#Luto# - MATADORES - DTRL23

Era mais uma noite como outra qualquer para Matias e Fernanda quando o telefone tocou: do outro lado da linha um cliente perguntava maiores detalhes sobre a bela morena que ele tinha visto num site da internet.

- Alô, eu gostaria de falar com a Carla...

- Pois não, é ela quem esta falando.

Carla era o nome fictício atual de Fernanda, ela trocava de nome como quem trocava de roupa. Era uma mulher realmente escultural, estava com 35 anos, idade relativamente avançada para o meretrício de “alto nível”, mas esta regra não se aplicava a ela. Botava muitas garotas de vinte anos no bolso. Além dos dotes físicos ela tinha outras vantagens insuperáveis: era experiente, educada e tinha um faro espetacular para distinguir os “pelados” dos “endinheirados”.

Era a quinta ligação que ela atendia aquela noite, as outras quatro ela havia dispensado rapidamente, mas agora parecia ter pescado um peixe graúdo:

- Então, eu vi suas fotos na web e gostaria de saber maiores informações. Você esta disponível agora à noite?

- Bom. Isso depende. Vou ser sincera, estou fazendo isso há pouco tempo, somente para terminar de pagar minha faculdade. Eu só saio com homens que estejam em viagem aqui na cidade porque não posso correr o risco de ser reconhecida.

- Ok, quanto a isso não tem problema. Sou um empresário de São Paulo e estou em Porto Alegre a negócios.

- Então esta certo. Somente mais uma coisa: tem que ser no motel que eu indicar e a gente se encontra lá no local.

- Eu tinha pensado em você vir até o meu hotel...

- Sinto muito, mas por questões de segurança eu só saio desta maneira. Se você não quiser, eu compreendo, mas disso eu não abro mão.

Depois de pensar por alguns momentos o homem respondeu: - Ok, me passe os dados que a gente se encontra lá.

O esquema deles era relativamente simples, Carlos e Fernanda davam entrada normalmente no motel como um casal comum. Depois o cliente ligava informando que já estava no quarto e ela ia até lá sozinha como se estivesse acabado de chegar.

- Sou obrigado a admitir que você é ainda mais bonita pessoalmente.

- Você também é muito atraente – e ele era mesmo, um homem em torno dos quarenta anos, em boa forma, moreno de cabelos lisos com alguns fios brancos que começavam a se sobressair, definitivamente, era um homem culto e elegante.

Ela pediu licença e tomou uma ducha, voltou com uma lingerie branca exuberante que realçava ainda mais suas curvas. Serviu uma bebida para quebrar o gelo, pediu para ele fechar os olhos e começou a fazer uma massagem relaxante começando pelos seus ombros e depois intercalando mãos e língua por todo seu corpo. Quando o homem atingiu o ápice do desejo, tomou-a nos braços arrancando freneticamente o pouco que restava de sua roupa. Não conseguiram chegar até a cama e transaram alucinadamente no próprio chão.

Com o desejo carnal saciado, tomaram um banho revigorante e deitaram-se nus um ao lado do outro enquanto o homem acendia um cigarro e contemplava através do espelho sobre o leito a visão da bela morena aninhada ao seu lado. Ele era bom de cama, mas ela o fez acreditar que era o melhor macho sobre a terra. Nunca duvide do que a dose certa de álcool e elogios é capaz de fazer no ego humano. Ele falou muito mais do que devia sobre ele, entre outras coisas que era um homem de negócios muito bem sucedido, com clientes em várias partes do mundo e tinha muito dinheiro.

Ela aproveitou um momento que ele tinha ido ao banheiro e simulou que estava fazendo um pedido para a recepção, por isso quando bateram na porta ele não estranhou.

Matias já entrou de arma em punho. Instintivamente o homem saltou da cama e se se encostou à parede, ainda sem entender muito bem o que estava acontecendo.

Com a calma característica de um profissional Matias ordenou:

- Faça exatamente o que eu mandar e você não vai se machucar, só estamos atrás de dinheiro.

- Pelo amor de Deus, não me mate, eu tenho família – falou o homem num misto de súplica e desespero.

- Qual o seu nome?

- Meu nome? – falou o homem nervoso – É Vitor...

- Olhe Vitor, vou colocar as coisas de forma que você entenda. Encare isso como um negócio qualquer, minha meta é dinheiro. A sua meta é ficar vivo. Se colaborar tudo vai acabar logo e ficamos todos felizes. Estamos entendidos? Posso contar com você?

- Si.. sim.. – gaguejou o homem que parecia prestes a chorar.

- Agora vista suas roupas. Vamos dar um passeio – falou Matias com a voz branda enquanto empurrava com o pé as calças que estavam no chão.

Desceram até a garagem e depois de amordaçarem e amarrarem o empresário, colocaram-no no porta malas do BMW esportivo preto de vidros escuros. Saíram do hotel sem nenhum problema e se dirigiram para o cativeiro. O volume do som garantia a privacidade necessária para acertarem os últimos detalhes do plano:

- Matias, acho que este cara tem grana pra caralho. Vamos ficar com ele um pouco mais e botar a mão numa bolada.

- Não, vamos seguir o planejado como sempre fizemos. Arrancamos o que for possível em um dia e depois o matamos. Rápido, limpo e com poucas pistas. Por isso que estamos a anos operando e a polícia nunca conseguiu chegar nem perto de nós.

