Parte 1

Aquilo aconteceu aos meus 20 anos. Naquela época era ateu convicto, já havia passado por diversas religiões, mas nunca havia encontrado algo que pudesse me fazer acreditar que o sobrenatural realmente pudesse existir.
Apesar da descrença, eu era fascinado por lendas, filmes de terror, contos e tudo que fosse relacionado ao gênero. Minha namorada Patrícia também era. Diferente de mim ela possuía uma crença, acreditava fielmente na existência de espíritos, demônios e entidades malignas que poderiam fazer mal, a nós, seres humanos.
“Deixa de ser tola, isso nunca existiu e nunca irá existir.” Era o que eu sempre dizia, todas as vezes que surgia o assunto sobre o sobrenatural.
Mas naquela noite ela estava disposta a me provar  que tudo em que ela acreditava era realmente verdade. Estava disposta a me mostrar espíritos.
- É hoje amor, hoje você verá com os seus próprios olhos de que tudo isso é real. – Ela disse confiante.
- Será que verei mesmo? – Questionei com um longo sorriso no rosto.
- Sim, verá! – Ela afirmou e logo depois me puxou pelo braço dizendo:
- Vamos, não podemos chegar atrasados.
Entramos no carro e nos dirigimos até ao local onde seria realizado a cerimonia. Tratava-se de um centro de espíritos. Era afastado da cidade, pequeno, mas assustador. Logo na entrada foi surpreendido por uma mulher idosa de estatura mediana e de longas ancas. Ela se dirigiu ate a mim e disse:
- Miguel, hoje você verá que somos reais.
Meu corpo inteiro gelou, era como se alguém estivesse jogado agua fria em cima de mim.  Mas disfarcei o medo, não queria que a minha namorada percebesse que eu estava com medo, pois era isso que ela queria, me impressionar.
- Boa jogada. – Disse a ela.
- O que? Do que você está falando?
- Vai me dizer que você não conhece essa senhora?
- Que senhora, Miguel, eu não vi ninguém.

Ela está querendo me testar,pensei.
Adentramos a pequena sala. Era ainda mais sombria do que a entrada. Havia uma mesa redonda, cadeiras de madeira e retratados pendurados pela parede. As pinturas me causavam arrepios. Eram sombras deformadas que pareciam se mover na medida em que eu as observava. Velas vermelhas iluminavam o local. O líder ou sacerdote que conduziria a cerimonia vestia uma longa batina branca. Usava também alguns adornos. O que mais me chamou a atenção, foi um anel prateado em forma de pentagrama. Já havia estudado aquele símbolo por diversas vezes e em algumas de minhas pesquisas, havia descoberto que o mesmo era muito utilizado em rituais demoníacos.
Havia cinco pessoas no total. Três homens e duas mulheres. Notei espantado que a senhora que havia me abordado na entrada não estava presente, o que me fez arrepiar mais uma vez.
- A senhora que estava na entrada, não vai participar?
- Que senhora? – Questionou o sacerdote.
- Emanuel, ele insisti que testemunhou essa senhora. – Disse a minha namorada.
O sacerdote me fitava de maneira assustadora. Observou-me por um longo período e disse:
“Provavelmente, seu namorado é especial.”
Tentei me controlar ao ouvir aquilo, mas meu descontentamento era grande de mais.
- Já chega dessa palhaçada. Eu sei muito bem o que esta acontecendo aqui. Vocês querem me assustar, mas não conseguiram, não por hoje.
Levantei enfurecido e me dirigi o mais rápido possível para a saída.
Minha namorada chamou pelo meu nome por diversas vezes, mas eu a ignorei. Entrei no meu carro e acelerei o máximo que pude.
Já distante daquele maldito local me senti aliviado. Sabia que Patrícia  ficaria uma fera comigo no dia seguinte, mas estava disposto a pagar o preço, afinal havia sido ela a responsável por tudo aquilo.
Dirigia tranquilamente pela estrada quando de longe avistei aquela senhora. Ela estendia as mãos, queria que eu parasse, mas fiz o contrario passei por ela a toda velocidade. Segundos depois olhei nos retrovisores para me certificar de que aquela velha desgraçada havia mesmo ficado para trás, mas ao observar tive uma grande surpresa. Ela não estava na estrada, era como se estivesse desaparecido do nada. Naquele instante meu coração foi a mil, continuei acelerando, acelerando, queria sair dali o mais rápido possível.
Em algum ponto mais adiante da estrada o radio começou a chiar, era estranho, pois havia trocado o mesmo há uma semana.
Apertei o botão para desliga-lo, mas não funcionava o chiado continuava e aumentava cada vez mais. As minhas tentativas de desliga-lo eram em vão, o que me causava um desespero ainda maior. Quando finalmente consegui, ouvi uma voz que vinha de dentro do carro dizer:
“Não se nega carona para uma velhinha.”
Ao olhar para trás percebi que a velha estava sentada em um dos acentos. Sua forma era ainda mais horrível. Parecia que a pele envelhecida estava podre. Os olhos eram completamente negros e o sorriso podre causava náusea. Ela sorria freneticamente e apontava em direção a uma luz que iluminava todo o meu veiculo. Assim que voltei a olhar para frente senti o impacto violento da batida e perdi totalmente a consciência. 


 
JH Ferreira
Enviado por JH Ferreira em 09/02/2016
Código do texto: T5538358
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.