Nick "Virago"

Era pouco mais de onze horas e o Sol queimava a todos que se encontravam desprotegidos sob sua presença naquela manhã de janeiro. Dois carros, um atrás do outro, desviaram o curso de uma estrada simples e adentraram em uma segunda, não pavimentada. Atravessaram um pequeno espaço dentro de um intenso matagal quando saíram em um pequeno vilarejo, de poucas casas.

No interior do segundo veículo, estavam Erick e Helena, no banco de trás; e Lucas e Giovanna, no banco da frente. Quatro jovens de seus vinte e pocuos anos, dois casais de namorados. Erick era mais alto que Lucas que, por sua vez, era mais parrudo do que o nerd Erick. Giovanna e Helena eram garotas de idades semelhantes e estaturas semelhantes; entretanto, a primeira era ruiva e a segunda, loira.

- Nossa, o Carlos tem certeza de que é aqui o sítio? – perguntou Lucas, que dirigia o Astra azulado.

- Não gostei dessa ideia de ter casas em volta. – disse Giovanna

- Realmente não vai dar para colocar um som berrando nem nada do tipo. – disse Erick

Alguns minutos depois, o Gol preto de Carlos estaciona à frente de uma pequena rua em saída, com uma casa com garagem à esquerda e outras casas três casas coladas umas nas outras, fechando o final da rua.

- Realmente as casas são muito coladas umas nas outras. – disse Erick, enquanto desembarcava do carro

- Não gostei disso. – reclamou novamente Giovanna

- E aí, Carlos? Está com as chaves? – perguntou Lucas, enquanto caminhava em direção ao Gol. Carlos desembarcava do veículo, enquanto a sua esposa, Lorraine, mexia na parte de trás do carro.

- Sim, sim. – disse o rapaz, que possui idade semelhante aos restantes e é levemente moreno. Lorraine, um pouco mais nova que o restante, de cabelos completamente enegrecidos e corpo magérrimo, carregava o pequeno Enzo no colo.

Helena começou a brincar com Enzo, pegando-o no colo, enquanto Carlos abriu o portão da garagem da residência. Em seguida, os motoristas guardaram o carro no interior da enorme garagem que lá existia, fechando-a em seguida. Saindo da garagem, havia um belo jardim mal cuidado que levava os visitantes à varanda da residência. À esquerda desta, o jardim continuava, com a grama tomada de folhas e flores. À direita, havia uma piscina, de águas com cores escuras.

- Achei que alguém estaria aqui para nos recepcionar. – disse Carlos, à frente do grupo, carregando consigo algumas malas.

- Também achei. – disse Lucas

- Achei que alguém cuidaria melhor daqui. Parece tudo tão... abandonado. – disse Erick

- Verdade. Olha a cor da piscina. – disse Helena

- Quero abatimento no valor do aluguel. – brincou Lucas

O grupo logo ocupou o interior da residência. Adentrando no alpendre frontal, havia, logo à frente, uma área para churrasco com churrasqueira e freezer e, à esquerda, a continuidade do alpendre. À direita, uma cozinha introdutória, que dava entrada para o restante da residência. Logo à esquerda, uma porta que dava a um cômodo central, com um computador ao lado da porta do banheiro, à direita. À sua frente, a porta de um dos quartos. Do lado oposto, duas portas, que davam, da esquerda para a direita, uma sala e o outro quarto. Por fim, no outro lado da cozinha, escondido pela parede do cômodo central, havia um terceiro quarto, de pouca luminosidade, que dava a um segundo banheiro.

Os quartos foram devidamente ocupados pelo trio de casais. A casa estava ligeiramente suja, com poeira ocupando os móveis e o chão. Ainda que irritados, o sexteto limpou a casa e a piscina, antes de juntarem para colocarem o almoço e as carnes no fogo.

Por volta de duas horas da tarde, as primeiras carnes já estavam saindo do fogo. Carlos, exímio churrasqueiro, não deixava a carne passar do ponto, assim como Helena e Erick, exímios cozinheiros, não deixaram os acompanhamentos em branco. Lorraine aproveitava o belíssimo dia de Sol para ensinar o pequeno Enzo a nadar na piscina. E junto dela, estavam Lucas e Giovanna, que aproveitavam o Sol para nadar e refrescar.

