dos crânios estava parcialmente quebrado à esquerda, sendo que outro havia uma perfuração oval no centro da cabeça – possivelmente por ocasião de um tiro. O quinto esqueleto, da esquerda para a direita, estava enegrecido e exalava cheiro de fumaça.

- Aqui é a sala de Antropologia – começou Johann a explicar – Nesta sala, são levados os corpos em estado de putrefação avançado ou já esqueletizados, para que nós consigamos tentar descobrir quem se trata, se é homem, mulher, novo, adulto...

- Mas aqui só há esqueletos. – disse um dos alunos, do lado oposto à porta, perto do 3º esqueleto

- Nós temos também alguns corpos em putrefação. Só não quis colocá-los sobre a mesa para não assustá-los. – Johann colocou um par de luvas de látex enquanto falava. Em seguida, caminhou em direção a uma espécie de frigorífico, onde o abriu, retirando de lá um pedaço de madeira grande, de aproximadamente 2 metros de comprimento, com algo encoberto por um lençol preto. – Esse foi achado ontem no rio Dom Pedro II, no norte da cidade. Ainda não mexi nele. – ele disse, enquanto colocava a madeira sobre a mesa, ao lado dos esqueletos. Retirou o pano. Estava verde, inchado, cheio de vermes pelo corpo. Não havia olhos, nariz, orelha e cavidade bucal – tudo era um buraco enegrecido. Parte do rosto, braço esquerdo e perna direita eram puramente ossos. O cheiro era insuportável, pois o cadáver já estava em estado de putrefação avançado.

Ao visualizar a cena, muitas pessoas – a grande maioria mulheres – correram em direção à saída do local. Alex virou o rosto e tampou o nariz. Cristina idem. Klaus e LaFond correram para o lado de fora.

- Seu imbecil! – disse uma garota, ao rapaz que perguntara, dando-lhe um tapa na parte anterior da cabeça. Este ficou em silêncio.

Johann guardou o cadáver no lugar de outrora, para felicitação de todos. Os que fugiram voltaram. O homem continuou sua explanação acerca da importância daquele local, além de explicar como o mesmo funciona.

- Vamos agora para a sala de necropsia. – disse Johann. Todos se retiraram da sala e caminharam pelo corredor. Chegaram ao corredor anterior, onde viraram à esquerda, até ao seu final. Lá chegando, havia uma escada, que descia até o primeiro andar.

- Quem não quiser ir à sala de necropsia, é só ficarem aqui. Buscamos no final. – disse Johann. Desceu às salas, sendo seguido pelo professor e por vinte dos vinte e oito alunos – incluindo aqui Klaus, Cristina e Alex. Mesmo sob protesto dos amigos, LaFond não desceu à sala de necropsia.

O professor, Johann e vinte alunos – incluindo Cristina, Alex e Klaus – desceram às escadas em direção ao andar inferior. Parecia que o mesmo era escuro e sombrio, pois pouca luminosidade existia no local – ao contrário do restante do prédio, onde todo o local é bastante iluminado.

Chegando ao andar inferior, perceberam ser uma sala com diversos escaninhos, em todas as paredes. Não havia janelas e a luz se encontrava fraca – o que dava a escuridão do local. Do lado oposto à escada, uma porta.

- Aqui é a sala onde ficam os registros dos cadáveres. – explicou rapidamente Johann – Cada corpo que entra nós fazemos um registro, preenchendo nome, quando possível identificar, características físicas, estado que o corpo veio para nós e outros detalhes que servem para identificá-lo. Fazendo o registro, o corpo depois é liberado para a necropsia, onde novamente detalhamos no Auto de Necropsia, agora para a Polícia Civil.

Após a breve explanação, Johann, o professor e os alunos saíram do local, adentrando pela porta oposta à escada. Abriram-na e um dos alunos ficou por segurá-la, para que todos por ela passassem. Adentraram em um apertado corredor, onde somente um – ou dois, quando não muito grande – passava por vez. No meio do corredor, havia, à esquerda, um corredor de mesma largura, pois de cumprimento menor. Dava apenas a um filtro, ao final, e duas portas, uma de cada lado – banheiro. Logo após o corredor perpendicular, o principal virava à direita, onde havia pequenos e finos degraus.

Naquele instante, veio, à sua surpresa de todos, um forte cheiro de sangue fresco com carne crua – como se fosse um imenso açougue. Todos tamparam a narina e alguns fizeram cara de nojo. Esperaram o cheiro passar, entretanto, para suas surpresas, aquele cheiro não passou.

- Que cheiro é esse? – perguntou uma garota, enojada

- É o cheiro da sala de necropsia. – disse o professor

Atravessaram o corredor e viraram, ao final, à esquerda, onde saíram em uma sala. Lá, havia um par de mesas, sob computadores, frontalmente a cadeiras. Estavam vazias, entretanto, os computadores ainda estavam ligados e com programas abertos, o que demonstrava que, aparentemente, os seus usuários se encontravam próximos ao local. À frente, do lado oposto ao corredor, havia um enorme vidro na parede, que dava à sala de necropsia. Ao lado, uma porta.

Johann, o professor e os alunos passaram pela porta. Adentraram em uma sala que mais parecia um açougue – principalmente de filmes de terror. As paredes eram todas revestidas de pisos brancos, igual ao chão. Era um local onde as luzes artificiais davam um estranho clima à sala. Haviam oito macas dispersas pelo local, com seis delas preenchidas. Eram homens e mulheres, de diferentes tamanhos, idades e cores. Estavam todos nus – embora com parte dos corpos cobertos por pano branco - e demonstravam claramente o motivo de suas mortes – um havia uma lesão incisa, de um lado ao outro do pescoço, o que demonstrava ter sido degolado; outro, havia cerca de oito lesões pérfuro-contundente, de entrada de projétil, na região da cabeça – o que demonstrava, claramente, uma execução. Quatro deles possuía lesão de entrada de projétil no centro da testa. Os demais remanescentes possuíam disparos de entrada de projétil na cabeça, em pontos variados, mas em número inferior ao anterior.

O homem ultrapassou a sala, sem nada do local explicar. Adentrou por uma porta na outra sala, atrás da primeira. Lá, era um local levemente escuro, sem qualquer iluminação natural e com precária iluminação artificial. Havia alguns iluminadores pelo local, que faziam um barulho peculiar. E, vira e mexe, dava pequenas explosões, por parte das constantes moscas, que acertavam o local e morriam queimadas.

Ali dentro havia diversos cadáveres espalhados pelo local – pouco mais de dezesseis. Atrás, havia um enorme compartimento na parede, que se estendia por toda a parede. Era uma espécie de armário de metal, com diversas divisórias – três na vertical e vinte e quatro na horizontal. Algumas estavam marcadas com um ponto verde, outros com um ponto vermelho.

