O CONDUTOR DE ALMAS.

No alto desse prédio sentindo o vento em meu rosto eu olho para trás, e penso aonde foi que eu errei, melhor, penso quantos erros cometi para chegar até aqui.

Jogo a minha bolsa de viagem no chão e olho para as pessoas caminhando lá embaixo, daqui de cima elas parecem formiguinhas, cada um com seus problemas interiores, muitas dessas pessoas escondem seus calmantes embaixo do travesseiro à noite.

Mas assim é a vida nesse século, como uma piada contada por um piadista ruim, ou como a brincadeira de um Deus perverso o mundo hoje é menor, a tecnologia nos proporcionou isso, vivemos em um mundo tão pequeno, mas tão distante das outras pessoas.

Não reclamo necessariamente disso, é apenas um pensamento que me ocorreu nesse momento, nunca fui afeito a pessoas, desde pequeno conseguia ver seus segredos mais obscuros o que elas escondiam, o que elas realmente eram atrás da mascara que elas vestiam, sinalizando para outros um falso caráter, um moralismo imposto por uma sociedade cada vez mais hipócrita e sem memórias.

No caminho pra esse prédio pude ver um senhor de meia idade bem vestido, segurava uma bíblia como um verdadeiro tesouro, possuía dentes perfeitos, cabelos bem penteados, mas eu vi como ele realmente era a real pessoa escondida atrás daquela mascara não passava de um pedófilo que varava as madrugadas atrás de pequenos garotos, possuía uma predisposição por meninos de até seis anos de idade, alguns anos atrás eu o teria matado com minhas próprias mãos, já fiz isso antes, mas agora apenas não me importo.

Lembro-me da primeira vez que a maldição se manifestou, eu era ainda muito novo, deveria ter entre sete e oito anos, brincava na varanda da minha casa com alguns brinquedos velhos quando vi meu tio, irmão do meu pai entrando pelo portão, eu o abracei e lhe disse que meu pai estava no trabalho, ele sorriu e disse que veio falar com minha mãe.

Reparei naquele momento que seu sorriso era maldoso, havia algo pesado nele, na minha cabeça eu associei aquela mudança repentina com a mudança na escolha de paletas de cores de um filme infantil, no momento que você quer mostrar para aquela audiência que aquele personagem é um vilão, ou que naquele momento as coisas vão ficar ruins para os personagens principais, é evidente que na hora não pensei exatamente nisso para mim ele era apenas um vilão alguém que sempre vi como um herói, mas que naquele exato momento possuía algo de estranho nele.

Fiquei horrorizado não conseguia dizer nada, ele passou a mão sobre minha cabeça e entrou com minha mãe no quarto, eles se preocuparam em não fazer barulho, mas eu sabia o que acontecia ali, naquele exato momento descobri como as crianças eram feitas, o mito da cegonha havia caído.

Cresci conhecendo o verdadeiro lado das pessoas, vizinhos, amigos, professores, família, todos tinham seus esqueletos no armário.

Na adolescência matei a minha primeira Pessoa, um garoto da minha idade que havia embebedado e estuprado uma jovem garota de treze anos, lembro que esse caso causou uma grande repercussão na cidade, algumas pessoas diziam que ele deveria pagar que as leis deveriam ser mais duras, outras defendiam o garoto como se ele tivesse apenas seguido seu extinto masculino, afinal, ele era um animal alfa, a sociedade esperava isso dele, se a menina não quisesse sexo não consensual não deveria ter bebido tanto, muitas pessoas pensavam assim.

Me enojava esse tipo de opinião já que era necessário seguir nossos extintos mais primitivos,eu segui, e o matei, levei-o para um terreno baldio o castrei e incendiei o corpo, os gritos de agonia dele, se transformavam em uma bela melodia em meus ouvimos-me senti vivo,me senti bem,a morte dele para mim representou a morte de cada pessoa que justificava o crime culpabilizando a vitima,eu era apenas um adolescente, ainda me importava com esses dilemas morais.

Após meu primeiro assassinato, percebi outras coisas, comecei a receber visitas durante a madrugada, sentia mãos geladas em meus pés todas as vezes que dormia com eles descobertos, até hoje durmo todo coberto e aconselho que cada pessoa faça o mesmo, as criaturas são reais e você não gostaria de acordar com o toque frio em sua perna.

À medida que os anos foram passando eu fui me afastando dessa sociedade, eu percebia tudo,eu não era um fantoche,eu sabia que a maior parte das pessoas só serviam para ser manipuladas, policias, traficantes, consideram-se inimigos naturais, vivem uma guerra pessoal ceifando vidas de ambos os lados, mas nenhum deles percebem que eles são apenas o sintoma de algo maior, a doença são nossos políticos, elimine essa escoria que os sintomas diminuem.

Me livrei de alguns no decorrer da minha vida mas para cada um que eu me livrava apareciam mais dois ou três iguais ou pior do que aqueles.

Dou mais um passo em direção à beirada do telhado, o sol começa a me incomodar um pouco, um helicóptero passa bem baixo e posso reparar o piloto me olhando, isso me faz lembrar uma das minhas antigas vitimas um empresário que tinha conexões com o governo.

Durante sua vida teve um enriquecimento ilícito prejudicando muita gente, mas quando morreu naquele acidente que eu provoquei sem deixar suspeitas, apareceu na televisão como um herói nacional, que piada é esse país, nós rimos e aplaudimos nossos feitores de sempre, ainda somos uma nação de escravos ainda me pergunto por que temo o que me persegue a noite, quando o verdadeiro inferno é isso aqui.

Do lado da antiga casa que eu morava, pontualmente as quatro da tarde eu sempre via uma menina saindo de dentro da casa vizinha com uma corda para brincar, ela atravessava a porta, era quase transparente, um fantasma quase sem forma, mas seu olhar era sereno, ela pulava a corda umas quinze vezes até ouvir o barulho de um carro preto de funerária parado em frente a casa dela, ninguém via esse carro, ninguém via a menina, eu tinha consciência disso.

Como um filme que sempre repete na sessão da tarde a menina se aproximava do carro um homem alto saia, usava um grande chapéu que escondia seu rosto, mas seus olhos eram vermelho sangue, tinha dentes pontiagudos, usava um terno preto velho, mas bem cuidado a menina ficava horrorizada, tentava escapar, mas o homem era mais forte e sempre a colocava dentro do carro e dava a partida, desaparecendo no ar alguns segundos depois.

Eu sempre fazia questão de ver essa cena, me divertia, já havia perdido o respeito por tudo nessa altura.

A mãe dela morou por muitos anos ainda ao lado da minha casa, o pai nunca conheci.

