EM ÁGUAS MISTERIOSAS - DTRL23 - #Luto

- Boa noite, passageiros! Aqui é o Capitão Thompson. Depois de aproveitarmos as noites quentes de Havana, o Andrômeda fará um tour pelas Bahamas antes de aportarmos em Miami. Enquanto isso, aproveitem nossa noite de salsa no salão de festas. – o alto-falante do luxuoso navio de cruzeiros anunciou a mudança no itinerário.

- Será que se importarão com a mudança? – perguntou o imediato.

- Ter o cruzeiro estendido e sem nenhum custo? – disse o capitão. – Só se forem malucos!

- Mas se souberem que entraremos no triângulo...

- Nem ouse em falar isso homem. Você sabe muito bem o motivo de navegarmos por ali. E por mais que eu também não goste de entrar nessas águas, você ouviu as ordens do almirante.

- Só não entendo o motivo de fazer essa entrega no meio do nada. O que estamos carregando capitão?

- Não sei. Só sei que é algo muito secreto e que devemos fingir que nada disso está acontecendo e o que é aquilo?

À frente do navio, uma enorme sombra boiava sobre o mar do Caribe. Capitão Thompson girou o timão para estibordo, enquanto o imediato olhava nos sofisticados painéis se o radar havia detectado algo.

- Será um iceberg?

- No Golfo? – disse, incrédulo, o capitão. – Não, acho que é uma embarcação à deriva.

- Mas o radar não aponta nada. Segundo ele, o mar está vazio. Vou tentar chamar pelo rádio. – o imediato pegou o fone e começou a chamar. – Aqui é o Andrômeda. Câmbio. Aqui é o Andrômeda, tudo bem? Câmbio. – apenas um chiado vinha pelo fone. – Sem resposta... Estou ficando com medo capitão.

- Para com isso homem! Logo chegaremos ao local da entrega e isso acabará. Não nos acontecerá nada. Mande uma mensagem em todas as frequências alertando sobre esse navio e nossa localização. Tomara que alguém nos ouça.

No entanto, o que foi ouvido pelos rádios que captaram a transmissão foram apenas gritos e pedidos de socorro.

*

Na sala do capitão Lee, no prédio da Agência de Segurança Nacional, estavam dez de seus melhores agentes.

- Há dois dias, um navio de cruzeiros desapareceu no mar do Caribe, a poucos quilômetros da costa de uma das ilhas das Bahamas. – Lee começou a falar apontando para um mapa sobre sua mesa. – Seu último comunicado por rádio foi esse. – toda a sala ficou imersa nos gritos que saíam de um notebook. – Nossa missão: ir até o mar do Caribe e encontrar o navio. Alguma pergunta?

- Senhor, por que o desaparecimento de um cruzeiro interessa à NSA?

- Porque, agente, ele carregava um item importantíssimo para essa agência e temos que garantir que ele não foi roubado. Todos entendidos? Vocês tem meia hora para arrumarem suas coisas e me encontrarem no aeroporto para irmos a Fort Lauderdale.

Na tarde daquele mesmo dia, os onze homens partiram num barco rumo às coordenadas da última transmissão do navio. Durante o caminho, um denso nevoeiro os acompanhou, tornando mínima a visão para o condutor da embarcação.

- Espero que essa missão termine logo, depois de amanhã é o aniversário de minha filhinha. – falou o agente Seth.

- Coitadinha, vai ter o pai desaparecido no Triângulo das Bermudas. – riu outro agente. – É onde estamos, sabiam disso?

- Não vão me dizer que acreditam nisso. – Lee falava sem tirar os olhos do radar. – Fique calmo Seth, amanhã estaremos em casa. O navio está a nossa frente.

Todas as luzes do cruzeiro estavam apagadas e o navio estava gelado. Os agentes subiram até o convés com a ajuda de ganchos enquanto o barco que os levou esperava logo abaixo. O silêncio reinava no local. Não havia marcas de sangue, nenhum corpo, nenhum estrago.

