De carona para o Inferno - DTRL29

Peguei aquela estrada sem saber pra onde ia. Estava á 160 km/h e meu mundo despencava. O ruído do motor zunia em minha mente como um enxame de abelhas assassinas. Era tão surreal. Freei bruscamente quando notei a figura á minha frente. Ela era loira, um metro e oitenta ou quase isso, cabelos curtos que a deixavam ainda mais sexy, isto se isso fosse possível. Trazia uma pequena tatuagem de serpente na nuca, pronta para dar o bote. Ela ou a serpente, ou as duas. Não sei como vi aquilo, mas aquele corpo e aquela pele seduziam meus olhos, que com ingenuidade e afobação percorreram cada centímetro daquele pedaço de mal caminho, inevitavelmente.

Depois de tudo que havia acontecido naquela noite sei que deveria ter prosseguido, mas não, eu parei.

- Por que simplesmente não continuei e deixei-a ali? Que visão deslumbrante, seu dedo apontando para o meu destino. Mas qual era mesmo meu destino? Isso se eu realmente ainda tinha um. Ela entrou. Abriu a porta como se soubesse exatamente como me provocar. O jeito que ela me encarou, ainda mascando aquele chiclete. Para piorar a situação, usava uma mini-saia exibindo um par de belas coxas desnudas, carnudas e aquela camiseta ostentando toda sensualidade de curvas instigantes num par de seios que atraía os meus olhos como imãs. Encurvada me mostrou tanto, sentou-se levemente, e o bálsamo carregou o ar num aroma de sexo virgem, estonteante... Tão tentador! Excitei-me de forma espontânea e o volume entre minhas pernas cresceu despontando no tecido de minha calça. Ela então disse seu nome. “Carla”. Admito, este nunca havia me parecido um nome sexy, mas agora eu presenciava a própria essência de Afrodite á minha frente, e aquela voz, com a rouquidão presa em algum canto de sua garganta, escapava aos poucos, arranhando cada poro de meu corpo, suprimindo todo meu auto controle. Tudo perfeito demais, gostoso demais, e... Meus pelos se eriçavam-se...

- Chamo-me Paulo - Revelei, engrossando a voz um pouco mais. Acredito que ela notou meu joguete, pois me lançou um olhar diferente, algo que entendi como malicioso, no bom sentido é claro - Está indo pra onde? – Perguntei.

- Para um lugar bem quente, espero! – Ela disse, não, insinuou. Naquele momento não pude me controlar, um vulcão despertou dentro de mim. Esqueci-me de tudo – Que se dane! – Pensei.

- Fogo é comigo mesmo! – Retruquei, tentando ser o mais sexy possível e agarrei-a. Cheguei até a pensar que talvez houvesse entendido errado, mas logo tive a certeza, pois ela retribuiu com um beijo depravado e delicioso. Mordiscava meus lábios de maneira que me acendia ainda mais. Carla levou a mão até minha calça e massageou meu membro sem receio algum e em seguida apertou-o firme espremendo-lhe a cabeça. Aquilo encheu-me ainda mais de desejo. Puxei-a em direção a meu corpo, até que seus mamilos rijos roçaram-me o peito. Dobrei a barra de sua mini-saia para cima e ela desceu sua calcinha, enquanto eu desabotoava minha calça. Penetrei nela com furor tamanho que quando o fiz pude percebê-la abrindo a boca e deixando os lábios oscilarem de um jeito delicioso. Aquilo me deixou ainda mais embriagado. Abaixei as mangas de sua blusa deixando-as caídas até a altura de sua barriga. Meus olhos encontraram seios firmes e apetitosos que agora estavam á mostra seguindo o embalo de uma dança frenética, nossa dança. Carla cavalgava de um jeito escandaloso, as coxas quentes e úmidas me aconchegavam. Sentia todo frescor, enquanto suave e escorregadia arfava entre suspiros e gemidos. Era como se estivesse no céu, e também no inferno. Era um misto dos dois. Foi quando algo me veio á mente. Uma pergunta tola para uma ocasião tão única, tão... Mas?!... Como eu podia estar fazendo aquilo? Como? Foi aí que eu a pedi que parasse.

- Não posso! Tenho que sair logo daqui. Eu...

Ela então colocou as mãos sobre meu peito e me apertou contra o banco, nesse momento rebolava suavemente. Tentei tira-la de cima de mim, mas ela lançou um sorriso incomum. De repente o calor aumentou. Minha pele queimava, literalmente. Experimentei uma dor abissal na região de meu órgão e urrei.

- Porra, o que você fez comigo? – Olhei para baixo e vi meu pênis totalmente deformado. A sensação era de um ardor e ao mesmo tempo de certa anestesia. Estava em carne viva - Que merda é essa?!

- Te dei o prazer que você tanto queria! – Disse a loira, que então se levantou. Ainda não compreendia aquela situação. Eu só queria meu pau de volta naquele momento. Mas o que era de fato bizarro, é que não estávamos mais no carro, o cenário havia mudado completamente.

- Onde estamos? O que está acontecendo? - A pele dela de repente encheu-se de bolhas que estouravam simultaneamente, enquanto sangue escorria pelo corpo que agora se mostrava como uma forma horrenda. Como se tivesse se fantasiado de carne de vitrine de açougue, estava de pé a minha frente. Só olhos e dentes podres é o que podia se ver entre aquela carne queimada e borbulhante. Suas orelhas pareciam estar mais pontiagudas que antes, e ainda havia uma calda com uma espécie de bico de flecha na sua ponta. Ela estava quase careca e de maneira inacreditável tinha a forma de um demônio. Dei um passo para trás assustado.

- Estamos no inferno, André – Ela falou e a voz de rouca passou para demoníaca, de fato me causou um calafrio que nunca havia experimentado, até aquele momento.

