ANATOMIA
 

- Não há como tirar aquela coisa sem ferir os órgãos.
- Eu sei. Mas não vê que a coisa está dentro dele, vai acabar comendo tudo ali dentro.
Roberto passou a mão sobre o peito do rapaz, encostando o bisturi sobre a pele.
- Cuidado...
O sangue começou a escorrer conforme fazia a incisão. David gritava de dor, mas não tinham como seda-lo já que os sedativos haviam acabado desde o último paciente.
- Preciso que seja forte cara, se não retirarmos esta coisa de dentro do seu estomago ela vai te matar.
- Arranca logo isso daí, eu não estou aguentando.
David cuspia sangue, e sob seu abdômen era possível notar uma forma cilíndrica se movendo de forma desajeitada, arranhando-o por dentro tentando sair. Após terminar de fazer a incisão, Roberto colocou a mão dentro do buraco.
- Encontrou a coisa.
- Não. Por favor, segure ele, isso vai doer muito. – Falou Roberto, encarando David.
Sua mão rastejava entre seus órgãos com o máximo de cuidado, ele sentira apenas com os dedos que a coisa havia feito um estrago dentro dele, tecidos dilacerados e pedaços de órgãos flutuavam ao redor de sua mão. Quando finalmente pegou o rabo da coisa.
- Eu acho que peguei. Mas... a algo estranho.
De repente, sentira sua mão estilhaçar, e uma dor profunda subiu até sua espinha.
- Ele mordeu minha mão. Não consigo tirar.
- Puxa pra fora.
- Não consigo.
Wesley viu uma espécie de cauda negra saindo pela incisão, e enrolando-se por seu braço. A coisa soltava uma substância acida que começara a derreter o braço de Roberto. David soltou um último urro de dor e desmaiou com os olhos aberto. Sem saber o que fazer, Roberto puxou o braço de seu amigo para fora, puxou o mais forte que pode, mas estava difícil de sair, então houve um barulho melado, seguido de um estalo forte e em seguida o braço de Roberto se soltou... contudo, ele estava sem a mão, no lugar havia apenas um toco branco de osso rodeado de carne. O rabo da coisa voltou para dentro de David, enquanto Roberto caiu no chão morto.
Wesley tentou sair da sala, mas a porta estava fechada. Ele procurou a chave no jaleco de Roberto, mas antes que pudesse encontrou ouviu passos em sua direção. Seus olhos congelaram e permaneceu parado com uma expressão de medo e duvida. Ele virou o rosto devagar e percebeu que David havia se levantado da maca... ele estava de costas para ele, com os braços caídos e a cabeça abaixado, respirando com dificuldade.
- David... você está bem.
David não respondeu.
- Cara... o que...
David se virou, um de seus olhos estava vermelho, enquanto o outro estava com a orbita coberta por um liquido escuro, haviam veias saltadas por todo seu rosto e pescoço e conforme se movia era possível ver que a coisa dentro dele se contraia.
Wesley correu até a porta, tentou arromba-la, mas não conseguiu. Enquanto a luz piscava no corredor do hospital, um rastro de sangue escorreu pelo vão da porta do necrotério.

 
 
Vinícius N Neto
Enviado por Vinícius N Neto em 09/08/2018
Reeditado em 09/08/2018
Código do texto: T6414195
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