- Quero três grupos de três agentes investigando os porões e a casa de máquinas. – comandou o agente Lee. – Vasculhem tudo em busca dessa caixa. – ele mostrou a foto de uma caixa preta, com duas longas alças de metal que se erguiam das laterais. – Reportem-se imediatamente assim que a encontrarem e não abram a caixa em hipótese alguma. Seth venha comigo até à cabine. Vamos descobrir o que aconteceu aqui.

A cabine, assim como o resto do navio, estava intacta. Nenhum sinal de luta, explosão ou outro fator que indicasse o desaparecimento da tripulação e dos passageiros. Ainda havia combustível nos tanques, mas a eletricidade não funcionava. Lee conectou seu notebook ao computador de bordo, a fim de tentar recuperar as imagens da câmera de segurança. Os passageiros e a tripulação eram mostrados em todas elas, sem nada de anormal. Na filmagem da cabine, os agentes perceberam uma manobra súbita feita pelo capitão e logo o imediato se comunicava pelo rádio. Instantes depois a imagem ficou turva, mas era possível perceber que todos estavam gritando e corriam pelo convés. De repente um clarão ofuscou as filmagens e, quando ele passou, restavam apenas as cenas do navio vazio. Dentre elas, Lee identificou o item que vieram buscar.

- Equipe Alfa, entrei nos sistema de vigilância e encontrei o que procuramos. A carga está no porão 6. Não terão dificuldade em encontrá-la.

- Entendido, senhor. Algum sinal de vida aí em cima? Acreditamos que os passageiros devem estar aqui em baixo. Estamos ouvindo sussurros desde que descemos as escadas.

- Aqui não vejo nada. Deve ser som do metal rangendo. Pegue o item e vamos embora. Equipes Beta e Gama, voltem para o convés. Logo terminaremos aqui. – como retorno, Lee ouviu apenas um chiado.

Lee checou também os rastreadores que cada agente traz em seu equipamento. Na tela do programa ele via a localização de sete pessoas. Beta não estava presente.

– Consegue vê-los, Seth?

- Não senhor.

*

A casa de máquinas estava coberta de neblina. Os agentes mal conseguiam enxergar o caminho a percorrer. Enquanto passavam por grandes tubos de metal, sussurros eram ouvidos. “Ei, você! Me ajude!” Entretanto, não havia nada ali. Passos eram ouvidos por todos os lados. A temperatura caía cada vez mais.

- Vamos logo com isso. – era o que os agentes diziam uns para os outros.

No entanto, por mais que andassem, parecia que não iam muito longe. Sempre estavam na mesma sala com os tubos. O clima foi ficando pesado, até que uma menina foi vista. Ela estava toda de branco e carregava uma boneca no colo.

- Ei garota, venha aqui! Não precisa ter medo, viemos ajudar.

Como resposta, a menina soltou um grito agudo, que fez todos taparem os ouvidos. Ela saiu correndo e um agente foi atrás. Os que ficaram só ouviram os gritos daquele homem, gritos desesperados. Enquanto corriam para sair dali, viram mais pessoas. Eram homens e mulheres em roupas florais que bloqueavam a passagem.

- Saiam daí! Deixem-nos passar!

As pessoas estavam imóveis. Um agente atirou, mas não surtiu efeito. Aqueles seres impassíveis, com o rosto sem expressão se aproximavam cada vez mais até fecharem um círculo com os homens do governo dentro. Se alguém passasse por ali, ouviria tiros e gritos desesperados de homens que não sabiam o que estava acontecendo.

*

- Pegamos a carga, senhor. Estamos saindo do porão o mais rápido possível. Os sussurros aumentaram e estamos ouvindo passos. Não tem nenhum sinal de presença humana aqui e peço autorização para não investigar de onde vêm esses ruídos. – disse o chefe da equipe Alfa ao agente Lee.

- Concedido agente. Suba o mais rápido possível. Possui contato com as equipes Beta e Gama?

- Gama está nos esperando na entrada no porão 5, mas sem contato com Beta.

- Entendido e apressem-se. – agente Lee desligou o rádio.

- Será que se importarão com a mudança?

- Que mudança agente?

