Boneco de Neve

Cadu era um menino de 13 anos com um temperamento forte, porém na maior parte do tempo ele não demonstrava isso. A não ser que se irritasse.

No natal daquele 2016, ele, a irmã mais nova, Clara, de 11 anos e os pais viajaram para o Estados Unidos, nas férias. Iam finalmente poder ver a neve. Por isso, seu temperamento era, naquela época, eufórico.

Tanto ele quanto a irmã estavam extremamente empolgados com a ideia de fazer bonecos de neve, iguais aqueles dos filmes americanos que passavam na sessão da tarde.

- Vão arrumar as malas. – a mãe deles falou, após um jantar com muito falatório. Todos estavam radiantes.

Os dois subiram para seus quartos e juntaram as roupas de frio e as de brincar. Também pegaram as pazinhas e potes para brincar com a neve. A mãe e o pai haviam prometido comprar cenoura assim que chegassem, para fazerem os bonecos. Logo tudo estava arrumado e os dois deitados para dormir, ansiosos com a viagem do dia seguinte.

Assim, de manhã bem cedo, eles estavam no avião rumo aos Estados Unidos. A viagem foi demorada, mas ficaram tão maravilhados por estarem em outro país, que nem se importaram com o cansaço.

Alugado o carro, o pai dirigiu até a casa alugada. Era uma casinha antiga, como se pertencesse à alguma idosa. Mas por dentro era bem aconchegante. O jardim e o quintal eram espaçosos. As crianças logo pediram para ir brincar com a neve. Ficaram abismados em como era branquinha e úmida, pois nos filmes parecia tão fofinha.

- Ah não, mãe! As cenouras. – Clara resmungou, querendo logo fazer bonecos de neve.

- Crianças! Achei umas aqui na geladeira! – o pai gritou.

Eles não sabiam porque tinha comida na casa, já que ninguém a alugava por algum tempo, mas acabaram concluindo que o dono devia ter feito o agrado de abastecer a cozinha para a chegada deles.

- Vão brincar crianças, mas cuidado.

- Vamos, vamos! – Cadu saiu correndo em disparado na frente de Clara, dando-lhe um tapinha na cabeça.

Os dois acharam seus lugares e começaram a fazer as brincadeiras. Clara era muito boa escultora, sempre tirava dez nos trabalhos de artes com argila, por isso achava muito fácil modelar o boneco. Ela estava tão empolgada que, qualquer um que olhasse, podia ver que era o Olaf, do desenho infantil da Disney, Frozen.

Cadu, porém, mal tinha conseguido fazer uma base redonda. Era péssimo naquilo e estava ficando chateado. A brincadeira parecia bem sem graça. E o som da voz da irmã cantando Let It Go, enquanto brincava o estava incomodando. Clara parecia cantar cada vez mais alto, conforme seu boneco ganhava forma. O menino estava muito irritado com aquilo. Para que tanta felicidade por causa de uma brincadeira idiota e sem graça como aquela.

- Cala a boca. – ele gritou para a irmã. Mas ela não pareceu se importar. – CALA A BOCA! – ele gritou, atirando uma grande bola de neve contra o boneco da irmã.

Clara começou a chorar e a chamar a mãe, mas os pais não podiam ouvir, do andar de cima, pois estavam falando ao telefone.

- Cala a boca! – Cadu continuava gritando, mas a menina só sabia chorar.

Irritado com aquilo, tomado de uma fúria misturada à inveja que estava sentindo do boneco perfeito da irmã, ele pegou em suas mãos um dos pedaços de madeira que usaria para fazer o braço do boneco e bateu uma, duas, três, quatro vezes com força em Clara. No segundo golpe a menina já tinha caído no chão, o sangue manchando a alvura da neve.

Agora, coberto de medo ao ver a irmã morta no chão, Cadu ficou sem saber o que fazer. E se os pais descobrissem? Não havia sido culpa dele, pois só queria silêncio. Precisava pensar em alguma coisa.

Com ideia estupenda, Cadu segurou o corpo inerte da irmã, pois apesar de ser apenas dois anos mais novo que ela, era bem alto. Ele escorou o corpo dela nos restos do que seria um lindo Olaf em tamanho real e cobriu todo o corpo da irmã. Quem olhasse de fora, apenas veria um boneco de neve do tamanho de uma criança. Ele pegou as cenouras na cozinha e enfeitou o rosto do boneco e vestiu uma touca de Clara em sua cabeça. Não era o melhor trabalho, mas para estava perfeito. E apesar do medo que estava sentindo, sentia-se incrivelmente bem, por ter conseguido, finalmente, fazer o boneco de neve.

