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A Inveja Apodrece e Mata

 
 Edilson era um homem comum. Tinha caminho certo na vida e planos para um futuro bom. Mesmo assim vivia incerto em suas banalidades, até o dia em que decidiu ser o melhor em alguma coisa.
 A partir dali desviou-se de seus planos comuns, visualizou um hobby e tratou de se esculpir para ser o melhor dos melhores.
 Enquanto assistia ao programa da Hebe na televisão aberta, babava quando via os astros serem entrevistados e ganhando selinhos. Babou sim. Babou na ânsia de ser como eles, de ser bom naquilo que escolheu. Sim, ele babou, babou e decidiu fazer de um tudo para chamar a atenção, babou como uma criancinha birrenta e decidiu que seria ouvido custasse o que custasse!
 Nos primeiros meses teve que engolir a própria baba, até avistar um ser comum, mas que ao seu tolo ponto de vista, julgou ser o melhor dos melhores. Mas mal sabia que pela simplicidade, qualquer um era melhor que ele.
 E Edilson lá de baixo o olhou preocupado... Em seu subconsciente, calculou desajustado que poderia sim ser melhor que aquele sujeito, poderia ser melhor do que todos!

 Pobre coitado... Edilson nada mais era que um pobre coitado, pois almejava algo que não só era alem de seu alcance, mas também de sua compreensão. Mesmo assim ele insistiu, chegou aos pés do “melhor” e decidiu apedreja-lo, lá de baixo.
 As pedras fortes e rechonchudas que preenchiam sua mão sedenta de inveja batiam no peito do homem comum e nada faziam. O homem lhe sorriu e disse calmo para sua noiva bela:
 — Olhe só, meu amor... Como é engraçadinho aquele coitadinho tentando chamar nossa atenção!
 E o casal ria, ria do homenzinho abobado, que pulava e se agitada na esperança de ser observado.
 
 Existe algo poético a respeito da inveja. Embora seja um sentimento tolo e mesquinho, ela da forças e fecha os olhos daqueles que atinge. Com o coitado do Edilson não poderia ser diferente, e embora estivesse com as mãozinhas cheias de pedras, gritou alto e desajustado, com o interesse de caluniar o homem que ele próprio julgava ser melhor que ele.
 Pronto. Antes fosse mesmo um coitadinho desconhecido. A inveja  o tornarou um sujeito sujo e sem caráter.
 Ele quebrou seu televisor e apelou para criticas desajustadas e vazias, na esperança que fosse notado e ouvido. Notado? Pobre coitado... O ódio embora sujo e gritante, não chama a atenção de ninguém. Os “barraqueiros” certamente são mal vistos pelas pessoas cultas e de bem. Mas Edilson não enxergou isto. Ele enxergou apenas a oportunidade. A oportunidade de ser o melhor.
 O melhor? O melhor não, o maior. Sim, o maior idiota!
 E de tanto gritar, berrar, escachar e chorar, ainda engolindo a própria baba, (que agora era espumante, pois se misturou com a raiva) o pobre coitado sentiu uma pulsante dor nas costas.
 Os médicos o arrancaram de sua casa suja e a dedetizaram, pois estava empesteada, assim como tudo que ele tocou. Recolheram suas coisas miúdas e o levaram ao hospital:
 — É câncer, meu caro. – disse o medico sem rodeios, enquanto limpava do paciente a espuma babenta em volta de sua boca. – Seu ódio sujo se transformou em câncer. E é incurável.
 Ele sem tirar à ira do olhar criticou o medico (aliás, o coitado adorava criticar e questionar), perguntou abismado:
 — Esta me dizendo que vou morrer de câncer?
 — Não. Morrer de imediato não. – respondeu calmo o profissional – Primeiro sua raiva vai te fazer apodrecer, depois é que você vai morrer. Morrer de raiva e inveja.
Outra bela poesia... Morrer de raiva e inveja. Inveja podre e suja:
 — Pobrezinho! – indagou o homem que ele odiava – Ele é tão pequeno de espírito para enfrentar tanto! De fato não merecia tal condição.
 Se merecia ou não ele estava lá, evoluindo o próprio ódio, sentado na frente de seu computador, gritando aos poucos que lhe ouviam sobre pestes, maldições e falsidades. Sua garganta secou e ele deixou de babar e falar. Digitava desengonçado sobre seu inimigo, que nem ligava para o que ele fazia ou pensava.
 E enquanto digitava, sentiu as pontas dos dedos incharem. Ele que aprendeu a odiar, tentou aprender a escrever com os dedos inflamados, e no primeiro dia, o couro dos dedos rachou e o pus branco cobriu o teclado negro:
 — Desgraça! – gritou ele inconformado.
 Seu grito de ódio lhe fez ranger os dentes. Os lábios inchados e inflamados também se abriram devido sua baixa imunidade graças a febre alta.
 Há! Coitadinho... A partir dali foi de mal a pior. Ele fedia. Sim, ele fedia e apodrecia tal qual o doutor contou. E ao contrario do que se pensava, o ódio só aumentava, pois era esse o único dom que ele tinha.
 
 Nos três primeiros dias, descobriu que não só tinha ódio do homem, mas tinha ódio dele mesmo! Arrancava com os ossos dos dedos pedaços da própria carne pútrida, e como ninguém tinha estomago para ir limpar e alimentar, o coitadinho comia pedaços do corpo, sobrevivendo do próprio ódio.
 Gemia trancafiado em sua casa, que mais parecia uma jaula suja, pensando:
 — Maldito seja fulano!
 Os olhos lacrimejaram pus e sangue, a inveja que invadiu seu coração dominou todo seu corpo, e ele pútrido e empesteado, vomitando da própria carne, se entregou a morte:
 
 Foi enterrado dentro de um saco de lixo rasgado, em uma valeta qualquer num cemitério de cidade pequena. Nem se deram ao trabalho de colocar uma cruz de madeira em seu tumulo.
 O homem que passeava pelo cemitério com sua noiva, sentiu vontade de urinar. Apertado, mijou inocente sobre a cova do invejoso. Sua urina desceu sobre a terra fofa e bateu no rosto em decomposição do pobre morto. Ora! Até isto era poesia, pois aquela urina era o mais próximo que o invejoso chegaria dele.

 
FIM
Julio Dosan
Enviado por Julio Dosan em 07/07/2016
Código do texto: T5690440
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