- Não disse nada, senhor. – disse o agente Seth.

- Como não, acabei de ouvir...

- Mas se souberem que entraremos no triângulo...

Sem que percebessem, o capitão e o imediato se aproximavam dos agentes. Eles caminhavam impassíveis, repetindo suas últimas palavras.

- Capitão Thompson? Sou o agente Lincoln Lee da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos, o senhor está desaparecido há dois dias e...

- Não sei. Só sei que é algo muito secreto e que devemos fingir que nada disso está acontecendo e o que é aquilo?

O capitão estendia a mão para fora, como fizera dois dias atrás. Lee e Seth se viraram para onde o homem apontava e viram vários aviões pousados no convés do navio.

- Como esses aviões foram parar ali, aquele convés estava vazio.

- Olhe a numeração deles senhor, são os aviões do Voo 19.

- Não comece, Seth. Vai me dizer que estamos numa anomalia do Triângulo das Bermudas que fez surgir esses aviões desaparecidos há décadas?

- Tem outra sugestão?

- Não sei agente. Só sei que devemos sair daqui imediatamente.

Ao saírem da cabine, o capitão e o imediato acompanharam os dois agentes e Lee percebeu que os pés deles não tocavam o chão. O capitão repetia as mesmas palavras, como se estivesse preso num loop de seus últimos momentos.

- Senhor! Senhor! – o agente da equipe Alfa chamava sem parar. – Perdemos a Equipe Gama senhor. Não os vemos em lugar nenhum, mas estamos rodeados por vários passageiros do navio. Eles não falam nada, mas mataram um de meus agentes.

- Mataram como? – Lee estava cada vez mais perplexo.

- Não sei. Eles o cercaram em um canto e quando desapareceram, Rodriguez não estava mais lá. Acredito que fizeram o mesmo com Beta e Gama.

- Está com a carga agente? Então corra e me encontre no convés inferior. Vamos sair logo desse lugar!

Eles se encontraram no mesmo ponto onde deixaram os ganchos que usaram para subir no cruzeiro A carga foi posta com todo o cuidado na embarcação que os trouxera até ali e os agentes desceram logo atrás. No entanto, o barco estava vazio. O piloto havia desaparecido, mas Lee não se preocupou em encontrá-lo. Ligou o barco e partiu imediatamente. Enquanto se afastavam, eles observaram uma multidão que se se encostava à borda do navio e Seth jurou ter visto alguns agentes entre eles. Os aviões não estavam mais presentes.

- Ninguém viu nada naquele barco. Os agentes foram mortos pelos mesmos piratas que atacaram os passageiros. – Lee foi incisivo nas palavras. Ele não queria a divulgação daqueles fatos. – Cumprimos nossa missão em menos de doze horas, parabéns agentes! Você conseguirá chegar a tempo da festa de sua filha Seth.

O mesmo denso nevoeiro os acompanhou até próximo à costa da Flórida. Seguiram a rota até Fort Lauderdale, porém, quando saíram do nevoeiro, o GPS mostrou que estavam próximos à Miami. Ao se aproximarem da praia, não viram as tradicionais pontes, nem as palmeiras da orla. O que observavam eram escombros e destruição. Aportaram e logo encontraram um soldado que vigiava o porto.

- Vocês aí! – gritou o soldado. – Essa é uma área restrita, não podem entrar aqui.

- Sou o agente Lincoln Lee da NSA. – Lee mostrou seu distintito. – Eu e meus agentes estávamos recuperando uma carga num navio à deriva. O que houve aqui?

- Você estava onde? – o soldado não confiava nas palavras dos agentes. – Como não sabe o que houve aqui? Esqueceu-se de que Miami foi totalmente destruída nos ataques de 2075?

- 2075? Você está enganado. Ontem Miami estava inteira. E estamos em 2015!

- Senhor, você precisa de um médico. Estamos no ano de 2245!

*

TEMA: Triângulo das Bermudas

Túlio Lima Botelho
Enviado por Túlio Lima Botelho em 12/07/2015
Reeditado em 18/07/2015
Código do texto: T5308039
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