À esquerda, havia uma porta, onde os auxiliares de necropsia colocavam os corpos para reconhecimento da família – na outra sala, a primeira que o grupo visitou. À direita, adentravam na sala de radiologia, onde se usavam o raio-X, para motivos diversos. Dali, havia uma saída, que dava à garagem do Instituto Médico-Legal, onde o rabecão estacionava, depositando os novos cadáveres.

Os alunos começaram a caminhar pelo local, analisando os cadáveres. Iguais aos da sala anterior, possuía diversas idades, tamanhos, cores e eram homens e mulheres. Perceberam que praticamente todos possuíam lesões pérfuro-contundente de entrada de projétil no centro da cabeça, na região da testa. Murmuraram entre si algo.

- Houve um incidente hoje na cidade. – disse Johann – Ainda não sabemos dos detalhes, mas parece que foi um grande tiroteio.

- Percebe-se. – comentou Alex, sussurrando. Cristina riu.

Continuaram a caminhar pelo local. Alguns alunos perceberam que, à esquerda de todos, havia um corpo onde o rosto estava tampado por panos pretos.

- O que aconteceu com este corpo, Johann? – perguntou um dos alunos. Os demais, percebendo a pergunta, dirigiram-se até o corpo tampado

- Este é o nosso caso mais estranho. – disse Johann. Caminhava em direção ao cadáver, enquanto colocava suas luvas de látex. Chegou frontalmente ao corpo e destampou-lhe o rosto.

A surpresa foi geral. Alguns arquearam a sobrancelha – como Alex -, outros tamparam os rostos – como Klaus e Cristina -, enquanto dois alunos correram para fora da sala de necropsia, com ânsia de vômito. O rosto estava dilacerado. Não havia sua parte direita, com bochecha, músculos, olho – parecia arrancada à força. Deixava à mostra os ossos da mandíbula e do crânio. O nariz estava quebrado, onde vertera sangue em outrora. Na região do lábio inferior, havia uma estranha – e poderosa – mordida, que arrancara parte do lábio, da pele e dos músculos do local.

- O que aconteceu? – perguntou um dos rapazes

- Ainda não sabemos. – disse Johann – Sem sombra de dúvida, esse nos é o caso mais estranho. Demoraremos dias para descobrir do que se trata. A ferida abaixo da boca é, sem sombra de dúvida, uma ferida proveniente por mordida. Ainda não conseguimos identificar o que ocasionou a ferida na parte direita do rosto. Agora, o problema maior é que essa ferida se repete por todo o corpo.

Alex arqueou a sobrancelha.

- Bom – disse o homem. Caminhou em direção ao local onde se encontrava – Aqui, como vocês já puderam observar, se trata da sala de necropsia. – e assim Johann adentrou em outra de suas gigantescas explanações.

O homem explicou como funcionava a sala de necropsia. Ali, na parte de trás, os médicos legistas realizavam as necropsias – aqueles cadáveres estavam para ser necropsiados. Já os da segunda sala, onde todos se encontravam, já foram necropsiados, e esperavam a família para reconhecimento. Os que passaram de 24 horas, eram guardados na geladeira – aquele grande armário no fundo. As gavetas marcadas de verde ainda estavam liberadas, enquanto que as marcadas de vermelho estavam preenchidas.

Enquanto Johann explicava, os alunos continuavam fitando os cadáveres – por mais que os já tenham visto da primeira vez. Analisava-os como se tentassem descobrir o que aconteceu com eles para estarem ali e como eram suas vidas. Já Alex e Cristina se encontravam no interior da sala de radiologia. Fitavam os equipamentos, quando Cristina, de forma despistada, abre sua bolsa e retira de lá uma pequena lata de “Vick Vaporub”. Alex percebeu, e lhe perguntou, surpreso:

- Vick?

- É pra disfarçar o cheiro. Ele está me matando. – disse a garota, enquanto colocava um pouco do remédio em volta de sua narina

- Nem me diga. – disse Alex. Colocou o dedo indicador direito no interior da pequena lata e retirou de lá um pouco do remédio. Passou-o no nariz, imitando Cristina

- Só quis despistar pra ninguém achar que sou fraca.

- Ah, sim, verdade... bom, eu não vou poder falar nada, já que eu também passei no nariz. – e riu. Cristina riu, logo em seguida.

- Bobo.

Alex riu em seguida. Repentinamente, seu semblante modificou – para o ar de surpresa. Arregalou os olhos. Cristina também ficou surpresa, tão logo ambos ouviram um grito de desespero, vindo do interior da sala de necropsia.

O casal saiu correndo às pressas em direção à sala adjacente. Chegaram à porta em questão de segundos e ali pararam, estagnados, sobressaltados, espantados, paralisados com a cena em que viram.

O corpo outrora tampado – à esquerda de todos, com o rosto desfigurado -, encontrava-se sentado sobre a cama. Segurava o braço direito do rapaz de 19 anos que o fitava momentos antes de o mesmo se levantar e cravara os dentes no mesmo. No momento em que Alex e Cristina chegaram à porta da sala de radiologia, o morto desvencilhara os dentes do braço do rapaz, levando consigo, na boca, grande quantidade de carne e sangue.

Todos se encontravam estupefatos diante da cena. O rapaz atacado caiu no chão, agonizando de dor. O morto ficou ali, parado, sentado sobre a cama, com um olhar vítreo, perdido. Do lado oposto, os vivos, perplexos, chocados diante da brutal cena que visualizaram poucos segundos antes. Entre ambos, o garoto, que continuava gritando e rolando no chão de dor.

De repente, para surpresa de todos, eis que um baque tomou conta do local. Era oriundo da primeira sala de necropsia. Os vivos fitaram a sala anterior, onde ficaram perplexos.

- O que está acontecendo aqui? – se perguntou Alex, estupefato.

Para desespero de todos, eis que adentra na segunda sala de necropsia uma pessoa – ou melhor dizendo, um ser -, oriundo da primeira sala. A pessoa caminhava lentamente, em direção ao seu destino. Era um jovem, do sexo masculino e pele branca. Encontrava-se nu, deixando o corpo inteiro à mostra. Possuía uma grande ferida na região glútea direita, estendendo para parte da perna direita. Era profunda – retirara parte dos músculos e das veias – e irregular.

- É um morto. – gritou uma das alunas.

Para surpresa de todos, eis que ocorre um baque – amplamente audível –, oriundo das gavetas, tomou conta do local. Foi altíssimo o estrondo, e foi ampliado pelo eco do lugar. Os vivos, surpreendidos pelo barulho logo atrás deles, distanciaram-se da gaveta.

O barulho repetiu, logo em seguida.

- Rápido. Venham para cá. – gritou Alex. Percebeu que aquela seria a hora de agir. Quando gritou, todos viraram-se para ele, como em uma reação automática. Alex começou a fazer sinal com a mão direita, chamando a todos.