Era pouco mais de oito horas da noite. A escuridão já tomava o exterior da residência e, do lado de fora, estavam apenas Lucas e Carlos, que terminavam de queimar as últimas carnes do dia. Do lado de dentro, Giovanna, Lorraine, Erick e Helena se encontravam no interior da sala, ao redor de uma mesa, jogando um jogo qualquer de baralhos. Estavam com as cartas posicionadas lateralmente à sua frente sobre a pequena mesa, com um copo d´água cheio no centro. Repentinamente, eis que, pouco a pouco, um a um foram baixando as cartas e soltando-as discretamente. Helena, contudo, não percebeu que os demais baixaram as cartas, só percebendo quando estes, em tom de brincadeira e deboche, a contaram, forçando-a a virar todo o copo de água, enquanto riam, descontraidamente.

Após terminar de tomar o copo de água, Helena diz, sem fôlego, enquanto o deixava vazio no seu lugar de antes:

- Credo. Chega desse jogo.

- A Helena já deve ter tomado uns dez copos de água. – brincou Erick

- E você nem pra perder no meu lugar.

Os demais riram. Enzo dá sinais de agitação no colo de Lorraine, obrigando-a a se levantar e levar o filho para fora da sala. Giovanna aproveitou e igualmente se levantou, para esticar as pernas.

- Deixa eu ir lá fora pegar uma carne. – disse – Antes que os dois lá comem tudo. – brincou

Erick riu.

- Vai lá. – disse, enquanto ele e Helena também se levantaram. Em seguida, sentaram sobre o sofá frontal à enorme televisão da sala e, abraçados, a ligaram, passando a escolher algum canal interessante.

Entretanto, tão logo conseguiram encontrar algum canal suficientemente bom para assistirem, um estouro ocorreu do lado de fora da residência, apagando instantaneamente a luz. Erick e Helena, sobressaltados, rapidamente se levantaram.

- O que aconteceu?! – perguntou Erick, ainda surpreso

- Geeente.... – Erick ouviu uma voz feminina conhecida chamar pelo interior escuro da residência

- Oi, Lorraine, você está onde?

- Estou no banheiro. Não encontro a porta.

- Espera aí, que estamos indo para aí te ajudar. – disse Erick. Este retira do interior de sua bermuda um celular e liga sua lanterna, iluminando fracamente o local. Caminhou junto de Helena em direção à salinha central. Ali ambos perceberam que o lado de fora também possuíam dois feixes de luz provenientes de celular, o que clareava – ainda que pouco – a residência. Os dois chegaram ao lado da porta do banheiro e Erick a iluminou.

- Ajudou, Giovanna? – perguntou o rapaz

- Sim, sim. Encontrei a fechadura. Obrigada, gente. – em seguida, ambos escutam um pequeno “click” e, em seguida, a porta se abrir, revelando Giovanna.

- Muito obrigada, mesmo. – continuou a garota. – Achei que ficaria presa dentro do banheiro até a luz voltar.

O casal deu um pequeno riso. Em seguida, saíram, junto da garota, em direção ao alpendre principal, onde se encontram Lorraine, Enzo, Carlos e Lucas.

- O que será que aconteceu aqui? – perguntou Lorraine, com o filho no colo

- Não sei. Escutei um estouro vindo de perto da sala. – disse Erick

- Também ouvi. – disse Helena – Parecia vir perto do outro portão. – Helena se referia ao portão menor dentro do jardim, que também dava à rua.

- Verdade. Também escutamos. – disse Lucas.

- Provavelmente queimou algum disjuntor. – disse Carlos

- Parecia ser mais do lado de fora o barulho, na rua – disse Helena

- Precisamos ir lá ver o que aconteceu.

- Será que é uma boa ideia? – perguntou Giovanna, amedrontada

- Podíamos perguntar aos vizinhos o que aconteceu. – disse Erick

- Mas será que eles vão nos recepcionar? Esse pessoal que mora afastado costuma ser tão hostil com estranhos.

- Vamos tentar.

- Vamos primeiro achar o disjuntor. – disse Carlos.

O grupo concordou com a cabeça e começou a caminhar em direção ao outro lado do alpendre.

- Eu não vou sair daqui não! – disse Giovanna, amedrontada

- Nem eu! – disse Lorraine, com Enzo no colo

- Tudo bem. – disse Carlos. Entregou o celular com a luz acesa para a esposa. – Fiquem com o celular para terem uma fonte de luz.

