A transição

Ao longe, não muito longe de onde os jovens se reúnem a noite havia uma densa floresta rodeada por um rio caudaloso e por uma densa bruma pálida que encobria as árvores despertando curiosidade em mentes inquietas, como a minha.

No dia 21, com dificuldade atravessei o caudaloso rio, e na margem oposta olhei com pavor aquela horrenda criação não natural. Lugar em que a depressão e a tristeza fizeram morada permanente e o motivo ninguém sabe.

A bruma fina e intensa logo se dissipava, a medida que eu avançava floresta a dentro revelando um lugar terrivelmente incrivel, árvores imensas de dimensões ciclópicas com galhos que se contorciam em espiral ao redor do tronco, em uma dança serena e arrebatadora, musgos podres e imensos escorriam das árvores e pedras, as árvores se contorciam ao meu redor, serenamente, e faziam um som característico de madeira podre quebrando. Tudo parecia estar morto.

Não vi animais, nem ser algum, a não ser as árvores. Vi pequenas luzinhas que voavam ao meu redor, como abelhas, mas em completo silêncio. Um odor éterico cobria o ambiente, e a visão era embaçada por causa da fina névoa.

Meu corpo estava adormecido, minha mente em transe, e eu mal raciocinava.

Daquele lugar não se podia observar o céu, que estava encoberto pela névoa dançando ao sabor do vento, que não existia. Curioso fato que não deixei de notar desde que pisei neste lugar.

O chão era fofo de folhas decompostas e um som de vento ecoavam por entre as árvores, como num outono ensolarado. O frio intenso dava lugar a uma dormência no meu corpo. E cada vez que caminhava meu corpo se fatigava e minhas forças se esvaiam. Percebi que as árvores se contorciam em comum acordo, como se combinassem algo. Em um instante me vi parado em frente a uma curiosa árvore, era um pouco menor que as outras, mas parecia ter poder sobre as outras, pois quando me aproximei, com dificuldade, ela se precipitou ao chão, ergendo suas raizes e expondo uma terrivel putrefação no solo onde vermes gordos devoravam carcaças de homens, animais, e muitas outras coisas vivas que nem pude reconhecer. Neste mesmo instante outras árvores balançavam-se e precipitavam-se, ergendo raizes podres, cadaveres e mais cadaveres amontoavam-se e dilacedados ficavam espalhados em meio as árvores caídas, o cheiro era insuportável.

Tentei correr, mas as árvores caiam ao meu redor tentando me alcançar com galhos espiralados e cheios de musgo podre. Corri o máximo que meu corpo aguentava. Não me restavam forças, o éter no ar adormecia meu corpo lentamente, faltava pouco para alcançar o rio, e a minha frente vermes se contorciam ao frio do vento que não existia. Um mundo paralelo, terrível, mas fascinante. Caí no rio, emaranhado em um cipó que trazia um tronco podre de uma das árvores. Neste tronco rodopiei inconsciente rio a baixo por horas, até ser encontrado milhas de distância da costa da pequena cidade de Pam. Pescadores disseram que uma estranha criatura estava firmemente agarrada ao tronco junto comigo, mas morrera devido as fortes ondas e por tubarões que devorando-a morriam intoxicados. Fiquei meses no hospital, retiraram de meu sangue grande quantidade de um material viscoso, de coloração azulada, que evaporou-se em contato com a luz.

Tempos depois, já recuperado, voltei a passear por aquelas bandas, voltei ao mesmo lugar onde tinha partido para o mundo terrível, mas o que encontrei do outro lado era somente uma pequena ilha com galhos retorcidos e areia fina, não havia bruma, nem árvores terríveis, nem vermes, nem corpos, somente areia, e esquecimento. Quando questiono sobre a localização, muitos me tratam como louco, mas sei o que vi, e o que passei. Nunca mais ouvi falar em nada parecido, mas continuo a busca por aquele mundo paralelo e terrível, mas belo e incrível.

[Conto Reeditado]

Daniel Gross
Enviado por Daniel Gross em 19/12/2015
Reeditado em 19/12/2015
Código do texto: T5484789
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