- Não estou pedindo para não matá-lo, isso nem se discute. Só acho que vamos deixar passar a nossa aposentadoria.

- Até parece que a gente não tem grana suficiente pra parar... até já perdi as contas de quantos como este trouxa aí atrás nós demos fim, e todos renderam um bom dinheiro.

- Isso é verdade, deve ser porque somos muito bons no que a gente faz. Nunca encontraram um corpo sequer...

- Não somos apenas bons. Somos profissionais – disse ele enquanto dava uma piscadela na direção dela.

Logo depois chegaram ao cativeiro, uma casa retirada com um grande portão, o terreno era enorme e sem vizinhos por perto.

Retiraram Vitor do porta malas e o levaram para dentro, nestas alturas o pobre homem já dava sinais claros quanto ao stress que estava submetido: seus olhos estavam inchados de tanto chorar e a mancha entre as pernas denunciava que o coitado havia urinado nas calças ao ver que havia sido levado para um lugar completamente isolado.

- Por favor senhor, não me mate, não me mate – o homem chorava ajoelhando-se em frente a Matias.

- Não se preocupe. Se fizer o que pedir, não vou matá-lo – disse Matias enquanto olhava irônico para Fernanda.

Entraram na casa e levaram Vitor até um lap top.

- É hora de provar se tem todo o dinheiro que disse que tinha – falou Fernanda.

Com as mãos trêmulas o homem acessou uma de suas contas bancárias, fazendo os olhos de Matias e Fernanda brilharem ao ver o saldo superior a cinco milhões de reais.

- Puta merda! Este cara é milionário mesmo... – disse Matias não disfarçando o espanto.

- Posso lhe dar muito dinheiro. Eu lhe imploro.

O homem havia se jogado novamente aos pés de Matias, que estava relaxado por já ter visto a cena antes e ainda estar meio abobalhado com a fortuna do sujeito.

Tudo aconteceu numa fração de segundo. Num movimento rápido o homem levantou-se bruscamente atingindo o queixo de Matias com a própria cabeça. Matias ouviu um barulho seco e sentiu a dor antes mesmo de entender o que estava acontecendo, pois num golpe ágil o homem havia quebrado sua mão e agora era ele quem empunhava a arma.

Quando Matias acordou, sua mente levou alguns segundos para entender o que estava acontecendo. Percebeu que estava amarrado ao lado de Fernanda, ambos deitados no chão. Apesar de amordaçada, ela chorava e se debatia em desespero. Sentado em uma cadeira à frente deles Vitor fumava calmamente um cigarro. Sua expressão era de relaxamento.

Olhando para eles entre uma baforada e outra, Vitor falou enquanto preparava o celular para tirar algumas fotos:

- Não vou mentir. Tenho que matar vocês e não vai ser rápido, temo que será lento e extremamente doloroso... A propósito Matias, tenho que lhe dar os parabéns pelo lugar que escolheu. Vou poder trabalhar com calma sem ser incomodado.

Enquanto o homem caminhava em sua direção, Matias olhou em seus olhos buscando misericórdia, mas foi tomado por um desespero indescritível... ele nunca havia reparado naqueles estranhos olhos... Meu Deus... os olhos não mentem... os olhos não mentem... os olhos não mentem... era só o que balbuciava em agonia enquanto o homem se aproximava cada vez mais...

Três dias depois:

São Paulo – Capital

- Dr. Rubens, tem um homem na recepção que informa ter hora marcada, mas não quer se identificar – informava a secretária.

- Pode pedir para ele entrar.

Dentro do escritório, sentado em um sofá o mega empresário do ramo do petróleo abria o envelope que o homem entregara. Olhando as fotos de dois corpos estraçalhados, perguntou:

- Eles sofreram por muito tempo como eu pedi?

- Sim. A noite toda – respondeu o homem.

- Ótimo. Isso não vai trazer meu filho de volta, mas pelo menos tiveram o que mereciam.

- Ficou satisfeito com meus serviços?

- Sim, só mesmo você para conseguir achá-los, para outro seria um ato quase impossível. Eu sei bem o que estou dizendo, pois desde que meu filho desapareceu botei muita gente atrás destes malditos por muitos anos sem nenhum resultado.

O homem apenas sorriu e completou:

- Obrigado! Aguardo meu pagamento na data combinada.

- Pode ter certeza disso, sou um homem de palavra.

- Então acho que não temos mais nada a tratar. Desejo-lhe sucesso e se precisar novamente dos meus serviços você sabe como me encontrar.

Despediram-se sem maiores cerimônias, enquanto o velho empresário desejava sinceramente nunca mais precisar dos serviços do homem que se afastava, que atualmente atendia por Vitor, mas que poucos sabiam o nome verdadeiro. O homem que todos tinham medo e respeitavam. O homem que nos altos escalões do poder era conhecido como “O Matador”.

O velho empresário era um dos poucos que o conhecia há muitos anos, ele foi peça fundamental em sua ascensão, lhe ajudou a criar um verdadeiro império partindo da miséria.

Apesar de se conhecerem a muitos anos, o velho tinha medo do dia que teria que cumprir os pagamentos, porque este homem era implacável, e ele não tinha apenas um nome, tinha vários... mas o nome que ele preferia ser chamado pelos realmente íntimos era simplesmente: Lúcifer.

[TEMA: Pessoas desaparecidas]