Lorraine pegou o celular e concordou com a cabeça. Em seguida, Carlos, acompanhado de Lucas, Erick e Helena, saíram do local onde se encontravam e caminharam pelo alpendre.

- Você se lembra de onde era o disjuntor? – perguntou Lucas, a Carlos, a perceber a confiança deste

- Sim. Lembra na hora que estávamos jogando bola naquele gramado no fundo, que o céu foi tomado pelas aranhas?

- Sim. O que tem?

- Elas estavam tecendo teia em direção ao alpendre da casa. Para isso, elas estavam indo no local onde a residência recebe o fio da rua. Só pode ser ali em baixo.

- Espero que as aranhas não tenham sido as causadoras disso. – disse Erick – Ou teremos churrasco de aranha pro jantar. – brincou

- Eca. Que nojo. – disse sua namorada

O grupo atravessou o alpendre e chegou em uma pequena porta entre o mesmo e o jardim. Carlos a abriu, desembocando em uma parte apertada do jardim, com muitas plantas agarradas entre si. À frente, um pequeno caminho de pedras que dava a um pequeno portão. Nesse ponto, o grupo percebeu que havia luz nos postes, do lado externo da residência, o que reforçava a tese de Carlos.

Este, acompanhado dos demais, virou à direita e acompanhou alguns passos, até ficar frontalmente ao relógio da residência.

- Achamos. – disse o rapaz. Abriu-o e mudou as chaves. Nada. Continuaram todos sem luz.

- Melhor a gente ver do lado de fora mesmo. – disse Helena. Carlos, triste por sua hipótese não se mostrar verdadeira, meneou positivamente com a cabeça. O quarteto retorna até próximo do alpendre e, em seguida, caminha em direção ao portão. Carlos, utilizando-se das chaves, abre o portão facilmente e todos saem. Por fim, o rapaz o tranca novamente.

- Beleza. E agora? O que faremos? – perguntou Erick

- Vamos batendo de casa em casa pra ver se eles têm luz. – respondeu Helena.

- Certo. – disse o rapaz

- Mas, pessoal... – continuou Lucas o assunto – Vamos com cautela. A Giovanna disse algo e disse certo. Esse povo é retraído e amedrontado. Vamos ter cuidado.

- Pode deixar.

Carlos e Lucas caminharam em direção à residência adjacente ao sítio, enquanto Erick e Helena caminharam à residência à direita desta. A primeira dupla bateu palmas frontalmente ao portão principal da casa de cores arroseadas, que ecoaram por todo o canto, mas ninguém lhes respondeu.

- As luzes parecem que estão apagadas. – respondeu Carlos, forçando o olhar para o interior da residência através de uma janela ao lado da porta.

- Provavelmente, também estão sem luz.

- E sem luz não irão nos responder. Vão achar que é algum tipo de criminoso ou algo do tipo?

- E que tipo de criminoso bate na porta e chama a vítima pra fora de casa?

- O que tem uma arma e uma preguiça de pular muros. – respondeu Lucas, andando em direção às demais residências. – Vamos.

Enquanto isso, Erick e Helena batem palmas frontalmente a uma porta de madeira de uma residência de tamanho semelhante à anterior, só que azulada.

- Ô de casa. – gritou Erick

- Parece que não tem ninguém. – disse Helena

- Ou eles não querem nos recepcionar. – contra-argumentou Erick

Carlos e Lucas passam atrás do casal, se direcionando à residência vizinha desta.

- Conseguiram alguma resposta, Lucas? – perguntou a garota, para o rapaz

- Não. – ele respondeu – Parece que não tem luz no interior da residência.

- Deve ter caído a luz geral do local. – disse Carlos

- Engraçado que os postes estão acesos. – disse Erick, enquanto caminhavam em direção a outra residência.

Lucas bateu palmas frontalmente à porta da terceira residência, com cores avermelhadas. Chamou duas vezes pelos moradores, mas não obteve êxito.

- Ei! – gritou Carlos, chamando a atenção de todos para si.

- O que foi, Carlos? – perguntou Erick

- Olhem. A porta está entreaberta. – disse o rapaz, apontando para a porta frontal que, de fato, tinha uma pequena nesga aberta. – Podíamos entrar pra testar a luz do local.

- Não me parece uma boa ideia, Carlos. – disse Erick. – Isso é invasão de domicílio. Se eles chamarem a Polícia, estamos encrencados.