Os vivos começaram a correr em direção à sala de radiologia. Entretanto, vários deles se encontravam próximos às macas. Quando passaram próximos aos mortos, estes simplesmente acordaram de seu (suposto) descanso eterno e seguraram seus braços. As pessoas que foram seguradas tentaram se desvencilhar, puxando o braço e gritando, entretanto, os mortos eram mais fortes e não conseguiram se soltar.

Um dos alunos, de pouco mais de trinta anos, afastou-se das macas e correu em direção à sala de radiologia. Entretanto, não reparou a aproximação do morto oriundo da primeira sala. Este estendeu os braços em sua direção e abraçou seu pescoço, enquanto jogava o seu corpo sobre o do rapaz, lançando-o ao chão. Tão logo caiu no chão, arrancou, à mordida, parte da lateral direita de seu pescoço, sob gritos angustiantes do aluno.

Klaus foi o primeiro a chegar à sala de radiologia.

- O que está acontecendo, Alex? – perguntou Klaus.

- Também não sei, cara. – disse Alex. – Precisamos nos defender agora. Depois, descobrimos do que se trata.

- Certo. – disse o rapaz. Caminhou em direção aos fundos da sala. Enquanto caminhava ao seu destino, percebeu uma porta à direita, aberta. Era grande e da cor das paredes.

- Há uma porta aqui. Você percebeu?

Alex arregalou os olhos. Não percebera a presença da porta. Virou-se em direção a Klaus. Ele se encontrava frontalmente à porta. Abriu-a. Sobressaltou-se.

A porta saía na garagem do Instituto Médico-Legal, onde o rabecão estacionava, para deixar os novos cadáveres. Entretanto, naquele momento, a garagem não estava lotada com o rabecão ou com veículos, mas sim com um grande contingente de mortos, que caminhavam lentamente pelo local, sem direção alguma. Klaus não percebeu, mas eles usavam roupas – e a maioria, jalecos.

O primeiro morto que se levantou tentou sair da maca, entretanto, ao colocar o pé no chão, tombou, indo de cara ao chão. Em seguida, percebe-se estar com sorte: caiu exatamente ao lado do rapaz que mordera outrora. Ele ainda debatia no chão, gritando loucamente por ajuda, desesperado. Continuou a gritar, sem perceber a ameaça inimiga rastejando perto dele. Só se deu conta do perigo quando o morto cravou seus dentes em suas costelas.

Os alunos que tiveram seus braços segurados pelos mortos rolavam no chão, desesperados de dor. Estavam com feridas de mordida em seus braços, dados pelos próprios mortos, que, àquela altura, já se levantavam.

Johann, o professor e os alunos que ainda estavam de pé começaram a correr em direção à sala de radiologia. Os mortos começaram a se levantar, descendo da maca ao colocarem os pés no chão. Estavam todos completamente nus, deixando à mostra os seus sexos e os motivos pelas quais morreram – e todos, sem exceção, caminhavam, como uma espécie de sinal indicativo, uma mordida, pelo menos, no corpo.

Cambalearam – alguns foram ao chão, inclusive -, entretanto, logo se encontravam de pé, caminhando em direção aos vivos. Ao perceberem a situação, estes aceleraram os passos, na tentativa de se chegar à sala de radiologia o quanto antes. Entretanto, alguns deles tiveram que recuar, pois os mortos apareceram em seu caminho. Eram no total oito pessoas, dentre eles Johann e o professor.

Alex se encontrava na porta da sala de radiologia, junto de Cristina, Klaus e outros tantos alunos. Havia uma maca semicerrando a porta, deixando apenas uma nesga suficiente para os vivos passarem. Atrás desta, havia os vivos – no total de doze, incluindo Alex, Cristina e Klaus. Estavam equipamentos com pernas de mesa e pedaços de pau.

- Cadê o resto do pessoal? – perguntou Alex

- Não sei. – respondeu Klaus – Já era para terem chegados.

Alex e Klaus visualizaram a sala de necropsia. Fitaram diversos mortos cercando Johann, o professor e os alunos, lançando-os em direção às gavetas, que, àquele momento, berravam, por serem incessantemente esmurradas pelo lado de dentro. Perceberam o primeiro morto atacando o braço de um vivo, jogando-o no chão. Perceberam os vivos atacando, a golpes de mão nua, os mortos e, à maioria deles, sendo segurados e jogados ao chão. Perceberam a gaveta logo acima da cabeça de Johann abrir e de lá de dentro sair um morto, completamente congelado, com movimentos dificultosos. Perceberam o mesmo morto segurar a cabeça de Johann e cravar seus dentes na sua parte superior.

Neste instante, Alex percebeu sentir que já havia assistido o suficiente e que os gritos incessantes de desespero, por parte dos vivos, lhe explicava o destino de cada um deles. Virou-se para trás, sendo acompanhado por Klaus.

- O que está acontecendo? – perguntou uma garota, bem nova, acanhada, encolhida o máximo que podia, tamanho o medo

- Também não sei. – respondeu Alex, frio. Estava frio, mas apenas por fora; por medo, seu coração pulava de medo. – Precisamos primeiramente sair daqui.

- Como sairemos daqui, Alex? – perguntou Klaus, deixando transparecer o seu medo – O Johann morreu. – o espanto no rosto dos demais foi visível – E não sabemos o trajeto até a porta.

- Há uma porta aqui. – disse um dos alunos, frontalmente à porta que dava à garagem. Estava com a mão na maçaneta, pronta para abri-la.

- Não a abre. – gritou Alex, correndo em direção ao aluno, na tentativa de impedi-lo. Todavia, não logrou êxito. O aluno abriu-a, escancarando-a e deixando a luz solar adentrar no recinto. Porém, não só a luz adentrou no recinto, como um par de braços sujos, em direção ao rapaz. Alex foi mais rápido. Catou um pedaço de madeira da colega de classe que o portava em mãos, no trajeto até a porta e desferiu-lhe, com toda força, no centro da cabeça do morto, jogando-o no chão.

O aluno estava paralisado diante o medo e continuou ali, estagnado, na porta.

- A garagem está lotada de mortos. Por isso não a abrimos. – gritou com o aluno, que voltou a si e abaixou a cabeça, em sinal de vergonha. Em seguida, Alex postou-se a fechar a porta, quando veio outra surpresa: o morto, que agora acumulava uma grande ferida no centro de sua cabeça, deixando à mostra parte da massa encefálica, estava de pé, na frente da porta. Como que por reflexo, o rapaz fechou à porta, na cara do morto. Este, entretanto, não satisfeito em ter a porta fechada na sua frente, começou a esmurrá-la, incessantemente.

