I N F E C T A D O [MATT 6/10]

MATT O CAÇADOR DE LENDAS

6ª TEMPORADA

Episódio 10: INFECTADO

MATT

Quando acordo, tudo parece não ter passado de um sonho, Drew está deitado na nossa cela, no beliche acima de mim. Como podia tudo aquilo não ter acontecido? Me levanto devagar e sou surpreendido por uma dor forte nas articulações e outra mais forte ainda na virilha, como se algo penetrasse minha uretra e machucasse todo o meu sistema reprodutor interno, a dor é tão forte que me sento no chão, aos poucos se ameniza e consigo ficar de pé para chamar Drew, ele não acorda.

— Drew? Acorda! Por favor Drew, fale comigo. — Imploro aos gritos, mas ele não responde.

Dou um tapa forte em seu rosto e quando ele abre os olhos quase caio outra vez, não de dor, mas de susto.

— Cara, eu sei que estou mal, mas não precisa levar um susto como se eu fosse uma aberração. — Ele diz bem-humorado como sempre.

Infelizmente, não há nada de bom.

Puxo ele pelo braço até o pequeno espelho na parede, Drew parece mais assustado ainda ao se ver. Suas escleróticas estão vermelhas como sangue e já não é possível discernir pupila de íris, está tudo unido numa cor negra, como um zumbi ou qualquer outra coisa grotesca.

— O que é isso? — Ele pergunta assustado e olha para mim.

Tento não parecer apavorado, e tento também não pensar no pior, mas é claro que há algo muito mais obscuro do que um problema físico, ele está infectado, só preciso saber como isso ocorreu.

— Nós descobriremos.

— Matt... — Ele fala preocupado.

— Não se preocupe Drew, se algo estiver te possuindo, eu descobrirei o que é e expulsarei isso do seu corpo, mas se for algo pior... — Paro ao pensar nessa hipótese.

Ele suspira.

— Você fará o que for necessário. — Ele consente.

— Por onde andou Drew? Muita coisa aconteceu e agora não tenho certeza se tudo foi uma ilusão, uma hipnose...

Ele arregala os olhos assustado, então senta na cama tremendo.

— Matt, eu vi uma mulher que foi morta pelo namorado, ela falava espanhol e era muito linda, ela foi morta e abusada, depois reviveu, não sei como, mas ela acordou e se vingou, trazendo uma horda de mortos com ela, mas o pior não é isso...

— Está tudo interligado! — Concluo.

— Sim, ela é a criatura que lambeu a mão de Florence, ela tem algo a ver com o anjo, ela te abusou e agora espera gêmeos em seu ventre morto. Matt, ninguém sabe o que isso pode significar. — Drew diz preocupado, sinto um calafrio percorrer todo o meu corpo.

— Thayro está por trás disso, sinto isso da mesma forma que sinto o sangue percorrendo minhas veias, é tudo propósito dele e não devemos esperar nada de bom daqui para frente. — O alerto.

— Mas e os gêmeos que ela espera? Eles são seus filhos, nós precisamos salvá-los, seja lá o que forem, eles serão os descendentes da família Cabbas, seus substitutos...

— Nós vamos caçá-los e decidir o que fazer, mas antes precisamos encontrar um jeito de sair desse lugar. Estou enlouquecendo!

Drew se levantou e pôs a mão em meu ombro, o que me deixou um pouco menos nervoso. Depois disso nos dirigimos para o refeitório na hora do almoço, ainda preocupados, tentamos convencer um guarda a nos levar a enfermaria, mas em seu alemão perfeito e difícil de entender, ele disse que a gente devia ter feito isso de propósito para conseguir fugir.

Idiotas.

Fomos ao banho na hora em que todos estavam saindo, esse era um dos poucos privilégios que tínhamos: tomar banho separadamente.

Eu já estava debaixo de um dos chuveiros, deixando a água gelada limpar meu corpo, quando Drew despiu-se e fez meu coração bater mais forte. Sua pele morena estava pálida e em cada canto dela, veias negras, azuladas e até vermelhas se ramificavam até o pescoço, era uma infecção. Com certeza.

— Drew, tem algo errado...

— Er ist infiziert! — Um soldado diz ao entrar repentinamente no banheiro.

Antes que qualquer um de nós conseguisse ter alguma reação para o que ele dizia, fomos abordados, ele gritou por mais três soltados, que nos derrubaram no chão e nos imobilizaram, mesmo sem estarmos resistindo, eles nos bateram até que estivéssemos inertes na escuridão.

...

Sent.312 Lei nº 9 / Código de Conduta de Prisioneiros

DEVIDO A INFECÇÃO PELA PRÁTICA DE MAGIA NEGRA, O PRISIONEIRO 2ºA ESTÁ SENTENCIADO À PUNIÇÃO HADDAD, QUE OCORRERÁ NOS PRÓXIMOS DIAS, APÓS UM PEQUENO TEMPO DE QUARENTENA.