- Que nada. Eles nem vão ver nossa presença. Eu vou. Qualquer coisa, vocês ficam do lado de fora.

- OK, mas vai rápido.

- OK, OK, doutorzinho. Eu não colocarei ninguém em perigo. – disse Carlos, levemente irritado, enquanto caminhava em direção à residência.

Este abriu a porta o mais silencioso que conseguiu, abrindo uma nesga suficiente para enfiar o braço esquerdo no interior do cômodo. Tateou na parede um interruptor, alcançando-o. Ligou-o e uma luz clara iluminou todo o local.

- Olha. Aqui tem luz. – ele disse.

- Ótimo. Agora apaga isso antes que chame a atenção do morador. – disse Erick, o mais baixo que pôde

- Que cheiro ruim é esse? – perguntou Carlos, para si mesmo. Em seguida, querendo descobrir a origem do cheiro, o rapaz abre completamente a porta.

- Carlos – disse Erick, irritado e completamente apreensivo

- De onde será que está vindo esse cheiro?

- Carlos.

Entretanto, este fez ouvidos moucos aos chamados de Erick. Abriu completamente a porta e, em seguida, sobressaltou. Lucas e Erick arregalaram os olhos. Helena tampou a boca com as mãos. Havia, na parede oposta à porta, um corpo grudado na parede, com os braços apertos e pingando sangue. Estava em avançado estado de decomposição e as moscas cobriam o corpo.

Um grito feminino ecoou por todos os cantos, sobressaltando novamente o quarteto. Era uma voz conhecida e que rapidamente colocou a todos em alerta. Estes viraram em direção à origem do grito e perceberam se tratar do sítio. As garotas que ficaram estaram em apuros!

- Giovanna! – gritou Lucas, saindo em disparado em direção ao sítio

- Lorraine! – gritou Carlos, concomitante ao grito de Lucas, saindo igualmente em disparado. Atrás deles, em desespero, Erick e Helena.

Giovanna e Lorraine se encontravam no interior do alpendre, completamente amedrontadas. O pequeno Enzo dormia tranquilamente no colo da mãe.

- Será que eles vão demorar? – perguntou Lorraine, iluminando os jardins com a luz do celular

- Tomara que não. – disse Giovanna, igualmente amedrontada. – Eles foram pra rua. Em uma ou duas casas, eles vão ver que não tem luz geral e vão voltar.

- Tomara. Aqui vazio e escuro é amedrontador. – disse Lorraine, enquanto percebia que as plantas que faziam o jardim balançavam acompanhando um vento inexistente. – Giovanna?

- Oi?

- As folhas... estão mexendo.

- É o vento. Fica mais assustador com tudo desligado mesmo.

- Mas não está ventando.

Giovanna arregalou os olhos, surpresa.

- O que você quer dizer com isso?! – perguntou, virando o corpo cento e oitenta graus e ficando frontalmente a Lorraine, encarando-a no ápice de seu medo.

- Para e perceba, Giovanna. Não tem nenhum.... – dizia Lorraine, até arregalar os olhos e paralisar, tamanho o torpor.

- O que foi, Lorraine? Agora você está realmente me assusta... – dizia a garota, enquanto virava a cabeça para trás. Nesse instante, arregalou os olhos.

Havia um homem robusto, de seus 1,80 metros de altura, com uma roupa preta de palhaço, um malicioso sorriso desenhado no rosto pintado, uma peruca colorida no cabelo e um martelo em mãos.

- Olá, amiguinhas. – disse o homem, com tom de deboche.

Giovanna grita.

Lucas e Carlos, com o celular do primeiro ligado, atravessaram rapidamente o jardim que os separavam do alpendre e adentraram em poucos passos no mesmo. Em seguida, atravessaram-no o mais rápido que puderam. Erick e Helena vieram logo atrás.

Em poucos passos, a primeira dupla alcançou o local da churrasqueira. Neste instante, freou, quase derrubando Erick e Helena. Lágrimas começaram a escorrer de seus olhos. Este continuou a caminhar até chegar ao lado do corpo de Giovanna, que jazia caído ao lado da porta de entrada da residência com um golpe de machado tão forte logo abaixo dos seios que quase cortou o cadáver ao meio.

Este abaixou e, sob intensas lágrimas, abraçou fortemente o cadáver.

- Lorraine. – gritou Carlos, arrancando de Erick o seu celular e adentrando a passos velozes o interior da residência.