- Co...como ass..sim? – se perguntou, em voz alta, o atônito Alex

- O que foi, Alex? – perguntou Cristina, repousando a mão direita no ombro do amigo

- Ele não morreu. Eu dei um golpe na cabeça dele, com toda força. O cérebro dele pulou pra fora. Por que ele não morreu?

- Realmente é esquisito. – respondeu Klaus, sério – Normalmente, nos filmes e nos jogos, os zumbis sempre morrem com um golpe na cabeça.

- Zumbis... – repetiram os demais, perplexos

- Isso mesmo. Ao que tudo indica, eles são zumbis. Mortos que se levantaram e devoram gente viva. Só que eles são mais estranhos, já que golpes na cabeça não resolvem.

- Mas era para pelo menos eles ficarem algum tempo paralisados. – disse Cristina, chamando a atenção de todos para si

- Por que diz isso, Cristina? – perguntou Klaus

- Veja. Todos eles carregam consigo marcas de mordida na pele, o que pode demonstrar que todos eles viraram zumbis antes de virem para cá. Só que todos carregam consigo marcas de tiro na testa. E eles levantaram.

Todos ficaram em silêncio, analisando os dizeres de Cristina.

- Ou será que aqui eles se levantam mais rápido? – perguntou Alex, chamando a atenção de todos para si – De repente, um se levanta, o mais machucado. Em seguida, outro e mais outro. Até mesmo os que estavam congelados se levantaram. E o que eu ataquei lá fora, levantou-se rapidamente.

- É verdade, não tinha pensado nisso. – disse Klaus, pensativo – Provavelmente é algo que aqui possui que está fazendo os mortos se reerguerem. Precisamos descobrir isso.

- Acho que primeiro precisamos sair daqui. Os mortos já estão na porta. – disse outro aluno, amedrontado, apontando para a porta. Todos perceberam que a porta que dava à garagem era constantemente esmurrada – como outrora-, mas com uma intensidade muito maior – o que significava, aparentemente, um contingente de zumbis muito superior a outrora.

- É... – disse Alex – Precisaremos atravessar a sala de necropsia. Estejamos preparados, armados com algum pedaço de pau. Empurrem-nos, joguem-nos ao chão. E cuidado com o chão, eles podem vir rastejando e lhes morderem.

- Certo! – os demais disseram, em um tom uníssono

- Vamos então! – disse o rapaz.

Encontravam-se na sala de radiologia doze alunos – cinco homens, quatro mulheres, Alex, Cristina e Klaus. Estavam todos com os respectivos corações saltando nervosos no peito. Entretanto, havia chegado a hora. Era necessário dali partirem.

Alex, que se encontrava próximo à barreira improvisara que criara, empurrou-a no chão, com toda força. O estrondo ecoou pelo local, chamando a atenção dos zumbis para si.

- Vamos! – gritou o rapaz. Correu em direção ao interior da sala de necropsia. Os demais correram logo atrás.

A sala de necropsia estava tomada por seres humanos andando capengante, com os braços para baixo e olhares vítreos. A maioria deles se encontrava completamente nus, deixando à mostra os motivos de suas mortes – e o motivo de seu retorno como mortos-vivos. Outros poucos, a primeiro plano, possuíam roupas – àquela altura, completamente manchadas de sangue e pedaços de carne. Ao fundo, algumas gavetas se encontravam parcialmente abertas, com cadáveres humanos debruçados sobre as mesmas, paralisados, mexendo-se apenas os braços, lentamente.

Alex nem titubeou, passou direto por todos, empurrando os mais próximos e abrindo caminho para os demais, que vinham logo atrás. Cristina e Klaus vinham colados a Alex. Ela se encontrava com um grande receio, entretanto, era acobertada por este, que se encontrava com grande vontade de sobreviver, assim como Alex. Os demais vinham logo atrás. Encontravam-se com um medo idêntico ao de Cristina.

Deram alguns passos no interior da sala de necropsia. Repentinamente, eis que caminha, em direção aos vivos, uma segunda horda de zumbis, logo atrás da primeira – derrubada. Estes, ao contrário dos primeiros, encontravam-se praticamente todos com roupas. E, retirando alguns pequenos detalhes – como mordidas nas bochechas ou olhos arrancados, por exemplo -, os rostos dos zumbis lhes eram extremamente familiares.

- Professor. – disse Cristina, ao visualizar o antigo professor de Medicina Legal caminhando lentamente em sua direção, com um gigantesco machucado de mordida no pescoço.

Prontamente, Alex reage, tão logo ouvira as palavras de Cristina. Cutucou-o com a madeira que carregava, derrubando-o ao chão.

- O...Obrigada. – disse Cristina

Alex sorriu para ela.

- De nada. – disse – Agora, vamos. - completou

No final da fila, uma garota, de cabelos loiros, pele clara, baixa e com corpo farto paralisava ao visualizar um rosto conhecido caminhando em sua direção. O rapaz alto, cabelos curtos, magro e de óculos que caminhava lentamente em sua direção, com olhar esbranquiçado e os longos esticados para frente outrora foi seu namorado. Àquela altura, já era apenas mais um dos inúmeros zumbis que tomavam conta do Instituto Médico-Legal. Entretanto, para aquela garota, aquele rapaz ainda era o homem que lhe daria segurança para sobreviver.

- Júnior. – disse, alegre, ao visualizar o namorado caminhando em sua direção. Correu em sua direção, abraçando-o. Começou a chorar – Eu senti tanta sua falta, achei que fosse lhe perder. – continuou ali, abraçada e ele, ainda o tendo como porto seguro. Até o momento em que esboçou sua primeira reação – morder-lhe o pescoço com tamanha violência, que deu para ouvir o estralar do pescoço dela partindo ao meio.

Os vivos continuavam a correr pela sala de necropsia, a fim de atravessá-la. Alex, Cristina e Klaus já se encontravam à frente. Um aluno vinha logo atrás, correndo. Todavia, foi jogado ao chão, com tamanha violência que seu nariz quebrou. Mesmo sentindo dor, o rapaz visualizou o que lhe segurara: um morto-vivo, que havia sido derrubado em outrora, segurava violentamente sua perna direita.

- Socorro! – gritou o rapaz, chamando a atenção de Alex, Cristina e Klaus para si

Tão logo visualizou a situação em que se encontrava o rapaz, o trio de amigos passou a lhe ajudar. Alex deu um poderoso golpe na cabeça do zumbi, com o pedaço de madeira que possuía. Klaus deu um segundo.

Os golpes foram com tamanha violência que destruiu a parte superior da cabeça do zumbi, deixando à mostra parte de sua massa encefálica. Entretanto, por mais atordoado que se encontrava momentaneamente, o zumbi permanecia ativo. Ainda segurava com força a perna do rapaz e ainda mexia, ainda que muito lentamente.