Por anos acompanhei a mulher definhando fisicamente e espiritualmente, ela sempre tentava o suicídio, mas era fraca, embora na nossa cultura o suicídio seja tratado como algo covarde na realidade um sujeito que se acovarde não conseguiria cometer o ato e a covardia que ela sentia a punia mais ainda, pressionava sua alma, havia uma verdadeira plateia de espíritos ou de energia negativa, escolha em que acreditar, eu os via como sombras, eram criaturas forjadas em pura maldade, pareciam esperar o momento que aquela pobre criatura decidiria acabar com tudo e se juntar a eles.

Não sei como ela morreu. Apenas sei que faleceu porque a vi sentada na minha cama chorando em uma noite dessas, eu não entedia o que ela dizia, seus olhos não existiam mais, em seu lugar eram dois buracos vazios e um filete de sangue escorria pela sua boca, lembro de olhar e perceber que sua camisola branca estava suja de lama que descia por toda sua perna e em seus pés centenas de sapos acompanhavam inertes o sofrimento da mulher.

Será que ela pensava que eu podia ajuda-la?

E se pudesse porque eu faria? Não foi essa a mãe afinal que não teve cuidado com a filha?

Agora fecho os olhos, falta tão pouco, sei que em breve as sombras que me acompanham vão entrar pela porta, elas se alimentam de sofrimento, de medo, do desespero.

Meu celular toca. Tiro ele do bolso, é um numero privado. Nunca atendo esse tipo de ligação, quase nunca atendo ligações.

As sombras finalmente aparecem se amontam ao meu lado parecem gostar da vibração do celular, como se dali eu fosse receber más noticias.

Isso me deixa curioso. Não consigo imaginar uma noticia que soaria má aos meus ouvidos, não me importo com ninguém nesse mundo, pelo menos com ninguém que esteja vivo.

Olho novamente para as sombras, consigo distinguir alguém em meio a aquele amontoado, Cristina a única mulher que já amei, como sempre ela estava assustada, desesperada,ela sempre tenta me dizer algo mas não consegue.

O telefone continua tocando atendo, ninguém fala nada, olho para rua, mesmo daquela altura reconheço o carro preto, aquele carro de funerária.

Encostado na parede vejo o condutor com o mesmo Chapéu, o mesmo terno, o mesmo olhar, ele esta com um celular na mão, está sorrindo, mostrando suas fileiras de dentes, parece estar ansioso para o desfecho final, ele sabe o que eu fiz nessa manhâ e espera que a culpa me consuma e eu pule.

Meu coração transborda de ódio, lembro-me de um dos nossos encontros há cinco anos atrás,eu estava em um bar com Cristina e alguns amigos dela, era uma noite feliz como todas as noites e dias que passei com ela, que ser humano fantástico não conseguia enxergar maldade nela, sua honestidade e seu senso moral a vontade de ajudar o próximo me fazia ter um fio de esperança na raça humana.

Em dado momento seu celular tocou, ela prontamente atendeu, mas ninguém respondeu do outro lado. Perguntei qual era o numero e ela apenas respondeu que era um numero privado e levantou para ir ao banheiro deixando o celular na mesa.

Dez minutos se passaram e ela não voltou achei aquilo estranho, a mesa ficou silenciosa, sendo a quietude quebrada pela vibração do celular dela.

Uma mensagem SMS tinha acabado de ser entregue,eu não era de fazer isso, mas li a mensagem e para a minha surpresa a mensagem era destinada a mim: HAHAHAHA sua preciosa namoradinha aceitou uma carona, estamos aqui fora do bar, da tempo de você se despedir! ASS. O condutor.

Horrorizado corri para fora do bar e do outro lado da rua vi o carro da funerária, o condutor estava de pé abrindo a porta do banco do carona para Cristina, seu olhar estava estranho, era como se não houvesse mais vida ali, corri em direção ao carro e gritei o nome dela.

O condutor se virou para mim e sorriu mostrando aquela horrenda fileira de dentes pontiagudos, pulei em cima dele e acertei um soco em sua face derrubando seu chapéu e revelando seu rosto.

A pele era ressacada colada no crânio, parecia uma múmia, descobri também o motivo dos olhos vermelhos, duas bolas de fogo ocupavam o local da onde deveria estar seus globos oculares.

Meu soco abriu um pequeno ferimento na sua face, mas em vez de sangue saia pequenas labaredas de fogo, com um sorriso perverso, ele me segurou pelo pescoço e com uma mão bateu minha cabeça contra o vidro traseiro do carro, senti o sangue escorrendo pelo meu nariz, a dor era excruciante, o desgraçado quebrou meu nariz. Senti a tontura chegando eu não podia apagar, eu era a única chance de Cristina, na minha luta para me manter acordado percebi que havia três pessoas no banco traseiro do carro, um casal e uma criança, eles tinham o mesmo olhar de “fora do ar” de Cristina.

A criatura me virou de frente para ela e levou suas mãos geladas como a de um cadáver até minha garganta me sufocando, suas unhas viraram garras que penetraram lentamente na minha carne e com aquele sorriso no rosto como se tivesse se deliciando com meu sofrimento disse as seguintes palavras: Não se pode parar a maré, ela sempre vem e leva embora o que pertence a ela, as coisas são como tem que ser não se pode lutar.

Em seguida me jogou para a calçada do bar pegou o chapéu no chão e o colocou novamente na cabeça: Não reme contra a maré disse ele entrando no carro em seguida.

Vi o carro andando alguns metros antes de desaparecer no ar, do mesmo jeito que tinha acontecido à menina, tentei levantar, mas desmaiei.

Os dias após o ocorrido foram difíceis atendia cada ligação que recebia com a esperança de ser algum policial me dando a boa noticia que Cristina tinha sido encontrada viva sem ferimentos, por mais que no meu interior eu soubesse que ela estava morta eu não queria aceitar a realidade dos fatos, aceitar que uma pessoa tão boa como ela teve uma morte tão trágica me levava novamente para o caminho que eu havia percorrido, o de afastamento da sociedade, ela me tirou do buraco que eu me encontrava.

Nosso primeiro encontro foi em uma fila de um banco, dentro de uma agencia apenas um caixa eletrônico estava funcionando as pessoas reclamavam, ameaçavam processar o banco, mas é somente isso que as pessoas fazem, elas reclamam, chiam ameaçam, mas a maioria não é capaz de tomar uma atitude, pessoas assim como hienas gostam da intimidação gostam de se sentir superiores, se sentir maior que os outros para atingir seus objetivos, seja lá qual for seus objetivos.

Ela não era assim, as vibrações que emanavam dela me acalmavam eu senti a necessidade de puxar assunto, queria saber mais daquela criatura que se mostrava uma pessoa formidavel,sem ter o que dizer me limitei em perguntar as horas a ela.