- O que aconteceu aqui? – perguntou Erick, assustado e horrorizado, como Helena, que evitava fitar o cadáver da amiga. Ficaram próximos da porta para não ficarem na completa escuridão. – Não saímos nem um minuto.

- Será que tem alguma coisa a ver com o corte de luz? – perguntou Helena.

- Provavelmente. – disse Erick.

Carlos adentrou na cozinha e virou à esquerda. Atravessou o cômodo central e correu em direção à porta da esquerda. Abriu-a e iluminou o local.

- Lorraine! – gritou novamente, enquanto fechava a porta do cômodo. Jogou, em seguida, a luz em direção à sala, onde sobressaltou. Havia um homem robusto, de seus 1,80 metros de altura, com uma roupa preta de palhaço, uma peruca colorida no cabelo e um martelo em mãos de costas no centro da sala, com os corpos de Lorraine e do pequeno Enzo jogados no chão, encostados na parede oposta à da porta, o primeiro cortado como o de Giovanna, saindo bastante sangue e o segundo cortado ao meio.

- Quem é você? – gritou Carlos, tremendo de medo. – O que fez com a Lorraine? E por quê? – lágrimas começaram a escorrer de seus olhos.

O homem virou o rosto em direção a Carlos, olhando para trás. Revelou um rosto pintado de palhaço, sério. O rapaz engoliu em seco. Em seguida, sorriu, fazendo com que Carlos engolisse novamente em seco.

- Q... Quem é você? E o que quer de nós?

- Amiguinhos novos. – disse o palhaço. Segurou o machado com as duas mãos e postou-se a correr em direção a Carlos. Este, assustado, saiu correndo em direção ao lado oposto, acabando por deixar cair o celular de Erick, pisoteado pelo assassino.

- Puta que pariu! Corre! Corre!

Os gritos de Carlos chamaram a atenção de todos, deixando-os alertas. Olharam para o interior do imóvel, mas nada viram. Repentinamente, eis que escutam um violento baque na parede à esquerda da porta de entrada, do lado de dentro.

- Carlos? Carlos? – gritou Erick. Entrou no local pé ante pé, cauteloso.

Carlos, na tentativa de fugir do palhaço e completamente às cegas, acabou por errar a porta, batendo com a lateral direita do corpo na parede. Cambaleou, fazendo perder velocidade.

- Carlos?

- Fo... – disse, levemente tonto. Porém, não terminou sua frase. Sua batida na parede acabou por dar tempo do assassino lhe encontrar. Este cravou a lâmina do machado nas costas do rapaz, que urrou de dor e caiu. Erick assustou. O palhaço retirou o machado das costas de Carlos, que respirava ofegante, caído no chão. Este fitou Erick, que ficou paralisado de medo. Do lado de fora, igualmente paralisados, estavam os estupefatos Helena e Lucas.

- Olha... mais amiguinhos... – disse. – Querem brincar comigo? – perguntou, passando por cima de Carlos e esmigalhando sua cabeça pisando em cima desta.

- Corre! – gritou Erick. Passou pela porta e puxou de lá Helena. Lucas ainda demorou alguns segundos para acodar do torpor e, soltando Giovanna às pressas, começou a correr logo atrás de Erick e Helena, iluminando o caminho.

- Cadê sua luz, amor? – perguntou Helena, ao perceber que somente estavam iluminados pela luz do celular de Lucas, que estava frente por este estar atrás do casal

- O Carlos roubou.- disse Erick. Ultrapassaram o alpendre e saíram em direção ao jardim. Passaram pelo caminho que dava ao portão de saída e tentaram abri-lo. Estava trancado.

- Está trancado? Como assim, está trancado?! – perguntou Erick, irritado. Jogou o corpo duas vezes contra o portão, na tentativa de arrombá-lo, mas não conseguiu êxito.

- Por que trancou o portão, amor? – perguntou Helena, brava

- Eu não tranquei. Eu só fechei.

- Isso o faz trancar. – disse Lucas, se sentindo derrotado. – E as chaves estão com o Carlos.

- Olha o que você fez... – disse Helena, desferindo tapas no ombro de Erick

- Agora não é hora pra isso... – eles perceberam barulhos nas plantas próximas a elas. – Vamos. – continuou Lucas – Precisamos sair daqui. – o trio correu em direção aos fundos do sítio. Atravessaram o restante do jardim, passando pelo disjuntor e adentraram no gramado.

