O Demônio da noite - 3

Era branco, como se estivesse doente.

Os olhos fundos e a barba por fazer, tinha os cabelos cumpridos e bagunçados, realmente tinha acabado de acordar, estava apenas de cueca, pro espanto de Elliot ele devia ter um pouco mais de vinte anos:

- Cooper... E... - Perguntou com uma voz rouca bocejando.

- Elliot. - Disse Cooper. - Dr. J. Elliot.

O jovem ergueu as sobrancelhas demonstrando um falso interesse evidente, virou as costas deixando a porta aberta, Cooper fez menção para entrarem e Elliot o seguiu.

A casa estava terrivelmente bagunçada, a pia cheia de louça, a mesa suja com restos de molhos e farelos de pão, era uma casa ligeiramente pequena:

- Pode deixar a pasta em algum lugar na mesa. - Disse para Cooper. - Se encontrar algum lugar nela.

Elliot olhou assustado para Cooper, o rapaz aparentemente nem havia olhado para eles:

- Então já sabe por que estou aqui? - Perguntou Cooper.

O jovem olhou para Cooper:

- Sério? Você nunca veio por nenhum outro motivo delegado. - Disse se dirigindo ao fogão e colocando um bule para esquentar. - Quantos assassinatos? Três consecutivos?

Cooper sorriu enquanto olhava para Elliot, que parecia surpreso:

- Quatro. - Disse Cooper. - E... - Mas foi interrompido.

- Não preciso saber mais nada, vamos tomar esse café em silêncio e eu te ligo mais tarde e dou minha conclusão. - Disse seco.

Elliot estava terrivelmente desconfortável, não tinha chance alguma daquele garoto arrogante ser uma das mentes mais brilhantes do mundo:

- Você não entendeu Kepler, você vai conosco dessa vez. - Disse sério Cooper.

O jovem largou o bule no fogão, ficou parado um tempo e suspirou:

- Por que vocês não vão dar uma volta no asilo enquanto a água do café esquenta? - Disse enfim.

Cooper deu de ombros e se levantou:

- Vamos Elliot, vou comprar uns pães, a tarde será longa. - Ele e Elliot viraram as costas e saíram da casa desajustados.

Caminharam juntos até a calçada, onde Cooper acendeu um cigarro e deu uma tragada demorada:

- É esse o tal detetive? - Perguntou Elliot.

Cooper acenou com a cabeça:

- Já percebeu por que preciso de você? - Perguntou Cooper, como se testasse o recente doutor.

Elliot suspirou fundo:

- Má alimentação e péssimo relógio biológico, dorme pouquíssimas vezes por semana e quando dorme receio que durma muito mais do que as oito horas indicadas, tem muito mais de um TOC, percebi que as pontas de seus dedos são corroídas, ainda não entendi o motivo... E isso só pra começar... - Elliot deu mais um suspiro. - Ele é uma bomba relógio, necessita de um médico urgente...

Cooper consentiu novamente:

- Preciso que você o mantenha saudável enquanto estamos no caso... Ele tende a exagerar quando se interessa muito em algo.

Elliot olhou de volta para o asilo:

- Quantos anos ele tem? - Perguntou enfim.

Franziu a testa por uns segundos:

- Creio que menos de 25. - Disse Cooper. - Você vai perceber que esse tipo de detalhe não importa quando se trata dele.

Ficaram ali até Cooper terminar seu cigarro e seguiram rapidamente para uma padaria do bairro, compraram alguns pães e voltaram em silêncio.

Adentraram o asilo e se dirigiram rapidamente até a pequena casa dos fundos:

- Bom, me diz quais suas conclusões. - Disse para Cooper antes mesmo deste entrar na casa.

Cooper deixou o pão em cima da mesa, viu que a pasta não estava mais ali:

- Bom, provavelmente é um grupo de assassinos, agem rápido e em conjunto, não roubaram nada do local, provavelmente estão querendo amedrontar alguém ou um grupo específico, o padrão está na forma que os pedaços das vítimas estão distribuídos... - Disse Cooper rapidamente repassando todos os quatro ocorridos.

Kepler balançou a cabeça enquanto andava pela cozinha:

- Preciso de vinte minutos, vocês podem ir comendo na frente. - Disse se dirigindo ao quarto, deixando Elliot e Cooper sozinhos na cozinha.

Cooper como em um gesto automático começou a se servir, despreocupado:

- E ai? - Perguntou Elliot, confuso.

- Ele virá conosco. - Disse. - Não viu o fogo nos olhos antes cansados?

Elliot sorriu a primeira vez desde que entraram ali.

Pedro Kakaz
Enviado por Pedro Kakaz em 21/07/2016
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