- O que está acontecendo aqui? – se perguntou Alex, perplexo, em pensamentos. Lembrou-se, então, do zumbi na porta da garagem. – Merda. O que farei então?

Um quinto aluno – um rapaz alto, de pele bronzeada e levemente forte – estava atravessando o cenário onde se encontrava Alex e os demais. Fitou Klaus e Alex paralisados, ao perceberem o zumbi voltando gradativamente ao normal, enquanto fitou o amigo de classe desesperado por ajuda.

Sem pestanejar nem pensar duas vezes, o aluno empunhou o pedaço de madeira que carregava e quebrou na cabeça do zumbi, com tamanha força que o pedaço se espatifou em dois. Porém, para sua surpresa, eis que o zumbi não parou de se locomover.

- O que está acontecendo aqui? – perguntou o rapaz, perplexo

- Aconteceu de novo. Eles não morrem nem com golpe na cabe... – dizia Alex, virando o seu foco em direção ao aluno. Todavia, surpreendeu-se, ao perceber um zumbi logo atrás do rapaz.

- Cuidado! – gritou. Chamou a atenção de Klaus e Cristina para si. O rapaz virou-se para trás, entretanto, era tarde demais. O zumbi cravou seus dentes na região no ombro do rapaz, arrancando do local uma grande quantidade de músculos e veias.

Alex arregalou os olhos, tamanha sua surpresa. Cristina tampou os olhos, enquanto Klaus fitou perplexo. Todos se esqueceram completamente do rapaz jogado ao chão, com um zumbi preso à sua perna. Entretanto, este último não se esqueceu e, logo após o ataque ao outro aluno, voltou ao normal. Aquele ainda tentou se defender, todavia, foi em vão. O zumbi cravou em sua perna os dentes, arrancando parte de músculo e sangue do local e fazendo o seu dono gritar de dor.

O grito do aluno fez com que Alex, Cristina e Klaus virassem suas atenções para ele. Ao visualizar a cena, Cristina tampou a mão e começou a se debulhar em lágrimas.

- Socorro! – gritou o rapaz, enquanto o zumbi saciava-se com sua perna

Alex olhou para o outro canto. O outro aluno estava calado, enquanto o zumbi devorava o seu rosto. Visualizou para o outro lado. Percebeu alguns alunos desviando-se dos zumbis, enquanto uma aluna – Margarida, uma grande amiga de Cristina – encontrava-se cercada pelos mortos-vivos.

- Vamos! – gritou Alex, para Cristina e Klaus, enquanto os demais alunos corriam em direção à outra sala de necropsia

- Mas... e a Margarida? – perguntou uma abatida Cristina

- Não dá pra salvá-la. Fora de que há zumbis chegando perto da gente.

Cristina abaixou a cabeça e correu em direção à outra sala de necropsia, junto de Alex, Klaus e mais cinco alunos, deixando para trás Margarida e seus gritos desesperados e incessantes por ajuda. Debulhava rios de lágrimas, pois, àquela altura, sua turma de faculdade se resumia a apenas oito alunos.

Havia apenas dois zumbis na primeira sala de necropsia, o que facilitou a passagem, sem maiores dificuldades, dos vivos. Alex e Klaus os empurraram ao chão, enquanto todos corriam. Atravessaram-na e o último aluno fechou a porta, deixando para trás toda a sala de necropsia.

- Será que há mais desses monstros pelo IML? – perguntou um dos rapazes

- Certamente. – respondeu Alex. – Se havia na garagem vários deles, certamente eles estão espalhados por aí.

- E somos apenas oito... – disse Cristina, abatida

- Não, com certeza há mais de nós. – disse o rapaz que abriu a porta da garagem, mais cedo – Nós deixamos vários deles no corredor, antes de entrarmos na sala de necropsia.

- É verdade. – disse uma garota

- Com certeza eles estarão vivos. – disse Cristina, mais animada

Alex ficou em silêncio. Rezava para o que o colega de classe falou fosse verdade. Eram treze alunos de sua classe que se encontravam do lado de fora da sala de necropsia, dentre eles o seu amigo LaFond. Queria que todos estivessem bem. Mas julgava estranho não ouvir a voz de nenhum deles, ou nenhuma movimentação. Pensou que, talvez, eles fossem correr para o lado oposto, a fim de se salvarem desse Inferno. Entretanto, estranhou o fato de nenhum deles se preocupar com os que se encontravam na sala de necropsia. Era preciso prosseguir, a fim de descobrirem a verdade dos fatos.

- Vamos. – disse Alex. – É perigoso ficarmos aqui.

E caminharam pela sala anterior à sala de necropsia, que se encontrava vazia.

Os vivos encontravam-se no estreito corredor – onde só cabia um ou dois por vez – que ligava a sala de registros à de necropsia. Desceram os pequenos degraus do local e caminharam, com os corações a mão. Avistaram a porta que delimitava o corredor com a sala de registros e já caminhavam aceleradamente em sua direção, sem se tocarem do fino corredor perpendicular que levava ao banheiro.

Alex foi o primeiro a ultrapassar o dito corredor. Não havia se tocado da presença do mesmo. Quando começou a ultrapassá-lo que resolveu olhar para aquele canto. Naquele instante, sobressaltou-se.

Klaus e Cristina vinham logo atrás de Alex. Perceberam a perplexidade aparecer no rosto do amigo.

- O que aconteceu, A... – dizia Cristina, enquanto ambos viraram os respectivos focos em direção ao corredor perpendicular. Ao fitá-los, sobressaltaram-se.

Havia dois seres humanos ajoelhados, com os corpos virados para frente, próximos ao chão. Entre ambos, um cadáver, mergulhado em sangue, tendo suas vísceras remexidas e devorados pelos dois homens.

- Meu... Deus! – disse Cristina, levando a mão à boca

Entretanto, para surpresa de todos, a fala da garota chamou a atenção dos dois zumbis, que viraram suas cabeças para trás, em direção aos vivos.

- Opa... isso não é legal! – disse Alex. Deu um passo para trás, encostando suas costas na parede. Cristina e Klaus o copiaram.

- O que está acontecendo? – gritou um dos rapazes, que se encontrava no final da fila, e que não conseguia ver os zumbis

Os zumbis levantaram-se rapidamente e correram em direção a Cristina. Esta dá um grito e fecha os olhos. O grito de Cristina assusta os alunos que visualizavam a cena, deixando-os em alerta. Klaus e Alex levantam os respectivos pedaços de madeira que portavam e atacam – cada um em um zumbi diferente – as cabeças dos zumbis, jogando-os ao chão, desacordados. Ao fitarem os mortos-vivos, os demais alunos sobressaltaram.

- Mais zumbis? – gritou um deles

- Não conseguiremos fugir deles. – gritou outro

Alex e Klaus correram em direção à porta que dava à sala de registro. Abriram-na e visualizaram a sala anterior – vazia.