- Ai, meu Deus. As aranhas. – gritou Helena, desviando dos pequenos pés de limão que estavam pelo gramado.

De fato, àquela altura, as teias das aranhas ocupavam praticamente todo o céu do local, das copas das árvores do vizinho ao lado até o ponto mais alto do telhado, chegando ao alpendre e aos pés de limão no gramado. E as aranhas, pretas e pequenas, ficavam ali, às centenas, esperando as presas.

Todavia, o grupo não iria entrar no domínio das aranhas. Seu foco era a pequena construção nos fundos do gramado.

- Na construção?! – perguntou Erick, surpreso

- Precisamos driblar o maluco. – disse Lucas. E, de fato, entraram na construção.

Para enganar o assassino, o trio adentrou pela segunda porta da construção inacabada, saltando por cima de uma areia que ali se encontrava, sem pisar na mesma para não deixar pegadas.

- Cadê vocêêês?! – perguntou o assassino, com voz próxima à construção.

Helena quase solta um grito, assustada, mas Erick tampa sua boca.

- Vamos. – disse Lucas, puxando Erick pelo braço. Ambos adentraram no interior de um corredor inacabado por dentro. Neste instante, escutaram barulho vindo do primeiro cômodo. Isso fez com que Lucas, assustado, desligasse a luz do celular e puxasse Erick para a porta à sua esquerda. O rapaz tentou puxar sua namorada, mas acabou falhando. Surpreendeu-se e esticou o braço como último fio de esperança, mas foi em vão.

- A He... – dizia, em voz alta, mas acabou tendo a boca tampada por Lucas, que saiu andando a esmo pelo interior do cômodo, acabando por quase tropeçar inúmeras vezes nos restos de tijolo que estavam no chão.

Lucas acabou tateando a parede do lado oposto da porta e acabou por ficar por lá.

- Fica quieto. – cochichou o rapaz, segurando o corpo e a boca de Lucas, que tentava se debater para se soltar. – Peraí... – disse, ao perceber algo. – Cadê a Helena?

Enquanto isso, Helena estava parada com os braços esticados procurando algo para se encostar. Estava com medo, principalmente por não conseguir encontrar nada a qual pudesse se identificar pelo tato.

- Pessoal! – sussurrou. – Pessoal.

- Ora, ora, ora... está tudo escuro por aqui! – disse uma temida voz conhecida, a apenas alguns passos de Helena, às suas costas. Esta simplesmente congelou, sentindo um frio subir por sua espinha. – Assim não vai dar pra ver ninguém.

A garota, no ápice de seu medo, fechou o olho por alguns segundos e tentou retirar da memória a geografia do local, que viu por alto segundos antes de Lucas desligar a luz. Lembrou-se de estar perto de duas portas frontais, nas laterais do corredor. Não perdeu tempo. Abaixou-se com cautela e retirou de lá um tijolo, jogando-o para a sua frente, caindo no interior do cômodo à sua frente.

- Opa... o que é isso? O que é isso? – perguntou o homem, caminhando, com dificuldades, em direção ao barulho. Helena, aproveitando-se, afastou o corpo do local, encostando com suavidade na parede às suas costas e ultrapassando a outra porta. Depois, afastou-se da porta e adentrou pelo cômodo, tateando a parede e andando o mais silenciosa possível.

O palhaço adentra no interior do cômodo onde Helena jogou a pedra.

Cochichando o mais baixo que podiam, Lucas e Erick discutiam sobre Helena, até o instante em que o palhaço adentrou no local.

- Shhh.... ele tá aqui. – cochichou Lucas, no ouvido de Erick, o mais inaudível possível.

- Cadê vocêêês?! – cantalorou o palhaço, mais assustador que antes.

Lucas e Erick engolem seco, tamanho o medo de ambos. Respiram fundos e, em seguida, prenderam a respiração. O assassino começou a caminhar pelo interior do local esbarrando o machado na parede, fazendo um barulho infernal.

Aproveitando-se da ocasião, Helena continuou a adentrar no interior da residência, à procura de seu namorado e de seu amigo. Foi tateando as paredes em completo silêncio, rezando para que o assassino não voltasse.

- Oláááá... – disse o palhaço, continuando a caminhar pelo interior do cômodo.

