Entre Corvos: O Nascimento de um Assassino

Tudo sairia nos conformes na tarde de domingo o churrasco na piscina na residencia dos Watson, se o pequeno Charlie Watson não tivesse matado o cachorrinho da pequena Tiffany. Não apenas o matou, mas sinceramente, a figura que fora encontrada na garagem da residência dos Watson, foi de fazer todos passarem mal. O pobre cachorrinho estava aberto e todo revirado. Logo que vira isso o Sr. Watson correra para pegar um pano e cobrir o que restou do pequeno animal. A bronca fora tamanha que Charlie não podia sair de casa por anos. Os vizinhos e donos do cachorrinho, se mudara semanas depois imaginando o pior. Essa história permaneceu oculta por anos, pouco se falava.

Por mais de 20 anos, os Watson mantiveram Charlie em uma rigorosa disciplina. Não ia mais à escola, começaram a educá-lo em casa, não via os amigos, mal saia de casa, e se saísse somente acompanhado dos pais. O Sr. Watson, começou a se embriagar e descontava tudo no garoto. A mulher não fazia nada, apenas chorava no quarto, esperando um dia tudo acabar. Quando atingira a maior idade, por um breve momento, Charlie conseguira sair de casa e dias depois fora encontrado pela polícia, todo ensanguentado, caído num beco. Dissera que não havia acontecido nada com ele. Ele foi levado pra delegacia para prestar depoimento. Durante esse tempo, os pais de Charlie, chegaram em casa e não o encontraram. Desesperados, ligaram para a polícia imediatamente. A atendente dissera que havia um garoto com esse nome por lá. Eles voltaram para o carro e se dirigiram para a delegacia. Changando lá, encontraram Charlie sentado num banco com as mãos algemadas e todo catatônico e sem falar uma palavra. O Sr. Watson, chegou para o delegado, e logo foi fechando a porta. Ele disse: "precisamos conversar". O delegado foi ouvindo o que o Sr. Watson dizia. Ele falou: "Anos atrás, Charlie ainda era criança. Ele matara o cachorrinho da nossa vizinha. Bom, não apenas o matou, mas abriu sua barriga e expusera as vísceras para fora. Todos ficaram assustados. Conseguimos abafar a história por anos. Mas no ano passado, ele mesmo me ameaçou, com uma faca, disse que iria matar a mim e a minha esposa se não o deixássemos sair de casa. Eu acabei me ferindo e minha esposa teve apenas alguns arranhões. Vocês me disseram que o encontraram num beco todo ensanguentado. Tenho quase certeza que há algum corpo por aí. Aconselho prende-lo por tempo indeterminado." O delegado ouviu toda a história, e fizera o que o Sr. Watson dissera, manteve Charlie preso na delegacia e ainda com as mãos algemadas. Durante o turno da noite, ainda poucos policiais permaneciam no local. Charlie conseguira dormir, e durante o sono, tivera pesadelo relacionados com a infância. Da criança feliz à um monstro agressivo e macabro. Sua personalidade se moldara para um sociopata, sua fala era distante, como seu olhar para os policiais enquanto estivera sentado aguardando o que ia acontecer. Ainda na madrugada, havia alguns barulhos estranhos vindos da janela da onde Charlie estava. Ele acordou e viu alguns corvos fitando os olhos nele. Os olhares transpassaram a alma de Charlie, sua mente se transportara para um mundo negro, obscuro e fúnebre. De repente ele caíra na cama e começara a ter convulsões fortíssimas. Um dos policiais acordou e abrira a cela para acudir o garoto. O que ele não sabia era que havia um plano para a fuga de Charlie. Enquanto o policial tratava do garoto, um dos policiais ligava para a emergência. Durante o transporte para o hospital, a ambulância sofrera um acidente, matando os dois policiais e apenas ferindo Charlie. Ainda um pouco atordoado conseguira sair da ambulância e caminhara para longe, entrando floresta a dentro.