- Vamos, gente. Vamos. – gritou Alex. Cristina saiu correndo. Atrás dele, os demais alunos.

Cristina foi a primeira a chegar à sala de registro. Em seguida, chegaram os demais alunos. Estes últimos, ao passarem pelo corredor perpendicular, visualizaram a cena. As garotas e alguns homens levaram a mão à boca, em sinal de nojo. Outros saltaram de susto ao perceberem os zumbis próximos aos seus pés – e já se movendo, ainda que lentamente.

O rapaz que se encontrava no final da fila, tão logo passou pelo corredor perpendicular, grita, acelerando os passos:

- Os zumbis levantaram.

Alex e Klaus sobressaltam e ficam em alerta, enquanto os demais alunos aumentaram a velocidade dos passos.

O último aluno se encontrava ultrapassando a porta quando os dois zumbis apareceram no corredor principal. Caminhavam lentamente, com as roupas brancas todas sujas de sangue. Eram um homem e uma mulher, e esta deixava à mostra seus fartos seios, uma vez que a blusa estava parcialmente aberta.

- Ah, que desperdício. – disse Klaus

- Vai lá. Usa e abusa dela. – brincou Alex

- Deus me livre. Ela morde... – e, apesar da situação, Alex riu.

Alex e Klaus avançaram, dando dois passos à frente. No momento de darem o terceiro, ambos atacaram, simultaneamente, erguendo os respectivos pedaços de madeira e descendo-os, a toda velocidade, em direção às cabeças dos zumbis, estourando-as. Ambos os zumbis caem no chão, desacordados.

A dupla comemora. Conseguiram lograr êxito em uma difícil empreitada – atacar os zumbis, simultaneamente, sem um atrapalhar o outro, em um apertado corredor. Haviam tudo para comemorar.

Entretanto, eis que os zumbis no chão começam a dar sinais de que levantariam em breve.

- Vamos. – disse Alex, para Klaus

Ambos saíram do corredor e adentraram na sala de registro. Alex percebeu que o semblante de todos demonstrava preocupação.

- O que foi, Cristina? – perguntou Alex

- Não estão ouvindo? – perguntou Cristina, surpreendendo o rapaz. Este se silenciou, no intuito de escutar algum som diferente. Escutou-o. Arregalou os olhos.

Eram gemidos incessantes oriundos do corredor seguinte, onde todos deveriam adentrar no intuito de escaparem do local. Parecia haver uma horda de pessoas no local e todos sabiam, àquela altura, que aqueles gemidos eram característicos dos zumbis.

- Que merda. – disse o rapaz

- Será que lá estão tão cheio assim? – perguntou Klaus – Pode ser apenas o eco dos gemidos de poucos.

- Espero que sim. – disse Alex – O problema talvez não seja “quantos” deles, mas sim “quais” deles... – continuou, pensativo

- O que quer dizer com isso, Alex? – perguntou Cristina

- Alguns colegas nossos de turma estão justamente na entrada desta escada.

Cristina e Klaus arquearam as sobrancelhas. Outra aluna tampou a boca com as mãos, devido ao choque recebido.

- É verdade. – disse Klaus – Nós deixamos os outros alunos exatamente na entrada desta escada.

- Exato. – disse Alex

- Eu não quero enfrentá-los. – disse Cristina, triste

- Provavelmente, eles nem devem ter se transformado em zumbis. Eles são espertos, certamente conseguiram fugir a tempo. – disse Klaus, na tentativa de amenizar a dor de Cristina

- Tomara. – disse Alex. – O importante é estarmos prontos para o que der e vier. – continuou, convicto.

- Certo! – disseram os demais, quase que em uníssono

- Vamos. Precisamos ir, se quisermos sobreviver.

Os alunos caminharam em direção à porta oposta à de entrada ao corredor. Atravessaram o vão de entrada e começaram a subir à escada, com Alex e Klaus à frente. Nesse instante perceberem que a escada se encontrava completamente lotada de zumbis. Entretanto, não titubearam – pelo contrário, aceleraram os passos e, em questão de segundos, atacaram com toda força os zumbis, destruindo parte de seus crânios e jorrando sangue e cérebro em todos os locais.

Cristina analisava perplexa a bravura de Alex e Klaus. Não entendia como ambos possuíam tamanha vontade em atacar os zumbis, sem haver medo de serem atacados ou remorso por atacarem pessoas que minutos antes as viram vivas. Principalmente Alex. Desde que os zumbis apareceram, Alex agiu com extrema frieza, objetivando apenas dali sair com vida. Era o seu instinto de sobrevivência falando mais alto? Cristina não sabia a resposta.

A garota acordou de seus devaneios no exato momento em que percebeu que estava ficando para trás, uma vez que os demais alunos já se encontravam subindo as escadas. Correu logo atrás deles. A grande maioria dos zumbis se encontrava no chão, desacordada e com parte da massa cinzenta exposta. Outros se encontravam jogados na parede, com um poderoso golpe no peito. Os primeiros estavam praticamente desacordados; entretanto, já os segundos facilmente sairiam dali.

Alex e Klaus já se encontravam próximos ao final da escada, derrubando mais zumbis, quando escutam um grito oriundo logo abaixo. Olharam para trás. Visualizaram as duas alunas ainda vivas – excetuando Cristina – sendo encurraladas na parede por um par de zumbis. Os demais visualizaram a cena, mas nada poderiam fazer, eis que a horda de mortos-vivos no local era gigantesca.

A dupla desceu às pressas a escada, na tentativa de salvar as companheiras de turma. Alex correu em direção à colega de turma que se encontrava encurralada à esquerda, enquanto Klaus correu para salvar a colega encurralada à direita. Alex projetou o bastão à esquerda, para atacá-la da esquerda para a direita e, assim, salvar a garota – e, quem sabe, até mesmo arrancar a cabeça do morto-vivo. Projetou o corpo para o ataque e começou a executá-lo, todavia, o mesmo se esqueceu da parede à esquerda. O bastão, ao invés de rodar os 180º e acertar a cabeça do zumbi – como Alex queria -, acabou por acertar a parede à esquerda, batendo com tamanha violência que o mesmo despedaçou-se em dois pedaços. O rapaz arregalou os olhos, tamanha a surpresa.

Como não teve o ataque de Alex para impedir o zumbi, este mordeu o pescoço da garota com veemência, fazendo-o estralar. Alex ficou estupefato diante da cena. Não conseguia mexer os músculos. Ficava ali, estagnado, visualizando a garota pedir por suplício, enquanto era devorada viva.

Repentinamente, o rapaz acorda, ao perceber um violento golpe com o pedaço de madeira, oriundo da sua direita, espatifar a cabeça do zumbi, jogando ao chão e deixando a garota coberta por sangue e massa cinzenta. Estava lá, caída no chão, respirando fundo, com um gigantesco machucado no ombro esquerdo. Balbuciava algo, porém, devido à ausência de forças, não conseguia falar nada audível.