Lucas, percebendo que o palhaço se encontrava caminhando pelas paredes e que, logo, ele os encontraria, falou dentro do ouvido de Erick:

- Ande. Pra frente. Sem fazer barulho.

Erick começou a caminhar para sua frente, em completa escuridão, desencostando da parede. Lucas foi caminhando logo atrás, segurando na camisa do amigo. Caminharam alguns passos, em completo silêncio. Atravessaram o cômodo, encostando na parede oposta a que se encontravam, no mesmo instante em que ouviram a voz do assassino no exato ponto onde estavam anteriormente.

- Vocês querem brincar de pique-esconde? Tudo bem... – disse o palhaço, com a voz mais séria que antes

- Vamos. Vamos. – cochichou Lucas, novamente perto do ouvido de Erick. Este meneou a cabeça, embora tivesse certeza que seu amigo não lhe veria.

Tateando a parede, a dupla de amigos foi caminhando em direção à saída. Estes não perceberam, mas o palhaço simplesmente parou de caminhar e falar, ficando em completo silêncio durante alguns segundos. Em seguida, virou-se para trás e disse, feliz:

- Achei vocês!

Em seguida, começou a correr rapidamente em direção à dupla de amigos. Estes, ouvindo os estalares de tijolos e restos de construções logo atrás deles, entraram em gigantesco desespero.

- Corre. Corre. Corre. – gritou Lucas, puxando Erick consigo. Batendo rapidamente a mão direita na parede, o rapaz foi se guiando. Erick, ao contrário, era puxado pelo amigo e acabava por tropeçar rotineiramente.

- Gente? – perguntou Helena, virando-se para trás. Encontrava-se no centro de um cômodo alargado e comprido. Procurava com as mãos algo sólido para tocar, mas só encontrava o ar, o que lhe causava aflição. – O que está acontecendo? – tentou perguntar; entretanto, lembrou-se no mesmo instante que não poderia gritar, ou acabaria chamando a atenção do assassino para si. Acabou por balbuciar a frase quase se esgasgando na mesma.

Lucas e Erick chegaram praticamente concomitantemente à porta que dava ao corredor. O primeiro, que chegou alguns segundos na frente do segundo, forçou sua passagem, acabando por, sem querer – e sem ver, uma vez que o desespero tomava conta do corpo dos dois, que estavam mergulhados na completa escuridão -, jogá-lo em direção ao batente da porta, fazendo com que o mesmo batesse com a cabeça e caísse no chão, fazendo um baque.

O outro rapaz correu, atravessando a toda velocidade o corredor. Demorou alguns segundos até chegar à saída da construção. Naquele instante, virou-se para trás, feliz. Em seguida, seu sorriso havia desaparecido. Erick não estava nas suas costas!

Erick estava caído no chão. Estava com as mãos na cabeça, que doía inconsumersavelmente. Sangue escorria da testa e inundava seu rosto. Sua mente girava rapidamente, o que fazia seu estômago embrulhar.

- O que... aconteceu? – perguntou, para si mesmo.

- Ora, ora... acho que encontrei um! – disse alguém, às suas costas. A voz era conhecida e amedrontadora. Erick assustou-se. Tentou reagir, porém, o assassino foi mais rápido. Segurou a gola de sua blusa e o levantou.

- Me solta. Me solta. Me solta. – começou a gritar Erick, enquanto se debatia no ar e tentava se desvencilhar.

- Erick? – perguntou Helena, no cômodo ao lado. – Erick?! – falou mais alto. Estava desesperada. Começou a caminhar em direção aos gritos, ao mesmo tempo em que tentava encontrar alguma parede ou objeto sólido. Ao escutar um grito seco e um baque, antes de um completo silêncio, paralisou, estarrecida.

Erick gritava continuadamente, ao mesmo tempo em que tentava se desvencilhar. Repentinamente, o assassino solta o rapaz, que cai de joelhos no chão. Devido aos restos de construção no solo, Erick rala violentamente os joelhos, sentindo uma dor pungente.

Porém, o assassino não perdeu oportunidade. Aproveitando-se que o rapaz se encontrava de joelhos e estava praticamente imobilizado devido à dor no local, ergueu rapidamente o machado e o cravou, o mais forte que pôde, na nuca de Erick, cortando metade de seu pescoço, mas sem conseguir decapitá-lo. O rapaz ainda solta um grito seco, antes de perder a consciência. O seu corpo cai no chão, em um só baque, sobre a poça de sangue que seu corpo estava criando por ali.

