Halloween

Ele sentia saudade de sua casa, mas estava gostando do novo lar. Saiu quando uma crise econômica impossibilitou uma vida digna para sua família. Os meses no novo lar, naquele novo ambiente exótico e totalmente diferente, estava sendo uma grande experiência. Mas o sonho era poder voltar, voltar ao lar, para a sua cultura...

Saiu de casa cedo com a sua filha Emyli, de 10 anos. A menina não queria um traje qualquer, queria a fantasia da mulher maravilha. O pai a incentivava a gostar de quadrinhos desde pequena, e ela nutria muita simpatia pela heroína.

O pai aproveitara também para comprar os doces, os melhores doces! Não queria passar vergonha quando os meninos batessem à porta, queria dar uma boa impressão aos novos vizinhos.

Ao chegar em casa, a filha foi correndo abrindo as sacolas para se preparar, pois a noite estava próxima. Se ela soubesse o que iria acontecer nessa noite, jamais estaria com aquele sorriso ao se ver no espelho como mulher maravilha.

Ela pegou o seu saco para guardar os doces, despediu-se dos pais e foi atrás do que toda criança gosta. A menina conhecia muito pouco o bairro, e logo achou estranho o começo a da caminhada. Mas a sua felicidade por estar fantasiada era tão grande que impossibilitou a menina de observar ao seu redor. Por um momento ela sentiu um frio cortante. Parou o sorriso, teve medo. Estava em uma rua muito mal iluminada, apenas uma lâmpada no fundo do corredor estreito que as casas tangenciavam. Ela não fazia ideia de como fora parar ali, lágrimas caíram de seus olhos e ela correu em direção a luz. Sentiu que está sendo perseguida. O choro começou a ser acompanhado com gritos. O eco que lugar produziu era sinistro. A luz estava perto e de repente ela cai. Chorou mais alto. Ao levantar o rosto e olhar na direção da luz, viu uma pessoa.

- Pai? - gritou.

Uma alegria tomou conta de si ao ver a silhueta que pensava ser do pai. Não era!

- É um monstro - pensou.

Os olhos pareciam ser vermelhos, e grandes tufos de pelos escondiam seu corpo. O cabelo era grande, assim como suas unhas. Suas garras. A menina se levantou e voltou a correr. 'Rápido, rápido, rápido.' Mas o monstro foi mais rápido. E então ela sentiu unhas gigantes grudando em sua barriga. Mais uma vez foi ao chão, mas dessa vez o monstro estava em cima dela. E mais gritos invadiram o beco. Emyli não sobreviveu para relatar as características do monstro, mas um pouco antes de morrer, ela percebeu um detalhe. Apesar das unhas, dos olhos famintos e de seu aspecto grotesco. Aquilo não era um monstro qualquer, era um homem. O pior monstro de todos.

Ao ser questionado pela polícia o motivo de deixar sua filha de 10 anos sair sozinha a noite, o pai respondera:

- Halloween... - disse baixinho.

- Tu tá maluco parça? Aqui é Brasil!