Ela olhou em direção ao meu pulso e corei, queria tanto falar com ela que esqueci que estava com o meu relógio no pulso, percebendo minha timidez ela sorriu e me disse as horas e emendou com uma piadinha: Com certeza esse seu relógio não está funcionando não é?

Sorri e não disse mais nada, embora quisesse dizer eu apenas não conseguia.

Estava chegando minha vez de sacar dinheiro ela estava logo atrás de mim, eu tinha que tentar algo, se não seria o fim, virei pra ela e disse que ela poderia sacar na minha frente. Ela sorriu e disse que só aceitaria se ela pudesse retribuir pagando um lanche.

Depois disso as coisas aconteceram rápido, em pouco tempo estávamos perdidamente apaixonados um pelo outro e eu começava a deixar meu passado para trás.

A ligação da policia nunca aconteceu, seu corpo nunca foi encontrado, em vez disso um ano após seu sumiço eu acordei no meio da noite com o barulho de choro.

Sobressaltado me levantei e olhei por todo o quarto a procura daquele choro, não tinha ninguem, mas o choro continuava.

O nosso porta retrato que ficava na cabeceira da minha cama de repente estourou, assustado sai da cama e me virei em direção ao que sobrou do porta retrato.

A porta do quarto se escancarou violentamente nas minhas costas e parada na porta estava Cristina.

Completamente pálida, seu olhar transbordava horror, seu corpo estava todo molhado como se tivesse acabado de sair da agua, ela caminhou lentamente na minha direção e apontava seu dedo indicador em minha direção e gritava me acusando: SUA CULPA! É TUDO SUA CULPA!

Em seguida corria em minha direção como se quisesse me atacar, mas ao se aproximar de mim ela sumia.

Em outras ocasiões eu era assombrado por outras pessoas, acordei certa vez sentindo o quarto frio, no teto havia uma mulher fantasmagórica, parecia uma contorcionista, sua perna esquerda estava dobrada quase na altura do seu rosto, a perna direita estava esticada, os braços não possuíam formas distinguíveis o rosto pálido era acompanhado de um sorriso de terror no rosto congelado, mas diferentemente de Cristina ela era quase transparente, quando penso nisso percebo que Cristina era a excessão,ela nada lembrava os outros fantasmas.

Levantei da cama e acendi a luz, acho que ascender a luz é o primeiro pensamento que passa na cabeça de todo mundo que acredita esta sendo observado no escuro, deve ser um instinto básico que carregamos dentro de nós herdado geração após geração.

Ao acender a luz a mulher sumiu, e me senti aliviado, mas o momento de alivio durou pouco, a lâmpada do quarto explodiu, e puder ouvir as outras lâmpadas da casa explodindo em sequencia.

Sai do quarto e no corredor e me deparei com um garotinho o reconheci instantaneamente era o garoto que estava com o casal no banco de trás do carro da funerária.

Ele inclinou a cabeça um pouco para o lado esquerdo, seus olhos ficaram branco e ele ficou repetindo sem parar:Tac-tac-tac-tac-tac-tac.

Meu coração se encheu de horror fui levado de volta para a minha infância para algo que minha mente havia trancado em algum canto obscuro.

Eu deveria ter entre nove e dez anos estava na casa da minha avó que fica em uma cidade no interior, não tínhamos muita coisa para fazer por lá, a diversão da criançada era se reunir na praça a noite para contar estórias de terror, o que eu mais gostava naquela cidade era o fato de eu ter liberdade, na cidade grande não podia sair sozinha nunca, minha mãe sempre falava da violência, mas no interior era um local calmo onde o máximo que acontecia era roubo de galinhas na maioria das vezes por raposas.

Uma certa noite uma menina da cidade contou a historia que ela ouviu da prima de uma amiga dela, geralmente essas historias começa assim, ninguém nunca presenciou o fato é sempre um amigo de algum conhecido.

Ela nos contou que alguns anos atrás ali mesmo naquela cidade uma menina chamada Erica Valadares, foi sequestrada por um homem em um carro preto.

A cidade se mobilizou para tentar encontra-la com vida, aquele tipo de crime nunca tinha acontecido ali antes, cartazes foram espalhados por toda a cidade, buscas foram feitas por toda a mata que circundava a cidade, mas nenhum sinal da menina foi encontrado.

O pai da menina enlouqueceu com o sumiço da filha, matou a mãe quando dormia sufocada com um travesseiro e em seguida tirou a própria vida tomando chumbinho.

Quando a policia chegou na casa encontrou os dois mortos e em cima da mesa encontrou o rolo de um filme que foi recolhido como prova.

O conteúdo desse filme foi considerado sigiloso pela policia proibindo a distribuição a imprensa por causa do teor violento que continha nele.

Dizem que nesse filme esta todo o sofrimento da garotinha, aparentemente ela foi torturada severamente durante meses pelo seu captor, um velho alto de chapéu, embora a filmagem não o mostre claramente, mostrando vez ou outra apenas sua silhueta.

Por fim a menina foi jogada em frente a um trem tendo sido cortada ao meio, mas esse não foi o fim da pobre Erica, ela agonizou por horas mesmo naquelas condições, o sofrimento da menina demorou para acabar.

Com todo o sofrimento que ela sofreu seu espirito não descansou assombrando vez ou outra alguns desavisados na cidade.

- Tem alguns furos nessa estória! Afirmei. - Ninguém sobreviveria a tanto tempo após se partido ao meio, e se algo assim tivesse acontecido alguém teria presenciado o corpo próximo aos trilhos, e tem o fato da existência da fita, em algum momento alguém teria vazado a gravação, as pessoas são assim gostam de saborear a dor dos outros.

Com o meu dom notei que todos estavam assustados, pareciam acreditar naquela lenda urbana infantil.

A menina que narrou à estória rebateu: Ela pode ter sido jogada em frente ao trem próximo a cachoeira, em época de chuva quase ninguém vai lá. E sobre a fita ela pode ter se perdido. Deu de ombros e continuo: Quem sabe o que pode ter acontecido, o que importa mesmo é o que aconteceu em seguida.

Depois disso nada mais falei, vi que era perda de tempo, não quis saber o que aconteceu em seguida e sem eles perceberem resolvi ir embora para casa, estava tarde e eu estava começando a ficar com frio.

No caminho para casa da minha vó passando por uma antiga casa abandonada vi uma garota linda um pouco mais velha que eu me olhando da janela, ela estava com os dois braços apoiados no parapeito da janela e não parava de me encarar.

Parei e acenei para ela, em resposta ela sorriu e pulou para fora da janela.

Assustado, me aproximei para ver o que tinha acontecido com ela, ao me aproximar vi algo que me deixou horrorizado, minhas pernas bambearam eu queria correr, meu cérebro ordenava isso, mas minhas pernas não queriam obedecer, a menina não possuía a metade inferior do corpo.

