O ESTRANHO SER QUE HABITA O ESPELHO.

Aos dezesseis anos de idade acordei de madrugada com a sensação de que algo me observava. Ao olhar para o espelho do meu quarto em vez de ver meu próprio reflexo vi um humanoide vestido com um manto negro cobrindo toda a extensão do seu corpo.

O humanoide saiu do espelho, era muito alto, com mais de dois metros de altura, passou por mim e caminhou em direção ao quarto dos meus pais, o segui com passos vagarosos com medo de chamar sua atenção, minha vontade era gritar avisando meus pais, mas o medo não me permitia.

Eu estava dividido entre o terror absoluto e a curiosidade, uma parte minha queria me esconder e outra parte queria descobrir o que era aquela criatura.

A criatura parou na porta do quarto dos meus pais e fez um chiado, um som gutural, me lembrava do som de uma furadeira misturada com ganido de alguma espécie de animal selvagem.

A criatura abriu a porta do quarto e antes de entrar olhou em minha direção, aquele ser tinha apenas um olho, localizado onde deveria estar o nariz, era bem grande e sua cor alternava ora verde florescente, ora branco gelo.

Eu estava petrificado, não conseguia nem piscar, ficamos nos encarando por alguns segundos e logo depois a criatura entrou no quarto e fechou a porta, assim que a porta se fechou senti como se um peso fosse retirado da minha cabeça, de alguma forma aquela criatura mexeu com minha mente, não era apenas a maldade que ela trouxe para a minha casa, além do clima quase palpável de maldade que embrenhava minha residência havia algo psico, era como se ela se alimentasse da energia de humanos.

Respirei fundo, era hora de vencer meus medos, meus pais estavam em perigo e eu deveria fazer algo, corri para o quarto sem ter ideia do que eu deveria fazer.

Encontrei a criatura parada ao pé da cama dos meus pais em um primeiro momento não percebi o que estava acontecendo, mas assim que minha visão se acostumou com a escuridão do quarto para meu horror vi que a boca da criatura se deformou em uma forma grotesca, a parte de baixo do seu maxilar estava aberta até o seu peito e a parte posterior um pouco acima do seu único olho, da sua boca meia dúzia de tentáculos surgiam e estavam fincados no rosto e no peito do meu pai.

Alguma coisa estava sendo sugado do corpo do meu pai, os movimentos daqueles tentáculos eram grotescos.

Tentei gritar para meus pais acordarem, mas aquele peso que senti na cabeça mais uma vez voltou gritar também não era possível, minha boca estava selada.

Meu pai arregalou os olhos, virou a cabeça para mim e falou comigo, não com sua voz, ou melhor, era uma legião de vozes a cada palavra eu não sabia distinguir se era homem, mulher, velho ou criança, era uma sinfonia do caos, as palavras proferidas boca do meu pai foram: -Não se meta nos meus assuntos!

Logo depois disso meu pai estava morto.

A criatura ficou me observando e eu senti uma mão invisível me sufocando, cai de joelhos no chão, as lagrimas rolando pelo meu rosto, eu não queria morrer.

Quando estava próximo de perder os sentidos a mão invisível me soltou e pude respirar, mas não tinha forças para me levantar.

Em todo esse tempo a minha mãe não acordou. A criatura se aproximou dela e retirou o cobertor, subiu em cima dela e a violou, eu queria fechar meus olhos, mas não conseguia.

Fiquei ali durante todo o tempo que minha mãe foi abusada.

Ao nascer do dia a criatura se aproximou de mim e me segurou pelas pernas, me arrastou até o meu quarto, me largou no chão e voltou a entrar no espelho.

Minha mãe após o ocorrido não voltou a ser a mesma: a morte do meu pai teve pouco ou nenhum impacto nela, passava a maior parte do seu tempo no quarto.

Eu não tinha a quem recorrer não tinha tios, nem avós, era apenas eu e minha mãe agora.

Tirei o espelho do meu quarto, mas ele sempre voltava, não importava o que eu fizesse com ele, me livrar dele não era possível.