PRISIONEIRO 1ºA ESTÁ SOB ANÁLISE E SERÁ LIBERADO DE VOLTA AO QUARTO POSTERIORMENTE.

...

— Não faz sentido. Eu não pratico nenhuma magia, e esse pessoal daqui faz coisas bem piores que magia...

— Deve fazer parte do protocolo do lugar. Se magia é proibida, quer dizer que pode ser útil para nós, mas se você não praticou magia, quem poderia te infectar com ela? Que sentido tem isso? — Me pergunto assustado.

Estamos juntos em um tipo de quarto de quarentena com dois leitos, uma porta e nada mais. Como animais jogados ao relento, já perdemos a conta de quanto tempo estamos aqui.

— O que seria essa punição? Será que eu vou morrer? — Drew se pergunta.

— Claro que não. — Eu garanto, embora não saiba. — Mas pode ser bem ruim...

As portas se abriram, nos tirando da conversa imediatamente, inicialmente ficamos nervosos, mas eram apenas soldados, sem dizer nada, um ordenou com o olhar e os outros dois me puxaram pelo braço. Drew não esperneou, não disse, nada, apenas me olhou de longe com aqueles olhos diferentes.

...

DREW

Parecia uma manhã de domingo, um daqueles dias sem graça que não se sabe quando o sol vai surgir raiando, em um determinado momento ele aparece, mas continua tudo sem graça, domingo é um dia que nem o sol consegue alegrar.

— Sie sind zu steinigung für schwarze magie verurteilt.

O soldado diz ao entrar na sala de quarentena, nunca pensei que passaria por isso, mas também nunca pensei que chegaria aqui, que algo assim aconteceria, que eu teria encontrado Matt, seja o que for, fico feliz por ter conseguido ajudá-lo por todo esse tempo que estivemos lutando “juntos”.

Passamos por um longo corredor sem desvios, não chorei, nem resisti. Algo dentro de mim, dizia que eu precisava passar por isso, fazia parte do meu destino, da minha missão para ajudar Matt, não sei como, mas eu estava muito perto de lhe dar uma grande ajuda e se para isso eu precisasse morrer, morreria.

Quando emergimos no grande pátio, havia uma multidão de loucos, muitos deles algemados, um círculo de soldados em volta de um buraco e todos os outros prisioneiros por trás deles, nós atravessamos essa multidão como uma cobra d’água atravessa um rio, durante todo o tempo, eles gritavam o tempo inteiro:

— SCHMUTZIG! SCHMUTZIG! SCHMUTZIG!

Não compreendi o motivo de me chamarem de sujo, impuro,

infectado... Era a cor nos meus olhos? Era a magia negra que me dominou? Eles pensam que eu pratico quando na verdade estou sendo vítima dela?

Eles me soltaram dentro do buraco que tinha a altura dos meus ombros e encheram de pedras até a altura do pescoço.

Um general gritou alto algo que não compreendi e nesse instante todos se curvaram e abriram espaço para a entrada de alguém, que logo reconheci ser Dante.

Lindo como sempre, até seu modo de andar exalava sensualidade e beleza. Está vestido como um rei, só lhe falta uma coroa. Pálido como a neve e com uma túnica dourada que arrasta sua calda pelo chão.

Ele ri ao ver minha reação.

— Desculpe docinho, nosso IMPRINT no passado foi planejado. Nunca tive sentimentos por você, é tudo parte do plano dele. As visões, este lugar, o anjo, Marijuana, a Zumbi, os gêmeos, sua morte. Tudo planejado há séculos. — Ele diz, então começa a rir.

Nesse momento me pergunto se Frank estaria metido nisso também, embora ele não tenha sido mencionado.

— Todos aqueles momentos... — Me vejo dizendo.

Ele ri outra vez, agora mais humor, depois gira os olhos e se afasta. Todos parecem temê-lo, pois ficam longe quando ele passa. Olho a plateia e encontro Matt bem longe, está algemado à cerca, com uma expressão dolorosa no olhar.

“Você não precisa ver isso.” Penso, com esperança de que ainda tenha dom o suficiente para fazer com que ele ouça.

Ele aperta os olhos e faz um sinal de negação com a cabeça. Matt não vai sair dali, vai ver tudo até o fim. Sinto lágrimas quentes escorrendo por meu rosto, fecho os olhos.

— Anfang! — Dante ordena.

Fecho os olhos e sinto o primeiro golpe forte contra minha bochecha, outro o segue, mais um no nariz, ouço um “crack”, já estou sangrando, orelha, testa, nuca, pescoço “crack”, estão me apedrejando, a dor é surreal, tento elevar meu espírito, mas dói e continua doendo para sempre.

CONTINUA...

E N Andrade
Enviado por E N Andrade em 12/09/2015
Código do texto: T5379323
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