A menina começou a se arrastar velozmente em minha direção o som dos seus cotovelos batendo no chão faziam um som que me aterrorizava: Tac-tac-tac-tac-tac.

Aterrorizado, tropecei e me estatelei no chão ao tentar fugir, em poucos segundos a menina estava sobre mim, das suas costas ela puxou uma foice e disse: Vou te cortar no meio, você será igual a mim, o condutor te quer, ele me disse que não se pode parar a maré, ela sempre vem e leva embora o que pertence a ela, as coisas são como tem que ser não se pode lutar.

De alguma forma busquei forças dentro de mim e consegui tirar ela de cima de mim antes que ela enfiasse aquela foice na minha barriga sai correndo pela estrada e posso jurar que havia um homem velho de chapéu na cabeça encostada em um carro de funerária sorrindo para mim bem próximo a casa da menina.

Por anos essa lembrança se manteve esquecida, agora penso será que eu escapei ou aquela criatura tinha outros planos para mim?

O garoto continuava fazendo o barulho com a boca: tac-tac-tac-tac, comecei então a ouvir o som característico do impacto de cotovelos no chão, tac-tac-tac, saindo do meu quarto, lá estava a menina.

Ele quer que você o encontre! Disse o garoto.

Descubra quem ele é, é a vontade do condutor!

Corri passando pelo garoto, e sai da minha casa, não voltei para lá, passei o resto da noite em um bar qualquer.

O condutor continua me encarando, levo minha mão a minha cintura e sinto a pistola que ali repousa. - Está na hora de terminar isso. Digo para mim mesmo, no exato momento que uma chuva fina cai na cidade, olho para o céu e vejo relâmpago cruzarem o céu.

-Não se mexa! Alguém grita atrás de mim.

Olho para trás e sou surpreendido por uma dupla de policiais militares apontando seu armamento pesado para mim.

Não esperava por isso tenho que pensar rápido, procuro não me mover, eles gritam de novo!

Pro chão retardado! Grita um deles.

Me jogo no chão mas precisamente esperando cair atrás de uma caixa de concreto localizada a minha esquerda.

No exato momento que pulo, ouço o disparo de um dos fuzis...

...Pooof o som da garrafa de champanhe sendo aberto é acompanhado de risos felizes, é ano novo, os fogos estouram no céu.

Veronica estava linda em um vestido longo branco, eu usava jeans e uma blusa preta, ela me abraçou e brincando disse: -Espero que no nosso casamento você esteja vestido exatamente nesse estilo.

-Não vou te decepcionar! Respondi dando uma piscadela para ela.

-Carlos... Você nunca me falou sobre seus pais, eu gostaria de saber mais sobre sua família.

-Eles são como todas as outras pessoas são desinteressantes! Disse com uma voz firme.

-Quer dizer que sou desinteressante senhor Carlos! Retrucou enquanto levava seus braços aos meus ombros.

Você não. Você é diferente... É de uma outra especie.respondi enquanto dava um beijo rápido em seus lábios.

-Pessoas são pessoas Carlos. Você só ver as coisas ruins nelas, mas em geral as pessoas são boas.

Dou um sorriso nervoso, não queria ter aquele tipo de conversa, não queria estragar nosso primeiro dia do novo ano com uma discussão sem sentido que não nos levaria a lugar algum.

-Eu sei o que você já passou, sei que você enxerga o que as pessoas são por dentro. Mas me diga você ver centenas de pessoas quando sai na rua, vai me dizer que as maiorias das pessoas são más, vou mais além olha para essas pessoas nesse salão a maioria são nossos amigos. Amigos dela pensei, mas achei melhor não fazer essa observação.

Você acha mesmo que a maioria deles são pessoas ruins, vai lá faça a sua magica e me diga!

-Não vale a pena Veronica, deixa isso pra lá.

- O mundo é um lugar bom Carlos as injustiças sociais é que tornam as pessoas ruins, mas até essas pessoas ruins são capazes de uma ação boa.

Não aguentando mais aquela falação dela resolvi retrucar: - você está me dizendo que um bandido miserável capaz de matar um pai de família para roubar um celular é capaz de uma ação boa?

Ela sorriu para mim, passou a mão em meu rosto e me fez uma pergunta: Qual seu conceito de uma pessoa verdadeiramente má?

-Tudo aquilo que não é desejável para a sociedade, tudo aquilo que temos que destruir.

-hum... É desejável para uma sociedade que se ajude o próximo?

-Sim.

-Se um bandido desses tem um comparsa ferido e o ajuda, não é um ato de bondade, uma vez que ele poderia apenas fugir?

-Não. Eles são comparsas, se ajudam.

-Isso demonstra companheirismo, preocupação em não abandonar alguém em uma situação perigosa, ele poderia apenas deixar para lá, se fosse uma pessoa má não teria essa ligação, mas sabe porque essa mesma pessoa que ajuda um comparsa mata um pai de família? Porque todos nascemos bons, mas a sociedade, a forma como as coisas são leva muita gente a praticar o mal, é mais fácil exterminar.A vingança é mais fácil mas quando você se vinga, esta devolvendo o mal ,você tá praticando o mal mesmo que na sua essência você seja uma pessoa boa.

Eles veem o lado deles na guerra contra uma sociedade que sempre virou as costas para eles e nós somos egoístas demais para cobrar a quem é devido, nos isolamos dentro de condomínios acreditando que nada vai acontecer com a gente, mas acredite um dia vai, então não podemos nos calar temos que lutar por um mundo digno, onde todos tenham voz, todos tenham seus direitos básicos supridos, nesse dia você vai ver como a violência vai diminuir uns 90%.

-Uau! Eu votaria em você. Sorri tentando deixar o clima mais leve.

Ela sorriu de volta e me fez um pedido:- - Por mim, nunca perca a fé na humanidade.

Por você eu faço tudo. E a beijei novamente.

Pude sentir o tiro raspando na pele do meu braço, bati com a cabeça ao cair no chão, me deixando um pouco tonto.

Um policial veio correndo pelo lado esquerdo e o outro pelo lado direito em uma tentativa de me cercar.

-Deita no chão porra! Esbravejou o policial mais velho.

Sem alternativas eu me deitei e estiquei os braços.

O policial mais novo se aproximou de mim e me deu um chute nas costelas, a dor me fez ver estrelas eu mal conseguia respirar e muito menos percebi quando o policial mais velho se agachou próximo de mim e retirou a arma que eu escondia na cintura.

Fui rudemente levantado do chão e em seguida me algemaram!

-Vamos levar esse merda! Disse o policial mais velho.

A porta do terraço se escancarou e vi uma equipo do CORE, a tropa de elite da policia civil, vindo em nossa direção.

