Guerra Civil
 
João da Escuta voltou de seu trabalho em uma operadora de telefonia onde ele é agente de atendimento. Voltou cansado e desanimado, não aguentava mais ouvir reclamações de clientes mal educados todos os dias. Não aguentava mais o estresse de um TMO (Tempo Médio de Operação) de três minutos. Queria mudar de emprego, mas não podia, no Brasil a crise é enorme, empresas falem todos os dias, já são doze milhões de desempregados. Quem tem emprego deve conservá-lo com carinho, pois pode não conseguir outro.

Naquela noite, no entanto, as coisas estavam piores. Ele voltara para casa e encontrara sua mãe já muito idosa, fraquinha e de saúde frágil em prantos e desesperos. Um calafrio percoreu o corpo de João e ele disse: “O que foi mãe, estás passando mal? Alguém morreu?” A velhinha o levou até a janela e mostrou a ele que no horizonte uma grande coluna de fumaça negra se elevava da terra aos céus. A velhinha queria saber o que era aquilo por que a visão a apavorava muito. João ligou a televisão e esperou até que o telejornal explicasse aquela visão. Um depósito de recicláveis havia pegado fogo, gerando grande incêndio acidental. Alguém estava trabalhando com maçarico em um lugar cheio de combustiveis e o pior aconteceu. João explicou isso para sua mãe que era meio surda e não entendia direito o que falavam na televisão. A velhinha estava com os nervos a flor da pele, pois alguém havia dito a ela que haverá uma guerra civil no Brasil muito em breve e a velhinha pensou que aquela fumaça que se via no horizonte já fosse o resultado de algum bonbardeio. João passou mais umas duas horas falando, falando e falando, tentando acalmar sua mãe e explicando a ela que não haveria guerra alguma. A noite ele foi dormir, mas estava insone. Ele acalmara a mãe, mas no fundo ele também estava com medo.
Duarte Cosaque
Enviado por Duarte Cosaque em 30/09/2016
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