Os corvos que antes estivera com ele, voavam e o seguiam para onde ia. Os sons que ecoavam dentro da mente de Charlie, foram o deixando mais concentrado. A morte estava acorrentada como um cachorrinho de estimação ao lado dessa louco obcecado por tirar a vida de inocentes. Anos foram se passando, e o que sabiam sobre ele, eram boatos lendas urbanas, alguns diziam que Charlie havia morrido, outro que fora preso em um manicômio e os mais audaciosos, afirmavam estar livre, matando e estripando suas vitimas. Corpos começaram a aparecer em lugares diferentes, não transportavam os cadáveres, apenas os deixavam apodrecer aonde morreram. Em todos os locais, havia uma pena de corvo encravado na vítima, como uma assinatura. Os pais de Charlie, investiram em uma busca juntamente com a polícia, para encontrá-lo e matá-lo de vez. Não havia mais um filho naquele corpo, não havia mais esperança de cura e de resgate de personalidade, o que sobrara era um recipiente vazio se preenchendo de maldades. O que abalou a cidade de Water Hill, foi a noite que encontraram o corpo de Nancy pendurado com uma corda no pescoço e com a barriga aberta, como fizera com o cachorrinho de Tiffany vinte anos atrás. Nancy era a filha mais velha do melhor amigo de seu pai. Uma forma de enviar um recado para a família sobre quem ele havia se tornado. Havia uma garota em que Charlie tinha um apreço durante a infância e parte da adolescência, era a filha do treinador da escola em que estudara por pouco tempo. Por mais que fosse apenas poucas trocas de olhares, um sentimento de foi gerado dentro desse coração assombrado. Mas devido ao rigor com que o pai de Mandy a tratava, poucas vezes eles se viram. Mas o coração de Charlie por poucos momentos bateu mais forte. Charlie escrevera uma carta ainda na adolescência para a garota, mas nunca obteve resposta. A mãe dele sabia do ocorrido, e se silenciava toda vez que ele tocava no assunto. Ela sabia o porque ela nunca escreveu de volta. O pai dela encontrara as cartas e as jogava fora, nem ela mesmo sabia disso, certa vez ele contara isso à mãe de Charlie.

Nesse tempo em que Charlie estava foragido, as famílias se juntaram a fim de encontrá-lo. Mandy foi chamada para auxiliar no caso, acreditavam que poderia distrair Charlie numa emboscada. Ela sem entender nada, fora junto com o policiais e as famílias. Quando criança, Charlie ia com seus pais para a floresta para acampar. Sempre iam no mesmo lugar. Sr. Watson dissera para o delegado que sabia onde possivelmente ele estivera. E para lá foram. À noite, durante a lua cheia, numa floresta assustadora, um assassino à solta, o que podia se esperar numa situação assim? Conhecendo os métodos de Charlie, o delegado já esperara encontrar corpos estripados onde Charlie estava. Ao longe foi avistado uma cabana, era da família da Tiffany, abandonada desde o incidente com o cachorro. Chegando na cabana, quando abriram, encontraram uma garota, era Melissa, irmã mais nova de Nancy. Ela estava pendurada com a boca amordaçada, mas viva. Retiraram ela do local e logo encaminharam ao hospital. O restante do pessoal continuou a busca por ele. Ainda na cabana, o delegado e alguns policiais, vasculharam tudo e encontraram facas, pedaços de papel e uma corda, mas nada que levasse ao paradeiro de Charlie. A mãe, Sra. Watson, encontrara um símbolo na madeira da cabana, que significava que Charlie não queria ser pego. Era um desenho de palito com um "X" por cima, brincadeira que fazia com a mãe, se escondendo pela casa. Charlie deixava esses desenhos na parede para que a mãe não o pegasse. Caso ela soubesse onde ele estava, desenhava um corpo de palito com um "V" por cima. Mudando de ideia a respeito do que fazer com o filho a Sra. Watson e Mandy, saíram da cabana sozinhas, contra a vontade do treinado e do delegado. "Vamos achá-lo", dizia Sra. Watson. Durante a caminhada, havia os mesmos desenhos nas árvores, com um "X" por cima. Em cada desenho Sra. Watson desenhava com com um "V" por cima. Com o instinto materno, foi sentindo a presença do filho a cada passo que dava. Mandy acreditava poder ajudar, mas ainda não sabia o que houvera anos atrás. Andando em silêncio, Sra. Watson e Mandy, ouviam passos bem longe, era estalos na floresta. Viram uma pessoa parada no meio onde não havia árvores, formava um círculo. Haviam tochas em volta, elas duas caminharam em direção ao Charlie. Ele nem mesmo se mexeu, continuou parado e olhando para longe. Sra. Watson disse: "Charlie, sou eu, sua mãe. Não queremos lhe fazer mal algum". E Charlie disse: "Já fizeram mal a mim, agora é hora de fazer mal a todos vocês." Ele se virou e o rosto iluminado pelas tochas não era humano, havia um profundo e obscuro olhar em direção às duas. Elas foram se aproximando e Sra. Watson lhe contou a história das cartas: "Eu sei que você tinha uma queda por uma garota da escola, filha do treinador. Mas devido ao rigor com que ela a tratava, pegava as cartas e as jogava fora. Por isso ela nunca lhe escreveu." Mandy agora entendia o porque do pai sempre tocar no assunto namoro, sexo e tudo mais. Charlie ficou ainda mais bravo e ameaçou as duas. Mandy lhe disse: "Charlie, eu sei que está assustado e apavorado, mas você precisa se entregar." Charlie: "Se eu me entregar eu vou morrer". Mandy: "Então fuja comigo". Sra. Watson achou a ideia bastante apavorante, mas correu para abraçar o filho. Quando chegou perto, viu uma sombra ao lado dele que parecia não deixá-lo de forma alguma. Mandy veio ao seu encontro e como numa armadilha, Charlie pegou a faca que estava na mão direita e como num golpe só, a esfaqueou incansavelmente, sua mãe olhou a aquilo com medo e assustada, tratou de pegar uma pedra grande no chão e deu na cabeça de Charlie. Atordoado ainda com o golpe, Charlie caíra no chão e a Sra. Watson, foi socorrer Mandy ainda agoniada com os golpes de faca que sofrera. Ela pegou um pano que estava perto e pedira que pressionasse o mais forte que pudera. Charlie de repente levantara e fora em direção de sua mãe para matá-la, e de repente ouviu-se alguns tiros e Charlie caíra pra trás. Quando a sua mãe olhou, o delegado estava a postos com a arma nas mãos. Ele correu em direção das duas, e levara Mandy ainda com vida para o carro em direção ao hospital. Sr. Watson e o treinador chegaram logo depois e viram Charlie caído com alguns tiros no peito e um na cabeça. Sr. Watson levara a Sra. Watson para longe e o treinador pegara um galão de gasolina a fim de queimá-lo. Sra. Watson gritou querendo impedir que fizessem isso. Mas nada adiantou. O corpo de Charlie precisava ser queimado. E foi o que aconteceu.