Um homem alto de meia idade se identificou como delegado de policia e disse que assumiria dali.

Os policiais militares pareceram não gostar daquilo, mas nada podiam fazer tiveram que me entregar para aquela equipe de dez policiais.

Procuro sentir as emoções deles estão todos nervosos, possuem o desejo de me matar, eles acham que eu sou o tipo de pessoa que eu tanto detestei, e sim, eles tem razão um monstro foi o que me tornei ,tenho consciência disso e agora descendo as escadas por mais que revire meu estomago sei que eu faria tudo de novo, para salvar Veronica eu faria qualquer coisa.

As luzes do corredor se apagam, somos tomados por uma escuridão.

Os policias apontam seu armamento para frente e acendem as lanternas embutidas em cima das armas.

- Nem esta chovendo direito e lá se foi à luz lamenta algum policial atrás de mim.

-Nunes, Pereira, vão na frente e chequem o caminho, se estiver limpo nos passe um radio que nos encontraremos no elevador!

Observo os policias eleito indo na frente, eles estão assustados, eles não sabem o porquê de estarem assim, mas a algo maligno no ar, todos estão tensos, me divirto, sentindo a tragédia anunciada, as armas não podem salvar esses homens, ninguém pode, melhor eles rezarem para algum Deus, nunca vi resultado em orações, mas é só o que eles podem fazer.

Os dois homens viram a esquerda no corredor, nada acontece, tudo está quieto. Cortando o silencio gritos de horror são ouvidos, alguém atira a esmo.

Um dos policias voltam correndo para onde estávamos o delegado grita para ele perguntando o que aconteceu, a tensão está estampada no rosto de cada um daqueles homens.

O policial responde aos berros! Uma criatura delegado sugou o sangue todo do Nunes, atiramos nele mas a criatura não sentiu os tiros.

Clap-clap-clap. –O que isso? Grita alguém? Alguém está batendo palmas! Responde o Delegado.

-É a criatura, temos que sair daqui! Desespera-se Pereira.

CLAP- CLAP- CLAP.

A batida de palmas estava mais próxima.

Os policias apontam suas armas na direção do corredor.

O que irrompe no corredor é difícil de ser distinguido a primeira vista e todos ficam congelados tentando entender o que é aquela criatura.

A cabeça muito parecida com a de um bode sem chifres estava pendurada entre as pernas traseiras da criatura, que andava para trás, o barulho que ouvimos não era de palmas e sim algo provocado pelo encontro de suas orelhas que eram muito grandes, as pernas traseiras eram curtas e seus membros posteriores eram bastante longos lembrando patas de gafanhoto.

Após o choque inicial todos os policias dispararam suas armas ao mesmo tempo, o barulho naquele corredor era ensurdecedor.

Os disparos não foram suficientes para derrubar a criatura, que agora andava daquele modo hediondo em nossa direção.

A cabeça da criatura sorriu para nós e recitou: Abram totalmente os portões do Inferno e venham adiante do abismo para me saudar como seu irmão e amigo!

Concedam-me as indulgências de que falo!

Eu aceitei o seu nome como parte de mim!

Eu vivo como o animal do campo, exultando na vida da matéria!

Eu favoreço o justo e amaldiçôo o corrupto!

Por todos os deuses do Inferno, eu ordeno que todas estas coisas de que falo venham a se realizar!

- Voltem para o terraço! Gritou o delegado.

Ao tentarmos recuar fomos impedidos por um grupo de crianças vestidas totalmente de preto.

Suas feições eram pálidas, totalmente fantasmagóricas, em suas mãos havia uma vela preta, elas olhavam fixamente para gente e continuaram a oração:

- Venham adiante e respondam seus nomes pela manifestação dos meus desejos!

OH! ESCUTEM OS NOMES!

OH! ESCUTEM OS NOMES!

OS NOMES INFERNAIS

Abaddon Adramelech Ahpuch Ahriman Amon Apollyn Asmodeus Astaroth Azazel Baalberith Balaam Baphomet Bast Beelzebub Behemoth Beherit Bilé Chemosh Cimeries Coyote Dagon Damballa Demogorgon Diabolus Dracula Emma-O Euronymous Fenriz Gorgo Haborym Hecate Ishtar Kali Lilith Loki Mammon Mania Mantus Marduk Mastema Melek Taus Mephistopheles Metzli Mictian Midgard Milcom Moloch Mormo Naamah Nergal Nihasa Nija O-Yama Pan Pluto Preserpine Pwcca Rimmon Sabazios Sammael Samnu Sedit Sekhmet Set Shaitan Shamad Shiva Supay T’an-mo Tchort Tezcatlipoca Thamuz Thoth Tunrida Typhon YaotzinYen-lo-Wang

As crianças berravam os nomes, a criatura batia as orelhas, no fim da oração todos os policias estavam estáticos e ao mesmo tempo eles jogaram seus fuzis no chão e retiraram suas pistolas do coldre apontando para a própria cabeça e atirando.

A criatura passou por mim e começou a chupar o sangue dos policias mortos, às crianças apenas ficaram ali paradas olhando aquela cena, me abaixei peguei a chave da algema, me libertei, peguei uma das pistolas, coloquei na cintura e em seguida fui em direção ao elevador sem olhar para trás.

Assim que sai do prédio o carro preto de funerária parou na minha frente à porta do carona abriu o condutor estava com aquele sorriso no rosto, não pensei duas vezes, respirei fundo e entrei no carro, era tudo ou nada agora, ou salvava Veronica ou me juntava a ela.

_Carlos... Há tempos esperava por isso. Sussurrou o condutor ao mesmo tempo em que dava partida no carro.

Eu nada disse apenas reparei no interior do carro,fedia,tinha um cheiro pútrido o ar era pesado ali dentro.

-Você deve ter muitas perguntas! Disse o condutor.

-Quem é você? Perguntei.

Não estou morto, mas também não estou vivo.

Não pertenço a esse mundo e nem ao mundo dos mortos. Estou na fronteira, apenas ando entre esses dois mundos.

-Já fui como você Carlos, eu possuía os mesmos dons que você. Tinha uma esposa, filhos, mas como já te disse antes, não se pode parar a maré, ela sempre vem e leva embora o que pertence a ela, as coisas são como tem que ser não se pode lutar.

Olho pela janela e percebo que estamos indo rápido demais.

- Para onde está me levando?

-Para perto de Veronica, não é por isso que tanto me procurou? Não foi por isso que você foi atrás daquela bruxa maldita? Responde com um olhar maldoso no rosto, em seguida ele complementa com a voz de Mercedes:- Você vai gosta daqui Carlos, aqui nunca estamos sós, temos tantas companhias.

