A Trilha do Diabo

Como todos os verões Carlos e seus amigos sempre foram acampar, este ano seria um acampamento diferente, pois completara treze anos, há três meses e seus pais decidiram colocá-lo para fazer catecismo e este acampamento seria com as catequistas e colegas. O lugar aonde eles iam Carlos jamais esteve antes, ele ouvia dizer que era um local muito bem frequentado. Provavelmente ele e seus colegas iriam encontrar novos amigos. Já eram onze da manhã e eles já caminhavam durante uma hora e quinze minutos e não haviam chegado até o ponto onde eles acampariam, justamente com o grupo dele havia mais outros grupos com pré-adolescentes e adolescentes. Durante a caminhada ele fez amizade com outros garotos e conheceu até mesmo uma garota, para sua idade ele era bem popular, um garoto bem atraente para as meninas. Após este tempo de caminhada os instrutores optaram por fazer uma pausa para comerem algo, pois o sol ficava cada vez mais forte e eles precisariam de bastante energia, os três grandes grupos foram separados em pequenos grupos de cinco ou seis jovens, onde com Carlos permaneceram Vera, Lúcio, Dan e outros três que haviam conhecido no caminho, cada instrutor fora instruído a olhar os jovens, com o grupo dele ficou o velho Sam, um senhor de sessenta e dois anos, veterano de guerra e também guia para os outros instrutores. Ao ouvir o tema que os jovens discutiam, o velho Sam pegou um banquinho e colocou no meio da roda e decidiu por contar uma história que ele passou por diversas gerações de garotos que com ele acamparam.

- “Há muito tempo atrás, nesta mesma trilha aconteciam coisas muito estranhas e ao mesmo tempo terríveis, houve um garoto que conseguiu sobreviver durante duas semanas sem comida, água e até mesmo companhia, ele afirmava que aqui costumava ser A Trilha do Diabo, com lágrimas em seus olhos e em pânico e por culpa do destino que o colocou no local e hora errada ele descrevia uma cena que não permitia dormir de noite. Ele afirmava ter visto duas pessoas serem devoradas vivas e elas não podiam gritar, pois estavam acorrentadas e amordaçadas em uma mesa de pedra. O rapaz que ele viu teve parte do peito devorado e o coração arrancado enquanto estava vivo e a garota teve todas as suas tripas comidas, ele se lembrava dela olhando bem nos olhos dele, e derramou sua ultima lagrima antes de falecer...”

- E o que o garoto fez? – perguntou Lúcio, assustado...

- “Ele apenas pode assistir aquilo de fora, sabia que sentiriam falta de um prisioneiro, quando a mulher olhou para a direção dele, com parte do estomago da garota por entre os seus dentes. Dentes que ele descrevia ser pontiagudos e bem afiados a ponto de rasgar a carne humana...”

- E o que houve depois? – perguntou Carlos surpreso e ao mesmo tempo arrepiado...

- “Quando notou que fora descoberto, ele correu o mais rápido e para longe possível, chegou até a sair da trilha por causa do pavor que ele estava após presenciar tudo aquilo, ele correu e correu até atravessar o rio o qual iremos acampar, lá ele acabou caindo em um buraco feito pela chuva e ali ficou durante duas semanas até que um grupo o encontrou e o levou até as autoridades...”

- “Sorte... Ele viu duas pessoas serem devorados vivas...”

- E o que aconteceu depois? Acreditaram em sua história? Pegaram os assassinos? – perguntava Carlos com os olhos esbugalhados.

- “Jamais encontraram vestígio algum de que houvesse algo do tipo...” Velho Sam tinha sido interrompido por um dos rapazes que estavam com ele para liderar os grupos, ele o chamou e fez um sinal para que já pudessem continuar com a trilha.

Conforme os jovens seguiam o velho Sam e o resto do grupo, eles por fim chegaram ao destino, onde começaram a preparar as barracas e também a separar os meninos das meninas. Após ajudarem com as barracas, todos começaram a brincar no rio, Carlos contava a historia que ouvira a pouco para os colegas de seu irmão, enquanto ele e os garotos procuravam por sapos para assustar as meninas, Lúcio pisou em algo que logo o levou ao chão, no mesmo instante o garoto gritava e chorava de dor, havia algo encravado em seu pé. Os outros meninos voltaram para ver o colega e ficaram horrorizados com o que viram, claramente dava para perceber que se tratava de um osso. Os meninos correram imediatamente para chamar um adulto para ajudar Lúcio. O garoto chorava demais e sentia muita dor, até que repentinamente ele ouviu algo se aproximando, alguém vinha em sua direção, ele sentia-se aliviado, pois eram os instrutores, quando se virou, viu uma mulher com os olhos bem grandes e negros, sua pele era bem suja e um tanto acinzentada e aparentava ser muito velha, ela olhava para dentro dos olhos castanhos dele. Abriu a boca e mostrou-lhe os dentes pontiagudos e lambeu parte do lábio superior, agarrando o garoto pelo o colarinho e o arrastando mata adentro, Lúcio gritava por socorro, mas ninguém veio ao seu auxílio.

