TRILOGIA SUICIDA - Pt. I - O Balanço

Uma vez, sonhei que estava em um balanço. Me senti livre, voava como nunca. Era pra lá e pra cá. As vezes eu parava e ficava imóvel, precisava de uma ajuda para sair de lá. E cansado me deitava na grama, ficava ali sonhando com as alturas. A brincadeira durava alguns minutos. Pena só poder brincar por tão pouco tempo.

Quando acordava desse sonho, me encontrava caminhando por uma trilha escura, não havia dia, não havia fim de noite, não amanhecia nunca. Não importava quanto tempo passasse, não havia sol. As pessoas andavam de cabeça baixa, triste e distraídas com o que havia ao redor delas. Quando fechava os olhos, sempre voltava para aquele balanço na árvore na frente de casa. Lembro que uma vez estava chovendo, bem, estava chovendo em todas as vezes, pois só houve uma vez mesmo.

Com o passar do tempo, esquecia de mim, esquecia quem eu era e as memórias se confundiam com a nova realidade que eu enfrentava. As vezes, as memórias voltavam, mas não entendia o que havia. Me via numa banheira sozinha, ou numa cama em um local cheio de gente, algumas pessoas choravam e outras tentavam manter calma. Mas mesmo assim duvidava se tudo aquilo era realmente verdade. Ao fim do caminho, via de longe um penhasco que, sabe Deus aonde dava. Muitas pessoas caiam sem ao menos questionar tudo aquilo.

Em um momento sentia algo roçando meu pescoço, passava a mão e sentia algo grosso e circular, as vezes me puxava pra cima, esticava as mãos pra cima, e sentia algo comprido que se estendia para bem alto, minhas pernas se desequilibravam e tentava acordar, não queria cair naquele penhasco sem fim, lutei e lutei, com todas as minhas forças, já molhado em lágrimas, o grupo de pessoas ao meu redor aumentava cada vez mais, me empurravam em direção à minha morte. Mas empurrando todos à minha volta, consegui vencer e me distanciar e vi que por poucos segundos, senti que ia morrer de uma forma trágica, preciso de forças para vencer, primeiro vou tirar essa corda do pescoço, descer do banco e retomar a minha vida. Balanço, nunca mais.

Alfredo José Durante
Enviado por Alfredo José Durante em 06/02/2017
Reeditado em 24/07/2017
Código do texto: T5904379
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