Minha mente volta para quando encontrei Mercedes, ou melhor, ela me encontrou no parque da cidade em uma manha de sábado quente.

Ela se aproximou de mim e ofereceu-se para ler a minha mão, o que prontamente recusei.

-Não preciso ler sua mão para saber que você está sendo perseguido por algo tão antigo e tão maldoso.

Surpreso olhei para ela e não disse nada.

Ela sentou-se ao meu lado e continuou: - ele anda por ai em um carro de funerária preto, se quiser saber mais venha até minha tenda, tirou um cartão de dentro de uma bolsa de crochê e colocou do meu lado, em seguida levantou e seguiu seu caminho.

Fiquei pensativo olhando para aquele cartão, mas por fim naquela mesma tarde eu resolvi ir até Miranda.

Assim que entrei na tenda ela sorriu e disse que estava me esperando, sentei e ela me observou por alguns segundos e disse: - Você corre um grande perigo Carlos, deve ter cuidado porque o que você está enfrentando e algo que a humanidade desconhece apesar dele estar aqui há muito tempo.

-O que ele é?

-Espero poder te ajudar, para isso terei que realizar um ritual antigo, há muito tempo esquecido, ele basicamente aprisiona um espirito aqui com a gente, meu corpo será o receptáculo.

Em seguida ela fechou os olhos e começou a inspirar e a expirar de inicio em um ritmo bem lento, esse ritmo foi aumentando gradativamente, Mercedes caiu no chão e começou a se debater, assustado tentei levanta-la no exato momento que Mercedes abriu os olhos.

Seus olhos estavam totalmente brancos, Mercedes tirou minhas mãos de cima dela e contorcendo-se se levantou, aos meus olhos o movimento que ela fazia com o tronco era muito similar a uma cobra sucuri sufocando sua vitima.

Agachada no chão pude ver que catarro escorria de suas narinas, desviei o olhar daquela cena grotesca, e ouvi a voz saindo da boca da criatura-Mercedes: -Do que tem nojo? Você tem coisas piores para se preocupar! Completou aos risos.

- O que é o condutor? Indaguei.

-Não sei o que ele é! Não pertencemos ao mesmo mundo, mas ele não é o primeiro que vejo outros já dirigiram aquele carro.

A cada frase dita ela se contorcia, algumas vezes apenas virava a cabeça para a esquerda ou direita levemente outras vezes virava a cabeça violentamente.

E todos eles sempre têm os mesmos hábitos, eles percorrem o seu mundo se alimentando de almas, levam pessoas naquele carro para se alimentarem delas depois.

-Existem quantos deles?

-Um por vez, nunca mais que um.

Cocei a cabeça, fiquei em silencio por alguns segundos e fiz mais uma pergunta: - o que são aqueles espíritos que o seguem?

-Escravos espirituais, uma vez dentro daquele carro eles se tornam escravos, são obrigados a realizar a vontade dele.

-Como ele consegue aprisionar uma alma? Indaguei.

-Não sei como acontece como te disse não pertencemos ao mesmo lugar, o que posso te dizer é que eles gostam da dor, da violência do caos,eles sempre estão próximos de quem pratica esses atos.

A criatura olhou fixamente para um ponto atrás de mim e caiu no chão e começou a girar como um ponteiro de um relógio olhei para onde a criatura fitava e lá parado me olhando estava o condutor ele sorria.

Mercedes levantou do chão parecendo não saber o que tinha acontecido me virei para ela e quando voltei a olhar para o condutor ele já não estava mais lá.

-Você a matou?

-Sim. Mas te garanto que ela não sofreu muito, outros sofreram mais, alguns eu deixo preso por bastante tempo e vou me alimentando aos poucos, a dor é tamanha que essas pessoas imploram para que eu termine logo com eles, mas não termino vou prolongando, vou saboreando a dor.

-É o que pretende fazer comigo? Pergunto enquanto repouso minha mão na corona da pistola escondida na minha cintura.

-Você se acha esperto, você julga, se acha especial, que esta acima de todas as outras pessoas quando na verdade você é pior que a maioria, por isso você está nesse carro.

Engulo em seco e sinto o carro acelerando mais, olho pela janela e já não consigo distinguir nada,pessoas,placas outros carros é como se tivéssemos aqui e em outro lugar, como se flutuássemos no tempo, ou em outra dimensão, outro plano, depende do que você acredite.

Para me trazer até aqui,você escolheu cometer um ato que para muitos seria hediondo, mas para você aquilo era apenas um mal para se atingir um bem maior.

Esse tipo de violência me atrai, mas preferi observar de longe me deliciando com você se enganando achando que existia uma justificativa pelo que você fez, acredite não existe.

Depois achando que eu não viria foi para cima daquele prédio, como se pretendesse pular, mas eu sabia o tempo todo que não era a sua intenção, acha que essa arma na sua cintura pode me ferir, olhe bem para mim, isso nem me machucaria, mas fique a vontade para tentar.

Olhou para mim e pude ver pedaços da carne do seu rosto se soltando.

Ele sorriu ao perceber meu horror e levou a mão até o rosto e retirou a carne da bochecha que estava pendurada em sua bochecha, em seguida continuou com seu discurso: - como te disse antes, Já fui como você, por isso estou dirigindo esse carro, foi o meu castigo por bastante tempo, estou me alimentando de almas desde que minha condução era uma carroça negra que andava por essas ruas agora irreconhecíveis, mas meu tempo está no fim, minha penitencia está acabando esse foi meu inferno,cada um tem seu inferno particular, e apesar de ter saboreado por séculos a função que fui destinado, meu inferno particular sempre atormenta minha mente, logo você vai descobrir o seu, e acredite você pode até tentar lutar contra seu inferno mas é impossível. Não se pode parar a maré, ela sempre vem e leva embora o que pertence a ela, as coisas são como tem que ser não se pode lutar.

Anda usa essa arma e veja a sua falha! Gritou e partículas de cuspe atingiram meu rosto.

Puxei a arma e apontei para a criatura que gargalhava, vamos lá, cadê a coragem que eu vi mais cedo? Zombou ele.

Ele tinha razão sobre mais cedo não sentia culpa nenhuma pelo que fiz, e porque eu deveria sentir? Precisava libertar Veronica daquele monstro e por ela eu faria qualquer coisa.

Passei as ultimas cinco noites em claro tentando encontrar algo horrível de se fazer, e a dois dias atrás já sonolento vencido pelo cansaço a ideia me veio a cabeça.

Levantei da cama e o cansaço já não existia mais, fui até meu armário peguei a chave do cofre e o abri lá dentro eu guardava três pistolas: uma 45, uma 9 mm e uma Glock.