Minutos depois Carlos e os meninos trouxeram dois instrutores, porém Lúcio já não estava mais ali.

- “Isso é alguma brincadeira?” – Perguntou o instrutor.

- “Não, não. Meu amigo estava aqui agora a pouco...” – Afirmou Carlos, assustado.

-“Ele pareceu estar certo, Tom. Olhe só o chão, tem algumas manchas de sangue e parece que ele foi arrastado...”

-“Garotos o que vocês fizeram?” – Perguntou Tom, em um tom mais preocupado.

- “ Nada - afirmou o garoto ao lado de Carlos.

-“Nós estávamos procurando por sapos para assustarmos as meninas e de repente ouvimos o Lúcio gritar, e quando voltamos, ele tinha um pedaço de osso perfurando o pé dele...” Afirmou Carlos.

- “E nos decidimos buscar vocês...” disse Dan, quase chorando.

A medida que os meninos discutiam com os instrutores. Lúcio era arrastado para cada vez mais distante do acampamento. Ele gritava e gritava, até que a mulher zangou-se, jogo-o ao chão, em seguida subiu sobre o corpo do garoto, e com uma das mãos segurou a boca do menino e com a outra arrancou-lhe a língua, e em seguida a comeu sem esforço algum. O garoto apenas chorava, ele sabia que a história do velho Sam era verdadeira. Por outro lado, Carlos se lembrou da historia que ouvira a pouco e então decidiu por querer levar os instrutores para o local que ele suspeitava que Lúcio estaria.

Os rapazes não acreditaram na historia, e não subiriam rio acima atrás de algo que poderia ter sido inventado. O garoto em desespero correu até o acampamento em busca de Sam, ele acreditaria nele e o ajudaria a encontrar o amigo de infância. Dan, chorando dizia que Lúcio, Vera e Carlos são amigos desde que tinham seis anos de idade e que sempre estavam juntos, convencidos pelo apelo do garoto, foram atrás de Carlos que já estava acompanhado de Sam, eles sabiam que cada minuto era crucial para o pequeno Lúcio. Eles gritavam e chamavam pelo nome do garoto, porém não obtiveram resposta alguma. Estava quase escurecendo e quanto mais eles seguiam em frente, mais distante o acampamento e qualquer ajudava ficavam. Tom, pediu para parar por um momento, dizia que tinha necessidades fisiológicas e correu em direção do mato. O jovem que havia terminado, quando estava prestes a voltar para seus companheiros começou a ouvir o barulho da vegetação mexendo, como se algo ou alguém se aproximasse, o rapaz voltou rapidamente para o caminho para trilha, teve seu calcanhar rasgado por algo, que em seguida o levou chão, antes mesmo que pudesse ver algum rosto, teve um de seus olhos arrancados, e em seguida na tentativa de proteger o outro, teve dois dedos arrancados numa mordida e o outro olho arrancado da face, o jovem gritava de dor, e logo começou a andar em quatro, gritando e quem estava próximo podia ouvi-lo, o outro instrutor pediu para que Carlos, Vera e Sam o aguardassem. O rapaz corria o mais rápido possível na direção dos gritos, que logo cessaram quando Tom teve sua garganta cortada. O outro instrutor logo encontrou o corpo de seu amigo, e assustado correu até a direção dos três, mas fora surpreendido por um outro grito acima dele, quando olhou para o alto avistou um homem com dentes pontiagudos descendo da arvore com facilidade e rapidez, logo começou a correr mais rápido, ele se aproximava bem rápido para onde estavam Sam, Vera e Carlos, quando finalmente os alcançou, caiu onde era trilha e logo atrás de Vera.

- “Você está bem?”- Perguntou Carlos

-“ E-Estou...” respondeu gaguejando. E logo perguntou. “Onde está Sam?”

- “Ele ouviu os seus gritos e correu na sua direção com um pedaço de madeira na mão.”- respondeu Vera, assustada.

-“Temos que voltar...” – o jovem afirmou assustado.

- “Não podemos...” – Disse Carlos bravo.

-“Seu amigo uma hora dessas já está morto, assim como o Tom.”

-“ Tom está morto?”

- “Sim, ele nem teve chance... Foi massacrado...”

- “Você os viu, não é?” – Perguntou Carlos.

- “Do que está falando?” – Perguntou o instrutor.

- “Dos canibais, os velhos...”

- “Eu não sei o que vi... Eu só sei que algo não deu a mínima chance de escapar ao Tom.”

Quando o rapaz virou-se na direção do acampamento, foi atingido na nuca e caiu inconsciente. As crianças começaram a gritar, não entendiam o que acontecia ali. Por trás do mato saia a mesma mulher que atacou Lúcio e caminhava na direção dos três. Vera tentava desesperadamente acordar o instrutor e Carlos a ajudava a puxá-lo. Quando os dois esbarraram em alguém atrás deles. E olharam e viram o velho Sam, logo ficaram aliviados...

- “Está tudo bem, está tudo bem... Já está acabado.” – Afirmava Sam, com um sorriso malicioso em seu rosto e mostrando-lhes seus dentes pontiagudos.

Nando Soares
Enviado por Nando Soares em 09/09/2016
Código do texto: T5755465
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