O Demônio da noite - 5

Elliot entrou no DP a tempo de acompanhar a dupla até o necrotério, Simon passava pelos policiais sem cumprimenta-los, deixando alguns com a mão estendida no ar:

- A próxima vez viremos mais tarde, quando o número de empregados tiver bem menor. - Disse enquanto iam até o sub-solo.

O DP tinha acesso direto ao necrotério da cidade que ficava no sub-solo ligando o DP, o próprio necrotério e a maior universidade do país:

- Você nunca muda. - Disse Cooper enquanto desciam.

Cooper tinha acesso ilimitado e ninguém questionava quem eram os dois jovens que acompanhavam-no, passaram em silêncio até que Cooper abriu uma das portas brancas e se dirigiu até o final da sala:

- Bom, o que resta dos corpos do último massacre está ai. - Apontou para uma cortina.

Simon puxou a cortina, viu os pedaços e olhou para Elliot:

- Já viu coisas do gênero no Haiti doutor? - Perguntou sério a Elliot.

- Infelizmente... - Parou de falar ao perceber que não tinha dado essa informação ao detetive. - Mas como...?

Simon balançou a cabeça negativamente:

- Agora não. - Disse, e se dirigiu aos pedaços.

Cooper estendeu uma pequena caixa com luvas descartáveis, Simon tirou um par da caixinha e vestiu-as.

Passou os dedos nas extremidades e aproximava o rosto, cheirava e esfregava os dedos, repetiu o movimento para cada pedaço.

Foi até um par de tórax e fez os mesmos movimentos, com pernas e braços.

Franziu a testa e disse:

- Não tem nenhuma testemunha? De nenhum dos quatro crimes? - Perguntou Simon.

- Nenhuma testemunha, chegamos ao local horas depois apenas, em todos os casos... Todos mortos. - Disse.

- Uma cafeteria vinte e quatro horas, um posto de gasolina, farmácia e um galpão... - Disse Simon enquanto esfregava o queixo.

- Exato. - Disse Cooper.

Elliot assistia a tudo, não tirava os olhos de Simon:

- Alguma teoria? - Perguntou Cooper.

- Por mais que a lógica indique que são um grupo de pessoas, pelo número grande de corpos. - Disse. - O fato de não ter testemunhas indica que o ataque foi rápido, preciso. Reforçando a teoria de vários assassinos. - Terminou.

Cooper consentiu:

- É o que nossa perícia concluiu. - Disse Cooper. - Não com tantos detalhes como você, claro.

- Pois é... - Disse Simon virando as costas e fechando a cortina.

Elliot franziu a testa e olhou para Cooper, que sorriu e seguiu o detetive:

- É isso? - Perguntou Elliot. - Nós fomos até Great Falls buscar você para tirar as mesmas conclusões que a perícia do DP?

Simon continuou andando, ignorando o médico completamente:

- Cooper, vou dormir em qualquer hotel por aqui, se precisar de algo não me ligue não sou o corpo de bombeiros. - Disse Simon sério.

Apressou o passo e saiu do sub-solo não deixando nenhum dos dois segui-lo:

- Bom... Pelo menos ele tem senso de humor. - Disse Elliot se virando para Cooper. - O que foi isso? - Perguntou.

Cooper suspirou:

- A essa altura você já deve ter percebido que ele é um tanto... excêntrico. - Comentou Cooper enquanto andavam de volta para o DP. - Ele tem seus métodos mas não gosta de tirar conclusões precipitadas, ele provavelmente vai meditar.

- Meditar? - Perguntou curioso.

- Sim... Já peguei ele fazendo isso algumas vezes depois de ver uma cena de crime ou provas... É um jeito de passar tudo na cabeça talvez. - Concluiu Cooper.

- Ou de não se apegar. - Supôs Elliot.

- Bom, fique por perto... Ele deve entrar em contato em breve. - Cooper se dirigiu até sua sala, se despedindo de Elliot.

O médico saiu do DP, cruzou os braços apertando o tórax, uma forma de esquentar o próprio corpo:

- Pretende fazer o que agora? - Uma voz vinha da calçada, Elliot sabia e se virou para responde-lo.

- Alguma ideia? - Respondeu o jovem médico a Simon.

Simon olhou para o céu:

- Um café caia bem nesse frio. - Disse sério. - Conheço uma cafeteria ótima aqui no bairro.

Elliot balançou a cabeça negativamente para si, por que aquele homem causava essa sensação nele?