Armas que eu tinha roubado de uns traficantes adolescentes que vendiam drogas perto da minha casa, não os matei, apenas os embebedei e consegui levar essas três armas e munições, o castigo para eles foi a morte, não me senti culpado eles sabiam aonde estavam se metendo essa é a vida deles por isso eles vivem, por isso eles morrem.

Coloco as três pistolas e as caixas de munição dentro da minha bolsa de viagem e volto a deitar, passo o plano na minha cabeça diversas vezes, não deixaria nada dar errado.

Levantei às cinco da manhã e sai de casa batia um vento frio, as ruas já estavam movimentadas, muitas pessoas já se encaminhavam para os seus locais de trabalho.

Parei em uma padaria e pedi um café ao leite e como acompanhamento comi dois pães com queijo e presunto, a escola escolhida ela estava na minha frente, olhei para o relógio na parede e ainda eram seis horas da manha daqui a pouco os alunos começariam a chegar para suas aulas, comprei um jornal e fingi está lendo as noticias.

Vinte minutos depois os primeiros alunos começaram a chegar na escola, alguns com os pais outros sozinhos, mas ainda não era a hora eu queria aquela entrada lotada então esperei mais um pouco.

Quase perto das sete da manhã a entrada da escola estava apinhada de adolescentes e crianças na porta, finalmente era hora de agir. Joguei o jornal no livro e atravessei a rua e caminhei em direção a escola,me aproximei de uma mãe que se agachava para dar um beijo no rosto do filho de despedida, ela nunca teve a chance de levantar, antes que ela percebesse o que estava acontecendo acertei um tiro na cabeça dela, que já tombou sem vida o filho assustado começou a gritar, mas acertei um tiro nos olhos da criança que a jogou no chão fazendo ele se tremer e se mijar todo, dei uma olhada naquele rosto mutilado, e sorri, o jogo estava começando.

Pais e estudantes correram desesperados, acertei um tiro nas costas de uma adolescente que carregava nas costas uma mochila de alguma banda teen escrota.

Acertei duas crianças que tentavam atravessar a rua e vi um taxi atropelando um pai que corria com o filho no colo.

Um casal de namorado teve a ideia de entrar em um bar para se esconder, mas por um golpe de sorte percebi a fulga,caminhei até lá e os executei ajoelhados implorando pelas suas vidas.

Tentei matar um jovem, mas dessa vez a sorte estava ao lado dele, estava sem munição e antes que eu pudesse trocar de arma ele conseguiu correr.

Escutei as sirenes se aproximando, a policial havia sido acionada,eu precisava fugir, não consegui ir muito longe sabia que deveria me esconder antes que fosse encontrado e entrei no primeiro prédio que encontrei e fiquei sentado no térreo esperando o condutor que não apareceu, sem ter o que fazer decidir simular meu suicídio talvez assim ele aparecesse e eu poderia mata-lo, em menos de cinco minutos em pé na beirada do térreo ele apareceu.

Apontando a arma para o rosto da criatura eu descarrego a taurus, o cheiro de pólvora queimada toma conta de todo o veiculo os projeteis deformaram mais ainda o rosto do condutor que parecia ainda está sorrindo: - te disse que falharia! –Não posso ser morto assim!

Olho pela janela e estamos em uma estrada de barro, não a luz do lado de fora, fico tentando reconhecer aquele local, mas não faço a mínima ideia de onde estamos:- Que lugar é esse? Pergunto deixando evidente a curiosidade em minha voz.

-Não existe um nome para esse local, não estamos no seu plano de existência, para alguns é o inferno, mas acredite, não existe nenhum diabo aqui, isso é tão certo como não existe nenhum Deus.

Na cultura ocidental os humanos se referem a mim como a morte, de certa forma realmente sou isso, mas não venho apenas corta o fio de prata que mantém a alma presa ao corpo dos vivos em muitos casos, como já dito antes trago as pessoas vivas para cá e as castigo, aquele espirito, que você conversou quando estava na bruxa se acha diferente, mas ele não é.

Eu apenas não estava lá para cortar seu fio de prata e sua alma vagou para algum outro lugar criado pelo próprio universo.

-isso não faz sentido!

A criatura por um momento ficou calada e então continuou: - pois bem, tentarei explicar de outra forma.

O homem diz que Deus tem um atributo que ninguém possui ele é a inteligência suprema do Universo, causa primeira de todas as coisas, eterno, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom. Todas as leis da natureza são leis divinas, pois Deus é seu autor. Sendo Deus a inteligência suprema, podemos concluir que ele é onisciente. E se Deus é eterno, ele é atemporal. Os anjos diferentes dos homens não possuem livre arbítrio, o diabo não poderia se voltar contra deus por ciúmes, se ele se rebelou foi por providência divina. Acredite quando digo, eu sei o que significa não ter livre arbítrio, e em breve você também vai saber.

Se foi à vontade divina que fez o diabo ir ao inferno influenciando o homem para fazer o mal e assim condena-lo eternamente ao inferno temos uma quebra em duas qualidades divinas: Ser misericordioso e onipotente.

Ter misericórdia é perdoar os pecados, dar a chance do arrependimento independente do tamanho do erro. Se um Pai sabe perdoar seus filhos, imagina o Deus que está nos Céus. O Deus Infinitamente misericordioso! Comparar Deus aos homens é dizer que Deus não é Deus. Além disso, onde estaria a Justiça de Deus em cobrar de nós algo que Ele mesmo não cumprisse? Ele não nos ensinou através de Cristo que devemos perdoar nosso irmão setenta vezes sete vezes, ou seja, quantas vezes forem necessárias?

Ser onipotente é ser o único ser poderoso de tudo que existe. O supremo, o maior, o inigualável. De acordo com a antiga crença, o Diabo também tem poderes capaz de influenciar os homens para o mal e levá-lo ao tormento eterno. Se isso fosse verdade, teríamos dois seres com iguais poderes, sendo que um devotado ao bem e outro ao mal. Isso faz sentido pra você?

-Não respondi, não havia nada a dizer e ele prosseguiu: - A segunda falha quebra o atributo da onisciência de Deus. Se Deus criou o Diabo sabendo que ele faria todo esse estardalhaço que a antiga crença diz, onde estaria a bondade de Deus?

Se você tem um filho, você colocaria uma cobra venenosa e traiçoeira para partilhar morada com ele? Se você, que é falho e cheio de erros sabe discernir o que é bom para seu filho, por que Deus não saberia, visto que ele é detentor de toda a sabedoria do universo?

Eu tenho minha própria teoria, existem criaturas poderosas aqui, mas acredito que essas criaturas nada mais são do que o espirito de humanos primitivos que de alguma maneira chegaram até aqui.

Quando assumi minha função eu herdei as memorias de todos os condutores que vieram antes de mim e no ritual é retirado seu livre arbítrio, você basicamente é obrigado a servir essas criaturas antigas por um tempo indeterminado, o tempo varia de condutor para condutor.

