As Almas

Quando a luz se apagou, as trevas surgiram.

Deitada em minha cama eu buscava descanso algo que não era possível nos últimos tempos.

Escuto barulhos vindo da cozinha.

Vidro a se quebrar.

Vozes a cochichar.

Tapo os ouvidos, e as vozes param, mostrando que aquilo não viam de minha mente.

Abro os olhos e me permito ouvir e ver outra vez e vejo almas a gritar por socorro.    

- Porque me buscam? não posso ajuda-las,parem de me ATORMENTAR - grito a última palavra.

Uma mão toca a maçaneta de meu quarto e alguem entra, passos se aproximam e ligam o interruptor.

Luz.

- querida? Outra vez? - minha mãe diz inconformada.

Começo a chorar, minha mãe se aproxima e me envolve em seus braços.

- calma... Vai passar.

- elas não me deixam em paz...

Ela não diz mais nada, apenas continua a me acalentar.

Nunca soube se ela acreditava em mim, as almas surgiram a um mês quando meu irmão mais novo, Edu, faleceu.

No começo achei que fosse ele tentando falar comigo.

Mas logo vi que me enganei.

Elas só queriam ver minha dor, quando mais medo eu tinha mais alto elas gritavam.

Minha mãe dorme comigo aquela noite.

As vozes se acalmaram...Mas não me deixaram...

Um ano depois daquele ocorrido, eu não as escutava mais, a partir do momento que ignorei meu medo, as almas foram embora.

Mas nunca aquela sensação ruim de que algo estava bem próximo querendo meu mal me deixou.

Em uma tarde qualquer chego da escola e vejo cacos de vidro ao chão.

Achei que minha mãe poderia ter quebrado algo mas ela não se encontrava em lugar nenhum.

Estranho, mas ignorei, apanhei tudo com cuidado e joguei fora, tomo meu banho e quando vou a cozinha novamente os cacos que eu havia limpado estavam ao chão.

Senti um frio percorrer todo o meu corpo.

Engoli em seco, apanhei tudo e joguei fora de novo.

Ok... Ok... Não é nada demais, talvez tenha sido o vento.

Vou a meu quarto e escuto aquele mesmo som de antigamente.

Vidro a se quebrar.

Corro em direção a cozinha, e lá estão novamente os cacos de vidro, que agora se encontram em dobro.

Meu coração bate desenfreado.

Então minha mãe chega derrepente e diz - o que aconteceu aqui?

- eu... - Ela não me deixa termina, apenas diz - limpe logo tudo - e se retira.

Então limpo tudo novamente.

E segue-se a semana assim.

E de uma coisa eu tinha certeza, as almas voltaram.

- meee ajuuudaaaa - elas falavam como em câmera lenta.

Tapo os ouvidos - NÃO DE NOVO NÃO.

nem percebo está gritando até minha mae adentrar no quarto. - o que foi, querida?

- elas voltaram mãe... Outra vez.

E como antes, ela não diz nada, apenas me acalenta.

As vozes continuam e não vão embora.

Certo dia elas falam comigo mais dessa vez claramente - você tem que se esforçar, volte pra mim.

- o que? - eu pergunto.

Não entendia o que as almas queriam dizer, eu já escutava seus murmúrios a muito tempo, agora elas queriam conversar comigo e me enlouquecer de vez...

Fecho os olhos, tapo os ouvidos e por fim adormeço.

***

Tum... Tum... Tum... O barulho persistia... E eu não sabia sua origem, me sentia desorientada.

Os tuns ficavam cada vez mais fortes.

- ela acordou - escuto uma voz desconhecida dizer e outras vozes a comemorar.

Quem acordou?

Quem eram essas pessoas?

Abro os olhos.

Haviam pessoas de jaleco para todos os lados, me sentia dolorida e descobri finalmente está em um leito de hospital, não entendia nada.

Olho assustada para todos os lados, percebo está amarrada então começo a berrar - ME TIREM DAQUI .

me esperneio, mãos me seguram com persistência.

- enfiem logo isto nela -um deles diz apontando para uma seringa. - não... - é tudo o que consigo dizer pois logo apago.

Escuridão.

Abro os olhos.

Luz.

Uma mão segura a minha, Edu. O que?

Não entendo nada, Edu morreu.

Retiro minha mão da sua e me encolho.

- o que é você? - pergunto para a versão um tanto mais velha de Edu. - e cadê a mãe?

Ele demora a responder, talvez para escolher as palavras certas.

- você não lembra de nada? - ele fala com cuidado.

- me lembrar, de que?

- de tudo, o acidente, o atentado...

Permaneço em silêncio nada do que ele falava fazia sentido.

Vejo uma lágrima escorrer de seu rosto, não consigo sentir pena alguma, pois ele devia ser uma das almas.

- há um ano houve um incêndio em nossa casa, você foi a primeira a perceber, e me levou nos seus braços para segurança do lado de fora, mas.... Mamãe ficou lá dentro e quando você foi busca-la era tarde demais, o fogo havia se alastrado para todos os lados.

- o que você quer dizer com essa história? - o interrompo.

- mamãe morreu - ele diz.

Começo a rir

- pare de falar sua alma maldita.

Ele me olha em horror

- você lembra do que fez consigo? - ele continua ignorando minhas palavras.

Silêncio.

- você tentou se matar logo depois, com remédios.

O olho em descrença e digo - não acredito em nada do que você falar, ser.

- e porque acha que está aqui? - ele diz

- eu não sei...

- você está em coma a um ano, UM ANO - ele dá foco as últimas palavras.

- você me deixou - ele finaliza.

- NÃO - eu digo - você que me deixou.

- o que?

- você que morreu no acidente e eu escuto as almas desde então e VOCÊ é uma delas...

Me jogo em sua direção e começo a estrangula-lo, estranho ele era bem real para uma alma.

Ele grita por socorro mas ninguém iria ouvi-lo pois só eu escutava as vozes.

Mas me supreendo ao ver enfermeiros adentrarem e me tirarem de cima dele.

- como o ouviram? - pergunto curiosa.

Eles me olham como seu eu fosse louca.

E me fazem dormir outra vez...

Escuridão.

Luz.

Novamente uma mão está a minha. Edu, e um medico está a me examinar.

- como se sente? - o médico pergunta.

- bem... - o chamo para perto e sussurro em seu ouvido - você pode vê-lo?

O medico pareceu não entender minha pergunta então o chamo outra vez e repito - você pode vê-lo?

- mas é claro - ele responde em voz alta e com um sorriso desconfortável.

Não entendo, só eu via, agora outros podiam ver...talvez as almas tivessem ficado mais fortes afinal.

- onde está minha mãe? - pergunto ao medico ignorando a presença de Edu.

Ele me olha espantado e pergunta a Edu - ela não lembra? Edu faz um movimento negativo de cabeça.

- o que? - pergunto - o que eu não lembro?

O medico olha-me com pena em seu semblante e diz - do acidente, querida.

Cristinyy
Enviado por Cristinyy em 26/06/2016
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