O Ruído

A mulher esfregava os olhos nervosamente na cama. Um travesseiro ia abaixo de sua cabeça e uma almofada acima na tentativa inútil de tampar o barulho infernal que vinha de sua parede a noite.

A casa em que morava era uma casa nova até. Antes dela havia morado somente um casal e por pouquíssimo tempo. Porém, desde a primeira noite que ali passara aquele barulho de raspar na parede a impedia de ter um sono tranquilo.

No começo o som era bem fraquinho, quase imperceptível. Achou até que se tratava dos galhos da árvore do quintal que raspavam na parede conforme o vento batia. Ainda que o som fosse discreto o mesmo incomodava-a e por isso mandou podar os galhos da árvore. Porém, evidentemente, os mesmos não eram a causa do raspar que ouvia na parede de seu quarto e por isso o problema não foi resolvido.

Como as paredes da casa eram de gesso, pensou que se tratava de baratas. Tratou com o proprietário sobre o assunto. O mesmo disse que o casal que ali morava antes nunca havia reclamado, mas também haviam ficado pouquíssimo tempo na casa. A esposa do inquilino desaparecera misteriosamente e ele então, desolado, havia saído da casa. Porém, o mesmo prontificou em enviar uma dedetizadora a casa.

Na noite seguinte a dedetização o barulho foi insuportável. Um raspar, um esfregar, um arranhar tão alto que chegava a dar aflição. A mulher então pensara que as baratas que ali viviam estavam sucumbindo ao veneno tentando desesperadas escapar por algum local e por isso havia tanto barulho.

Na outra noite, nenhum barulho saíra da parede. Pensou aliviada que o problema havia sido resolvido e dormiu a melhor noite desde que ali se mudara. Porém o sossego não durou muito. Na terceira noite após a dedetização o barulho de raspar voltou mais alto do que antes.

E agora ali estava ela tentando abafar o som com uma almofada. Tinha a impressão de que quanto mais tentava abafar o som, mais alto o mesmo ficava.

Sentou-se na cama irritada, passando os dedos pelo cabelo. Ia dar um basta naquilo, quebraria a parede e finalmente descobriria o que tanto raspava ali e atrapalhava seu sono.

Saiu apressada para fora da casa e pegou um pé de cabra que já estava ali quando alugara a casa. Entrou e parou de fronte a parede onde barulho a incomodava. Respirou fundo e ergueu o pé de cabra. Torceu para que não fossem ratos. Tinha pavor de ratos.

A frágil estrutura de gesso facilmente se rendeu ao golpe do pé de cabra.

Segundos depois a mulher observava horrorizada o cadáver putrefato de uma jovem que caíra a seus pés quando a parede cedeu. No pouco que restava das mãos era possível ver que as unhas tinham ficado a muito arranhando a ponto de algumas estarem quebradas bem rente e os dedos em carne viva.

Estava ali a origem do barulho que tanto a incomodava durante a noite.