O carro estaciona em frente a uma pequena casa de madeira.

A claridade provocada por velas acesas na parte de dentro destoa da escuridão que nos engole.

- O que quer de mim?

A criatura desce do carro e eu a sigo: - você será o próximo condutor responde ele.

Eu paro no meio do caminho, mas ele continua caminhando em direção a casa:- Porque eu faria isso? Questiono.

-Porque você quer que eu liberte Veronica, eu te entrego o fio de prata dela e o destino dela não vai mais estar em minhas mãos, você só precisa completar o ritual.

A criatura entrou na casa e eu fiquei ali fora por alguns minutos sozinho com meus pensamentos, eu sabia que eu iria aceitar a proposta era a única forma de salvar Veronica, não me importava comigo seria escravo daqueles espíritos antigos se ela pudesse ter paz.

Respirei fundo e entrei na casa, o condutor estava sentado em um velho sofá encostado no Canto, fora o sofá só existia uma mesinha no centro da sala e em cima da mesa duas velas queimavam.

-Qual a sua resposta Carlos? Perguntou o condutor, mas acredito que ele já sabia a resposta.

- Sim. Balbuciei.

Ele tirou um pedaço de giz do bolso e desenhou um enorme circulo no centro da sala, dentro desse circulo ele fez alguns riscos, não sabia o que aquilo significava em seguida ele mandou eu me ajoelhar e se posicionou atrás de mim e começou a recitar algumas palavras em um idioma desconhecido por mim, à medida que ele ia recitando as paredes da casa tremia e nas bordas do circulo desenhado no chão começaram a brotar chamas que atingiam a altura da minha barriga.

Uma sombra começou a surgir de dentro daquele circulo aos poucos a sombra tomou a forma de um jovem de não mais de doze anos nu, em sua cabeça havia um par de chifres muito parecido com os de um touro.

Ele ficou agachado no meio do circulo, ele era muito magro, as costelas eram visíveis, e de seus pés escorria um liquido semelhante a petróleo.

Ele me fitou e percebi que possuía olhos de serpente.

O condutor se ajoelhou ao meu lado, inclinou a cabeça para baixo e prestando referencia aquela criatura sinistra disse: - Senhor, esse é meu substituto!

A criatura veio de cócoras até a minha direção atravessou as chamas e começou a me cheirar, segurou meus pulsos em um aperto Forte, forte demais para alguém tão magro e disse em uma voz que mais parecia um guincho: - Aaaaa, ele é forte, vai durar mais que você! Vai demorar séculos se ele se alimentar de almas regularmente.

Soltou uma risada quase infantil e ordenou: -Repita comigo essas palavras!

Deus deste mundo,

Deus da minha carne,

Deus da minha mente,

Deus da minha vontade mais íntima!

Cada parte deste mundo está dentro de seu poder.

Está dentro de cada parte deste mundo.

Toda parte de mim está dentro de seu poder.

Está dentro de cada parte de mim.

Eu sou Teu, se eu Te servir voluntariamente ou não,

porque eu sou eu mesmo, se eu sou fiel a mim mesmo ou não.

Da minha livre e espontânea vontade, agora eu reconheço o seu poder.

Da minha livre e espontânea vontade, agora eu me apresento a você.

Tirai, meu livre arbítrio, e me torne uma ferramenta que é extensão dos seus desejos.

Assim que terminei de repetir, ele levou sua mão ate a boca e de lá tirou um sapo verde gordo e enorme e empurrou pela minha garganta, senti vontade de vomitar mas segurei em poucos segundos não senti mais nada e ele ordenou que eu me levantasse.

- Venha comigo agora! Disse o condutor me encaminhando para dentro da casa, vi o garoto demônio sumindo dentro daquele circulo ele me olhava fixamente, podia jurar que ele sorria.

-Cadê Veronica, já cumpri com a minha parte!

-Você a verá, primeiro você precisa colocar a roupa e assim o ritual estará completo.

Ele me levou a um quarto e de dentro de um armário ele tirou um paletó, um chapéu e mandou que eu me vestisse.

Me vesti e percebi que ele estava ficando meio transparente.

-o que está acontecendo com você?

Meu fio de prata foi liberado, foi trocado pelo seu, agora posso seguir minha viagem encontrarei outros mundos minha penitencia acabou.

-A sua Carlos, está apenas começando, você entenderá o que é carregar um verdadeiro inferno dentro de você. – Siga até aquela porta, lá dentro estará Vanessa, ela não é mais minha prisioneira. Ao dizer isso o antigo condutor desapareceu.

Caminhei até a porta que ele me indicou e a abri, Vanessa estava lá dentro acorrentada, bastante machucada, ela demorou um tempo para me reconhecer, na verdade se desesperou ao ver a porta se abrindo, ela não estava morta, por todo esse tempo ela foi mantida ali viva, o maldito condutor se alimentando dela bem aos poucos, não conseguia entender porque quando ela finalmente me reconheceu senti um misto de felicidade e alivio em sua voz:- Carlos é você?

-Sim amor, vim te libertar!Repondi emocionado.

Caminhei até ela e a libertei das correntes, ela se jogou em meus braços e começou a chorar.

Senti uma leve dor de cabeça e minha mente foi inundada de informações que os condutores antes de mim possuíam, descobri o que eles viveram suas alegrias, seus temores seus traumas, e os segredos que escondiam.

Eles manipulavam os espíritos dos vivos e dos mortos através do fio de prata de cada um, como fantoche restava aos espíritos dos vivos e dos mortos apenas ser conduzidos pelo condutor aparecendo e fazendo o que a criatura ordenava.

Me afastei de Veronica e levei a mão a testa, a dor era excruciante.

Assustada ela queria saber o que estava acontecendo vi o horror no olhar dela quando lagrimas de sangue começaram a descer pelo meu rosto.

Uma voz na minha cabeça ordenou que eu a matasse e me alimentasse do espirito dela e por mais que eu tentasse não obedecer eu não tinha livre arbítrio, garras de dez centímetros surgiram em minhas mãos e quando percebi já tinha enfiado as garras da mão esquerda na barriga de Veronica fazendo as tripas brotarem para fora vi a confusão em seu olhar, ela queria buscar entendimento, um entendimento que ela nunca obteve, com o corpo morto dela vi o fio de prata logo acima de sua cabeça o peguei e comecei a devorar sua alma.

Fiquei naquele quarto, me sentindo quebrado por dentro agora sabia qual era o meu inferno, o inferno que eu carregaria por todo o tempo que eu fosse o condutor, o assassinato do amor da minha vida.

Caminhei para fora da casa e entrei no carro e mesmo sem nenhuma vontade me peguei sorrindo.