Schizophrenia

Estávamos os três perdidos na estrada. Era noite escura e precisávamos de descanso para seguir viagem. Avistamos uma placa, indicando “15km à frente”; era óbvio que faltava o pedaço que indicava o lugar.

Seguimos na esperança e constatamos que se tratava de uma cidadezinha. Procurávamos abrigo; uma pensão, uma taberna. Encontramos uma casa abandonada; ela não tinha uma porta, nem luz. Acendemos nossos isqueiros. Pó e moveis enxovalhados por todos os cantos. Explorando a casa, encontramos um quarto perto de uma janela que deixava entrar a luz da lua. Chovia pouco.

Nos aquecemos com uma fogueira feita de uma pequena pilha de madeira velha e seca. Ouvimos algo ranger. O vento batia uma das janelas, causando certos temores. Fechamos a porta do quarto.

Aos poucos, parecia que toda a casa queria tremer e ranger. Nos engolir. Despedaçar.

Mas não era a casa. Eram aqueles que assombravam nossas mentes. Todos os nossos mortos.

- Você ouviu dizendo isso?

- Isso o que?

Seguiu-se uma pequena pausa, antes que meu amigo pudesse responder: - ouviu agora?

Sim, ouvíamos. Longínquos gritos chamando nossos nomes. Queriam nos levar com eles. A casa estremecia. Não era imaginação. As paredes do quarto estavam cada vez mais estreitas, com protuberâncias similares a dedos querendo sair; romper a última barreira que faltava. Nós só tínhamos fogo.

Cada um agarrou uma pequena tocha e tentávamos abrir caminho forçado por dedos gosmentos. Abrimos a porta e o corredor para a escada era quase inexistente. Penduramo-nos lá pra baixo, pelo corrimão. Conseguiríamos chegar à porta de saída se conseguíssemos correr e afastar as mãos e pulsos na minúscula sala. Íamos todos ofegantes, doloridos, com os próprios dedos queimados, quebrando em disparada contra as mãos pegajosas das paredes. Repentinamente tudo parou menos nós. Chegamos ao lado de fora, como se nada jamais tivesse perturbado aquela casa.

Obs. da autora: estava vasculhando meus arquivos antigos para limpar o computador e encontrei esse texto, de 2012, que ainda não havia postado. Espero que gostem.

Bárbara Guerra
Enviado por Bárbara Guerra em 18/10/2016
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