Doce Vingança

O homem jogou a cabeça para trás e uivou como um animal. Seu corpo foi tomado por espasmos bruscos de prazer. O cheiro de sexo estava impregnado no nariz de Isabelle enquanto ela sentia o gozo quente de seu parceiro escorrer por sua virilha. Seus olhos, fundos de tanto choro, encararam a figura que estava em cima dela. O seu estuprador era, sem dúvidas, um rapaz jovem. Ele abaixou a cabeça e deu uma risada abafada.

— Espero que tenha gostado, ao menos um pouco -- disse, rolando para o outro lado da cama. — Qualquer movimento brusco, eu mato você, entendido?

Isabelle estava esgotada. Sua voz, rouca, mal saiu para confirmar que havia captado o recado. Ela estava voltando da faculdade quando fora obrigada a entrar no carro do cara que agora relaxava ao seu lado. Uma arma apontada para a cabeça foi o suficiente para fazer com que a jovem de 19 anos se entregasse. Ela não sabia onde estava, permaneceu amarrada e com os olhos vendados a viagem toda. Sua única certeza era que estava longe de casa, longe de qualquer coisa que aconchegasse seu coração. A cama na qual estava deitada era dura o suficiente para ser comparada ao chão de concreto por baixo dela. Suas costas doíam, assim como sua dignidade.

— Acho melhor se vestir, creio que quer ir embora — disse o homem, sussurrando em seu ouvido esquerdo. — Foi muito bom curtir contigo.

Ela levantou-se no mesmo instante que ele. O quarto estaria num breu total se não estivesse sendo iluminado com a luz da lua. Ela procurou por suas roupas e as encontrou bem ao lado da porta. Caminhou, de forma ligeira, até elas. O homem olhou-a com intensidade o suficiente pra fazer com que a menina tropeçasse em seus próprios pés.

— Quando estiver pronta, me avise — disse ele. Ela olhou para trás e viu sua silhueta deitar-se novamente sobra a cama. Isabelle ergueu os braços até alcançar a maçaneta e girou-a. Nada. Seu coração palpitava alto o suficiente para que ela se incomodasse com o som.

Levantou-se do chão, com seu vestido enrolado nos braços. Olhou em volta e seus olhos pararam em cima da faca que repousava sobre a cômoda, perto o suficiente para o alcance de suas mãos. Ela sentia os olhos do homem atrás dela, seguindo-a fervorosamente. Num milésimo de segundo, ela traçou o seu plano de vingança. O vestido, que pendia em seus braços, novamente foi parar no chão. Isabelle abaixou-se para pegá-lo, mas esse não era o seu interesse. Engatinhou como um bebê até chegar bem próxima ao móvel. Tateou às cegas em busca da sua única forma de salvamento. Todo o seu sangue pareceu congelar quando sua mão fechou-se contra o cabo de madeira. Bem como o previsto.

Isabelle levantou rapidamente colocando o vestido de forma eufórica, sem nem se importar em colocar as partes de baixo. Caminhou lentamente até a cama, onde o homem estava deitado apenas de calça. Ele olhou para ela e sorriu.

— Deite-se comigo de novo, eu sei que você gostou — ele bateu no colchão bem onde ela estava minutos antes. — Vem — outra batidinha. Ela aproximou-se um pouco mais. Outro sorriso. Colocou um joelho na cama de apoio. Outro sorriso, mas esse se desfez logo depois, quando viu o que estava embolado em meio a calcinha que ela segurava na mão. Tarde demais.

Isabelle pulou em cima dele como um gato. A faca desceu certeira no ombro direito do rapaz, bem próximo ao pescoço, e ele gritou de dor. Ela ergueu novamente o instrumento como se fosse um troféu do qual era se orgulhava de expor. Preparou-se para o segundo golpe, dessa vez mirou no coração. Num reflexo instantâneo, ele ergueu o antebraço para proteger o órgão de maior importância, o que não foi muito útil. A faca rasgou a carne de seu braço, e ele pode sentir o gume roçando contra o osso. A força de Isabelle foi o suficiente para que a ponta do objeto perfurasse o peito dele. Ela agora estava sentada no colo dele, pronta para finalizar a sua vingança.

O homem tentou de todas as formas sair debaixo dela, mas a dor era esmagadora. Prendia-o na cama. Isabelle colocou a mão em seu queixo e segurou firme. Olhou fixamente olhos de seu estuprador e repetiu as palavras que ele havia dito pra ela minutos antes:

— Está gostando? Grite mais, é do seu grito que vem o meu prazer — e com isso ela passou a faca pelo pescoço dele. Viu o jorro do sangue bater contra o seu próprio rosto e, de forma assustadora, aquilo lhe deu prazer. Ela sentiu aquele líquido quente descer pelo seu pescoço em silêncio, cortejando a morte de seu agressor. Agora ele estava morto. O corte que ela fez foi fundo o bastante para expor a cartilagem da traqueia.

Isabelle levantou-se e olhou para o relógio no pulso do cadáver. 23h23min. Aquela havia sido a noite mais longa de sua vida.

Ricardo Coutins
Enviado por Ricardo Coutins em 15/06/2015
Reeditado em 15/06/2015
Código do texto: T5278140
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