PARA ONDE FORAM?

PARA ONDE FORAM?

Não era claro que Jeniffer fosse ficar assustada daquela forma, pois nunca havíamos visto alguém tão apavorado como ela. Seus olhos pulsavam vermelhos, enquanto seu rosto se contorcia num grito de pavor, Erick não teve reação e tentou acalma-la tirando a máscara que encontrara no porão daquela casa do século XVII. O relógio na parede noroeste badalou, indicando meia noite, e pudemos ouvir pequenos camundongos roendo as madeiras do sótão, estava frio, Mariana usava um casaco de lã, enquanto eu uma jaqueta de couro marrom e Erick um sobretudo preto, meio ao estilo Matriz. — Porque fez isso Erick... — Gritou Jeniffer ainda chorando.

— Calma, calma, só era uma brincadeira.

— Uma brincadeira Erick, isso é coisa que se faça...

— Não... eu sei... mas, não tinha como saber...

— Não tinha como saber o que? — Respondeu Jeniffer num tom alto.

— Sabe... que ficaria assim.

Jeniffer deu dois paços na direção de Erick, ergueu a mão e deu-lhe o tapa mais forte que consegue. — Mais que merda eu já pedi desculpa. — Falou Erick com a mão no rosto.

As molduras, quadros e estatuas do repartimento se alinhavam simetricamente ao corredor em perspectiva, um tapete de camurça vermelho estendia-se até não conseguirem mais enxergar, ou pelo menos até onde a luz das lanternas conseguia alcançar. Erick encostou-se na parede próxima a ele e por mais estranho que parecesse, sentiu uma espécie de calor vinda da parede. — Nossa, está parede está quente...

— Não mude de conversa seu tonto.

— Não, espere... — Respondeu tocando a parede.

— Venham ver esta parede está quente.

Mariana aproximou-se, talvez até um pouco incrédula, visto o que já tinha acontecido, ainda assim colocou a mão na parede, seus dedos tocaram levemente a madeira antiga. — É verdade, sintam, está quente mesmo.

Jeniffer não se atreveu e continuou parada, enquanto a mim, não sei explicar direito, achei meio estranho, podia ser uma brincadeira em conjunto com Erick, mas o que importaria. Encostei de leve a palma da mão na parede, e no momento que o fiz, senti realmente um calor indubitável. — Como. Não era pra estar vazia.

— Não sei cara, mas parece que tem alguém do outro lado.

— Será que é um incêndio?

— Não seja boba Mari, não vê que não está saindo fumaça.

— Ah! Agora eu sou a boba, de onde vai sair fumaça então.

Erick franziu a testa. — Verdade. — Respondeu mudo.

— Olhem, há uma porta ali. — Falei apontando para a esquerda.

— Viram, tem uma porta afinal. — Falou Erick sorrindo.

— Ah trouxa! — Respondeu Jeniffer tomando a frente.

A porta ao contrário da parede não estava quente, pelo contrário, o umbral estava tão frio que poderia grudar a língua se o fizesse. — Que estranho, está frio.

— Será que o fogo não chegou aqui ainda.

— Agora acredita que é um incêndio.

— Nunca se sabe.

Mesmo não tendo sinais de fogo, era visível que havia acontecido alguma coisa ali, já que a porta apresentava marcas de incêndio.

— Vejam, tem alguma coisa escrita no vão. Eu acho que é... “Socorro”.

— Mórbido, quem faria isso.

— Não, sei... mas vejam, é antigo. — Disse assustado.

Erick segurou a maçaneta...

— O que você vai fazer?

— Não acha que devíamos entrar.

— Pra quê.

— Como assim pra quê... pra ver o que esta acontecendo.

— Acho melhor voltarmos gente. — Avisou Mariana.

— Jeniffer dois.

— Há, há, muito engraçado Erick.

Ele não conseguiu girar a maçaneta. A porta poderia estar fechada ou estava emperrada.

— Merda, não quer abrir.

— Pronto, vamos então.

— Clak. — Soou da fechadura.

Os olhos de Erick responderam ao barulho como faróis de um micro-ônibus.

— Eu acho que consegui abrir.

— Porra Erick, deixa isso pra lá, vamos voltar. Ou vai entrar sozinho. — Falei.

— Fica ai bichinha, com as meninas.

Erick estufou o peito e encontrou no cômodo escuro. Então em seguida ouvimos ele gritar vorazmente, como se estivessem lhe matando, ouvimos sons de ossos dilacerando e carne sendo rasgada e então um último grito agudo até que tomamos coragem para correr. Ficamos com medo que a coisa que havia pego Erick estivesse atrás de nós, então continuamos a correr até dobrar o corredor, virei o rosto para ter certeza se estávamos sendo seguidos, mas o corredor estava vazio.

— Vocês virem o que pegou ele? — Perguntei olhando para trás.

— Gente...

Jeniffer e Mariana haviam sumido de repente. Estavam bem na minha frente quando virei o rosto. A luz da lanterna começou a falhar, as lanternas delas estavam caídas no chão próximo ao que parecia ser uma poça de sangue.

Fechei os olhos... e quando os abri, tudo estava escuro.

Vinícius N Neto
Enviado por Vinícius N Neto em 02/08/2018
Código do texto: T6407955
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.