POSSESSÃO


Posso lhe contar tudo o que aconteceu, mas o que adianta, se cada palavra que eu disser não fizer sentido para você. Não precisa trocar olhares febris comigo, já sei que se engana com a minha personalidade. O indagável contraste deste mundo se mescla aos pesadelos do outro e embora esse véu permaneça oculto para muitas vistas, aquilo continua lá. É frustrante pensar em como carrego nas costas tantos, tantos pesares, fantasmas do passado que me perseguem até hoje. Não curve a cabeça enquanto falo contigo, não me ignore. Ouça com atenção; O ocorrido acontecera na tarde de 13 de setembro, não me recordo do ano, mas também não acredito que faça diferença.
O velório de Juan estendera-se desde de o meio dia. Ainda ouço os soluços, as lamurias, as lagrimas quentes derramadas em meu ombro. Quando vieram buscar o caixão na capela, Felipe, seu primogênito, segurou-o, chorando, não queria que levassem seu pai. Fico triste só em me lembrar de quando os coveiros enterraram-no naquela cova, enquanto seu filho assistira. A cova localizava-se na parte superior do cemitério, acima de uma pequena colina, ao lado de um limoeiro. Não dormi por dois dias pensando no pobre Felipe, em sua dor inominável.
Felipe desapareceu dias depois, todos ficaram histéricos com seu desaparecimento infortúnio. Maria, sua mãe acreditava que tinha sido levado. Dias se passaram e o garoto foi encontrado numa vala na floresta, estava vivo, pouco desnutrido mais vivo, entretanto Felipe não reagia a nada, estava num estado vegetativo. Passaram-se dois anos e Felipe continuou naquele estado, contudo sua mãe notou que a noite, algo possuía o corpo de seu filho a andava pela casa. Maria tentou contar a todos, mas ninguém acreditava nela. Sendo eu seu afilhado, tinha que ajuda-la, então prontifiquei-me a ficar em sua casa durante aquela semana, e nos cinco dias que se seguiram nada ocorreu, já havia quase desistido, quando na sexta noite, Felipe levantou-se de sua cama e foi até meu quarto, ele fechou a porta e acordei quando ouvi o barulho da porta batendo. Felipe começou a falar, sua voz estava estranhamente rouca, então começou a sussurrar coisas sobre demoníacas sobre o inferno. Não sabia na época, mas aquele à minha frente não era Felipe, mas sim Juan seu pai que havia possuído seu corpo.
Nunca conseguirei me esquecer daquela noite, quando o garoto tentou cortar minha garganta com uma tesoura acima do criado mudo ao lado da cama. Eu o empurrei, ele caiu e fugiu pela porta. Tendo descido as escadas encontrei sua mãe morta, com os olhos estourados. Tentei contar aos policiais, mas eles pouco me deram razão, colocaram-me numa cela, e decidiram colocar a culpa em mim, nem deram atenção ao fato de que Felipe havia sumido.

Vinícius N Neto
Enviado por Vinícius N Neto em 24/01/2018
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