Mais tarde os pais desceram e elogiaram muito o boneco de Cadu. Mas logo deram falta de Clara. Procuraram por toda a casa, pensando que ela pudesse ter se cansado da brincadeira e foram dormir. Como não a encontraram em lugar nenhum, chamaram a polícia e deram parte do desaparecimento da filha. Todos estavam muito desesperados e saíram para dar buscas na menina. Mas ninguém nunca a encontrou. Ninguém nem ao menos suspeitou que o boneco era a pequena Clara.

Clara foi dada como morta três dias antes do Natal. Eles voltaram para o Brasil, sem esperanças de encontrar, nem ao menos, o corpo da menina. E assim, os pais passaram a odiar a data e Cadu passou a odiar a neve. E o dono da casinha nos EUA, horrorizado com a história, tentou vendê-la, mas ninguém tinha coragem de comprar.

Prólogo

Era verão novamente nos EUA, e o gelo estava derretendo. Fernanda, uma moça desavisada que passeava pela vizinhança com seu cão labrador, negro como a cor da noite, levou um susto quando o amigo começou a correr em disparada a uma casinha abandonada. Ela foi atrás do cachorro.

- Volte Magno, pode ser perigoso. – ela falou, mas o cachorro tinha farejado uma cenoura, muito bem conservada pelo gelo. – Seu guloso, ela falou, ao mesmo tempo em que um grito calado morria em sua garganta.

Pelo gelo derretido, ela pôde ver que os olhos do boneco eram muito reais e que, na verdade, eram humanos. No mesmo instante ela chamou a polícia, que abriu uma investigação. Um dos policiais do caso lembrou-se de um outro caso, quase três meses antes, quando uma menina havia sido dada como morta, após seu desaparecimento. Após todos os testes e o processo investigativo, concluíram que aquela era Clara Torres Rodrigues, filha do casal brasileiro que havia passado pouco menos de uma semana no local, no Natal.

Eric e Marta ouviram o som de carros de polícia perto de casa e, em um instante, a campainha tocar. Correram para atender, sem saber por que a polícia estava em sua casa. Cadu descansava no quarto.

- Senhor e senhora Rodrigues, recebemos contato dos EUA, é sobre a filha de vocês. Sinto muito, - ele falou, cabisbaixo – mas ela foi encontrada. E sim, está morta.

Os dois choraram muito, sem saber o que dizer. Não havia consolo para aquele tipo de dor.

- E esse não é o pior. Ela foi encontrada dentro de restos de um boneco de deve que estava derretendo. Eu sinto muito, mas não sabemos quem fez isso. A pessoa usava luvas, pois não temos nenhuma pista e não encontramos digitais e nem sinais vitais no local.

- Obrigado policial. Iremos logo mais para enterrarmos nossa filha. – o pai falou, trocando um olhar significativo com a esposa.

Assim que a polícia foi embora, eles correram até o próprio quarto e pegaram algo na gaveta do criado mudo. E entraram no quarto de Cadu, que dormia. Acontece que três meses haviam se passado e eles tinham perdido a filha em outro país, sentindo-se por todo aquele tempo, os piores dos pais. Nem Cadu era o suficiente para curar a falta da menina Clara.

- Você matou sua irmã! Seu desgraçado. – ele gritou, acordando o filho na base de socos.

- Por quê? – A mãe gritou, enquanto batia no menino também. – POR QUÊ CARLOS EDUARDO?

- Eu... e-eu... só queria... – ele tentava falar, mas seus pais não paravam de bater nele – Eu só queria fazer UM BONECO DE NEVE! – ele gritou.

- Filho da puta!! – o pai gritou, mirando a arma que tinha pego em seu quarto para o próprio filho. – ASSASSINO. VOCÊ MATOU SUA IRMÃ! – ele gritava.

- Pai, me perdo... – Cadu começou, mas não pôde terminar a frase, devido ao tiro instalado em sua cabeça. Sangue jorrava para todo lado. E o corpo de Cadu estava inerte do chão.

Agora, aos prantos, os dois choravam a perda dos filhos. E sabiam que só tinha uma solução.

Jornal Extra – Jornal O Globo – Jornal O Dia

Homem, chamado Eric Pontes Rodrigues, 36 anos, é encontrado morto em sua própria residência, após atirar no filho, Carlos Eduardo Torres Rodrigues, 13 anos e na esposa, Marta Torres Rodrigues, 35 anos. Os dois tinham outra filha, Clara Torres Rodrigues dada como morta nos EUA, há três meses. Corpo da menina havia sido encontrado no mesmo dia, horas antes.

Não se sabe a causa dos assassinatos, mas especula-se que o homem, desolado com o reaparecimento da filha morta, teve um surto e resolveu matar o filho e a esposa, depois se suicidou. Não se sabe quem matou a menina mais nova.

Camilla T
Enviado por Camilla T em 27/07/2017
Reeditado em 27/07/2017
Código do texto: T6066620
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.