Foi aí que me lembrei de tudo. Era um dia comum, mas em dias comuns os planos vão por água abaixo. Cheguei em casa mais cedo, as rosas seguras na mão esquerda, enquanto eu balançava a chave do carro no dedo indicador e me preparava para entrar em casa. O que eu não esperava era ouvir aquele som de risinhos e gemidos esbaforidos que fugia pela porta estupidamente entreaberta. Continuei caminhando, já descalço, enquanto o par de tênis ficava a meio caminho do quarto de casal, do meu quarto de casal. Maldito seja aquele dia. Peguei a cadela com meu melhor amigo, na minha cama. Faziam sexo como nunca havia feito comigo. Ele algemado, ela por cima, cavalgando e cavalgando.

Via-os pela fresta da porta. Ela gritava e gemia como louca. Malditos traidores! Um ódio imenso invadiu minha alma. Dirigi-me silenciosamente até a cozinha, não pensava em nada, somente em vingança. Peguei uma faca, segurei-a com tanta força, e quanto mais apertava o cabo dela, mais podia sentir meu coração acelerado, ele gritava com meu cérebro. "Não seja covarde!" Fui até o quarto e abri a porta com um pontapé. A maldita pulou de cima dele puxando o lençol contra seu corpo, assustada. Ele, por sua vez, com o membro ereto, me olhava com olhos arregalados. Os observei por uma fração de segundos e vi nos olhos deles, eu vi que eles zombavam de mim. Parti pra cima dela com a faca. A ordinária se defendeu com as mãos. “Burra!” A faca atravessou-lhe a mão esquerda rasgando-lhe a linha da vida. Ela gritou! Puxei a faca de volta e o sangue deu uma cor especial á lâmina. Era a cor da morte, a mesma cor da paixão que nos acendeu em dias passados e a mesma cor da vida que ela iria deixar de possuir.

- Vaca! - Dei-lhe um tapa no rosto com selvageria.

Ela me dizia algo, mas eu simplesmente não ouvia. Enfiei a faca na sua boca, a faca atravessou, abriu a nuca e encontrou os cabelos escovados dela, e eu a puxei, deixando o corpo cair no chão, sem vida alguma. Olhei para o traidor que tentava se soltar sem voz e imerso em pânico, como um camundongo amedrontado preso a uma ratoeira.

Acho que ele queria pedir por socorro. Ouvi alguém bater á porta. Mas agora éramos só nós dois. Aproximei-me com a faca em minha mão esquerda. Balancei a cabeça, ainda não acreditando naquilo. Lágrimas marchavam lentamente pelo meu rosto. Cada uma delas carregava lembranças de uma vida que parecia ter sido um sonho. Tudo é um maldito pesadelo. Olhei pra ela no chão, imóvel, o sangue ainda minando de sua boca. Ele acompanhava cada movimento meu ainda se debatendo e tentando se soltar de lá. Encarei-o nos olhos e cravei a faca em seu peito. Ele então segurou minha mão, os olhos transmitiam certa melancolia. Olhei-o com desdém e puxei a faca rasgando-lhe carne e chegando até sua barriga enquanto ouvi-o sussurrar um “me desculpe”. Filho da puta! Arranquei e enfiei novamente. Outra vez. Mais uma vez. E a cada golpe eu queria mais. E então um último suspiro, mas não antes de eu parar. Em algum momento, após algum tempo que estava a perfurá-lo ouvi a porta da frente sendo arrombada. Pulei a janela e entrei em meu carro. Minhas mãos imundas de sangue seguraram o volante. Arranquei, e quase atropelei um policial na rua. Este entrou em seu carro, ligou as sirenes e me seguiu. Quanto mais eu acelerava, mais eu ouvia aquela maldita sirene e as luzes piscando pelo retrovisor.

Continuei em disparada, liguei o som do carro e continuei... Peguei aquela estrada velha á 160 km/h. Infinita Highway tocava em algum lugar de minha mente. E então eu a vi. Ou não? Ah droga! Agora me lembro... Foi apenas um piscar de olhos, quando os faróis da carreta apareceram subitamente e eu desviei caindo naquele penhasco. O carro capotou diversas vezes, e tocou o chão. Lembro do baque. Mal podia me mover. Encontrei meu reflexo no espelho, o sangue escorria de minha testa, as lágrimas juntavam-se a ele, e o carro... O carro explodiu.

E eu estava no inferno. O chão era como um terreno árido sobre as lavas de um vulcão ativo queimando meus pés. O vapor saía por fendas no chão. Havia homens e mulheres ao meu redor com corpos deformados, sendo torturados. Aquelas imagens me sugeriram o que seria a eternidade. E assim a reconheci, ela estava lá chorando, com um demônio a acertando com um chicote de correntes cheias de espinhos metálicos em brasas. O covarde ao seu lado carregando uma enorme pedra e sendo espetado por um tridente em chamas. Ambos acorrentados como prisioneiros de tempos antigos. O demônio ex-loira tabém estava lá, se virou em minha direção, e me avistou... Sorrindo.

- Do que está rindo? - Perguntou, como se não soubesse.

- Acho que gostei do inferno! – Respondi-a sem receio do que viria pra mim. Ela piscou, e por um mero segundo enxerguei-a bela outra vez. Senti como se meu corpo estivesse mudando. Havia algo de diferente comigo. Por fim a demônia apontou na direção de um chicote e um tridente e devolveu-me um riso de dentes pontiagudos.

- Pegue-os, pois você acaba de ser contratado.

Fim.

Tema: Criaturas do Inferno

Sidney Muniz
Enviado por Sidney Muniz em 10/11/2016
Reeditado em 12/11/2016
Código do texto: T5819687
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