ULTIMA PARADA

Era setembro de 1975, um homem vestindo uma jaqueta preta de cabelo castanho e volumoso penteado para o lado e uma costeleta gigantesca, dirigia sua caminhonete as pressas. O caminho que ele seguia era rodeado de montanhas e a noite assolava a região com uma lua cheia, como se fosse um clássico filmes de vampiros.

Carlos Henández era um homem imponente e muitas vezes sombrio, com um passado que ele mesmo não gostava de lembrar. Fora abandonado pelo pai quando ainda era uma criança e a mãe morreu durante seu parto. E desde então se vira sozinho, não tem família nem parentes, com uma ideologia revolucionária. A forma com a qual ganha a vida é um mistério, e hoje ele estava a caminho da abandonada Estação Ferroviária de Canfranc, que ficava próximo a sua casa no município de Canfranc no norte da Espanha.

A estação está abandonada desde 1970 quando a ponte que ligava para a França desmoronou todos os investimentos na linha férrea daquela região foram cortados e as atividades foram encerradas, a única coisa que habita o lugar são corvos, ratos e aranhas.

A caminhonete de Carlos Henández seguia a alta velocidade para a estação abandonada e no banco de trás tinha um homem de cabelo grisalho, com a cabeça ensanguentada e a boca amordaçada. E ele estava claramente atordoado, Carlos fumava um cigarro enquanto dirigia ao som de Sympathy for the Devil (Rolling Stones).

Ao chegar na estação abandonada que era incrivelmente grande, e sua fachada era escura e não tinha iluminação nenhuma, a única claridade que tinha era a que estava sendo refletida pela lua cheia que assolava a Espanha naquela noite.

Assim que chegou bem próximo a entrada da estação abandonada, Carlos Hernandéz parou o seu carro, desligou o som, olhou para o homem no banco de trás deu um sorriso e rapidamente saiu do carro, abriu a porta de trás da caminhonete e foi puxando sua vítima pelos cabelos grisalhos, o jogou no chão empoeirado e retirou a amordaça da boca e o homem praguejou:

_Quem é você? Algum tipo de ocultista satânico?

Carlos apenas sorriu passou a mão pela sua costeleta e apagou seu cigarro dizendo:

_Por que você não me fala, qual é o seu nome?

O homem olhou incrédulo para Carlos e disse claramente indignado:

_Você entra na minha casa, quase me mata na frente da minha família e não sabe nem sequer meu nome?! Que tipo de monstro é você?

Carlos deu uma gargalhada e respondeu:

_Eu sei que eu tenho que te matar, mas isso não me obriga a saber seu nome...

O homem boquiaberto disse:

_Você diz que tem que me matar... O que eu te fiz?

Carlos então se agachou olhou nos olhos do homem que estava com o rosto todo sujo de sangue e disse:

_A mim?! Você não fez nada, mas saiba de uma coisa, tudo aquilo que nos acontece é apenas o reflexo das nossas atitudes.

Então o homem disse:

_Eu não vou te dizer meu nome, se quer me matar vá em frente, por que eu nunca fiz nada de errado e estou vendo que você nem sabe quem eu sou e nunca fiz mal a ninguém. Você me parece ser um cara esperto e está perguntando meu nome para ter a certeza se sou eu quem você está procurando e por este motivo não vou te dizer meu nome, se você consegue viver com esse peso na consciência de ter matado um homem inocente, vá em frente...

Carlos olhou para o homem e disse:

_Tá bem.

Uma resposta seca e direta, e o pegou pelo cabelo e foi o arrastando para dentro da estação. Durante todo o caminho o homem gritava de dor e perguntava aos berros:

_Quem é você?! Por que quer me matar?

Então depois de caminharem tanto tempo Carlos chegou a um pequeno cômodo da estação abandonada onde tinha uma cadeira e colocou o homem sentado nela e o amarrou na mesma. Era um lugar escuro, mas de todos os demais locais da estação esse era o que a lua conseguia transmitir mais claridade.

Ao se sentar e sentindo uma forte dor na cabeça o homem perguntou a Carlos:

_Por que você quer me matar? Você mesmo disse que eu nunca te fiz nada...

Carlos de costas para o homem suspirou e respondeu:

_Não é que eu queira te matar, mas é preciso que eu faça isso, pois essa é a minha missão.

O homem não entendeu nada e perguntou:

_De que merda você está falando?

Carlos então se aproximou do homem e respondeu:

_Eu vou te contar, sei que não vai acreditar... mas foda-se eu vou te matar mesmo - Carlos suspirou e continuou - desde que meu pai me abandonou quando eu ainda era uma criança, eu fiquei sozinho no mundo e passei a me virar, roubando pequenos mercados, vivendo de cidade em cidade sem rumo. Até que quando completei uns 12 anos, eu acho, passei a ter sonhos com pessoas que eu nunca tinha visto antes e nesses sonhos eu estava assassinando esses desconhecidos. Não entendia o sentido desses sonhos, até que um belo dia em Sevilla caminhando na rua eu vi uma dessas vítimas que eu tinha visto no sonho batendo em uma criança, batendo não, espancando e eu fui e realizei o que vi no meu sonhos, esfolei, arranquei a pele daquele desgraçado. - Carlos revirou os olhos e continuou - E desde então todas as minha vítimas passaram a se confirmar, inclusive você, e todas as pessoas que matei eram pessoas ruins e tenho certeza que você não é diferente.

O homem assustado começou a gritar:

_VOCÊ, SEU DESGRAÇADO MANÍACO VAI ME MATAR POR QUE ME VIU NA PORRA DE UM SONHO?! VÁ SE FODER, SEU LOUCO.

Carlos apenas sorriu e disse:

_Você pode gritar, praguejar o que quiser, seu destino será só um meu amigo. Mas se continuar me torrando a paciência vou fazer com você uma coisa bem pior da que vi no meu sonho...

O homem assustado perguntou:

_E o que você viu no seu sonho?

Carlos apenas sorriu tirou os sapatos do homem, e com um prego enferrujado começou a arrancar as unhas do pé do homem que gritava como uma criança e sentia seus dedos do pé queimarem tanto que até seu rosto ficou vermelho. E então ainda sorrindo Carlos disse ao homem:

_Vamos brincar, e durante a brincadeira você vai sentir na pele o que vi no meu sonho...

Alvaro Oliveira P Neto
Enviado por Alvaro Oliveira P Neto em 05/09/2016
Reeditado em 05/09/2016
Código do texto: T5750894
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