MORTE DAS MORTES - CASTIGO ETERNO - DTRL 29

Amanda corria em disparada pela floresta. Restavam poucos dias para o amanhecer, e ela sabia o que isso significava desde a última grande chuva.

Não tinha muito tempo, e precisava sair do mundo dos mortos antes que a luz do dia a encontrasse.

Sua mãe a advertira diversas vezes que não falasse com os demônios do mundo dos vivos, mas ela, teimosa como era de se esperar de qualquer adolescente, não a escutou.

Agora sofria com as conseqüências.

Há quantas luas tinha sumido? Todos do Mundo Escuro deviam estar lhe procurando. Mas lá os costumes eram diferentes. Amanda sabia que seria severamente punida por ter se juntado a um vivo, e seria condenada a Morte das Mortes. Havia um lugar especial reservado para ela no inferno por tudo o que fizera.

Consultou o relógio em seu pulso. Com os ponteiros andando para trás, ainda lhe restavam 31 minutos antes que o primeiro raio de sol a tragasse e ela sumisse outra vez, ficando perdida entre os mundos, condenada a vagar sem rumo pela eternidade.

Em sua corrida, contemplou as luzes vermelhas que mostravam as casas de seu vilarejo. Parou por fim, esbaforida, e escondida em meio às relvas secas, identificou sua casa. Tanto ela, quanto as demais pareciam vazias, e foi então que voltou sua atenção para a praça, onde numa imensa pira, seus pais queimavam.

Prostrados com a cabeça no chão, os homens invocavam o senhor das Trevas, enquanto as mulheres estavam de pé, vestidas com suas mantas negras, de mãos dadas em volta do pentagrama que fechava o cerco em volta da pira onde seus pais gritavam em agonia.

Estarrecida, olhou para baixo e contemplou sua barriga, envergonhada. Sem tempo de absorver o que acontecia, ou de tomar uma decisão, divisou ao longe o colorir alaranjado do horizonte. Faltavam 2 minutos para o sol nascer quando sentiu a primeira contração, e o tempo ao seu redor pareceu parar.

Foi tudo muito intenso, muito simultâneo. A pira em meio à praça e ao pentagrama se iluminou de uma chama negra, e do meio dela, a Rainha de Copas emergiu tragando com sua enorme boca o corpo de seus pais.

Sua aparência era disforme, e seu corpo de uma tonalidade queimada pelas piores chamas do inferno. Nesse momento Amanda soube que seu destino havia chegado ao fim.

A multidão do Mundo Escuro entrou em transe, enquanto o defeituoso ser, ainda em cima da pira em chamas olhava para Amanda. Seus olhos demoníacos pareciam possuir cada um que os contemplasse diretamente, e sua boa deformada, com dentes pontiagudos pareciam proferir a mais terrível das desgraças.

A criança chorou. Era uma menina. Caiu aos pés de Amanda enquanto essa, sem reação e sem nenhuma dor esperava que sua sentença fosse proferida pelo horrendo ser que a contemplava.

A Rainha abriu a boca e emitiu em um brado animalesco palavras destoantes, que mais pareciam vir de um rádio com inúmeras interferências de estática.

- A criança nasceu. Pois bem. Ela será levada ao mundo dos vivos, do qual você nunca deveria ter pisado e nem mesmo ter concebido tal pecado com um mortal.

- Seu pai a criará, e ela crescerá feliz. No entanto, no dia em que fizer 11 anos será irremediavelmente tragada para nosso mundo, e nele você verá a sua destruição, porque com suas mãos a matará.

- Lhe cortará a cabeça e seu nome será Alice. Quanto a você, ficará por guardiã deste submundo até que a criança morra, então assim, será levada Morte das Mortes e seu débito finalmente estará pago por tudo o que fez.

Tema: Conto de Fadas

Bonilha
Enviado por Bonilha em 03/11/2016
Reeditado em 03/11/2016
Código do texto: T5812163
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