- O que aconteceu, Alex? – perguntou Cristina, preocupada. À direita deste, estava Klaus

- E... Eu falhei! – disse o rapaz. Pela primeira vez desde que os mortos-vivos começaram a aparecer, Alex falhara. Sentia as lágrimas quererem escorrer de seus olhos.

Cristina lhe abraçou, colocando sua cabeça em seu ombro.

Alex estava novamente pronto para lutar contra os mortos-vivos que ameaçavam cercá-los na escada. Estava sem o seu pedaço de madeira, entretanto, iria lutar com os braços, se necessário fosse. Klaus estava ao seu lado, à frente de todos, portando o seu pedaço de madeira e apontando-o na direção dos zumbis.

- Precisamos passar por aqui, e vamos conseguir sair daqui. – disse Alex, para si mesmo, em pensamentos

Klaus deu o sinal de partida. Avançou com o corpo e projetou o seu pedaço de madeira para trás. Atrás dele, vieram os demais. Klaus atacou primeiramente a cabeça de um zumbi, derrubando-o no solo. Alex socou o rosto de um zumbi, jogando-o para trás. Como este não conseguiu se levantar – por serem os zumbis extremamente lentos – começou a rastejar contra Alex; este, por sua vez, esmagou sua cabeça, pisando-a fortemente contra ela. Ambos começaram a atravessar os zumbis rapidamente.

Logo atrás deles, vinha Cristina. Estava forte e determinada a sobreviver. Começava a perder o medo de atacar os zumbis e avançava significativamente por eles. Atrás desta, os quatro alunos sobreviventes – uma garota e três rapazes. Estavam amedrontados e assustados – tudo lhes assustava e sentia um imenso terror pelos zumbis.

Este último quarteto tinha severas dificuldades em passar pelos zumbis. Atacavam erroneamente e, algumas das vezes, os zumbis rapidamente contra-atacavam. Precisavam de ajuda, ou poderiam morrer em breve.

A garota do quarteto – uma bela morena, de seios fartos, pernas salientes e à mostra, com pequenos toques de índia – se encontrava novamente encurralada pelos zumbis. Alex foi o primeiro a visualizar a cena. Pensou em agir, todavia, lembrou-se do que aconteceu antes – foi tentar ajudar outra garota e acabou-a deixando morrer à sua frente.

- Klaus! – gritou Alex. Klaus, que acabara de derrubar um zumbi, virou-se para Alex.

- Oi? – perguntou

- Ajude-a, por favor. – disse Alex, apontando para Klaus. Este, tão logo fitou a cena, partiu em sua direção.

Os demais não sabiam – com exceção de Alex -, mas Klaus e a garota – chamada Bertha – tinham um affair escondido entre eles.

O rapaz derrubou o zumbi que ameaçava Bertha, jogando-o ao chão.

- Está tudo bem contigo? – perguntou Klaus, para a garota. Estava levemente corado

- Es...tá sim. Obr... Obrigada. – respondeu Bertha, igualmente corada. Fitaram o olhar um do outro por alguns segundos.

Cristina visualizou a cena. Percebeu algo, e sorriu.

- Vamos. – gritou Alex, ao perceber de que os zumbis se encontravam todos caídos

Os sete sobreviventes postaram-se a subir a escada, em direção ao andar superior. Chegaram ao local, onde a luz forte lhes cegaram momentaneamente. Acostumaram-se com a pouca luminosidade da sala de necropsia e sentiram os olhos queimaram ao visualizarem a luz forte e as paredes brancas dos corredores do IML.

- Para onde iremos agora? – perguntou Klaus

- Não sei. – respondeu Alex. Fitou o corredor à sua frente. – A saída é lá embaixo depois desta rampa, não é?

- Sim. – disse Cristina. – Precisamos ir direto para lá. Sem rodeios.

- Mas lá fora está cheio de zumbis. – disse o rapaz que abrira a porta da garagem

- Aqui dentro também. – respondeu o rapaz. O outro emudeceu. – Vamos.

Com as costas na parede, Alex fitou o corredor perpendicular ao seu, que dava à sala de antropologia e às de toxicologia. Sobressaltou-se, recolhendo o corpo em seguida.

- O que foi? – perguntou Cristina, preocupada

- Está cheio de zumbis este corredor. – cochichou Alex. Com isto, todos postaram-se a abaixar o tom de voz

- Mas precisaremos passar por ele? – perguntou Klaus

- Acredito eu que não. Mas estão muito próximos. Precisamos tomar cuidado.

- São muitos? – perguntou Cristina

- Sim. – ele disse

- Vamos fazer o seguinte, então. – disse Klaus. Encostou suas costas na parede oposta a de Alex. – Vamos passar encostados nesta parede e completamente silenciosos. Talvez assim não despertemos a atenção dos zumbis para nós.

- OK. – disseram os demais

Alex, Cristina, Klaus, Bertha e os demais se encontravam encostados em uma das paredes, enquanto começavam a caminhar em direção à rampa que dava acesso ao primeiro andar. Caminhavam vagarosamente e silenciosos. Alex e Klaus foram os primeiros a visualizarem os zumbis. Sentiram os seus respectivos corações pulsarem violentamente no interior de seus peitos e respiraram fundo, com o intuito de se acalmarem. Olhavam para o chão – não queriam ficar ali, visualizando os zumbis, por uma quantidade de tempo muito grande. Cristina e Bertha vinham logo atrás dos rapazes, sendo seguidas pelos demais alunos.

O plano de Klaus se encontrava perfeito. Tudo estava dando certo, até o momento em que Bertha visualizou os zumbis e exclamou, surpresa:

- Ai, meu Deus. Xande!

O grito de Bertha ecoou por todo o cenário. Os alunos sentiram o sangue gelar dentro de suas veias.

- Bertha. – reprimiu Klaus. Mas já era tarde demais. O grito da garota chamou a atenção de todos para si.

- Merda. Merda. – gritaram dois outros alunos, dispersando-se, nervosos, ao perceberam a aproximação dos zumbis – que já se encontravam mui próximos.

- Meu Deus. Olhem. – gritou Cristina, surpresa, chamando a atenção de Klaus e Alex para o ponto que visualizaram. Sobressaltaram-se. Perceberam serem os zumbis os seus companheiros de turma.

- LaFond. Merda. – gritou Alex, visualizando o velho amigo transformado em zumbi

- O que faremos agora? – perguntou Klaus

- Vamos fugir. – respondeu Alex, desesperado.

