O OSSO HUMANO.

Na minha adolescência eu andava com um grupo de amigos que todos os sábados à noite curtiam ir ao cemitério da cidade. Eu sempre quis ir, mas sempre protelava, até que em um sábado de outubro, dia das bruxas resolvi ir depois de me embriagar com um garrafão de vinho.

O Cemitério estava bastante escuro, ao entrar, já me senti desconfortável, mas fingi estar tudo bem, não queria que meus amigos pensassem que eu era um covarde.

À medida que mais para dentro do cemitério nos íamos a temperatura ia caindo, um vento frio batia em minha pele, e me deixava todo arrepiado, não conseguia tirar a ideia da minha cabeça que aquele não era um vento natural.

Um rapaz o qual agora não me recordo o nome pegou um pedaço de osso que estava no chão e jogou para mim enquanto dizia:- Segura isso. É o seu batismo. Você tem que guardar esse pedaço de osso com você por uma semana, na semana que vem você volta aqui e deixa o osso nesse mesmo lugar.

Engoli em seco, mas aceitei o desafio, iria vencer o meu medo e provaria aos meus amigos que eu era digno de estar andando com eles.

Saímos do cemitério uma hora depois, caminhávamos pelo meio da rua cantando a plenos pulmões a canção Pet Cemetery da banda Ramones.

Paramos em um bar, e compramos a cerveja mais barata que tinha me recordo que uma menina do grupo me pediu uma moeda de um real para colocar musica na junkbox do bar, a canção escolhida por ela foi a Temple Of Love da banda britânica Sister Of Mercy.

Em um dado momento ela se aproximou de mim e se assustou perguntei o que tinha acontecido e ela me disse que havia uma sombra colada com a minha.

Olhei para a minha sombra e para a minha surpresa ela tinha razão, existia uma outra sombra que surgia do nada colada a minha.

Todos em volta ficaram curiosos com aquilo, todos tentavam entender o que estava acontecendo e foram se afastando de mim para descobrir se aquilo era um simples truque de luz. Não era. Após todos se afastarem só existia refletida no chão a minha sombra e aquela outra que olhando bem parecia ser de uma mulher.

Levantei da cadeira e fui caminhando em direção à praça, mas a sombra teimava em continuar comigo, aquilo começou a me agoniar, a agua da fonte localizada no centro da praça parou de jorrar assim que passei por ela, as luzes dos postes foram apagando gradativamente e à medida que o breu tomava conta da praça eu pude sentir uma presença raivosa ao meu lado, senti duas mãos poderosas em meus ombros, de rabo de olho eu tive um vislumbre do que seria uma mulher atrás de mim, mas ao virar a cabeça não tinha ninguém, eu só conseguia perceber alguém ali, pelo canto dos olhos, o que me colocou em um giro quase incessante tentando entender o que acontecia atrás de mim.

Desesperado corri de volta para o cemitério, entendi que deveria devolver aquele pedaço de osso, eu precisava de paz, entrei correndo no cemitério e coloquei o osso no mesmo lugar que foi encontrado, ao sair do cemitério, pude ver claramente a mulher parada no portão, que sorria e me dava tchau.