O terrorista, a criptografia e o pé 48

Billy Joe, era um jovem americano que mudou de religião e de nome, passou a se chamar Abu Jamal e virou fanático e terrorista do tipo homem-bomba. Abu nunca poderia imaginar que conheceria um outro tipo de terror e eu lhes conto sua tragédia nos parágrafos abaixo.

Os terroristas precisam se comunicar com frequência com seus chefes no Oriente Médio, pois de lá recebem treinamentos, instruções, dinheiro, armas, explosivos e principalmente doutrinação religiosa fanática. Uma das maneiras que as polícias do mundo têm de localizar e prender terroristas e também descobrir e impedir que seus planos sejam realizados, é rastrear as suas comunicações e mensagens do emisor até o receptor.

Abu e seus companheiros de célula terrorista tinha um grande plano e se comunicavam com os chefes orientais pelo Facebook, mas o Facebook é público e por isso foi muito fácil para a polícia descobrir os planos dessa gang e prendê-los. Preso e condenado, Abu foi levado à penitenciária e, só de maldade, os carcereiros o colocaram na mesma cela que Motumbu, um criminoso violento, que tinha uns dois metros e dez centímetros de altura e calçava sapato número quarenta e oito. Ele tinha um pé enorme que dava até medo. Na primeira noite Abu gemeu muito, com certeza o pobre sofreu bastante aquela noite.

Os anos passaram e Abu cumpriu sua pena e foi libertado, mas ainda era um terrorista de coração e voltou a encontrar seus companheiros, mas dessa vez ficou mais esperto, não usaria mais redes sociais para se comunicar, ao invés disso, ele usaria criptografia GPG em suas mensagens. Uma criptografia dificílima, quase impossível de se quebrar, mas que tem uma falha grave. Antes de se criptografar a mensagem, ela era criada em um computador e o processo de criptografia cria uma cópia encriptada da mensagem original de modo que se têm dois arquivos, um secreto e outro não. Abu excluía o arquivo original acreditando que assim ele sumia para sempre e podia enviar o outro, que era encriptado, tranquilamente, mas isso é um terrível engano, os computadores não excluem os arquivos, apenas o caminho para se chegar até eles. O arquivo permanece lá escondido no HD e os peritos podem recuperá-lo. O FBI já andava desconfiado que Abu voltaria ao crime e certo dia foram bater à porta dele com ordens judiciais, confiscaram o computador, recuperaram os arquivos e lá estava a prova do crime. Novamente preso e condenado ele voltou à cela de Motumbo, mas já não sofria, já estava laceado pelos anos que passara lá.

Outra vez cumpriu sua pena, foi libertado e voltou ao terrorismo e dessa vez com melhor tecnologia, ele passou a usar o Tails ou Debian Tails, um sistema operacional que roda a partir de uma pendrive e que não usa o HD do computador não deixando rastro algum para a perícia forense. Agora sim, finalmente os terroristas estavam vencendo, FBI e CIA haviam sido enganados, todos os preparativos estavam feitos, no dia seguinte eles fariam um grande bombardeio no metrô de Nova Yorque que seria o segundo maior dos EUA desde o onze de setembro. Centenas de pessoas morreriam horrivelmente em apenas alguns minutos. Treze horas antes do atentado, Abu fez algo inesperado. Ele foi à delegacia mais próxima e confessou tudo, tudo mesmo, denunciou todo o esquema e todos os seus cumplicies e dessa forma as autoridades puderam evitar a tragédia e prender a quadrilha. Abu fez isso por que estava com saudade do Motumbo e do tempo em que era a mulherzinha da cela.

Atualmente, Abu Jamal mudou de nome, de religião e sexo. Ele agora se chama Mary Jane, é filha de Inhançã e recebe a Pomba Gira no terreiro de pai Astrogildo de Oxalá e é muito feliz assim do jeito que ele é agora.
Duarte Cosaque
Enviado por Duarte Cosaque em 26/11/2016
Reeditado em 26/11/2016
Código do texto: T5835743
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