Pisando sobre a ferida, o palhaço retira o machado do pescoço de Erick.

- Para onde será que foi o outro? – se perguntou, em seguida.

Enquanto isso, tão logo ouviu a possível morte de seu namorado, Helena postou-se a chorar. Todavia, respirava fundo e segurava o próprio choramingo, pois sabia estar em um cômodo ao lado do assassino, além de estar na completa escuridão e sem escutar uma única parede.

O assassino começou a caminhar novamente, adentrando novamente no interior do corredor. Helena respirou fundo e segurou, o máximo que pôde, seu choro. Quando percebeu que o palhaço caminhou em direção ao cômodo que estava e parou em seguida, levou a mão à boca e segurou até mesmo sua respiração.

O palhaço entrou no interior do cômodo ao final do corredor. Deu alguns passos no interior do referido cômodo e depois parou. Não falou nada e nem fez qualquer barulho. Percebeu o local completamente vazio. Virou-se de costas e saiu.

Helena congelou ao sentir a respiração do assassino no seu rosto. O mesmo estava um passo à sua frente e, quando o mesmo parou, seu corpo paralisou. Aqueles segundos definiriam sua vida: se o palhaço desse um passo a mais, morreria; se o palhaço desistisse de continuar procurando por ali e voltasse, estaria salva. E, por sorte, acabou que o assassino desistiu e evadiu do local.

Assim que o palhaço se distanciou e percebeu que estava salva – pelo menos, por ora -, Helena desabou sobre as próprias pernas, que perderam as forças. Tremia involuntariamente e lágrimas escorriam violentamente de seus olhos.

O assassino adentrou no cômodo da frente ao que jazia Erick e tentou, novamente, escutar algum barulho. Não conseguindo, voltou ao corredor e caminhou por este, até sair do interior da construção.

Naquele instante, escutou barulho de motor oriundo do lado oposto do sítio, na região da garagem. Postou-se a correr em direção ao barulho.

Lucas rapidamente encontrou as chaves no corpo de Carlos e correu em direção ao seu veículo, dentro da garagem. Abriu a porta o mais rápido e silencioso que pôde e, em seguida, ligou o veículo, saindo o quanto antes do interior do sítio. Deixou a porta da garagem aberta, para que, quem estivesse vivo ali dentro, poderia ter uma chance a mais de fugir daquele louco assassino.

Ao se distanciar o suficiente do sítio, retirou o seu celular do bolso e ligou para a Polícia, explicando o que aconteceu e que havia um assassino em série no local.

- Nick “Virago”? – perguntou, para si mesmo, ao ouvir este nome da Polícia, tão logo passou a discrição do assassino para os policiais.

- Sim. – disse um policial, do outro lado da linha. – É um assassino em série, que recentemente foi para o regime semiaberto, depois de amedrontar a população de Virago e região nos anos 80 e 90. Recentemente, ele atacou um grupo de pessoas que caiu próximo à sua cabana ao lado do Rio Albuiú. Ele é muito perigoso. Tome cuidado.

- Ele é maluco. Não sei porque não está internado em um manicômio judiciário.

- Também não entendemos. Olha, senhor Lucas, vamos montar uma equipe de policiais treinados por aqui e enviaremos o quanto antes para o sítio que você nos informou.

- Obrigado. Tentem ser rápidos, por ainda pode haver sobreviventes lá dentro.

- Pode deixar, senhor Lucas. E que Deus vos proteja.

- Amém.

Em seguida, o policial desligou o celular, ao mesmo tempo em que Lucas encontrou a estrada.

Helena continuava no centro do cômodo onde se encontrava. Não conseguia encontrar uma parede e, devido à ansiedade e ao desespero, acabou por perder as forças. Estava sentada no chão, com a cabeça enfiada no meio de suas pernas. Repensou todo o seu dia e rogou todas as pragas por ter criado a ideia de vir para aquele sítio. “Mas era tão barato o aluguel”, pensou, consigo mesma. Mas, aquele passou.... estavam todos mortos... Carlos... Lorraine... o pequeno Enzo... Giovanna, sua melhor amiga... Erick, seu namorado... rezava apenas para Lucas ter se salvado. Enquanto isso, continuava ali, provavelmente a madrugada toda, até o dia raiar e a luz adentrar no local... para fugir ou ser, finalmente, caçada..