Alex, Klaus e Cristina desencostaram-se da parede e postaram-se a correr no centro do corredor. Repentinamente, para surpresa geral, eis que o trio escuta um grito oriundo de suas costas. Viraram-se para trás, em um só pulo. Perceberam um de seus colegas de turma ser segurado por dois zumbis ávidos por comida.

- Mateus. – gritou Alex. Apoderou-se do pedaço de pau de Cristina e postou-se a correr em direção ao amigo necessitado junto de Klaus. Atacou violentamente um dos zumbis, na região da cabeça. Não surtiu efeito algum. Klaus atacou o segundo zumbi, em seu braço. O estrondo de um osso sendo espatifado ecoou pelo lugar. O braço atacado dobrou-se 180º para baixo, fazendo o zumbi soltar Mateus.

Alex levantou o pedaço de pau para atacar novamente o zumbi que segurava Mateus. Repentinamente, sobressaltou-se, ao escutar um grito agudo de Cristina: “Cuidado!”. Olhou, de inopino, para trás, onde visualizou LaFond logo atrás dele, com as mãos para frente, tentando segurá-lo. E assim o fez. Segurou os ombros de Alex e o jogou violentamente para trás. O rapaz deu dois passos para trás e, devido ao peso de LaFond, acabou por escorregar, caindo de costas no chão, com o zumbi sobre ele.

- Alex. – gritou Cristina, apavorada. Bertha, Klaus e os dois outros homens postaram-se a tentar ajudar os dois necessitados.

De repente, eis que a luz do local pisca rapidamente, enfraquecendo em seguida. Logo após, ele piscou novamente com mais intensidade.

- Ihhhh – reclamou Klaus – Só me faltava essa...

Em seguida, para surpresa geral, a luz apagou, mergulhando a todos em uma profunda escuridão.

- Isso não está acontecendo... – reclamou Alex, enquanto ainda tentava segurar LaFond

- Ai, meu Deus. – gritou Cristina, sem enxergar um palmo diante o seu nariz. – Klaus, Alex, cadê vocês?

- Eu ainda estou aqui, debaixo do LaFond. – gritou Alex

- Ficou legal isso não, Alex. – disse Klaus

- Preocupe-se em ajudar os outros, Klaus. Isso não é hora para brincadeiras.

- Alguém tem algum celular com lanterna? – perguntou Klaus, aos quatro ventos, antes de atacar LaFond.

- Eu tenho. – gritou Cristina. Começou a abrir a bolsa, a procurar de seu aparelho. – Deixe-me apenas achá-lo.

- O seu também tem, Klaus. – lembrou Alex. – Cadê ele? – perguntou Alex

- Deixei-o carregando no ônibus. Não achei que fôssemos precisar dele.

- Nem eu. – disse Alex. – Cristina. – gritou o rapaz, em seguida, assustando a garota – Aproveite e vê se tem sinal. Às vezes conseguimos ligar para alguém.

- Bem lembrado, Alex. – disse Klaus

- Agora me tira daqui, Klaus. Meus braços já estão ficando lassos.

Repentinamente, sobressaltando a todos, eis que um dos alunos, atrás de Klaus, grita, desesperado:

- Os outros zumbis chegaram. Socorro! – em seguida, um segundo aluno, começa a gritar, igualmente desesperado. Barulho de carne sendo arrancada à força, junto de gritos, começou a ser ecoado pelo local.

- Meu Deus. Meu Deus. Alex. Klaus. – começou a gritar Cristina, desesperada

Temendo o pior, Alex postou-se a usar mais força para se desvencilhar de LaFond. Klaus pensou instintivamente no mesmo. Ergueu o pedaço de pau e postou-se a atacar o zumbi que segurava Alex. Entretanto, neste instante, sentiu algo passando às suas costas, em direção a Cristina, acertando-lhe. Não pensou duas vezes: girou o corpo para esquerda e atacou com força total o que lhe acertara. Sobressaltou-se, todavia, ao escutar um gemido quase silencioso, antes de algo duro cair no chão.

- Ai, meu Deus, Bertha! Bertha! – gritou Klaus. Começou a tatear o chão, à procura da garota. Repentinamente, para surpresa – e alívio seu -, percebeu um pequeno feixe de luz surgir à sua frente, iluminando – ainda que precariamente – o local. Percebeu ser Cristina, que finalmente encontrara o seu celular.

Alex finalmente livrara-se de LaFond, jogando ao seu lado e levantando-se em seguida. Por fim, pediu desculpas pelo ocorrido e chutou sua cabeça, antes de pegar novamente o pedaço de pau e evadir do local. Olhou para trás. Visualizou os zumbis devorando dois dos alunos e segurando o rapaz que abrira a porta da garagem. Alex atacou os zumbis que lhe seguraram e evadiu com este do local. Atrás dele, estava Klaus, com Bertha desmaiada em seu ombro.

- Vamos. Vamos. – gritou Alex. Cristina postou-se a correr, à frente de todos, iluminando o caminho. Atrás dela, Alex, Klaus e o garoto. Atrás destes, os zumbis, que vinham ávidos por comida. Correram em direção à rampa.

- Você viu se o celular tem sinal, Cristina? – perguntou Alex

- Não. Não tem. – disse a garota

- Merda. – xingou o rapaz, enquanto continuavam a correr. Desceram a rampa às pressas, praticamente tropeçando um no outro. Escutavam os gemidos incessantes dos zumbis logo acima de suas cabeças.

Chegaram ao andar inferior em questão de poucos segundos. Saíram da rampa e viraram à direita, em direção à entrada do prédio. Sobressaltaram. Havia uma enorme horda de zumbis no local, ocupando praticamente todo o cenário.

O quarteto deu um passo para trás. Alex já começou a procurar por todos os cantos por algo, aproveitando a fraca luminosidade oriunda das nesgas da porta do auditório.

- Por aqui. – gritou Alex, apontando para o auditório. Todos viraram e correram em direção ao local em seguida. Alex foi o primeiro a chegar à frente da porta. Abriu-a e mandou todos entrarem. Cristina foi a primeira a adentrar no local. Estava claro, pois bastante luz solar adentrava pelas janelas. A garota visualizou o auditório, agora vazio. Instantaneamente, inundou em um mar de flashbacks, quando se lembrou dos momentos que ali se encontravam, ouvindo a palestra eterna de Johann, até o momento em que dali saírem, para conhecerem o IML – “quando tudo ainda estava normal”, pensou.

Por Cristina passou Klaus, carregando Bertha, o garoto e, por fim, Alex, que fechou a porta atrás dele.

- Rápido. A mesa. – disse o rapaz, para os demais, enquanto segurava a porta. Klaus deitou Bertha na primeira fileira de bancos e, junto do rapaz, carregou a mesa central em direção à porta, deitando-a e usando-a para impedirem de abrir a porta. Em seguida, Alex sentou-se ao chão, encostado na porta, aliviado.

[Fim da 1ª parte]