Estava intrigado:

- Vamos. - Respondeu.

Simon começou a caminhar pela calçada, olhando para o chão, Elliot o seguia:

- Como sabia que vim do Haiti? - Perguntou o médico.

Simon sorriu:

- Sua pele está levemente queimada, não é como se tivesse tomado sol ontem, mas talvez semana passada. - Disse Simon.

Elliot ergueu as sobrancelhas, Simon continuou:

- Não é do tipo que visita a praia, mas isso foi uma suposição, baseado nessa suposição e sabendo da sua profissão de médico, o recém terremoto no Haiti, médicos foram enviados, você me parece o tipo que faria um serviço desse. - Concluiu Simon.

- Baseado em que você diz que sou o tipo que faria um serviço desse? - Perguntou Elliot cada vez mais intrigado.

- Bom... Você foi até Great Falls não foi? Duvido que Cooper esteja te pagando por isso. - Simon disse isso e apontou para a cafeteria. - Chegamos.

Elliot riu e andou até a entrada da cafeteria, onde tomara uma mesa para si:

- É incrível. - Disse Elliot baixo, mais para si do que para o colega. - Quanto tempo demorou para concluir tudo isso?

- Faz alguma diferença? - Perguntou Simon parecendo sincero. - Imediatamente.

Elliot riu:

- Cooper te disse que vim do Haiti recentemente, é o mais provável. - Elliot dizia ainda sorrindo.

- Provavelmente. - Disse sarcástico o detetive.

Queria conhecer o detetive, mais do que isso, queria saber até onde as lendas e boatos eram verdadeiros.

Simon sorriu, e chamou uma garçonete:

- Vocês tem coca? - Perguntou.

Elliot riu, Simon era muito jovem, agia como um, provavelmente os boatos eram exagero mesmo, provavelmente Cooper havia lhe dito sobre o Haiti, a garçonete consentiu e Simon pediu uma coca e qualquer salgado que ela tivesse fresco:

- E você senhor? - Perguntou a Elliot.

- Café preto, sem açúcar por favor. - A moça anotou e saiu.

Simon virou para Elliot:

- Terão mais assassinatos, e por enquanto não podemos evita-los. - Disse seco. - Preciso de você por perto, Cooper te escolheu, confio nele.

Elliot prosseguiu em silêncio:

- Não sabemos nada sobre o assassino, não temos como chegar nele. - Parou um pouco, respirou e prosseguiu. - Pela frequência que isso ta acontecendo, o próximo não irá demorar, dentro de dois ou três dias.

- Estarei por perto. - Disse Elliot sem pensar muito.

A garçonete voltou com os pedidos e colocou-os em cima da mesa:

- Como funciona essa sua relação com o DP? - Perguntou Elliot.

- É simples, eles precisam de mim, eu ajudo eles. - Disse bebendo a coca.

- E por que vocês faz isso? - Perguntou Elliot.

- Eu preciso de um motivo? - Perguntou de volta ácido.

Elliot tirou um papel e uma caneta do bolso, anotou rapidamente uma sequência de números:

- Me ligue caso precisar de algo. - Elliot não estava seguro do que estava fazendo, mas algo o conduzia a isso.

Simon esticou o pescoço, olhou o número e tornou a beber a coca, sem encostar no papel:

- Não vai pegar meu número? - Perguntou o médico.

- Já tenho seu número anotado. - Disse batendo o dedo indicador na cabeça.

Elliot riu novamente, parecia tudo uma grande encenação:

- Você tem quantos anos Kepler? - Perguntou Elliot a Simon.

Simon sorriu e seguiu bebendo sua coca.

Antes de Elliot insistir na pergunta, seu celular tocou.

Se olharam uns segundos:

- Atenda. - Mandou Simon.

Elliot franziu a testa e pegou o celular:

- É o delegado. - Disse, e atendeu. - Elliot aqui... Sim... Estou com ele aqui no café na esquina do DP.

Enquanto Elliot ouvia o que o delegado tinha a dizer, conseguiu ver algo no olhar do detetive mudar, sua pupila dilatou consideravelmente.

Simon já sabia o que aquele telefonema significava, Elliot desligou o celular e disse enfim:

- Parece que você estava certo sobre uma coisa. - Disse Elliot.

- Mais um assassinato? - Disse com o olhar focado em Elliot.

O médico consentiu:

- Vamos! - Disse Simon se levantando.

Pedro Kakaz
Enviado por Pedro Kakaz em 25/07/2016
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