ESTRANHO

 
— Dá para abaixar a música, por favor. — Gritou Marcelo.
Laura continuou dançando no convés da lancha sem lhe dar ouvido, rebolando de calcinha enquanto Alex lhe admirava.
— Acha que o tempo vai mudar? — Perguntou Michele.
— Está vendo aquelas nuvens escuras no horizonte. Se o vento continuar soprando desta forma, pode acontecer.
— Não devíamos voltar então?
— Voltar gata, está doida. Vamos curtir... — Falou Lucas aumentando a música.
— Aí Lucas como você é idiota.
— O que... eu achei que queria se divertir. — Respondeu Lucas abrindo um sorriso pervertido.
— Ela está certa cara, devemos voltar, o tempo pode mudar...
— Você também Brother... e aí, não quer curtir.
— Eu sei que está curtindo a loirinha ali. — Sussurrou Lucas para Marcelo.
— Puta merda, eu perdi o sinal. — Berrou Daniela.
— Não fica assim não gata, suas amiguinhas vão sobreviver sem você esta tarde. — Disse Alex bêbado.
— Minha mãe vai pirar se não enviar mensagem em uma hora para ela.
— Ai, mamãe, mamãe. Vai garota, por isso ainda é virgem. — Falou Lucas tirando sarro.
— I-DI-O-TA! — Respondeu mostrando-lhe o dedo do meio.
O barco começara a se agitar, e as nuvens escuras não estavam mais tão longe no horizonte como a alguns minutos atrás. Notando a possível tempestade que se aproximava Marcelo girou o leme para voltar a baía.
— Que merda está fazendo cara? — Falou Alex exibindo o peitoral contraído.
— Vou voltar para a baía.
— Vamos continuar aqui... — Respondeu Alex num tom mais forte.
Marcelo deu de ombros e girou o leme, virando-o na direção da baía.
— Não está me ouvindo caralho!
Alex estava chapado fazia quase meia hora, tudo parecia mais fácil de se resolver naquela situação e isso elevava seu ego absurdamente. Ele caminhou na direção de Marcelo e só precisou acerta-lo com um soco no maxilar para lhe derrubar por horas, em seguida assumiu controle do leme, e antes que pudesse perceber havia corrigido o curso de volta para a tempestade.
— Viu o que você fez, só ele sabia como pilotar essa coisa! — Exclamou Daniela, segurando Marcelo desacordado.
— Calma, não deve ser difícil, deve ser quase como andar de carro. — Falou Alex.
A deriva, as ondas mudavam constantemente de direção, e o oceano silencioso gemia como um animal morrendo, ao fundo clarões brancos-purpura clareavam o horizonte, enquanto uma mancha cinza escura se erguia no céu, chegando cada vez mais perto deles.
— Tenta acordar ele.
— Ele não acorda...
— Morreu então!
— Não. Ele só levou uma porrada muito forte.
— É, mas se ele não acordar nós estamos ferrados.
Enquanto vestia uma bermuda, Laura andou até a frente do painel — Essa lancha não tem rádio.
— Sabe usar por acaso?
— Não...
Lucas tentou acertar o curso da lancha, mas de repente a única coisa que enxergava em todas as direções era água. Já era de se esperar que o combustível acabasse, mas não tão cedo. Alex abraçou Laura o mais forte que pode, como se estivesse ainda no primeiro ano do ensino médio, segurando Erica Alves no banheiro feminino. Não seria a primeira vez que o capitão do time de futebol tentava dar uma de machão imbecil, como o dia em que transou com a professora de inglês só para deixar o professor de história com ciúmes.
— Acha que aguenta?
— Precisa aguentar. — Respondeu Lucas.
O barco tombava repetidas vezes para frente e para trás, gingando com as ondas. Michele estava tão assustada que vomitou. Laura apenas continuou agarrada a Alex que mal se sustentava de pé.
Mesmo que tentassem ligar para a guarda costeira, estavam sem sinal e com aquela tempestade tudo parecia pior do que podia ser.
A nuvens negras em alto mar tinham um aspecto diferente da cidade, pareciam mais assustadoras, formando grandes colunas no céu, do qual Deus podia descer a qualquer momento. As rajas de vento rodopiavam, fazendo o barco querer decolar. Minutos depois o granizo estourava na lataria da lancha com força, emitindo um som quase como o de um tiroteio. Uma onda tombou no deck, e em seguida o barco guinou para o lado direito derrubando-os com violência. Horas depois quando a chuva passou, perceberam que estavam perdidos, longe de qualquer ponto próximo da costa e Marcelo continuava desacordado. O oceano parecia respirar após a chuva; o som das ondas se movendo por todas as direções.
Daniela se perguntava ser possível estarem longe da costa, talvez alguns quilômetros, pensava talvez se seria possível voltar nadando. Estava tudo meio duvidoso naquela hora. Lucas entreolhava os demais sem saber o que fazer, Michele agora mais calma estava sentada com a testa grudada nos joelhos orando.
— Estão vendo aquilo. — Avistou Michele, olhado por uma pequena janela de vidro.
— Uma ilha? — Indagou Lucas.
Um pequeno ponto de terra se elevou a frente.
— Mais que merda, é mesmo.
— Deve ter gente lá.
— Graças a deus.
Enquanto todos pulavam de alegria, Michele notou algo estranho rastejando pelas águas na direção da lancha, uma espécie de nevoeiro. Ela levantou a mão e apontou na direção da fumaça que se aproximava. — Pessoal, um nevoeiro.
— O que, um nevoeiro... — Observou Lucas.
Havia algo de muito estranho naquele nevoeiro, e no momento que o barco entrou nele, Marcelo acordou.

 
 
Continua...
Vinícius N Neto
Enviado por Vinícius N Neto em 11/08/2018
Reeditado em 11/08/2018
Código do texto: T6416070
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