Dias depois, no hospital, Mandy acordara. O pai estava ao seu lado segurando sua mão. Ela disse que tivera um sonho. O treinador lhe dissera que agora estava tudo terminado. Mas mesmo assim ela lhe contou sobre o sonho. Dissera ela: "Ela estava agoniando depois de levar as facadas. E o Charlie estava caído no chão e de repente ele levantou e pude ouvir alguns tiros de longe e depois vi Charlie caído novamente morto. A Sra. Watson estava gritando desesperada para que não o queimassem, mas mesmo assim vi você jogando gasolina sobre o corpo dele e ateando fogo. Depois disso de um branco total." O treinador disse nessa hora, o delegado tinha levado você para o hospital, que não havia como você ter visto isso. Ela insistiu em dizer que foi o que sonhara. O pai mais uma vez a retrucara e mandara ela ficar quieta.

Após receber alta, fora para casa. Durante a noite, ouvira um som estranho vindo da janela do seu quarto. Levantara e olhara para ver o que era. Havia uma pessoa parada na rua em frente a sua casa e alguns corvos sobrevoando. Ela saiu e o seguiu. Chegando aonde a pessoa estava, avistou o cemitério. Continuou a seguir e num susto olhou a lápide onde ela estava parado. Havia uma inscrição que dizia: "Ao nosso querido e amado Charlie Watson". Data de nascimento em vinte e três de outubro de mil novecentos e noventa e um e data de falecimento seis de julho de dois mil e quinze. Ela assustada lembrou, que haviam prendido um garoto na delegacia nessa mesma data. Se Charlie Watson estava morto nesse dia, quem era o garoto na floresta? Quando Mandy voltava para casa, observou que no caminho, havia corvos caídos no chão, havia milhares, aos montes espalhados.

A história de Charlie Watson, foi contada em livros, em poemas, em contos de terror, em lendas urbanas, nunca pararam, a todo momento desafiavam todos os meninos da escola a irem no cemitério ou na floresta para ver se conseguiam ver Charlie por lá, mas não passava de uma brincadeira. Alguns acreditam que ele esteja morto, outros dizem que ele nunca existiu e os mais audaciosos, acreditam que ele esteja solto por aí, caçando e estripando mais uma vítima. Mais vivo que nós mesmos, é o medo que permeia a nossa vida, ele chega de mansinho, se aconchega no nosso colo e quando percebemos, somos dependentes dessa sentimento.

Alfredo José Durante
Enviado por Alfredo José Durante em 06/07/2015
Código do texto: T5301838
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