Poucas noites depois da morte do meu pai, eu acordei com a criatura novamente no meu espelho, ela seguiu a risca o mesmo ritual da ultima noite, foi até o quarto da minha mãe e a deixou nua na cama. Gritei para ela ir embora, a criatura colocou apenas um dos seus tentáculos para fora da boca e o inseriu no pescoço da minha mãe que falou com aquela sinfonia de vozes: Se continuar vindo aqui farei isso com você também!

Corri dali e todas as noites em que eu acordava com barulhos vindo do seu quarto eu apenas virava para outro lado e tentava dormir.

Dois anos após o ocorrido minha mãe descobriu que estava gravida.

Fiquei horrorizado, minha mãe não teve ninguém após o falecimento do meu pai, ela não saia de casa, aquela criança não era desse mundo.

Durante aqueles nove meses tive inúmeros pesadelos com criaturas saindo de dentro da barriga da minha mãe, a dilacerando viva.

Acordei por varias noites chorando baixinho, planejei varias formas de matar aquela criança, não queria que aquele ser nascesse, mas toda vez que eu tomava coragem para fazer algo e ia até o quarto da minha mãe, eu via a criatura no espelho, aquilo sugava toda a coragem que eu tinha.

A criatura nos manteve prisioneira, não tínhamos contato com o mundo exterior, eu gritei varias vezes em frente ao espelho invocando a criatura, dizendo que minha mãe precisava de um hospital mas a criatura não se manifestava, dentro de mim eu sabia que ela estava nos ouvindo,eu sentia sua presença abusiva o tempo todo, se existe um inferno eu estava vivendo nele.

Nove meses depois minha mãe gritava sentindo as dores do parto, eu tentava ajudar ela, mas não sabia direito o que fazer até que a porta do quarto se abriu e aquele monstro entrou tomando meu lugar e fazendo o parto de seu próprio filho.

Quando finalmente o parto terminou a criatura veio até a mim e me entregou o bebê, para o meu alivio era uma menina. Linda e saudável, olhando para a beleza daquela criança recém-nascida não tive duvidas lhe dei o nome de Vitoria.

Os anos passaram a pequena Vitoria cresceu normalmente, eu não a deixava sozinha com minha mãe, eu saia de casa apenas para fazer compras, e quando saia tinha que deixar minha mãe trancada no quarto, ela estava a cada dia mais estranha, diria até que perigosa à criatura havia a transformado em um ser humano totalmente diferente.

Me doía ter que deixar as duas separadas a maior parte do tempo, mas era para o bem das duas.

Na noite em que Vitoria completou treze anos comprei uma pequena torta para nós três comemorarmos a data, naquela madrugada fui surpreendido com a criatura no espelho, ela seguiu a risca o ritual estabelecido e realizado por todos aqueles anos.

Saiu do espelho, foi até o quarto da minha mãe, só que dessa vez ela não tirou a roupa dela, deixou amostra aquela meia dúzia de tentáculos e a atacou, tentei impedir, mas como aconteceu alguns anos atrás mais uma vez eu estava paralisado.

Vi minha mãe morrer, a criatura passou por mim e se encaminhou para o quarto da minha irmã corri atrás dela que me segurou pelo pescoço e me jogou no chão, senti meu corpo paralisado novamente, e não pude fazer nada enquanto a criatura expunha o corpo nu de minha irmãzinha.

Eu estava horrorizado, isso não podia estar acontecendo novamente, ouvi vozes mandando a criatura parar, mas eu não via ninguém, a criatura continuava abusando de Vitoria parecia não se importar.

Senti uma mão invisível me acertar o rosto com bastante força a ponto de me deixar tonto.

A criatura se levantou da cama e passou por mim, estava indo de volta para o espelho.

O barulho das vozes foram aumentando, como em um passe de magica vi um monte de policias dentro da casa, dois deles me seguravam, enquanto uma policial cobria o corpo da minha irmã nua.

O que estava acontecendo? Eu não entendia.

Vitoria começou a gritar apontando para mim: - esse monstro me manteve presa aqui durante todos esses anos.

Tentei explicar que era a criatura brincando com a cabeça dela, que eu não tinha feito nada disso, mas ninguém acreditou em mim.

Fui levado para uma prisão, os jornais adoraram a historia do filho que matou o pai e teve uma filha com a própria mãe.

Eles não sabem a verdade, ainda vejo a criatura toda vez que me olho no espelho.