A Caixa da Aranha

Depois de um dia cansativo de trabalho, Rosa voltava para casa olhando para a janela do ônibus e se perguntando em que ponto a vida dela teria ficado tão ruim. Ela tinha resolvido fazer jornalismo para noticiar assuntos relevantes para a sociedade, não para entrevistar o homem que fez cirurgias plásticas para parecer um boneco, ou para mostrar ao mundo a incrível galinha que só tinha uma pena. Enquanto estava em suas divagações ela foi surpreendida pela quebra do veículo em que ela estava.

“Era só o que eu precisava ter que esperar outro ônibus depois desse dia horrível.”, pensou ela.

Como sua casa ficava a uns 15 minutos caminhando ela resolveu ir a pé. No caminho se deparou com uma feirinha onde várias pessoas se aglomeravam e gritavam, anunciando preços e produtos. Rosa resolveu dar uma olhada, pensando que talvez encontrasse alguma coisa interessante que a fizesse esquecer sua frustração profissional.

A jornalista passou por barracas que vendiam ervas e infusões que garantiam milagres, por um casal de hippies vendendo artesanatos e por uma velhinha vendendo vários tipos de galinhas vivas, nada disso interessava a ela. Sua atenção caiu em uma barraca do lado oposto que estava vazia no momento.

Era claramente uma venda de objetos antigos, seus olhos passaram por vitrolas e discos de vinil, livros mofados, e facas ornamentadas e enferrujadas. Ao se aproximar um pouco, pode ver melhor o vendedor. Era um homem pequeno por volta dos 50 anos, com cabelos brancos misturados com fios da cor de areia e uma pele marcada pelo sol. Quando notou que estava olhando seus produtos chegou falando com uma voz fina e arrastada.

“Pode se aproximar jovem, aqui você vai encontrar as melhores antiguidades dessa feira.”

A mulher examinou melhor a mesa e encontrou um belo colar, com um pingente oval prateado com uma pedra negra no centro. Enquanto examinava a joia, percebeu que nessa pedra havia um desenho em relevo de uma aranha. Quando perguntou ao homem o preço da peça, ela notou uma expressão estranha no rosto dele que desapareceu em um piscar de olhos.

“Ah essa é uma peça especial moça, e muito antiga... sim, veio da parte central do continente africano e dizem que foi feita por um príncipe antigo.” Falou em sua voz arrastada o pequeno homem.

“Você só está falando isso para me impressionar e aumentar o preço que eu sei.” Falou ela sorrindo.

“Claro que não jovem moça, inclusive resolvi fazer um preço especial pra você, mas apenas com uma condição...”.

“Que condição?” perguntou Rosa desconfiada.

“Eu adquiri esse belo colar em conjunto e só posso vendê-lo se for dessa forma.” Disse ele com um sorriso malicioso no rosto.

Antes de pensar em uma resposta, o homem tirou alguma coisa de uma bolsa e a pousou ao lado do colar. Era uma caixa escura do tamanho de uma mão, com finos desenhos brancos.

“E o que eu faço com isso?”. Perguntou ao vendedor.

“Você pode dar a utilidade que quiser jovem, mas só vendo o pingente se levar a caixa, vai ser um presente pelo seu bom gosto.”

Acabou levando os dois por menos de cinquenta reais, pensando que aquilo deveria valer no mínimo cento e cinquenta. O colar ficaria ótimo com um vestido preto e a caixa daria uma bela peça de decoração.

Ao chegar em casa resolveu tomar um banho e, após comer, voltou sua atenção para a compra que tinha feito na feira. O colar era realmente bonito e elegante, mas a caixinha era mais interessante do que ela tinha percebido mais cedo. Tinha alguns desenhos brancos como fios de seda que se encontravam no centro onde existia uma concavidade em forma de ovo.

Ao passar o dedo sobre a caixa percebeu que nessa parte côncava existia um desenho de aranha sulcado na madeira da caixa. Nesse momento ela percebeu que o colar se encaixava perfeitamente na caixa, e seu instinto de jornalista aflorou.

“Será que é um tipo de chave?” pensou ela.

Sem perder tempo encaixou os dois. Rosa não sentiu nada no primeiro momento e pensou que estava sendo tola por tentar abrir uma caixa com um pingente. Mas de repente sentiu a caixa vibrar, e um zumbido tênue, que aumentava aos poucos fez com que um arrepio percorresse seu corpo como se um exército de insetos estivesse correndo por ele.

Ela observou a caixa se abrir e notou que tinha um tipo de bola peluda lá dentro. A primeira pata saiu tateando da caixa e logo foi seguida por outras sete igualmente peludas e terríveis. Quando o restante do corpo emergiu, ela não teve tempo para se perguntar como uma aranha do tamanho de um gato coube em uma caixa tão pequena. Tudo que ela conseguiu fazer foi soltar um longo grito de terror e correr em direção à porta.

A criatura era muito mais rápida que ela, e o zumbido que emitia, deixava seus tímpanos como dois tambores dentro da cabeça. Antes de conseguir sair do quarto, sentiu uma dor queimando seu pescoço como se a sua carne estivesse derretendo enquanto ela ia perdendo os sentidos lentamente.

Quando os vizinhos finalmente resolveram entrar em seu apartamento encontraram uma cena macabra: envolta em uma cama de fios de seda estava seu corpo murcho como se algo tivesse sugado seus órgãos internos. E durante alguns dias sua morte inusitada foi o assunto mais comentado nos grandes jornais ao redor do mundo.

Lucas R de Oliveira
Enviado por Lucas R de Oliveira em 01/02/2016
Reeditado em 01/02/2016
Código do texto: T5530384
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